1930 - Luís Chaves - Problemas Étnicos - As origens portuguesas em António Sardinha
"este livro (O Valor da Raça - Introdução a uma Campanha Nacional, 1915) "ressente-se da precipitação com que foi feito, muitas vezes António Sardinha se me queixou." - Luís Chaves
ENTRE os problemas ensaiados por António Sardinha sobressai um dos que mais fundamente o preocuparam na sua tentativa de rectificação histórica: as origens da raça portuguesa, e com elas a formação da unidade portuguesa.
Desde o enciclopedismo romântico do sec. XIX fez moda e mania a rebusca das origens. Poderíamos hoje, com a multiplicidade progressiva das teorias, formar album curioso que demonstrasse a fantasia humana; é caso de aplicar a este labor intensivo de pseudo ciência o aforismo popular: - de um argueiro um cavaleiro.
Isso fez dizer ao Professor Mendes Corrêa, honestamente: «a despeito de um grande pecúlio de aquisições feitas, o problema, longe de se ter resolvido, parece mesmo por vezes ter-se complicado›. (Homo, “os modernos estudos sobre a origem do homem”, Coimbra 1921, p. 297). As origens da «raça portuguesa», como todas as origens que o método evolucionista procura desvendar, tenta os investigadores. Uns, como Teófilo Braga, quiseram interpretar a seu bel-prazer influencias centrifugas de um núcleo ocidental, em sentido - Norte - Este e Sul: era o tipo nacional a que Teófilo chamou lusismo: «que através de séculos de luta não pode confundir-se com o iberismo imperialista absorvente, apoiando-se sempre na associação local ou no municipalismo. Para ele «o lusismo reflecte-se nas tradições poéticas das Astúrias, da Estremadura e da Andaluzia, desde tempos quase imemoriais separadas arbitrariamente da Lusitânia desmembrada pelos Romanos» (Historia da Poesia Popular Portuguesa, «Prefação» VI).
A propósito, Menendez Pidal observa que «no mapa linguístico da Espanha do século XIII em diante os dois extremos dialectais ou sejam o leonês e o português a Oeste e o catalão e o aragonês a Este estão absolutamente isolados pelo castelhano que se dilata de Norte-a-Sul entre os dois grupos; mais antigamente, eles ligavam-se pelo Sul em Toledo e na Andaluzia, e aproximavam-se mais pelo Norte».
No campo da geografia, da arqueologia e da antropologia, depois de muitas hipóteses, muitos tentames, dos que ao problema geral Mendes Corrêa diz terem dado «largas a múltiplas especulações e a hipóteses das mais contraditórias» (op. cit. 296), conta a nossa bibliografia cientifica, e digamos das origens nacionais, com Os Povos Primitivos da Lusitânia do mesmo Prof. catedrático do Porto; Mendes Corrêa (Porto, 1924) e Os Celtas e povos com eles relacionados do Prof. liceal Alfredo Dias Pinheiro (Guimarães, 1928, sobretudo da pagina 367 em diante).
O problema tentou António Sardinha, em O valor da Raça (Lisboa, 1915) que apresentou por tese de concurso à cadeira de História na Faculdade de Letras de Lisboa. Este livro porém ressente-se da precipitação com que foi feito, muitas vezes António Sardinha se me queixou. Afirma erudição, inteligência viva, apreensão fácil, arquitectura brilhante; mas, se é livro de formação nacionalista (ele próprio o subintitulou de «Introdução a uma campanha nacional»), e por isso digno de ser lido, não é por essas qualidades e virtudes próprias que fica sendo monumento de certa ciência.
Se se tivesse fixado nos capítulos O génio ocidental e O espirito da Atlantida, não como construção científica mas como quadro expositivo das nebulosidades lendárias do ocidente, - e se tivesse expurgado no capítulo da Teoria da Nacionalidade as ligações que considera íntimas entre o português e o Homo Atlanticus que no baixo vale do Tejo constitui o «substractum» aborígene da população portuguesa», interpretando interpretáveis, - parece-me que o livro não perderia por isso interesse histórico, e teria ficado mais harmónico, mais atinente á intenção motriz. Assim, obra notável na bibliografia portuguesa da matéria, resta-nos mais uma tentativa de interpretação, aliás a primeira entre nós, em que se procurou relacionar o português com os primitivos habitantes do que Mendes Corrêa chamou "o velho solar lusitano" (Os Povos primitivos... pág. 5 - cap. 1).
