Durante a Fogueira - Páginas da Guerra
António Sardinha
RESUMO
Este livro reúne uma série de textos escritos entre 1917 e 1922, durante e após a Primeira Guerra Mundial, nos quais António Sardinha, figura central do Integralismo Lusitano, reflete sobre a guerra, a crise da democracia, o papel da monarquia, a situação de Portugal e da Europa, e os desafios sociais e políticos do seu tempo.
- PONTOS ESSENCIAIS -
- Crítica aos regimes políticos das partidocracias
- Sardinha critica fortemente a democracia das oligarquias partidárias, considerando-a ineficaz tanto na guerra quanto na organização social e económica.
- Associa o demoliberalismo ao individualismo, à instabilidade política e à corrupção, defendendo que a monarquia garante melhor o bem-comum, a estabilidade e continuidade.
- Defesa do Tradicionalismo e da Monarquia
- O autor defende o tradicionalismo como alternativa ao conservadorismo passivo, propondo uma renovação baseada nos valores históricos da Monarquia representativa, municipal e sindicalista.
- A monarquia é vista como um regime capaz de unir a nação, proteger o trabalho e a propriedade, e garantir justiça social.
- Crítica ao Capitalismo e à Ordem Burguesa
- Sardinha responsabiliza a Revolução Francesa e o liberalismo pelo surgimento do capitalismo selvagem e pela exploração do proletariado.
- Defende o sindicalismo de inspiração cristã, contrário ao sindicalismo revolucionário e aos regimes parlamentares de partidos ideológicos.
- Análise da Situação Internacional
- O autor analisa a Primeira Guerra Mundial, criticando tanto o imperialismo germânico quanto o imperialismo democrático dos Aliados.
- Destaca a instabilidade das democracias e a força das monarquias, incluindo a alemã, cuja resistência atribui à sua organização política e militar.
- Reflexão sobre a Suíça e os Estados Unidos
- A Suíça é um exemplo de cantonalismo aliado a uma forte dependência externa.
- Os Estados Unidos têm democracia formal, sendo na verdade um feudalismo financeiro, dominado por oligarquias e marcada por profundas desigualdades sociais.
- Relação entre Igreja, Estado e Sociedade
- Valoriza o papel da Igreja Católica como elemento unificador e pacificador da sociedade internacional, contrapondo-a à fragmentação trazida pelo protestantismo após Vestefália.
- Defende a restauração da Cristandade como solução para as sucessivas crises e guerras europeias.
- Questões Nacionais e Coloniais
- Analisa criticamente a relação de Portugal com a Inglaterra e a pendente ameaça à integridade do império português.
- Defende a aproximação entre Portugal e Espanha como alternativa à dependência de potências estrangeiras.
- Exaltação dos Heróis e Mártires
- Homenageia figuras como Aníbal de Azevedo e Alexandre Cabeças, apresentando-os como exemplos do ideal integralista e do sacrifício pela pátria.
- Crítica à Ordem do Pós-Guerra
- Vê a guerra como um processo de purificação e renascimento dos valores tradicionais, acreditando que é possível uma nova ordem baseada na monarquia representativa e no sindicalismo.
- Apelo à Juventude e ao Futuro
- Incentiva a juventude a preparar-se para reconstruir a pátria com base nos princípios do integralismo, da disciplina e do estudo.
Neste livro sobressai a Crítica ao Capitalismo e à Ordem Burguesa
- Origem do Capitalismo Selvagem. Sardinha responsabiliza a Revolução Francesa e o liberalismo pelo surgimento do capitalismo selvagem. Argumenta que a abolição dos antigos quadros corporativos (onde o trabalho era protegido) deixou o trabalhador à mercê da plutocracia, ou seja, das elites financeiras. O capitalismo é visto como uma consequência direta do individualismo promovido pela Revolução, que procurou destruir as estruturas comunitárias e solidárias.
- Exploração do Proletariado. Sardinha considera que o proletariado, ao confiar nas promessas da democracia liberal, acabou numa situação miserável, pois os governos dos partidos são estruturalmente corruptos e incapazes de proteger os mais pobres. Critica o regime do contrato de trabalho, inaugurado pelo Código Civil, que, sob a aparência de liberdade, apenas reforçava a sujeição do trabalhador ao capital.
- Crítica à Ordem Burguesa. Para Sardinha, a sociedade burguesa, surgida após a Revolução, é baseada no interesse materialista e não no serviço ao bem comum. Denuncia o “feudalismo financeiro” e a “bancocracia” como formas modernas de dominação, piores do que o antigo feudalismo, porque não têm limites morais ou espirituais.
