François-René de La Tour du Pin, 1834-1924
Esta formação social caracteriza-se por uma palavra que voltou aos lábios do meu pai quando me levou consigo pela pequena propriedade familiar, a terra avita, na qual hoje termina a minha vida: "Lembra-te sempre que só serás o administrador desta terra para os seus habitantes."
...
O trabalho não tem por finalidade a produção de riquezas, mas o sustento do homem.
- René de la Tour du Pin
Em 1871, René de La Tour du Pin participou na organização da Obra dos círculos católicos de operários, também conhecida por "círculos operários", criada por Albert de Mun e Maurice Maignen (um dos fundadores, em 1845, dos Irmãos de São Vicente de Paulo). A Obra foi criada sob a influência do pensamento político-social de S. Tomás de Aquino (1225-1274), na linha de autores contemporâneos como Louis de Bonald (1754-1840), Frédéric Le Play (1806-1882) e Émile Keller (1828-1909).
Frederic Le Play tinha afirmado que a lei natural não pode deixar de coincidir com a lei moral formulada no Decálogo, isto é, as Ciências Sociais não podem deixar de confirmar a Revelação. Le Play tinha estudado a Família, o grupo social elementar, La Tour du Pin alargou o estudo aos grupos sociais mais complexos, como a corporação, a comuna (ou município) e a província, integrando na sua análise a dimensão histórica. Nos escritos de René de La Tour du Pin estão expostos os princípios do "catolicismo social" em França. La Tour du Pin, resumiu num "apelo aos homens de boa vontade" as diretivas: "Às doutrinas subversivas, aos ensinamentos funestos, devemos opor as santas lições do Evangelho: ao materialismo, as noções do sacrifício; ao espírito cosmopolita, a ideia da pátria; à negação ateia, a afirmação católica".
A recusa do Liberalismo é o fio condutor da sua obra, em matéria de religião, de economia e de política. Na perspectiva de La Tour du Pin, em matéria de religião, o liberalismo ofuscara o sentido católico e a importância do concílio do Vaticano; em economia, o liberalismo produzira os excessos do capitalismo que levaram às propostas estatistas do socialismo; em política, o liberalismo fizera encalhar a restauração monárquica, condição de salvação da França.
La Tour du Pin e os integralistas lusitanos têm uma visão similar em alguns aspectos essenciais:
1. Tradicionalismo. Entendem a Tradição como o resultado de uma experiência de séculos; sendo o que tem capacidade para se fazer futuro: "rien ne dure de ce qui n'a plus sa raison d'être. ("Nada dura se já não tiver razão de existir".).
2. Democracia cristã. Podem usar a palavra "democracia" em sentido corrente, mas não se identificam com a concepção do Estado democrático como "reino mecânico da lei do número" e da representação individualista. La Tour du Pin definiu como objectivo do movimento católico social o estabelecimento de outra democracia, uma democracia cristã.
3. Renovação. A rejeição do Conservadorismo político. La Tour du Pin, tal como os integralistas, não aceita a manutenção do Estado segundo as concepções saídas da Revolução francesa, definindo-se como Renovador ( Jalons de Route, pp. 234- ss).
Em 1891, ao contrário de Albert de Mun, René de La Tour du Pin recusou o "ralliement" dos católicos franceses à IIIª República, mantendo-se fiel ao ideário monárquico da sua juventude. Entre 1904 e 1906, publicou três estudos na revista da Action française: acerca da nobreza francesa, da representação profissional e da organização territorial da França. A "questão operária" vem a revelar-se o tema mais importante da sua obra, a partir da qual define uma política social.
Em 8 de Abril de 1914, na primeira lista de "Publicações aconselhadas" na revista Nação Portuguesa, figura a sua obra Aphorismes de politique contemporaine [sociale] (1909), onde se recolheram textos publicados entre 1887 e 1889. Em Maio, acrescentou-se à lista uma outra obra essencial: Vers un ordre social Chrétien: jalons de route,
Em 1916, António Sardinha, em "A teoria da Nobreza", designa La Tour du Pin como "o grande sociólogo tradicionalista", referindo-o em três aspectos:
Acerca da rejeição da "farmacopeia gaulesa" da Action française, por parte de António Sardinha ver, entre outros, os seus textos de 1914 na revista Nação Portuguesa: "Teófilo, Mestre da Contra-Revolução" e "Poder Pessoal e Poder Absoluto".
