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Os Jesuítas e as Letras

António Sardinha

Discute a responsabilidade atribuída aos jesuítas pela decadência das letras portuguesas nos séculos XVII e XVIII, julgando a acusação injusta e baseada em preconceitos históricos. Defende que o verdadeiro fator para o declínio literário foi a adoção acrítica do Humanismo, que, ao ser usado como fim e não como meio educativo, levou ao formalismo e ao pedantismo, afastando-se da natureza emotiva e lírica do povo português. Os jesuítas foram mais vítimas do que causadores dessa decadência, seguindo apenas a tendência cultural da época. Compara a situação portuguesa com a francesa, onde a influência jesuítica contribuiu para o apogeu intelectual do século XVII, formando grandes nomes como Descartes, Corneille e Molière. O século XVII português também teve grandes prosistas e filósofos, devendo-se a decadência literária mais ao esgotamento causado pelas aventuras ultramarinas do que à ação dos jesuítas. Por fim, é salientada a importante contribuição dos jesuítas para a educação, a ciência e o conhecimento de idiomas, referindo o Padre António Vieira e a influência das gramáticas jesuíticas, especialmente na instrução popular e no ensino do latim e de línguas orientais.





​Os Jesuítas e as Letras 


Não se trata do célebre opúsculo do Padre José Agostinho de Macedo, mas trata-se da mesma questão de que já ele se ocupava. Alguém me pergunta de longe qual a responsabilidade dos Jesuítas na decadência das nossas letras ao longo do século XVII e sobretudo durante o século seguinte. Eu sei! É a velha calúnia histórica mantida pela insuficiência de espírito crítico naqueles que, simbolizados em Mendes dos Remédios e em outros congéneres burocratas do pensamento, não fazem senão repetir em miseráveis compêndios de fancaria todos os odientos lugares-comuns em que a sua inteligência subalterna e apagada se compraz admiravelmente, quando mais não seja pela lei do menor esforço!

Complexo em demasia, este problema dos Jesuítas e da sua ação na decadência do nosso património literário mal pode ser abordado, como tema fugitivo, nas fugitivas palavras de um artigo de jornal. No entanto, assente-se logo de entrada que não os Jesuítas, mas sim a prática subserviente do Humanismo é que contribuiu para o definhamento sensível da nossa literatura, principalmente da nossa poesia. Surge-nos com isto uma questão gravíssima, a da Renascença. A Renascença é para Portugal, de um modo geral e debaixo de todos os pontos de vista, uma crise de profunda desnacionalização. Os Jesuítas aparecem entre nós na altura em que as nossas empresas ultramarinas nos lançam na carreira doida da perdição. Traduzindo o admirável movimento eclesiástico da Contra-Reforma, a Companhia de Jesus vai ao encontro do Humanismo e aproveita-o na sua missão educadora como alto elemento pedagógico. «Os Jesuítas – escreve Joseph Ageorges – resolveram magnificamente o caso de consciência do humanismo. Souberam compreender que é preciso não hostilizar a cultura intelectual, mas utilizá-la em benefício da religião.»
Todavia, se o Humanismo significava e significa na pedagogia uma poderosa disciplina de formação mental, já o seu ideal literário não correspondia à nossa natureza fundamentalmente emotiva. Essa emotividade fez de nós um povo de líricos que nos Cancioneiros e nas novelas de Cavalaria se retrata com fidelidade e com paixão. Uma coisa são as humanidades como meio, outra coisa são as humanidades como fim. As humanidades como meio constituem um dos mais fortes valores educativos. As humanidades como fim, num país cuja noção de sentimento e de gosto se houvera definido coletivamente já em período anterior, conduzem de uma maneira inevitável ao artifício e ao pedantismo, tal como hoje em dia a teoria da arte pela arte nesses curiosos parvenus da vida de letras que usam de dar pelo nome de Estetas.

