João de Espregueira da Rocha Páris nasceu em 18 de Novembro de 1885, em Viana do Castelo, tendo falecido em 9 de Julho de 1947, também em Viana do Castelo.
Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
O apontamento biográfico do Parlamento diz-nos que Rocha Páris foi "proprietário, lavrador e jornalista". Foi também político, como deputado nas III e IV Legislaturas do Parlamento.
Na III Legislatura, (1942-1945) foi eleito no Circulo Nacional na lista do único partido legal no regime: a União Nacional; na IV Legislatura (1945-1949), foi eleito pelo círculo de Viana do Castelo (foram entretanto criado os círculos distritais, mas mantendo-se a regra da eleição da totalidade dos deputados da lista mais votada; o Estado Novo, através do seu Partido Único, teve sempre o pleno dos deputados na Câmara dos Deputados - designada "Assembleia Nacional").
A nota biográfica do Parlamento diz ainda o seguinte: "Monárquico. Exila-se em 1911, participando nas incursões de Paiva Couceiro e nas de 1919." Em 1911, houve incursões monárquicas levando os seus combatentes ao exílio, em 1919, porém, a monarquia foi proclamada por militares e civis em revolta, tanto em Lisboa (Monsanto) como no Porto. Derrotados, os monárquicos envolvidos saíram para o exílio; para os reincidentes, como Paiva Couceiro e Almeida Braga, por exemplo, foi uma saída para um segundo exílio. Mas a nota biográfica acrescenta ainda que Rocha Páris "regressa a Portugal depois do 28 de Maio, sendo um dos grandes adeptos da situação política daí decorrente".
Não oferece dúvida o seu apoio ao Estado Novo (1933-1974), tendo sido Presidente da Comissão Distrital de Viana do Castelo da União Nacional, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Governador Civil e Deputado.
O Embaixador João Alberto Bacelar da Rocha Páris, nascido em 19 de abril de 1945, em Viana do Castelo, forneceu um breve mas interessante testemunho (in Memória Oral da Diplomacia, entrevista realizada ao Embaixador João da Rocha Páris por Pedro Aires Oliveira, a 15 de julho e 6 de agosto de 2015; https://memoriaoraldiplomacia.mne.gov.pt/pt/entrevistas/joao-rocha-paris) acerca do pai, que não chegou a conhecer:
"O meu pai era monárquico e foi detido quando a monarquia foi substituída por um regime republicano. Ele era um bocado mais velho do que a minha mãe quando se casaram. Ainda solteiro, esteve exilado até à lei de amnistia do Dr. Salazar, e nessa altura voltou a Portugal. Depois foi deputado, Presidente da Câmara de Viana do Castelo, era licenciado em Direito. Também terá exercido alguma diplomacia, lá em Viana, mas não teve qualquer contacto com a carreira. Um primo meu afastado foi Ministro de Portugal em Bruxelas ainda nos tempos da monarquia. Devo dizer que não cheguei a conhecer o meu pai, porque ele faleceu quando eu tinha dois anos de idade, e muito menos esse primo afastado e bastante mais velho do que ele." (negrito acrescentado)
Tendo o director da Gazeta do Lima (em 1918 e início de 1919), sido detido após a implantação da República (1910), e estando ainda solteiro aquando do seu exílio, a referida amnistia não pode ter sido a "do Dr. Salazar", que só entrou para o Governo em 1928 (esteve no governo em 1926, mas por poucos dias) e só se tornou Presidente do Conselho de Ministros em 1930.
Em 1918, e até ao início de 1919, não oferece dúvida que Rocha Páris esteve em Portugal, como director da Gazeta do Lima - Órgão do Integralismo Lusitano no Alto Minho, tendo por isso regressado com uma das amnistia anteriores, talvez as de 1914-1915, que trouxe de volta muitos dos exilados monárquicos, antes do golpe de Estado de Afonso Costa contra o governo do general Pimenta de Castro.
Terá Rocha Páris saído para um segundo exílio, em 1919? É possível. Na véspera, estava ainda ao lado dos combatentes integralistas pela monarquia, que vieram a ter um papel de revelo na proclamação da Monarquia no Norte e no Monsanto.
