A corrente municipalista que se acentua em toda a parte, mesmo naqueles sectores de opinião cuja ideologia lhe é hostil por índole, não se deve, por isso, apreciar como um fenómeno solto, simples modismo ocasional, sem raízes profundas no germinar oculto dos acontecimentos. Antes, pelo contrário, se enlaça de perto às causas que estão motivando o eclipse mortal das superstições e mitos, tanto filosóficos, como políticos, em que o século findo, - le Stupide de León Daudet! - tão abundantemente se desentranhou. Vê-se demais a mais que não se trata dum romantismo passageiro, — dum tradicionalismo literário ou sentimental. As ciências sociais e económicas apossam-se do Municipalismo com ponderada paixão e tornam-no um dos problemas mais em destaque entre as questões primaciais da nossa época. Por divergentes que os autores se manifestem na interpretação de um ou de outro detalhe, segundo a posição que reconheçam ao Estado na orgânica geral de colectividade, nenhum discorda da maneira como o Município moderno carece de funcionar, totalmente emancipado de peias e deprimentes tutelas centralistas. Trata-se unanimamente «de la diferenciación de la vida municipal, apartandola de la del Estado y procurando que ella se defina y mueva con politica própia,» esclarece o catedrático Adolfo Posada em prefácio à tradução espanhola do livro de Rowe sobre O governo da cidade. «Por que es evidente que nada perturba y corrompe el régimen municipal como la subordinación de su politica a la de los partidos nacionales, haciendo que las elecciones municipales se efectúen con el supuesto de los problemas generales y como luchas de partidos llamados a reflectir las tendencias producidas en relación con aquellos problemas.»
António Sardinha in Teoria do Município
António Sardinha in Teoria do Município