A volta do Espírito
António Sardinha
Manuel Ribeiro duvida da libertação económica das massas humanas sem que seja aureolada por uma prévia redenção espiritual. [ ...] Ele ama a Revolução, como nós a amamos. A sociedade não se conserva sem a justiça, - ensinam os teólogos.
Detenho-me diante do novo livro de Manuel Ribeiro e é para considerar sobre a sua última página a razão que possui Paul Bourget quando nos fala «d'une foi que s'ignore et que parfois se cherche en pleurant». Numa literatura, tal como a nossa, reduzida apenas aos puros efeitos da sensação e da publicidade, Manuel Ribeiro restaura de súbito o império esquecido da Alma e apresenta resolutamente aos que lhe passam no caminho a incógnita atormentante do seu drama interior. Consola, na verdade, vermos uma inteligência, transviada na selva escura das mais escuras ideologias, resistir aos preconceitos da sua formação filosófica, para nos declarar, numa nobre coragem, que o segredo da vida reside muito para além do tumulto dos horizontes quotidianos - reside na solidão pensativa de um claustro ou de uma tebaida.
Escapa-me o relevo artístico do livro de Manuel Ribeiro —a sua melancólica e impressionante sinceridade - escapam-me até os defeitos da sua ardorosa improvisação. Neste momento, com a leitura ainda palpitando dentro de mim, é bem diverso o aroma que dele recebo e que me enternece profundamente. A ampla rajada espiritualista que se levanta por todos os cantos da Terra encontra eco na sensibilidade do moço escritor, que já não sabe fugir-lhe à atracção dominadora.
Comparem, meus senhores, a inspiração quentíssima do livro de Manuel Ribeiro, ajoelhado por obra de Deus nos degraus do Altar, ao espectáculo que se desprende da feira das nossas letras, repleta de salonnards, declamando, num histrionismo cantante, as árias desbotadas dos terraços da Decadência, - e respondam-me com franqueza de que lado sopra o vento do Espírito, se do lado de um homem aureolado da quimera vermelha de Lenine, se do lado dos palhaços lantejoulados de que andam pletóricas as colunas dos carnets-mondains!
Perdidos no narcisismo arcaico do fauno de Mallarmé, não se lembram esses vaidosos bobos do grito alucinante de Rimbaud, cansado de tanta cenografia de aluguer, já farto dos repuxos convencionais dos jardins de Saigons. "J'ai soigné à rechercher la clef du festin ancien, où je repren-drais peut-étre l'appétit. La charité est cette clef...."
E a chave que Rimbaud procurava para se sentar á mesa do festim antigo — do festim da alegria, da simplicidade e da virtude, achou-a Manuel Ribeiro nas peregrinações sentimentais do arquitecto Lu-ciano, — seu amigo íntimo e companheiro de todas as horas...
Pertence o arquitecto Luciano à linhagem psíquica daquele admirável inquieto que Huysmans nos personalisou no Durtal de alguns dos seus romances. É certo que Luciano não rondou pelas proximidades sacrilegas do diabolismo, nem assistiu á cerimónia execranda da missa-negra, com qualquer cónego nobre consagrando a hóstia, para a profanar em seguida. Mas, como Durtal, acolhendo-se ao silêncio animador de uma pequena trapa, depois de haver rezado a Nossa Senhora de Chartres, eis também que Luciano, introduzido nos encantos da arte cristã pelos seus demorados colóquios com a desfigurada Sé olisiponense se decide a buscar no sossego de um ermitério o refúgio porque o seu coração suspira. Algiu-se da água-viva dos montes - tal como os cervos da imagem simbólica do Salmista. E é num recanto da Castela-a-Velha, debaixo do báculo paternal de S. Bruno, que Luciano entra pela primeira vez na compreensão do que vale a Oração, como força transfiguradora, aprendendo a contemplar no Monge, não uma mutilação da nossa personalidade, mas antes uma das suas formas mais belas e mais transparentes.
Ali, desde a austeridade da regra á formosura sóbria, quase tétrica, da paisagem, tudo recorda a Luciano os direitos olvidados do Espirito. «Senhor, compadecei-vos do cristão que duvida e do incrédulo que deseja orar, — compadecei-vos do forçado da existência que embarcou pela noite escura, debaixo dum firmamento que os lumes consoladores da esperança não eternizam mais!»- brada no A rebours a angústia tenebrosa de Huysmans.