Mas, o que é que aconteceu com Rocha Páris, entre a Monarquia do Norte (1919) e o "28 de Maio" (1926)?
Em Novembro de 1922, por intermédio de uma carta datada em Viana, sabemos que pediu a Alfredo Pimenta colaboração para o semanário Foz do Lima. Isto é, nessa data, João da Rocha Páris estava em Portugal - ou porque voltara entretanto do exílio ou porque não chegara a sair - mas tinha já mudado de campo entre os monárquicos, alinhando com Alfredo Pimenta.
Em Outubro de 1919, os integralistas lusitanos tinham anunciado a ruptura com D. Manuel II. O pedido de colaboração de Rocha Páris ao manuelista Alfredo Pimenta, em 1922, indica que a sua dissidência com o Integralismo Lusitano poderia estar já consumada, motivada pelo acordo obtido entre Integralistas e Legitimistas no apoio a D. Duarte Nuno de Bragança.
Os monárquicos que apoiaram e serviram no Estado Novo, como Rocha Páris, seguiram em regra uma linha de pensamento próxima de Alfredo Pimenta, que não tendo sido integralista, atraíra vários dissidentes para o seu circulo de relações. Se Rocha Páris tivesse continuado no Integralismo Lusitano, esteio dos monárquicos directamente envolvidos, tanto na revolução do "28 de Maio", como no combate ao estabelecimento da Salazarquia, em 1934-1935, aí sim, estaria em condições de vir a ser "amnistiado por Salazar", em consequência das prisões e exílios que o próprio Salazar ordenou contra oposicionistas como Alberto Monsaraz e Francisco Rolão Preto.
Refs:
VIANA, Rui A. Faria; BARROSO, António José – Publicações Periódicas Vianenses. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo. 2009. ISBN 978-972-588-208-5. pp. 282-283.
OLIVEIRA, Pedro Aires, Projeto Memória Oral da Diplomacia Portuguesa, Associação dos Amigos do AHD/Instituto Diplomático/Instituto de História Contemporânea), 2015.
Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
O apontamento biográfico do Parlamento diz-nos que Rocha Páris foi "proprietário, lavrador e jornalista". Foi também político, como deputado nas III e IV Legislaturas do Parlamento.
Na III Legislatura, (1942-1945) foi eleito no Circulo Nacional na lista do único partido legal no regime: a União Nacional; na IV Legislatura (1945-1949), foi eleito pelo círculo de Viana do Castelo (foram entretanto criado os círculos distritais, mas mantendo-se a regra da eleição da totalidade dos deputados da lista mais votada; o Estado Novo, através do seu Partido Único, teve sempre o pleno dos deputados na Câmara dos Deputados - designada "Assembleia Nacional").
A nota biográfica do Parlamento diz ainda o seguinte: "Monárquico. Exila-se em 1911, participando nas incursões de Paiva Couceiro e nas de 1919." Em 1911, houve incursões monárquicas levando os seus combatentes ao exílio, em 1919, porém, a monarquia foi proclamada por militares e civis em revolta, tanto em Lisboa (Monsanto) como no Porto. Derrotados, os monárquicos envolvidos saíram para o exílio; para os reincidentes, como Paiva Couceiro e Almeida Braga, por exemplo, foi uma saída para um segundo exílio. Mas a nota biográfica acrescenta ainda que Rocha Páris "regressa a Portugal depois do 28 de Maio, sendo um dos grandes adeptos da situação política daí decorrente".
Não oferece dúvida o seu apoio ao Estado Novo (1933-1974), tendo sido Presidente da Comissão Distrital de Viana do Castelo da União Nacional, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Governador Civil e Deputado.