- Consequências Sociais e Urbanização. A individualização da terra e a urbanização crescente levaram ao enfraquecimento da atividade agrícola, ao absentismo e ao aumento do pauperismo (pobreza urbana). O advento da máquina a vapor e a industrialização entregaram o trabalho, sem a protecção das corporações, ao domínio das oligarquias financeiras.
- Sindicalismo e Questão Social. Sardinha distingue-se dos conservadores ao apoiar o sindicalismo orgânico e não revolucionário, vendo nele uma via para restaurar a harmonia entre propriedade, capital e trabalho. Defende um sindicalismo de inspiração social-cristã - apontando a encíclica Rerum Novarum como referência de doutrina - em oposição ao sindicalismo revolucionário da luta de classes promovida pelo liberalismo e pelo socialismo.
- Crítica à Democracia Liberal. Para Sardinha, as democracias dos partidos são os regimes mais favoráveis à supremacia da alta finança: a instabilidade do poder e a corrupção eleitoral abrem caminho para o domínio dos plutocratas. Porque não depende do sufrágio, a monarquia está acima dos interesses das oligarquias financeiras, em melhor posição de independência para garantir a justiça social e proteger a propriedade e o trabalho.
- Proposta de Alternativa. Sardinha propõe uma sociedade baseada na família, na propriedade e no trabalho, com a Instituição real como árbitro imparcial entre as classes. A propriedade e o capital devem estar subordinados ao interesse social e nacional; o capital não deve dominar a sociedade como ocorre nas democracias dos partidos.
- Sobre a origem do capitalismo e a influência da Revolução Francesa:
- Sobre a exploração do proletariado e a corrupção dos governos saídos do sufrágio inorgânico:
- Sobre a ordem burguesa e o materialismo:
- Sobre o domínio do capital e a bancocracia:
- Sobre a incompatibilidade entre sindicalismo e sufrágio inorgânico:
- Sobre a proposta de alternativa ao capitalismo:
IMPERIALISMO MAÇÓNICO
Sardinha caracteriza o “imperialismo democrático” — entendido como a expansão internacional dos regimes de partidos políticos — como uma manifestação do “imperialismo maçónico”. A Maçonaria impulsiona a disseminação de democracias inorgânicas, baseadas em partidocracias, promovendo uma agenda internacionalista anticatólica, em oposição aos valores tradicionais da monarquia representativa e do catolicismo. A concentração do poder nas mãos de elites de políticos profissionais facilita a criação e a gestão de redes de clientes no aproveitamento de cargos e de negócios estatais. Para Sardinha, no entanto, a Maçonaria não é uma associação secreta apenas para imediato beneficio material dos seus membros, mas sim um poder internacional organizado, com objetivos políticos e sociais contrários à tradição católica e monárquica, visando a imposição de uma nova ordem mundial baseada em princípios materialistas.
- Imperialismo democrático = imperialismo maçónico
- Democracia, Maçonaria e Revolução
- Ação internacional da Maçonaria
- Maçonaria e "Democracia" como forças revolucionárias
Índice
(1917 - 1922 )
A Democracia e a Guerra, Junho de 1917
Capital e Trabalho, Julho de 1917
O caso da Suíça, Julho de 1917
A soberania de Roma, Agosto de 1917
Porque resiste a Alemanha?, Agosto de 1917
O Príncipe da Paz, Agosto de 1917
Revolução em Espanha?, Agosto de 1917
A resposta de Wilson, Setembro de 1917
A ordem Burguesa, Setembro de 1917
As Monarquias de Amanhã, Setembro de 1917
A Batalha do Bussaco, Outubro de 1917
O nosso futuro, Outubro de 1917
As duas raças [a monárquica e a republicana], Novembro de 1917
El-Rei D. Carlos, Fevereiro de 1918
A transformação do Estado, Fevereiro de 1918
Aníbal de Azevedo, Abril de 1918
Alexandre Cabeças, Maio de 1918
A Democracia na América, Maio de 1918
Quatro anos depois, Agosto de 1918
Os sapos de Clovis, Agosto de 1919
A questão de Marrocos, Agosto de 1919
O caso D. Jaime, Novembro de 1919
Na Sinagoga, Maio de 1922
Apendice:
Mensagem ao Cardeal Mercier em nome dos Católicos Portugueses, 10 de Junho de 1917
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