Pois genuflectindo perante a Porta-cœli, não sentiria igualmente o arquitecto Luciano que uma voz secreta lhe repetia no sangue o mesmo apelo veemente?
Escapa-me o relevo artístico do livro de Manuel Ribeiro —a sua melancólica e impressionante sinceridade - escapam-me até os defeitos da sua ardorosa improvisação. Neste momento, com a leitura ainda palpitando dentro de mim, é bem diverso o aroma que dele recebo e que me enternece profundamente. A ampla rajada espiritualista que se levanta por todos os cantos da Terra encontra eco na sensibilidade do moço escritor, que já não sabe fugir-lhe à atracção dominadora.
Comparem, meus senhores, a inspiração quentíssima do livro de Manuel Ribeiro, ajoelhado por obra de Deus nos degraus do Altar, ao espectáculo que se desprende da feira das nossas letras, repleta de salonnards, declamando, num histrionismo cantante, as árias desbotadas dos terraços da Decadência, - e respondam-me com franqueza de que lado sopra o vento do Espírito, se do lado de um homem aureolado da quimera vermelha de Lenine, se do lado dos palhaços lantejoulados de que andam pletóricas as colunas dos carnets-mondains!
Perdidos no narcisismo arcaico do fauno de Mallarmé, não se lembram esses vaidosos bobos do grito alucinante de Rimbaud, cansado de tanta cenografia de aluguer, já farto dos repuxos convencionais dos jardins de Saigons. "J'ai soigné à rechercher la clef du festin ancien, où je repren-drais peut-étre l'appétit. La charité est cette clef...."
E a chave que Rimbaud procurava para se sentar á mesa do festim antigo — do festim da alegria, da simplicidade e da virtude, achou-a Manuel Ribeiro nas peregrinações sentimentais do arquitecto Lu-ciano, — seu amigo íntimo e companheiro de todas as horas...
Pertence o arquitecto Luciano à linhagem psíquica daquele admirável inquieto que Huysmans nos personalisou no Durtal de alguns dos seus romances. É certo que Luciano não rondou pelas proximidades sacrilegas do diabolismo, nem assistiu á cerimónia execranda da missa-negra, com qualquer cónego nobre consagrando a hóstia, para a profanar em seguida. Mas, como Durtal, acolhendo-se ao silêncio animador de uma pequena trapa, depois de haver rezado a Nossa Senhora de Chartres, eis também que Luciano, introduzido nos encantos da arte cristã pelos seus demorados colóquios com a desfigurada Sé olisiponense se decide a buscar no sossego de um ermitério o refúgio porque o seu coração suspira. Algiu-se da água-viva dos montes - tal como os cervos da imagem simbólica do Salmista. E é num recanto da Castela-a-Velha, debaixo do báculo paternal de S. Bruno, que Luciano entra pela primeira vez na compreensão do que vale a Oração, como força transfiguradora, aprendendo a contemplar no Monge, não uma mutilação da nossa personalidade, mas antes uma das suas formas mais belas e mais transparentes.
Ali, desde a austeridade da regra á formosura sóbria, quase tétrica, da paisagem, tudo recorda a Luciano os direitos olvidados do Espirito. «Senhor, compadecei-vos do cristão que duvida e do incrédulo que deseja orar, — compadecei-vos do forçado da existência que embarcou pela noite escura, debaixo dum firmamento que os lumes consoladores da esperança não eternizam mais!»- brada no A rebours a angústia tenebrosa de Huysmans.
Pois genuflectindo perante a Porta-cœli, não sentiria igualmente o arquitecto Luciano que uma voz secreta lhe repetia no sangue o mesmo apelo veemente?
* * *
Desdobramento lógico de A Catedral, o Deserto é para Manuel Ribeiro o que o En route foi para Huysmans. Ainda que pareçam idênticas as estradas percorridas por ambos, um traço inconfundível separa, no entanto, o conflito de Manuel Ribeiro do conflito do autor do Lá-bas. Conviva do amoralismo elegante do seu tempo, Huysmans resistiu-lhe á dissolução doirada, enamorando-se cedo pelas nascentes místicas da imortalidade. Se o realismo levava o romancista do Germinal à lite-ratisação dos aspectos inferiores da vida, levava, pelo contrário, Huysmans, discípulo acarinhado de Zola, aos átrios da Igreja pelo exame dessa estéril satisfação em que o século findo se enredou tràgi-camente, tocado pela aza membranosa do tédio.