Os integralistas adoptaram o conceito de que a propriedade tem uma função social - “Fixemos uma passagem célebre do marquês de La Tour du Pin, recebida da boca veneranda de seu pai: ‘Lembra-te sempre que perante Deus tu não serás mais que o administrador desta terra, para interesse dos seus habitantes.”
A ideia liberal vê o direito à propriedade como individual e absoluto. Em vez disso, os integralistas defendem que o proprietário é um usufrutuário, um funcionário da sociedade e da natureza, com deveres para com a comunidade. Esta ideia é essencial e está na base do seu modelo de monarquia representativa, que não é absolutista, mas sim orgânica e tradicional:
“O proprietário da casa dos antepassados era um administrador, um usufrutuário e um funcionário: a falar verdade, não funcionário do Estado, mas mais profundamente da sociedade e da natureza.”
...
“Se Portugal houvesse atingido normalmente o seu pleno desenvolvimento, as nossas instituições medievais viriam […] a consolidarem-se no perfeito tipo de Monarquia representativa, fixado por La Tour du Pin.” (António Sardinha)
António Sardinha, tal como La Tour du Pin, têm a monarquia representativa como o modelo ideal, onde o poder é limitado pelas autonomias locais e corporativas. Esta visão é oposta ao parlamentarismo liberal, centralista, e que ele considera uma forma de cesarismo disfarçado.
Sardinha foi também influenciado, entre outros, por Joseph de Maistre, Louis de Bonald (pensadores contra-revolucionários), Le Play (sociólogo comunitarista), e António Lino Neto, que lhe deu apoio e orientação ao dar os seus primeiros passos no pensamento político.
Bibliografia essencial
Frederic Le Play tinha afirmado que a lei natural não pode deixar de coincidir com a lei moral formulada no Decálogo, isto é, as Ciências Sociais não podem deixar de confirmar a Revelação. Le Play tinha estudado a Família, o grupo social elementar, La Tour du Pin alargou o estudo aos grupos sociais mais complexos, como a corporação, a comuna (ou município) e a província, integrando na sua análise a dimensão histórica. Nos escritos de René de La Tour du Pin estão expostos os princípios do "catolicismo social" em França. La Tour du Pin, resumiu num "apelo aos homens de boa vontade" as diretivas: "Às doutrinas subversivas, aos ensinamentos funestos, devemos opor as santas lições do Evangelho: ao materialismo, as noções do sacrifício; ao espírito cosmopolita, a ideia da pátria; à negação ateia, a afirmação católica".
A recusa do Liberalismo é o fio condutor da sua obra, em matéria de religião, de economia e de política. Na perspectiva de La Tour du Pin, em matéria de religião, o liberalismo ofuscara o sentido católico e a importância do concílio do Vaticano; em economia, o liberalismo produzira os excessos do capitalismo que levaram às propostas estatistas do socialismo; em política, o liberalismo fizera encalhar a restauração monárquica, condição de salvação da França.
La Tour du Pin e os integralistas lusitanos têm uma visão similar em alguns aspectos essenciais:
1. Tradicionalismo. Entendem a Tradição como o resultado de uma experiência de séculos; sendo o que tem capacidade para se fazer futuro: "rien ne dure de ce qui n'a plus sa raison d'être. ("Nada dura se já não tiver razão de existir".).
2. Democracia cristã. Podem usar a palavra "democracia" em sentido corrente, mas não se identificam com a concepção do Estado democrático como "reino mecânico da lei do número" e da representação individualista. La Tour du Pin definiu como objectivo do movimento católico social o estabelecimento de outra democracia, uma democracia cristã.
3. Renovação. A rejeição do Conservadorismo político. La Tour du Pin, tal como os integralistas, não aceita a manutenção do Estado segundo as concepções saídas da Revolução francesa, definindo-se como Renovador ( Jalons de Route, pp. 234- ss).
Em 1891, ao contrário de Albert de Mun, René de La Tour du Pin recusou o "ralliement" dos católicos franceses à IIIª República, mantendo-se fiel ao ideário monárquico da sua juventude. Entre 1904 e 1906, publicou três estudos na revista da Action française: acerca da nobreza francesa, da representação profissional e da organização territorial da França. A "questão operária" vem a revelar-se o tema mais importante da sua obra, a partir da qual define uma política social.