No seu volume Ruine du monde antique, o grande espírito de Georges Sorel aponta com luminosidade as consequências desastrosas da cultura clássica, como os romanos da decadência a praticavam e como a praticaram depois, na Renascença, os receptadores da herança humanista. «Cultura de retóricos, cultura de diletantes, cultura formalista e vazia, onde os alunos, habituados a discorrer sobre temas desprovidos de todo o senso real e fora de todo o conhecimento positivo, não podem tornar-se senão beaux-esprits, capazes de discutir num salão de omni re scibili, mas impotentes para todo o trabalho produtivo, como para toda a criação verdadeiramente espiritual». Foi este falso conceito da cultura clássica que deu mais tarde o gongorismo, o marinismo, enfim, as formas preciosas e ultras em que as letras se desvirilizaram, optando pela cópia servil dos modelos que, como cânones intangíveis, as arcádias poéticas nos ofereciam na Antiguidade.
Entende-se já que os Jesuítas, longe de serem uma causa dessa degradação, não representam senão uma das suas muitas vítimas. Observar-se-á que aos Jesuítas pertencia a direção literária da mocidade. Assim é, sem dúvida. Mas deles se poderá dizer o que já Garrett, numa larga intuição, dissera de El-Rei D. João V: «A culpa não foi sua, mas do século, se de tão mau gosto eram as letras que protegia.» A culpa não foi também dos Jesuítas. E a prova de que não foi, achamo-la nós em França. Em França, por motivos de ordem vária, cujo exame não nos é agora possível, a cultura clássica, além de coincidir com a estabilização da nação e da língua, em vez de degenerar numa cultura retórica e formalista, manteve-se sempre uma cultura humana em todos os campos. Daí o século XVII marcar o apogeu intelectual da França e com figuras que deveram exatamente aos Jesuítas a conformação das suas inteligências.

Oiçamos o depoimento de Gabriel Compayré, que não é nada favorável à Companhia, na sua Histoire de la Pédagogie: «No fim do século XVII, os Jesuítas podiam inscrever, no quadro de honra das suas classes, cem nomes ilustres, entre outros Condé e Luxembourg, Fléchier e Bossuet, Lamoignon e Séguier, Descartes, Corneille e Molière.» Se Corneille, Descartes, Bossuet e Molière foram discípulos dos Jesuítas e ao mesmo tempo marcam nas suas individualidades uma das maiores plenitudes do génio francês, há que reconhecer não pertencer entre nós aos Jesuítas a responsabilidade da nossa depressão intelectual.

De resto, embora caluniado, o nosso século XVII é também um grande século, século de prosistas e de filósofos, em que o Suarismo e um D. Francisco Manuel de Melo nos revestem de linhas intelectuais altamente europeístas.

São outros os motivos da nossa decadência no número dos quais se destaca o natural esgotamento que a aventura de Além-Mar nos custou.

Mas acentue-se que, ainda assim, muito devemos intelectualmente aos Jesuítas. Basta falar no Padre Manuel Godinho, no Padre João de Lucena, no Padre António Vieira. Basta falar no desenvolvimento que eles deram à instrução popular e preparatória. A sua obra como missionários assinala-se também nos domínios da ciência. Não têm conto as memórias e relações geográficas que nos legaram. Foi mundial a célebre Gramática do Padre Manuel Álvares de que em 1859 se apontavam 150 edições. Outra gramática, a do Padre Diogo de Melo e Meneses, viu-se traduzida em francês e adotada lá fora como compêndio no ensino da língua latina. Muito contribuíram os Jesuítas para o conhecimento dos idiomas orientais. É de um Jesuíta de apelido Rodrigues a melhor gramática antiga de japonês. Em Portugal professaram várias disciplinas, além de Jesuítas nossos, muito ilustres, os afamados padres Molina e Suárez – um em Évora, o outro em Coimbra. Testemunho insuspeito é o da Introdução do Dicionário da Língua Portuguesa, publicado em 1791 pela Academia Real das Ciências. Aí se confessa que «a idade mais elegante da nossa língua deve considerar-se desde o ano de 1540 em que começaram a ler na Universidade de Coimbra os insignes mestres, que el-rei D. João III nela estabeleceu».
​
Termino. O assunto fica apenas aflorado. Mas esse moço integralista que de longe me consulta com a sua alma ardente de bom português, e a quem tão tarde respondo, já tem com que se defender do pobre ‘primário’ que lhe procura envenenar o cérebro com ideias mentirosas!


In Na Feira dos Mitos - Ideias e Factos, 1926.

Relacionado
1924-09 - António Sardinha - O Século XVII [em 1924, António Sardinha aprofundou o tema aqui "apenas aflorado" ]

Referencias
1902_-_georges_sorel_-_la_ruine_du_monde_antique_-_conception_matérialiste_de_lhistoire.pdf
​​...nós não levantaríamos nem o dedo mínimo, se salvar Portugal fosse salvar o conúbio apertado de plutocratas e arrivistas em que para nós se resumem, à luz da perfeita justiça, as "esquerdas" e as "direitas"!

​​- António Sardinha (1887-1925) - 
Fotografia

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