Mais à vontade se sente nos problemas de interpretação histórica da formação da nacionalidade. A vasta cultura histórica, o fácil e brilhante poder de exposição, iluminam-lhe o caminho à esplendida intuição que ele tinha para os problemas históricos, dentro dos quais se servia, ao linguistico, poético e documental.
Um exemplo. No ensaio O Sul contra o Norte, inserto em o livro À Sombra dos Pórticos (Lisboa 1927), insurge-se contra o dualismo português que vários autores têm afirmado entre o Norte e o Sul de Portugal. Soube aproveitar-se de todos os conhecimentos da ciência moderna para provar a unidade nacional dos portugueses.
Estas «miragens eruditas», ele assim lhes chamou (p. 13), tomaram aspectos diferentes: - antagonismo étnico em Oliveira Martins, Basilio Teles, Alberto Sampaio e Teófilo Braga; - antagonismo geográfico, do litoral contra o centro, da montanha (Norte do pais) e da planície (Sul) de Basilio Teles, afinal modalidade etnológica se, como no caso, tem por base diferenciação étnica ou caracterização social procedente do meio geográfico: - antagonismo militar, quando Alberto Sampaio considera o Sul do país como produto simples da conquista do Norte, que se impôs às populações a Sul do Vouga; - antagonismo linguistico e antagonismo social, derivantes do primeiro e segundo antagonismos mencionados, sobretudo vincado em Basilio Teles, para quem o Norte era a «célula autóctone da Pátria», rural, dado aos mesteres e entregue ao comércio normal, e o «Sul arabizado e mercantilista», desequilibrado entre a produção, o consumo, e o transporte, vício púnico de mobilidade comercial.
Em oposição a este dualismo, Sardinha que não via através da nossa história o antagonismo medieval de Trezentos-Quatrocentos com o século de Quinhentos aquém, como queriam Basilio Teles (para ele o predomínio medieval do Norte foi batido pelo do Sul, mercantilista, período este em que «Portugal é um balcão») e Oliveira Martins (no século XV- XVI dominou o caracter púnico da côrte manuelina, em sua hipótese), baseia-se nos depoimentos de Antón y Fernandiz e Giménez Soler, de Rocha Peixoto e Martins Sarmento, para negar o semitismo dos Berberes. Para não alargar demasiado estas notas, não menciono as conclusões identicas a que têm chegado os investigadores que identificam arqueológica, antropológica social e glotologicamente Berberes e Iberos, sem afinidades púnicas (Otto Meltzer).
À unidade afirmada por Martins Sarmento, que vê, após a expulsão dos Arabes, «surgir desde o extremo do Algarve até o extremo da Galiza um povo uno, com a mesmo modo de sentir e de pensar, com a mesma língua». (Ora Marítima, 2ª ed. p. 161) reune a unidade de lingua que «as populações cristãs do Sul do que veio a ser Portugal, falaram já, antes da reconquista do sec. XII, a mesma que as do Norte», na demonstração de Adolfo Coelho nas Origens do português do Sul.
Depois, a unidade de fé nas populações, sob o impulso activo e vivificador do cristianismo, ligada à unidade de língua (A. Coelho), à uniformidade lírica (Ribera y Tarragó) que exprime unidade de sentimento entre o Norte e o Sul não indicam a unidade de raça? O mesmo fragmentarismo dos pequenos reinos, principados e valaiatos do sul, manifesta pelo seu espirito de rebeldia contra o domínio arábico a hostilidade das raças, que veio dar como resultado a relativa facilidade da reconquista do Sul, a qual compreendemos melhor por factos de ordem etno-religiosa já citados: 1.º parentesco ibero-berber; 2.º oposição arábico berber: 3.° unidade de raça, impulsionada nos elementos berberes pela hostilidade original contra o árabe, e nos elementos moçárabes pela religião, pela língua, pelas tradições comuns aos cristãos do Norte, libertos já do jugo estranho.