Recolhia Huysmans a herança dum período de individualismo solto, em que a ânsia de sorver todas as taças deixava nas bocas vazias um sarro de amargura indefinivel. O que restava, afinal, dos super-homens, — dos emancipados», por cujo braço Huysmans se passeava através dos «paraísos artificiais» do seu Des Esseintes? Zarathustra morrera de uma paralisia geral. E os outros — os demais do seu cortejo, — precipitavam-se na morte, libertando-se pelo suicídio, — como tantos personagens de Ibsen, como o seleccionado e orgulhoso Giorgio Aurispa da novela célebre de Gabriel de Annunzio.
Por um irreprimível protesto do seu temperamento, — temperamento raro de afirmativo, - não se conformava Huysmans com as soluções mentirosas do Nada. Já Barbey d'Aurévilly, em comentário ao A rebours, lhe estendera, como dilema inflexível, ou o cano de uma pistola, ou os pés de um crucifixo. Huysmans escolheu os pés de um crucifixo e o seu testemunho de convertido nunca mais se esquece, tal é a humildade e o amor em que se abrasa! «Mas que coisa desconhecida é essa, mais bela que a riqueza e que o prazer ?» - preguntava Thais pasmada, ao ouvir a narração do martírio de Santa Teodora. Outra não seria a epigrafe que um crítico apurado e piedoso podia sem escrúpulo lançar por sobre a portada da obra de Huysmans.
Ocupando-me de Manuel Ribeiro, não repetirei para com ele o dilema que Barbey d'Aurévilly oferecia a Huysmans... Liberto do individualismo, Manuel Ribeiro obedece a motivos diversos quando se aproxima, reverente e meditabundo, dos mistérios do Santuário. E o seu profundo sonho humanitarista — é o seu desejo de renovação que o põe na encruzilhada dramática em que a sua sinceridade agora se debate. Anota algures Guglielmo Ferrero que nas épocas de crise é o misticismo o único porto seguro para os inadaptados e antecipados superiores. Trata-se de um fenómeno histórico comprovadíssimo que Ferrero, com as suas predileções clássicas, personifica magnificamente no exemplo de Santo Agostinho, voltando as costas às realidades da hora imediata para se engolfar nos abismos teológicos da graça e firmar as «bases da grande ponte mediante a qual a Europa devia efectuar a longa e difícil viagem da antiga à moderna civilização». Ora é aqui que o caso de Manuel Ribeiro difere fundamentalmente do caso de Huysmans. Huysmans demandava apenas quietação para si, como o forçado da existência que se embarca pela noite escura. Suando nos seus suores a agonia do proletariado universal, Manuel Ribeiro duvida da libertação económica das massas humanas sem que seja aureolada por uma prévia redenção espiritual. Penetrou-o já na sua misericórdia infinita o miserere super turbam de Jesus. É isso que o leva aos degraus do Altar, sem que o leve à aceitação dos cânones burgueses de uma sociedade que morre, de uma sociedade que se vai e que não vale a pena salvar.
Se há nos Evangelhos passagem que se aproxime do estado de alma de Manuel Ribeiro é a do senhor em Emauz depois de ressuscitado. Reconheceram-no os dois companheiros de jornada só pela maneira como partia o pão. É pela maneira como parte o pão que a Igreja chama a si os que lhe pedem a palavra da vida, a palavra que salva, por uma cirurgia admirável, sem que mutile ou danifique. Silêncio! Não perturbemos com divagações indiscretas a vigília de Manuel Ribeiro. Ele ama a Revolução, como nós a amamos. A sociedade não se conserva sem a justiça, - ensinam os teólogos.
E como Thearas, — o eremita, observava a Philonous, — o filósofo, também eu observo a Manuel Ribeiro: «Nós não temos medo da Revolução, querido camarada! Somos até os seus mais decididos trabalhadores. Porque é uma enorme revolução a do regresso do mundo à ordem!» E o regresso do mundo à ordem é o restabelecimento da justiça — da «santa justiça, que é a grande força da conservação», segundo Santa Catarina de Sena.
