Martins Sarmento, 1833-1899
Francisco Martins de Gouveia de Morais Sarmento (Guimarães, 9 de Março de 1833 – Guimarães, 9 de Agosto de 1899), arqueólogo e escritor português.
António Sardinha, 1913, p. 11: "Martins Sarmento e Estácio da Veiga (...) elaboram com nitidez e indefectibilidade a tese ocidentalista, revelando aos ânimos descoroçoados o possibilismo opulento do nosso substractum étnico, o alcance e a virtude das qualidades positivas da Raça".
Martins Sarmento (in R. Festus Avienus - Ora Marítima - Estudo deste poema na parte respectiva a Galiza e Portugal, Porto, 1880): afastando a hipótese da influência dos "mercadores de Cartago" na orla marítima de Portugal e Galiza, levanta em alternativa a hipótese lígurica. Referindo-se ao referido substractum étnico do ocidente europeu, os ligures, cempses e cinetos poderiam ser os antecedentes dos lusitanos; um grupo de tribos pertencentes à migração ária - os Lígures - vindos do Oriente. - "Mas já dissemos que as semi-confidencias do roteiro deviam pôr-nos em guarda contra quaesquer conclusões precipitadas; e quem examinar as reliquias de povoações d'um caracter pre-romano que abundam pela nossa beira-mar, e que ninguem sustentará que surdissem apenas á vara magica dos mercadores de Carthago, e muito menos á do conquistador romano que não frequentava o Atlantico, tem de concluir que os ligures, cempses e cynetos participaram desde épocas muito remotas d'essa civilisação tal qual de que os tartessios eram os principaes representantes, e da qual sabemos muito pouco ou nada."
Sylvio Romero:
...o problema fez um passo gigantesco com os estudos do dr. Martins Sarmento, que provou serem os Ligures essa população que em França tem andado erradamente conhecida com o nome de Celtas modernos ou Celtas da historia...
Ricardo Severo:
"Os «castros» e «cividades» — que assim denomina a tradição popular essas acrópoles fortificadas — tiveram no norte de Portugal o seu erudito exumador, Martins Sarmento, assim como as acrópoles de Micenas e Troia tiveram em Schliemann o sábio revelador das suas epopeias de grandezas. Aquelas, do norte português, são mais humildes, se bem que tão valiosas para a história dos bárbaros povos da Lusitânia."
(...)
A Citânia de Briteiros, pouco distante de Saboroso, a cividade de Tarroso, de Bagunte (explorada por mim) e tantas outras mais, constituem verdadeiras cidades nas quais a civilização romana completamente dominou. Entretanto, nada tem de romano o seu aspeto arqueológico. A arquitetura é a de Saboroso, esse ópido típico: a alvenaria das casas cilíndricas é de aparelho helicoidal, modelo original e único; a singela ornamentação das ombreiras e padieiras de granito, assim como a ornamentação das suas louças de barro, é de estilo micénico, representando no norte do país essa civilização que se espalhou por todo o mundo mediterrânico e cuja síntese se encontra nas ilhas do mar Egeu.
Essa civilização, segundo Martins Sarmento, teria sido trazida pelos Ligures, vindos do Oriente, iguais aos povos de anteriores imigrações que ocuparam o noroeste da Europa até á ilha de Ea.
(...)
Em Portugal, Martins Sarmento e outros mais modestos estudiosos haviam já afirmado a primitiva independência da civilização do Ocidente ibérico; grato nos foi que este facto seja proclamado por um sábio estrangeiro [Pierre Paris] às nacionalidades peninsulares.
(...)
Martins Sarmento, o sábio arqueólogo português, que: os lusitanos, ao contrário do que geralmente se pensa, têm, graças á sua posição geográfica, uma das mais puras arvores genealógicas dos povos antigos. Formado por um grupo de tribos, pertencentes à migração ária que primeiro penetrou na Europa... este povo manteve-se no Noroeste da Espanha com a sua velha língua, os seus velhos costumes, a sua velha civilização, enfim, até à conquista romana.
(..)
a theoria «Celtista» que transformava em «Celtas» todos os povos da peninsula; a autonomia das tribus lusitanas e outras não celticas naufragava nesse mesmo oceano celtico; teve, porém, entre nós um salvador de muito saber, Martins Sarmento, o qual antes de Jubainville e outros ethnologos d'além Pyrineus, estabeleceu em bases perfeitas a these ligurica do occidente europeu.
Bibliografia
1880 - F. Martins Sarmento, Ora Marítima, Porto, Typ. de António José da Silva Teixeira
1887 - F. Martins Sarmento - Os argonautas: subsídios para a antiga historia do Occidente, Porto, Typ. de António José da Silva Teixeira, 1887.
