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Portugueses e Espanhóis

António Sardinha
Na verdadeira Assembleia da História, que deve ser a Festa da Raça, não pode faltar a representação de Portugal desde que o conceito de Raça se tem como um conceito ético e cultural da mesma civilização.

Assim o entendeu em Portugal o grande espírito de Oliveira Martins. Assim o entendeu numa estrofe sua o imortal Camões, como o entenderia, três séculos mais tarde, outro poeta português admirável, o visconde de Almeida Garrett. Hoje, que o destino das duas pátrias peninsulares encontram o seu natural prolongamento nos destinos da América, impropriamente chamada «latina», temos que empreender uma empresa, que é fundamental, e por si só a condição única para que o futuro glorioso da Península se converta depressa numa realidade de maravilha.

Recorda-me muitas vezes aquela página em que Ganivet, no seu Idearium Español, nos fala da agonia de um miserável expatriado americano sobre a enxerga de um hospital de Antuérpia. Agatón Tinoco se chamava o desgraçado, e nele descobriu a rara penetração intelectual de Gavinet um símbolo inolvidável. Esse símbolo trago-o sempre presente na memória.

É bem o símbolo da Raça, que criou a América e salvou a civilização cristã, rica de idealismo, formidável de heroicidade. Mas destroçada e caluniada no momento que passa, porque unicamente ouve as palavras que dividem e não as palavras que congregam e unificam. A história de Espanha e Portugal é, por desgraça, a triste prova desse erro secular. Ramos nobilíssimos do mesmo avoengo, espanhóis e portugueses ignoram-se reciprocamente num criminoso olvido do glorioso património, que é obra comum dos dois povos.

​Quando o tradicionalismo, pela boca de Vázquez de Mella, apregoa a necessidade de uma aliança com Portugal, para que a Espanha possa ter uma política externa segura e enérgica, não é somente o interesse de Espanha que enche de acentos viris e inflamados a voz do incomparável tribuno. O interesse de Portugal vê-se compreendido na velha aspiração de todos os bons patriotas espanhóis. É que Portugal, sem um entendimento fraternal e sincero com a Espanha, não poderá recuperar a sua perdida influência no mundo, como nação atlântica que é.

O nosso rumo, o rumo verdadeiro da Península leva-nos à América. Como ir à América, como lançar as bases de uma perdurável «sociedade das nações hispânicas», sem que previamente Espanha e Portugal se abracem sem reservas nem ocultas vacilações? Um grande esforço de inteligência se impõe como porta de passagem para o resto. Temos, antes de tudo, de apossar-nos dos sentimentos e das mentalidades. Existe em Portugal uma "legenda negra" contra Castela como existe em Castela uma "legenda negra" contra Portugal.  Parte dos espanhóis parece que nos desprezam e alguns portugueses não disfarçam as suas más disposições contra Espanha. Tanto o ódio como a indiferença são pecados mortais. No seu poema, Dante põe cerca dos danados por violência os danados por passividade.

Um acto de amor, de amor à Raça e ao seu génio imortal, seja o nosso anelo imediato! E comecemos já com a revisão necessária dos velhos motivos que nos separam e enfraquecem através da História, para proveito de terceiros. Tânger não seria uma túnica disputada por estranhos, se Portugal e Espanha, em identidade perfeita de visão, olhassem mais alto que as suas passadas contendas, sem significado hoje.

Para que a estreita comunhão entre os dois povos se afirme, dissipando sombras que perturbam, basta recordar que Isabel-a-Católica, a grande Isabel, encarnação suprema da Espanha genuína e cavalheiresca, ela, que nos venceu em Toro, era bisneta, tanto do Monarca vencedor de Aljubarrota, como do que ali foi vencido.

Dom Juan Vázquez de Mella disse por isso uma imensa e transcendental verdade, ao confessar, no seu memorável discurso da "Semana Regional" de Santiago, que sentiu um intenso afecto ao povo irmão, quando visitou o nosso Mosteiro da Batalha, onde descansam os restos do vencedor de Avis e do vencido de Toro. E com as rajadas da sua inspirada eloquência, Mella acrescenta: «Como se ele (o Mosteiro da Batalha) fosse levantado, mais que à discórdia entre Castela e Portugal, a uma unidade superior aos dois.»

O mesmo senti eu na Catedral de Toledo, de joelhos na capela dos Reyes Nuevos, onde a bandeira de Portugal, colhida em Toro, se desprende, pesarosa desde as altas abóbadas, sobre o túmulo do desventurado Dom João I de Castela. A mão de Isabel, filha de portuguesa e herdeira do sangue de Avis, ofereceu assim como em esforço póstumo, ao desbaratado de Aljubarrota, a insígnia que ela tomara em Toro, e que era a insígnia vitoriosa de outro seu bisavô: Dom João I, de Portugal.

