No prefácio a Ao princípio era o Verbo (1924) escreveu António Sardinha:
"O que caracteriza, precisamente, a decadência das duas nações peninsulares, de modo a volverem-se numa caricatura arcaica e completamente despida de sentido, é o seu aferro à concepção absoluta da Vida e, logicamente, o seu total desprezo pela ideia “legal” do Universo. Socorremo-nos aqui, no enunciado de uma teoria que contamos desenvolver um dia com segurança, dos reforços que à nossa tese nos trazem os estudos do publicista alemão Werner Sombart sobre as origens do "espírito capitalista". Saídas da manifesta influência do Puritanismo, as modernas concepções económicas, - concepções que reinaram despoticamente durante o século passado, conduzindo-nos à vil metalização social em que nos debatemos -, denunciam-nos, por isso mesmo, a sua ascendência judaica, provado como está que todos os elementos sociais e morais transitados do Puritanismo para as teorias capitalistas são de inegável extração talmúdica. [*] Não é possível alongarmo-nos sobre tão interessante ponto. Mas, admitido que o Capitalismo tende a arrancar a sociedade do "estado pré económico", para a lançar plenamente no "estado-económico", reconhece-se sem custo que outro objetivo se não procura obter senão a posse completa do relativo". Eis no que consiste a linha psíquica do «homem oriental», - eis em que se baseia a identidade da sua ação «revolucionaria» com a sua superstição «legal», ambas demonstrativas do individualismo mais irrecusável." (pp. XIX-XX)
António Sardinha baseou-se na obra do historiador e sociólogo Werner Sombart, publicada em 1911 - Die Juden und das Wirtschaftsleben (The Jews and the Modern Capitalism, New York, 1913) - documentando o envolvimento judaico no desenvolvimento histórico do capitalismo. A tese de Sombart surgiu na sequência da conexão estabelecida por Max Weber, em 1904 e 1905, entre o Protestantismo (em especial o Calvinismo) e o Capitalismo - Die protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo). Tal como Max Weber, Werner Sombart, procurou uma explicação para o desenvolvimento do capitalismo moderno no norte da Europa, colocando porém ênfase no papel aí desempenhado pelos fabricantes e comerciantes judeus que, excluídos das guildas, desenvolveram uma forte antipatia pela regulação das actividades económicas, considerando-as primitivas e pouco progressistas. Ao serem excluídos das guildas - argumentou Sombart - os judeus promoveram o seu desmantelamento e substituição por uma ilimitada competição, defendendo que o produtor e o comerciante se deviam concentrar apenas em satisfazer o consumidor.
A "inegável extração talmúdica" dos elementos sociais e morais que transitaram do Puritanismo para as teorias capitalistas, referida por Sardinha, foi apresentada por Sombart no capítulo XI (p. 248-250), onde escreveu: "Puritanismo é Judaísmo" (p. 249).
"O que caracteriza, precisamente, a decadência das duas nações peninsulares, de modo a volverem-se numa caricatura arcaica e completamente despida de sentido, é o seu aferro à concepção absoluta da Vida e, logicamente, o seu total desprezo pela ideia “legal” do Universo. Socorremo-nos aqui, no enunciado de uma teoria que contamos desenvolver um dia com segurança, dos reforços que à nossa tese nos trazem os estudos do publicista alemão Werner Sombart sobre as origens do "espírito capitalista". Saídas da manifesta influência do Puritanismo, as modernas concepções económicas, - concepções que reinaram despoticamente durante o século passado, conduzindo-nos à vil metalização social em que nos debatemos -, denunciam-nos, por isso mesmo, a sua ascendência judaica, provado como está que todos os elementos sociais e morais transitados do Puritanismo para as teorias capitalistas são de inegável extração talmúdica. [*] Não é possível alongarmo-nos sobre tão interessante ponto. Mas, admitido que o Capitalismo tende a arrancar a sociedade do "estado pré económico", para a lançar plenamente no "estado-económico", reconhece-se sem custo que outro objetivo se não procura obter senão a posse completa do relativo". Eis no que consiste a linha psíquica do «homem oriental», - eis em que se baseia a identidade da sua ação «revolucionaria» com a sua superstição «legal», ambas demonstrativas do individualismo mais irrecusável." (pp. XIX-XX)
António Sardinha baseou-se na obra do historiador e sociólogo Werner Sombart, publicada em 1911 - Die Juden und das Wirtschaftsleben (The Jews and the Modern Capitalism, New York, 1913) - documentando o envolvimento judaico no desenvolvimento histórico do capitalismo. A tese de Sombart surgiu na sequência da conexão estabelecida por Max Weber, em 1904 e 1905, entre o Protestantismo (em especial o Calvinismo) e o Capitalismo - Die protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo). Tal como Max Weber, Werner Sombart, procurou uma explicação para o desenvolvimento do capitalismo moderno no norte da Europa, colocando porém ênfase no papel aí desempenhado pelos fabricantes e comerciantes judeus que, excluídos das guildas, desenvolveram uma forte antipatia pela regulação das actividades económicas, considerando-as primitivas e pouco progressistas. Ao serem excluídos das guildas - argumentou Sombart - os judeus promoveram o seu desmantelamento e substituição por uma ilimitada competição, defendendo que o produtor e o comerciante se deviam concentrar apenas em satisfazer o consumidor.
A "inegável extração talmúdica" dos elementos sociais e morais que transitaram do Puritanismo para as teorias capitalistas, referida por Sardinha, foi apresentada por Sombart no capítulo XI (p. 248-250), onde escreveu: "Puritanismo é Judaísmo" (p. 249).