Entretanto, o que irá fazer Manuel Ribeiro? Esperamos que não se afunde na sombra, tal como Luciano que se internou no escuro das alamedas, ao abandonar a Cartuxa de Miraflores. Seja, porém, como for, o vento do Espírito soprou. E soprou nas letras portuguesas, mais ressequidas e tombadas que uma paisagem canicular do meu Alentejo, - que é também o Alentejo do Manuel Ribeiro -, graças à pena de um homem em quem o encanto da verdade pode mais que o falso prestígio dos ídolos dominantes no Forum!
Agosto de 1922
Recolhia Huysmans a herança dum período de individualismo solto, em que a ânsia de sorver todas as taças deixava nas bocas vazias um sarro de amargura indefinivel. O que restava, afinal, dos super-homens, — dos emancipados», por cujo braço Huysmans se passeava através dos «paraísos artificiais» do seu Des Esseintes? Zarathustra morrera de uma paralisia geral. E os outros — os demais do seu cortejo, — precipitavam-se na morte, libertando-se pelo suicídio, — como tantos personagens de Ibsen, como o seleccionado e orgulhoso Giorgio Aurispa da novela célebre de Gabriel de Annunzio.
Por um irreprimível protesto do seu temperamento, — temperamento raro de afirmativo, - não se conformava Huysmans com as soluções mentirosas do Nada. Já Barbey d'Aurévilly, em comentário ao A rebours, lhe estendera, como dilema inflexível, ou o cano de uma pistola, ou os pés de um crucifixo. Huysmans escolheu os pés de um crucifixo e o seu testemunho de convertido nunca mais se esquece, tal é a humildade e o amor em que se abrasa! «Mas que coisa desconhecida é essa, mais bela que a riqueza e que o prazer ?» - preguntava Thais pasmada, ao ouvir a narração do martírio de Santa Teodora. Outra não seria a epigrafe que um crítico apurado e piedoso podia sem escrúpulo lançar por sobre a portada da obra de Huysmans.
Ocupando-me de Manuel Ribeiro, não repetirei para com ele o dilema que Barbey d'Aurévilly oferecia a Huysmans... Liberto do individualismo, Manuel Ribeiro obedece a motivos diversos quando se aproxima, reverente e meditabundo, dos mistérios do Santuário. E o seu profundo sonho humanitarista — é o seu desejo de renovação que o põe na encruzilhada dramática em que a sua sinceridade agora se debate. Anota algures Guglielmo Ferrero que nas épocas de crise é o misticismo o único porto seguro para os inadaptados e antecipados superiores. Trata-se de um fenómeno histórico comprovadíssimo que Ferrero, com as suas predileções clássicas, personifica magnificamente no exemplo de Santo Agostinho, voltando as costas às realidades da hora imediata para se engolfar nos abismos teológicos da graça e firmar as «bases da grande ponte mediante a qual a Europa devia efectuar a longa e difícil viagem da antiga à moderna civilização». Ora é aqui que o caso de Manuel Ribeiro difere fundamentalmente do caso de Huysmans. Huysmans demandava apenas quietação para si, como o forçado da existência que se embarca pela noite escura. Suando nos seus suores a agonia do proletariado universal, Manuel Ribeiro duvida da libertação económica das massas humanas sem que seja aureolada por uma prévia redenção espiritual. Penetrou-o já na sua misericórdia infinita o miserere super turbam de Jesus. É isso que o leva aos degraus do Altar, sem que o leve à aceitação dos cânones burgueses de uma sociedade que morre, de uma sociedade que se vai e que não vale a pena salvar.
Se há nos Evangelhos passagem que se aproxime do estado de alma de Manuel Ribeiro é a do senhor em Emauz depois de ressuscitado. Reconheceram-no os dois companheiros de jornada só pela maneira como partia o pão. É pela maneira como parte o pão que a Igreja chama a si os que lhe pedem a palavra da vida, a palavra que salva, por uma cirurgia admirável, sem que mutile ou danifique. Silêncio! Não perturbemos com divagações indiscretas a vigília de Manuel Ribeiro. Ele ama a Revolução, como nós a amamos. A sociedade não se conserva sem a justiça, - ensinam os teólogos.