Pois não me magoei eu com a recordação dolorosa, como Mella não se magoara debaixo das arcadas do templo da Batalha. É que o meu espírito sentiu ali, na majestosa igreja toledana, que uma unidade superior a Castela e Portugal ligava as duas pátrias imperduravelmente nas páginas mais belas e mais sagradas de toda a História.

Tenhamo-lo nós presente hoje, dia da Raça, festa da nossa civilização. Era português o marinheiro que fez a primeira viagem de circum-navegação: mas as naus eram de Castela. Eram de Castela as naus em que Colombo foi ao descobrimento do Novo Mundo; mas, Colombo, viúvo de uma mulher lusitana, teve por mestres seus os pilotos de Portugal.

​Sempre a admirável unidade entrevista por Mella no templo da Batalha! Sempre a admirável unidade que Toledo, a misteriosa Toledo, me revelou. Portugueses e espanhóis pelejaram juntos nas Navas-de-Tolosa e no Salado, durante a formidável epopeia da Reconquista. Juntos fomos contra os piratas berberiscos, que infestavam o Mediterrâneo. Juntos sangrámos na guerra da Independência, destroçando a altiva águia napoleónica.

E se passamos dos fastos da História aos anais da Literatura e da Arte, nós veremos que Gil Vicente, Luís de Camões, Sá de Miranda, D. Francisco Manuel de Melo, são clássicos da Língua Castelhana. Em troca, o Teatro Espanhol do Século de Ouro está todo cheio do nome de Portugal, com Calderón de la Barca, no Príncipe Constante; com Tirso de Molina, em Las Quinas de Portugal e em El Vergonzoso en Palacio; e com Vélez de Guevara, em Reinar después de morir. É essa a época de Filipe II, conceituado injustamente como um taciturno dominador da minha Pátria, mas que a amou talvez como poucos Monarcas seus. Filipe nasceu da grande Isabel de Portugal, a formosíssima Imperatriz que inspirou a Ticiano um conhecido retrato e que por sua morte levou o duque de Gândia aos caminhos da santidade.

Isabel foi tão amada por Carlos V, seu esposo, que o Cardeal Cienfuegos, biógrafo de São Francisco de Borja, nos conta que o Imperador chorou tanto a perda de Isabel, que até parecia ter-se-lhe pegado alguma coisa da ternura portuguesa.

«Miradas de menina y corazón de portugués», diz Cervantes de um personagem das suas novelas. Pois em Filipe II, o imperturbável Filipe, se nota a mesma ternura, devida sem dúvida à sua costela lusitana. Demonstram-no bem as cartas que de Lisboa escreveu a sua filha, a insigne Isabel Clara Eugénia. Por elas se vê que Filipe sofria também do mal tão português da saudade. «De lo que más soledad he tenido es del cantar de los ruiseñores, que hogaño no les he oído...» Filipe amando o canto dos rouxinóis pela noite escura! E tudo fica dito com o seu testemunho inesperado.

Pelas suas princesas, pelos seus escritores, pelos seus soldados, Portugal e Espanha abraçam-se numa afinidade que, constituindo o desígnio de Deus, seria sacrilégio nosso não estreitar ainda mais. Que a festa da Raça se torne depressa numa fervorosa solenidade de reconciliação. Que Espanha e Portugal encarem bem de frente, como dois irmãos perdidos que se encontram por fim, depois de extraviados, por tantos trabalhos e por tantas insidias. E logo, sem mais demoras, portugueses e espanhóis, marcharemos a ver do nosso destino imortal, cuja estrofe imorredoira o Atlântico repete sem cessar no ritmo sempre moço das ondas que vão e vêm.

​Terminará então a agonia daquele pobre Agatón Tinoco, de quem Ganivet nos fala. E Mella, profeta da Raça, sentirá que é esse o momento de o futuro se rasgar a toda a magnífica promessa, contida nos três dogmas de Espanha.

(1920)

[ Durante o seu exílio em Espanha (1919-21), António Sardinha estabeleceu contacto com Juan Vázquez de Mella (1861-1928), um destacado intelectual carlista que se tinha separado de Jaime de Borbón y Borbón-Parma (1870-1831). Abandonando o Partido Tradicionalista, Vázquez de Mella criou o Partido Católico Tradicionalista, tendo como órgão El pensamento español - diario tradicionalista (1919-1922), no qual Sardinha publicou, de Setembro a Novembro de 1920, uma série de artigos sob o título "El integralismo portugués y el tradicionalismo español" ] 

Entre a bibliografía de referencia, ver El cisma mellista (2010), de J. R. de Andrés Martín, e a tese de doutoramento na Universidad de Navarra sobre Vázquez de Mella, de Fernando Llergo Bay (2016).

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