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Paixão de Espanha

António Sardinha

Não podem ficar sem comentário as gravíssimas afirmações do general Primo de
Rivera sobre o abandono de Marrocos. Dia a dia, hora a hora, tenho acompanhado
o drama emocionante que se passa além do Estreito com reflexos desencontrados
na opinião espanhola.

A questão de Marrocos não é apenas uma questão que importe ao futuro da
nação vizinha. O futuro da Península depende do rumo que se imprimir a esse
momentoso problema. Há quase quarenta anos que num comício público D.
Joaquín Costa declarava: «Yo tengo para mí que la línea estratégica de ciudades y
de fortalezas que poseemos al otro lado del estrecho, desde Ceuta a las Chafarinas,
nos es tan necesaria, hoy por hoy, y forma parte tan integrante de nuestro territorio,
como la línea estratégica de fortalezas que se extiende por la cuenca del Ebro,
desde Montjuic hasta Pamplona.»

De maneira que o problema de Marrocos já então se formulava para as
inteligências cultas em Espanha como um simples e elementar problema de defesa
nacional. Dar-lhe-ia depois um sentido mais amplo entre nós o malogrado Moniz
Barreto, ao escrever – num estudo seu, notabilíssimo, da Revista de Portugal – que
a questão marroquina prende-se de tal modo com a questão da integridade nacional
espanhola, que não é mais que um dos aspectos desta. Um ilustre historiador inglês
– continua Moniz Barreto – pôde afirmar ser uma lei da história que as populações
da península dominem ou sejam dominadas pelas que estanceiam na região
africana que lhes fica fronteira.
Assim, de espanhol o problema se torna peninsular,
participando consequentemente Portugal dos seus benefícios ou dos seus resultados
funestos.

Compreende-se bem porquê. Enfeudados como país pequeno que não sabe
valorizar a sua posição geográfica por medidas sensatas de governo, àqueles
colossos, que possuam o império do Mar, nós acabaríamos de ser com a Espanha
uma pobre terra de passagem se, separados da Europa pelos Pirenéus, nos víssemos
separados do resto do mundo pelo imperialismo que houvesse de triunfar no norte
de África. «Seria mais um capítulo a ajuntar à crónica lamentável da decadência
peninsular – pondera com razão Moniz Barreto – se essa região marroquina, aberta
à acção dos dois povos cristãos pela espada de D. João I e dos conquistadores de
Ceuta, ilustrada pela valentia dos fronteiros de África, dourada pela fama robusta
de D. Afonso V e pela glória nascente de D. João II, consagrada pelo apostolado de
Raimundo Lulio, pelo martírio do Infante Santo, pelo sangue de D. Sebastião,
venha a cair como Tunes, arrancada por nós, aos bárbaros, das mãos daqueles que
no século XVI se ligavam aos inimigos da cultura europeia em proveito das suas
conveniências políticas e dos seus interesses comerciais no Levante.»

Ora parece-me a mim que o receio de Moniz Barreto se começa a revestir de
apreensivas linhas proféticas! Indicia um estado de espírito desanimador a atitude
de um militar, como Primo de Rivera, não corando de propor em pleno Senado que
se abandone Marrocos e se troque Gibraltar por Ceuta. Irredentismo por
irredentismo, antes el peñón em poder de estrangeiros do que uma bandeira, que
não fosse a espanhola, flutuando em Ceuta. O perigo e o sarcasmo que Gibraltar
representa desdobrar-se-ia em infinitas "Gibraltares" ao longo do Rif, arrancando
para sempre à Espanha a hegemonia que de direito lhe pertence, como senhora das
bocas de dois Mares.

Exactamente, o motivo por que Isabel-a-Católica mandava em seu
testamento «a los Reyes que después... sucedieren en los dichos mis reinos, que
siempre tengan en la Corona y Patrimonio Real de ellos... la Ciudad de Gibraltar» –
exactamente por esse alto motivo é que, uma vez perdida Gibraltar, se não deve
trocar Ceuta por ela. Ceuta, na posse de Espanha, fincando o pé da Península no
território africano, é uma garantia permanente de que Gibraltar, cedo ou tarde,
volverá à Espanha.
Mas Ceuta alienada por uma política de reles comodismo
suicida, é a Espanha despedindo-se da sua grandeza vindoira e lavrando por seu
punho o próprio termo de óbito.

Se como estrangeiro me é vedado apreciar com o azedume que me merecem
as afirmações do marquês de Estella, como peninsular não me considero de forma
nenhuma alheio a uma contenda que toca de perto o coração de Portugal. Quando
no horizonte se destaca, com a largada para a América, a nova idade da Península,
eis que as duas grandes pátrias hispânicas, desviando os olhos desta promessa de
maravilha, porfiam em se negar a si mesmas, como se nada lhes coubesse nos
frutos da admirável civilização que outrora souberam criar.

Penetra-me então um fundo pessimismo – não o pessimismo dos fracos e dos
incrédulos, mas um pessimismo heróico, à maneira do de Ganivet, ao confessar que
«en presencia de la ruina espiritual de España hay que ponerse una piedra en el
sitio donde está el corazón, y hay que arrojar aunque sea un millón de Españoles a
los lobos, si no queremos arrojarnos todos a los puercos».

O que apodrece em Espanha, impedindo que a nação verdadeira se
manifeste, é o seu liberalismo arcaico e caricatural que aprisiona a monarquia e que
permite a um general prégar da sua cadeira de senador uma doutrina de
ignominioso derrotismo. São os sofistas de ínfima espécie – genuínos palhaços da
Inteligência, como Unamuno e Ortega y Gasset – quem rouba à nação irmã a flama
épica em que ela estremece até à medula dos ossos. É um bando de invertebrados e
desnacionalizados que preparam para a sua terra o abismo moral e social em que a
nossa abala perdida.

É a conjura secreta dos partidos, degladiando-se sem idealidade nem
finalidade naquele recorte de pompa sonora e vazia com que Eça de Queiroz
estigmatizou as doiradas mediocridades do nosso Constitucionalismo. E, no
entanto, além do estreito, como que obedecendo a um ditame imperativo da Raça,
os soldados vão tombando, de alma ingénua e contente, traídos pelos „moiros‟ da
retaguarda. Porque moiros são, efectivamente, os que quiseram que a Espanha
inteira sucumba devorada pelos porcos, a vê-la, como Guzmán el Bueno,
sacrificando às gerações que hão-de vir, num grande holocausto, a seara florida de
uma geração que nasceu destinada já por Deus para o resgate da pátria tradicional!
Paixão de Espanha, paixão tão dolorosa e tão demorada! Começou com
Cervera, marchando em navios de madeira, ao encontro dos couraçados norte-
americanos. E desde essa hora a alma magnânima que gerou o Cid, que inspirou
Cisneros e vibra ao longo de uma literatura sem par, continua sentada no Pretório,
entre o ulular ignaro dos fariseus que a leiloam. Juntou-se-lhes agora a retórica
ensebada do Marquês de Estella. E perante um general que discursa, enquanto há
soldados que morrem, como parece de outro tempo e de outra raça aquela
passagem de uma carta de Cervera, o glorioso vencido: «No por mí tanto como por
la pobre España, diré: Señor, si es possible, pase de nosotros éste cáliz!»
​
(1921)


​
Relacionado
1943 - António Sardinha - À Lareira de Castela
​​...nós não levantaríamos nem o dedo mínimo, se salvar Portugal fosse salvar o conúbio apertado de plutocratas e arrivistas em que para nós se resumem, à luz da perfeita justiça, as "esquerdas" e as "direitas"!

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- António Sardinha (1887-1925) - 
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