E como Thearas, — o eremita, observava a Philonous, — o filósofo, também eu observo a Manuel Ribeiro: «Nós não temos medo da Revolução, querido camarada! Somos até os seus mais decididos trabalhadores. Porque é uma enorme revolução a do regresso do mundo à ordem!» E o regresso do mundo à ordem é o restabelecimento da justiça — da «santa justiça, que é a grande força da conservação», segundo Santa Catarina de Sena.
Entretanto, o que irá fazer Manuel Ribeiro? Esperamos que não se afunde na sombra, tal como Luciano que se internou no escuro das alamedas, ao abandonar a Cartuxa de Miraflores. Seja, porém, como for, o vento do Espírito soprou. E soprou nas letras portuguesas, mais ressequidas e tombadas que uma paisagem canicular do meu Alentejo, - que é também o Alentejo do Manuel Ribeiro -, graças à pena de um homem em quem o encanto da verdade pode mais que o falso prestígio dos ídolos dominantes no Forum!
Agosto de 1922
[ in Purgatório das Ideias - Ensaios de Crítica, Lisboa, 1929, pp. 231-237 ]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Ribeiro [ em 19 de Junho de 2025]:
Manuel Ribeiro
Manuel António Ribeiro, foi um escritor, poeta e uma figura política de relevo na Primeira República Portuguesa. Era natural de Albernoa (Beja) e ficou conhecido na história de Portugal pelo seu papel enquanto fundador da primeira organização bolchevista em Portugal (Federação Maximalista Portuguesa), assim como, enquanto dinamizador da fundação do PCP.
BiografiaNasceu em Albernoa (Beja), filho de um sapateiro[1]. Desde muito novo participou ativamente na política ao transmitir o seu apoio pela causa republicana nos jornais de Beja. Quando terminou o liceu ingressou no curso de medicina em Lisboa, onde teve os primeiros contactos com as ideias anarquistas e sindicalistas. Quando se viu obrigado a abandonar os estudos, por falta de recursos económicos, passou a trabalhar para a Editora Guimarães onde conheceu Delfim Guimarães[2].
Já na Republica, aderiu às ideias sindicalistas revolucionárias, ficando conhecido pelo seu debate com Emílio Costa em que argumentava que o "sindicalismo se bastava a si mesmo" e que se tratava de uma doutrina independente do anarquismo [3].
Com o deflagrar da Primeira Guerra Mundial, colocou-se ao lado das potencias aliadas contra o belicismo germânico, tomando posição ao lado dos signatários do Manifesto dos Dezasseis[2].
Após a Revolução de Outubro liderada pelos bolcheviques, Manuel Ribeiro aproxima-se das ideias que inspiraram esta revolução, passando a preconizar a necessidade de haver uma fase transitória em ditadura para atingir a revolução operária. Pouco depois, iria organizar a Federação Maximalista Portuguesa, a primeira organização em Portugal com objetivo de seguir os exemplos da revolução dos sovietes[3].
No final de 1920 acabaria detido devido à sua colaboração enquanto diretor do jornal maximalista A Bandeira Vermelha. No seguimento desse acontecimento, figuras como Raul Brandão e Fernando Pessoa chegariam a assinar um abaixo-assinado pela sua libertação[2].
Pouco tempo após a sua libertação começou aproximar-se do ideário católico e a afastar-se cada vez mais das ideias revolucionárias. Lançou uma "trilogia social" nos anos 20 que fizeram de Manuel Ribeiro o autor mais lido em Portugal, nos anos 20[2].
Nos seus últimos anos de vida trabalhou enquanto conservador na Torre do Tombo, onde se dedicou ao estudo da Soror Mariana Alcoforado[3].
Morreu a 27 de novembro de 1941, na sua casa na rua Azedo Gneco, 9, 4.º esquerdo[4].
Cronologia[3]
Referências
Manuel Ribeiro
Manuel António Ribeiro, foi um escritor, poeta e uma figura política de relevo na Primeira República Portuguesa. Era natural de Albernoa (Beja) e ficou conhecido na história de Portugal pelo seu papel enquanto fundador da primeira organização bolchevista em Portugal (Federação Maximalista Portuguesa), assim como, enquanto dinamizador da fundação do PCP.
