Hipólito Raposo
António Sardinha
Caiu Hipólito Raposo em Coimbra, quando eu lá caí (não há maneira de fugir ao ar pessoal e directo de quem está ordenando uma página de Memórias!), - quando lá caíram Alberto Monsaraz, Luís de Almeida Braga, Américo Chaves de Almeida e tantíssimos. Dependurados da têta engelhada de Minerva, nos cinco anos do estilo que levou o nosso Direito, curávamos mais das brochuras que o França Amado expunha nas vitrines, do que da lição compacta e grave dos Códigos. Hipólito Raposo distinguia-se entre nós, - para a nossa admiração, porque praticava o latim, convivia a filologia, chegando até a tirar, como um aprendiz de teólogo, o exame misterioso e raro de hebraico!
[ ("Hipólito Raposo" (1923) In António Sardinha, De Vita et Moribus, 1931, pp. 207-213]
Flens Heraclitus miserac ludibria vitae
Conspicit, atque hominum perdolet usque vicem.
Conspicit, atque hominum perdolet usque vicem.
Claude Mignault, 1600: 543, oferece a seguinte tradução de um soneto para o latim:
Mutarunt arma inter se Mors atque Cupido:
Hic falcem gestat, gestat at illa facem.
Afficit haec animum,
corpus sed conficit ille.
Sic moritur iuvenis: sic moribundus amat.
Ut secat hic iugulos, oculos excaecat & illa:
Illa ut amare docet, sic iubet iste mori,
Disce hinc, humanae quae sint ludibria vitae:
Mors thalamum sternit, sternit Amor tumulum.
Tu quoque disce tuas, Natura, invertere leges:
Si pereunt iuvenes, depereuntque senes.