O Embaixador João Alberto Bacelar da Rocha Páris, nascido em 19 de abril de 1945, em Viana do Castelo, forneceu um breve mas interessante testemunho (in Memória Oral da Diplomacia, entrevista realizada ao Embaixador João da Rocha Páris por Pedro Aires Oliveira, a 15 de julho e 6 de agosto de 2015; https://memoriaoraldiplomacia.mne.gov.pt/pt/entrevistas/joao-rocha-paris) acerca do pai, que não chegou a conhecer:
"O meu pai era monárquico e foi detido quando a monarquia foi substituída por um regime republicano. Ele era um bocado mais velho do que a minha mãe quando se casaram. Ainda solteiro, esteve exilado até à lei de amnistia do Dr. Salazar, e nessa altura voltou a Portugal. Depois foi deputado, Presidente da Câmara de Viana do Castelo, era licenciado em Direito. Também terá exercido alguma diplomacia, lá em Viana, mas não teve qualquer contacto com a carreira. Um primo meu afastado foi Ministro de Portugal em Bruxelas ainda nos tempos da monarquia. Devo dizer que não cheguei a conhecer o meu pai, porque ele faleceu quando eu tinha dois anos de idade, e muito menos esse primo afastado e bastante mais velho do que ele." (negrito acrescentado)
Tendo o director da Gazeta do Lima (em 1918 e início de 1919), sido detido após a implantação da República (1910), e estando ainda solteiro aquando do seu exílio, a referida amnistia não pode ter sido a "do Dr. Salazar", que só entrou para o Governo em 1928 (esteve no governo em 1926, mas por poucos dias) e só se tornou Presidente do Conselho de Ministros em 1930.
Em 1918, e até ao início de 1919, não oferece dúvida que Rocha Páris esteve em Portugal, como director da Gazeta do Lima - Órgão do Integralismo Lusitano no Alto Minho, tendo por isso regressado com uma das amnistia anteriores, talvez as de 1914-1915, que trouxe de volta muitos dos exilados monárquicos, antes do golpe de Estado de Afonso Costa contra o governo do general Pimenta de Castro.
Terá Rocha Páris saído para um segundo exílio, em 1919? É possível. Na véspera, estava ainda ao lado dos combatentes integralistas pela monarquia, que vieram a ter um papel de revelo na proclamação da Monarquia no Norte e no Monsanto.
Mas, o que é que aconteceu com Rocha Páris, entre a Monarquia do Norte (1919) e o "28 de Maio" (1926)?
Em Novembro de 1922, por intermédio de uma carta datada em Viana, sabemos que pediu a Alfredo Pimenta colaboração para o semanário Foz do Lima. Isto é, nessa data, João da Rocha Páris estava em Portugal - ou porque voltara entretanto do exílio ou porque não chegara a sair - mas tinha já mudado de campo entre os monárquicos, alinhando com Alfredo Pimenta.
Em Outubro de 1919, os integralistas lusitanos tinham anunciado a ruptura com D. Manuel II. O pedido de colaboração de Rocha Páris ao manuelista Alfredo Pimenta, em 1922, indica que a sua dissidência com o Integralismo Lusitano poderia estar já consumada, motivada pelo acordo obtido entre Integralistas e Legitimistas no apoio a D. Duarte Nuno de Bragança.
Os monárquicos que apoiaram e serviram no Estado Novo, como Rocha Páris, seguiram em regra uma linha de pensamento próxima de Alfredo Pimenta, que não tendo sido integralista, atraíra vários dissidentes para o seu circulo de relações. Se Rocha Páris tivesse continuado no Integralismo Lusitano, esteio dos monárquicos directamente envolvidos, tanto na revolução do "28 de Maio", como no combate ao estabelecimento da Salazarquia, em 1934-1935, aí sim, estaria em condições de vir a ser "amnistiado por Salazar", em consequência das prisões e exílios que o próprio Salazar ordenou contra oposicionistas como Alberto Monsaraz e Francisco Rolão Preto.
Refs:
VIANA, Rui A. Faria; BARROSO, António José – Publicações Periódicas Vianenses. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo. 2009. ISBN 978-972-588-208-5. pp. 282-283.
OLIVEIRA, Pedro Aires, Projeto Memória Oral da Diplomacia Portuguesa, Associação dos Amigos do AHD/Instituto Diplomático/Instituto de História Contemporânea), 2015.