Refs.
1887-1904 - Sílvio Romero e Teófilo Braga - A Querela dos Originais
1911 - Ricardo Severo - Origens da nacionalidade portuguesa, ed. 1912
Martins Sarmento (in R. Festus Avienus - Ora Marítima - Estudo deste poema na parte respectiva a Galiza e Portugal, Porto, 1880): afastando a hipótese da influência dos "mercadores de Cartago" na orla marítima de Portugal e Galiza, levanta em alternativa a hipótese lígurica. Referindo-se ao referido substractum étnico do ocidente europeu, os ligures, cempses e cinetos poderiam ser os antecedentes dos lusitanos; um grupo de tribos pertencentes à migração ária - os Lígures - vindos do Oriente. - "Mas já dissemos que as semi-confidencias do roteiro deviam pôr-nos em guarda contra quaesquer conclusões precipitadas; e quem examinar as reliquias de povoações d'um caracter pre-romano que abundam pela nossa beira-mar, e que ninguem sustentará que surdissem apenas á vara magica dos mercadores de Carthago, e muito menos á do conquistador romano que não frequentava o Atlantico, tem de concluir que os ligures, cempses e cynetos participaram desde épocas muito remotas d'essa civilisação tal qual de que os tartessios eram os principaes representantes, e da qual sabemos muito pouco ou nada."
Sylvio Romero:
...o problema fez um passo gigantesco com os estudos do dr. Martins Sarmento, que provou serem os Ligures essa população que em França tem andado erradamente conhecida com o nome de Celtas modernos ou Celtas da historia...
Ricardo Severo:
"Os «castros» e «cividades» — que assim denomina a tradição popular essas acrópoles fortificadas — tiveram no norte de Portugal o seu erudito exumador, Martins Sarmento, assim como as acrópoles de Micenas e Troia tiveram em Schliemann o sábio revelador das suas epopeias de grandezas. Aquelas, do norte português, são mais humildes, se bem que tão valiosas para a história dos bárbaros povos da Lusitânia."
(...)
A Citânia de Briteiros, pouco distante de Saboroso, a cividade de Tarroso, de Bagunte (explorada por mim) e tantas outras mais, constituem verdadeiras cidades nas quais a civilização romana completamente dominou. Entretanto, nada tem de romano o seu aspeto arqueológico. A arquitetura é a de Saboroso, esse ópido típico: a alvenaria das casas cilíndricas é de aparelho helicoidal, modelo original e único; a singela ornamentação das ombreiras e padieiras de granito, assim como a ornamentação das suas louças de barro, é de estilo micénico, representando no norte do país essa civilização que se espalhou por todo o mundo mediterrânico e cuja síntese se encontra nas ilhas do mar Egeu.
Essa civilização, segundo Martins Sarmento, teria sido trazida pelos Ligures, vindos do Oriente, iguais aos povos de anteriores imigrações que ocuparam o noroeste da Europa até á ilha de Ea.
(...)
Em Portugal, Martins Sarmento e outros mais modestos estudiosos haviam já afirmado a primitiva independência da civilização do Ocidente ibérico; grato nos foi que este facto seja proclamado por um sábio estrangeiro [Pierre Paris] às nacionalidades peninsulares.
(...)
Martins Sarmento, o sábio arqueólogo português, que: os lusitanos, ao contrário do que geralmente se pensa, têm, graças á sua posição geográfica, uma das mais puras arvores genealógicas dos povos antigos. Formado por um grupo de tribos, pertencentes à migração ária que primeiro penetrou na Europa... este povo manteve-se no Noroeste da Espanha com a sua velha língua, os seus velhos costumes, a sua velha civilização, enfim, até à conquista romana.
(..)
a theoria «Celtista» que transformava em «Celtas» todos os povos da peninsula; a autonomia das tribus lusitanas e outras não celticas naufragava nesse mesmo oceano celtico; teve, porém, entre nós um salvador de muito saber, Martins Sarmento, o qual antes de Jubainville e outros ethnologos d'além Pyrineus, estabeleceu em bases perfeitas a these ligurica do occidente europeu.
Bibliografia
1880 - F. Martins Sarmento, Ora Marítima, Porto, Typ. de António José da Silva Teixeira
1887 - F. Martins Sarmento - Os argonautas: subsídios para a antiga historia do Occidente, Porto, Typ. de António José da Silva Teixeira, 1887.
Refs.
1887-1904 - Sílvio Romero e Teófilo Braga - A Querela dos Originais
1911 - Ricardo Severo - Origens da nacionalidade portuguesa, ed. 1912