Em 8 de Abril de 1914, na primeira lista de "Publicações aconselhadas" na revista Nação Portuguesa, figura a sua obra Aphorismes de politique contemporaine [sociale] (1909), onde se recolheram textos publicados entre 1887 e 1889. Em Maio, acrescentou-se à lista uma outra obra essencial: Vers un ordre social Chrétien: jalons de route,
Em 1916, António Sardinha, em "A teoria da Nobreza", designa La Tour du Pin como "o grande sociólogo tradicionalista", referindo-o em três aspectos:
- ao situar o Integralismo Lusitano no campo da RENOVAÇÃO política, recusando a atitude passiva do CONSERVADORISMO [La Tour du Pin, Vers une ordre social Chrétien, - Jalons de Route, p. 234 ss];
- ao considerar a NOBREZA como uma classe social (organismo vivo) e não uma casta (mecanismo inerte) [Acerca da Nobreza em França, Ibidem, p. 370 ss.];
- ao adoptar o conceito de "autoridades sociais", segundo Frédéric Le Play (Vers une ordre social Chrétien - Jalons de Route, p. 381).
Acerca da rejeição da "farmacopeia gaulesa" da Action française, por parte de António Sardinha ver, entre outros, os seus textos de 1914 na revista Nação Portuguesa: "Teófilo, Mestre da Contra-Revolução" e "Poder Pessoal e Poder Absoluto".
Os integralistas adoptaram o conceito de que a propriedade tem uma função social - “Fixemos uma passagem célebre do marquês de La Tour du Pin, recebida da boca veneranda de seu pai: ‘Lembra-te sempre que perante Deus tu não serás mais que o administrador desta terra, para interesse dos seus habitantes.”
A ideia liberal vê o direito à propriedade como individual e absoluto. Em vez disso, os integralistas defendem que o proprietário é um usufrutuário, um funcionário da sociedade e da natureza, com deveres para com a comunidade. Esta ideia é essencial e está na base do seu modelo de monarquia representativa, que não é absolutista, mas sim orgânica e tradicional:
“O proprietário da casa dos antepassados era um administrador, um usufrutuário e um funcionário: a falar verdade, não funcionário do Estado, mas mais profundamente da sociedade e da natureza.”
...
“Se Portugal houvesse atingido normalmente o seu pleno desenvolvimento, as nossas instituições medievais viriam […] a consolidarem-se no perfeito tipo de Monarquia representativa, fixado por La Tour du Pin.” (António Sardinha)
António Sardinha, tal como La Tour du Pin, têm a monarquia representativa como o modelo ideal, onde o poder é limitado pelas autonomias locais e corporativas. Esta visão é oposta ao parlamentarismo liberal, centralista, e que ele considera uma forma de cesarismo disfarçado.
Sardinha foi também influenciado, entre outros, por Joseph de Maistre, Louis de Bonald (pensadores contra-revolucionários), Le Play (sociólogo comunitarista), e António Lino Neto, que lhe deu apoio e orientação ao dar os seus primeiros passos no pensamento político.
Bibliografia essencial
- 1909 - Aphorismes de politique sociale [1909_[1887-1889]_-_aphorismes_de_politique_sociale__3ème_1930_[...]la_tour-du-pin-chambly.pdf]
- Vers un ordre social Chrétien: jalons de route, 1882-1907 [vers_un_ordre_social_chrétien_[...]la_tour-du-pin-chambly_ 3ª edição.pdf]
1909 - Aphorismes de politique sociale
[1909_[1887-1889]_-_aphorismes_de_politique_sociale__3ème_1930_[...]la_tour-du-pin-chambly.pdf]
[1909_[1887-1889]_-_aphorismes_de_politique_sociale__3ème_1930_[...]la_tour-du-pin-chambly.pdf]
Vers un ordre social Chrétien: jalons de route, 1882-1907
[vers_un_ordre_social_chrétien_[...]la_tour-du-pin-chambly_ 3ª edição.pdf]
[vers_un_ordre_social_chrétien_[...]la_tour-du-pin-chambly_ 3ª edição.pdf]