Em 1915, na conferência que proferiu na Liga Naval de Lisboa sobre A Questão Ibérica, António Sardinha define-se como "reacionário", referindo a herança de Hippolyte Taine:
"Reaccionário, - exactamente! Porque ser reaccionário é estar com a herança filosófica de Taine, é aceitar os melhores ditames de Comte, de Le Play e Renan, é receber de Fustel de Coulanges a lição imparcial da História que é História." ["O Território e a Raça"]
Mais tarde, em "A tomada da Bastilha":
"Para os que não se possam dar a longas meditações sobre a Revolução-Francesa, pensando vagarosamente os estudos formidáveis de Taine que julgaram a questão de uma maneira irremovível, a leitura de qualquer trabalho mais ligeiro e mais de síntese, - ou La Révolution, de Louis Madelin, ou La Révolution Française et la psychologie des révolutions, de Gustave Le Bon, lhes dará os elementos seguros de uma apreciação crítica indispensável como base para a aquisição de toda a cultura contra-revolucionária, que deseje ser sensata e sólida."
Os "estudos formidáveis" de Hippolyte Taine foram publicados sob o título Les Origines de la France Contemporaine, compreendendo três partes:
- L’Ancien Régime (1875);
- La Révolution: I – l’Anarchie (1878);
- La Révolution: II – La Conquête Jacobine (1881);
- La Révolution: III – Le Gouvernement Révolutionnaire (1883);
- Le Régime Moderne: I - Napoléon Bonaparte (1890);
- Le Régime Moderne: II - L'École, L'Église (1893).
Em "Cultura Clássica" (1917), António Sardinha prefere Hippolyte Taine a Charles Maurras ou, melhor - vota por Taine contra Maurras: "na controvérsia tão disputada das causas da Revolução, eu voto por Taine contra Maurras! Mais que o vendaval romântico, a obsessão do figurino greco-romano inspirou os declamadores da Assembleia Constituinte e levou ao individualismo nefasto do Contrato-social."
Ao referir-se ao livro Pão alheio de Luís de Almeida Braga, em "No jardim da Raça" (1916), Sardinha revela-nos que havia uma "concordância da Acção com o Pensamento", que "o velho Taine julgava impossível" - o enlace da Razão com o Sentimento. Os integralistas distinguiam-se de Maurice Barrès, não herdando de Taine "o falso princípio de que o nosso "eu" não é mais do que uma possibilidade permanente de sensações" ["Na morte de Barrès" (1923)].
Luís de Almeida Braga tinha pegado em armas e seguido para o exílio. António Sardinha padeceu a agonia da mentira antes de encontrar a sua estrada de Damasco. Entre a razão clássica e a mórbida contemplação, os integralistas optaram pela acção, não querendo viver no Passado ou na Imaginação, optaram por servir.
"Só o intelectualismo insatisfeito de Fradique Mendes se apagava numa penumbra discreta, refugiado na leitura de Taine, — mas no Taine das Origines de la France contemporaine." [ "Olhando o Caminho" (Janeiro de 1923)]
Em "La rebelión del instinto" (1931), Hipólito Raposo, referindo-se às duas únicas defesas permitidas "às personalidades presas às engrenagens do lucro" - o "direito à greve" e "aritmética mágica das urnas eleitorais" - cita H. Taine a respeito da última: "dix millions d'ignorants ne font pas un savoir..."
Refs.
https://archive.org/search?query=creator%3A%22Taine%2C+Hippolyte%2C+1828-1893%22
Os "trabalhos mais ligeiros, de síntese, acerca da Revolução Francesa de 1789:
- Louis Madelin, La Revolution. Deuxième Edition. Paris, 1912;
- Gustave Le Bon - La Révolution Française e la Psychologie des Révolutions, Paris, 1912