BiografiaNasceu em Albernoa (Beja), filho de um sapateiro[1]. Desde muito novo participou ativamente na política ao transmitir o seu apoio pela causa republicana nos jornais de Beja. Quando terminou o liceu ingressou no curso de medicina em Lisboa, onde teve os primeiros contactos com as ideias anarquistas e sindicalistas. Quando se viu obrigado a abandonar os estudos, por falta de recursos económicos, passou a trabalhar para a Editora Guimarães onde conheceu Delfim Guimarães[2].
Já na Republica, aderiu às ideias sindicalistas revolucionárias, ficando conhecido pelo seu debate com Emílio Costa em que argumentava que o "sindicalismo se bastava a si mesmo" e que se tratava de uma doutrina independente do anarquismo [3].
Com o deflagrar da Primeira Guerra Mundial, colocou-se ao lado das potencias aliadas contra o belicismo germânico, tomando posição ao lado dos signatários do Manifesto dos Dezasseis[2].
Após a Revolução de Outubro liderada pelos bolcheviques, Manuel Ribeiro aproxima-se das ideias que inspiraram esta revolução, passando a preconizar a necessidade de haver uma fase transitória em ditadura para atingir a revolução operária. Pouco depois, iria organizar a Federação Maximalista Portuguesa, a primeira organização em Portugal com objetivo de seguir os exemplos da revolução dos sovietes[3].
No final de 1920 acabaria detido devido à sua colaboração enquanto diretor do jornal maximalista A Bandeira Vermelha. No seguimento desse acontecimento, figuras como Raul Brandão e Fernando Pessoa chegariam a assinar um abaixo-assinado pela sua libertação[2].
Pouco tempo após a sua libertação começou aproximar-se do ideário católico e a afastar-se cada vez mais das ideias revolucionárias. Lançou uma "trilogia social" nos anos 20 que fizeram de Manuel Ribeiro o autor mais lido em Portugal, nos anos 20[2].
Nos seus últimos anos de vida trabalhou enquanto conservador na Torre do Tombo, onde se dedicou ao estudo da Soror Mariana Alcoforado[3].
Morreu a 27 de novembro de 1941, na sua casa na rua Azedo Gneco, 9, 4.º esquerdo[4].
Cronologia[3]
- 1908: Publica o livro Imperiosa Verdade;
- 1909: Publica o livro Sentido de viver;
- 1911: Eleito para a Comissão Executiva do Congresso Sindical;
- 1912: Inicia colaboração no jornal O Sindicalista com a rubrica "Na Linha de Fogo".
- 1914: Declara o seu apoio ao Manifesto dos Dezasseis.
- 1916: Publica artigos de literatura monástica no jornal A Capital;
- 1918: Publica uma série de artigos em prol da Revolução Russa no jornal A Greve.
- 1919:
- Inicia a colaboração com o jornal A Batalha, onde retoma a rubrica "Na Linha de Fogo".
- Eleito Secretário da Comissão Executiva da Federação Maximalista Portuguesa (Abril);
- Diretor do jornal A Bandeira Vermelha[5].
- 1920:
- Detido na redação da Bandeira Vermelha e enviado para a prisão do Limoeiro;
- Eleito para a Comissão Organizadora para a Constituição do Partido Comunista.
- Publica o livro A Catedral (livro em suporte digital)
- 1921:
- Libertado da Prisão;
- Inicia colaboração com a revista ABC;
- Termina a sua colaboração na A Batalha;
- Eleito para a comissão geral de educação e propaganda do PCP;
- Enviado como delegado da Secção Portuguesa da Internacional Comunista ao III Congresso da Comintern;
- Eleito para a Junta Nacional do PCP (outubro).
- 1922:
Referências
- Vieira, Alexandre (1959). Figuras Gradas do movimento social português. Lisboa: Edição de Autor
- Silva, Gabriel (2010). Manuel Ribeiro, o romance da fé. Beja: Licorne
- PINA, André (2018). A Federação Maximalista Portuguesa e a sociogénese do Partido Comunista Português. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
- «Manuel Ribeiro: Faleceu Hoje de Madrugada este ilustre romancista». Diário de Notícias. 28 de novembro de 1941
- [http://arquivodigital.cm-porto.pt/Conteudos/Conteudos_BPMP/VII-3-111(13)/VII-3-111(13).htm «Biblioteca Pública Municipal do Porto»]. arquivodigital.cm-porto.pt.