Referindo-me ainda ao antagonismo denunciado pela conquista do Norte sobre o Sul (A. Sampaio), Antonio Sardinha reconhece a conquista a que logicamente chama «libertação», mas por isso mesmo rejeita a explicação dessa conquista, baseada no dualismo do Norte cristão e do Sul muçulmano.
De Alexandre Herculano em diante no campo histórico, e nas investigações arqueológicas (monumentais, antropológicas, etnológicas, linguisticas, literárias, artísticas), iberistas e arabistas, tanto peninsulares como transpirenaicos, convergem na prova da superficial influencia semítica, e na força da unidade étnica das populações periféricas da meseta castelhana (confrontar Menéndez y Pidal, e Teófilo, no que fica dito), um grupo a . sobre o Atlantico, outro a E. para o Mediterrâneo, com maior força coesiva o primeiro e mais liberto de influencias extra-
peninsulares. Foi a esta afinidade do Ocidente que Teófilo chamou lusismo.
«Para o caso português, - diz ele, — a determinação do nacionalismo é a revelação de uma força latente, que, desde que se torne consciente, será um impulso de progresso e de energia» (Hist. da Poesia Pop., p. VIII). É a confirmação do pensamento de António Sardinha, num espirito tão oposto na aparência.
Nada de língua d'oc a um lado e lingua d'oil a outro; nada de godos ao Norte e púnicos ou muçulmanos ao Sul; nada de exclusivo ruralismo contra exclusivo mercantilismo; nada de conquistadores e conquistados; nada pois de guerra permanente entre o Norte e o Sul. Diferenciações mesológicas, oscilações antropológicas evidentemente absorvidas, não constituem antagonismos que quebrem ou fragmentem a unidade nacional. «Há na sua bela homogeneidade moral e social o Portugal de nós todos», (p. 55) na conclusão vitoriosa de António Sardinha.
Se, à parte a investigação e interpretação dos factos, queria António Sardinha servir a sua nação, conseguíu-o, porque a demonstração da unidade nacional é um bom serviço prestado. O nacionalista deve servir a nação, e ele serviu-a, provando a inanidade dos que a proclamaram dual e divisa e ele proclamou una e indivisa.
Luís CHAVES
[negritos acrescentados]
[ Luís Chaves, "Problemas étnicos - as origens portuguesas em António Sardinha", Política, nº 10, 10 de Janeiro de 1930, pp. 37-40.]
Desde o enciclopedismo romântico do sec. XIX fez moda e mania a rebusca das origens. Poderíamos hoje, com a multiplicidade progressiva das teorias, formar album curioso que demonstrasse a fantasia humana; é caso de aplicar a este labor intensivo de pseudo ciência o aforismo popular: - de um argueiro um cavaleiro.
Isso fez dizer ao Professor Mendes Corrêa, honestamente: «a despeito de um grande pecúlio de aquisições feitas, o problema, longe de se ter resolvido, parece mesmo por vezes ter-se complicado›. (Homo, “os modernos estudos sobre a origem do homem”, Coimbra 1921, p. 297). As origens da «raça portuguesa», como todas as origens que o método evolucionista procura desvendar, tenta os investigadores. Uns, como Teófilo Braga, quiseram interpretar a seu bel-prazer influencias centrifugas de um núcleo ocidental, em sentido - Norte - Este e Sul: era o tipo nacional a que Teófilo chamou lusismo: «que através de séculos de luta não pode confundir-se com o iberismo imperialista absorvente, apoiando-se sempre na associação local ou no municipalismo. Para ele «o lusismo reflecte-se nas tradições poéticas das Astúrias, da Estremadura e da Andaluzia, desde tempos quase imemoriais separadas arbitrariamente da Lusitânia desmembrada pelos Romanos» (Historia da Poesia Popular Portuguesa, «Prefação» VI).
A propósito, Menendez Pidal observa que «no mapa linguístico da Espanha do século XIII em diante os dois extremos dialectais ou sejam o leonês e o português a Oeste e o catalão e o aragonês a Este estão absolutamente isolados pelo castelhano que se dilata de Norte-a-Sul entre os dois grupos; mais antigamente, eles ligavam-se pelo Sul em Toledo e na Andaluzia, e aproximavam-se mais pelo Norte».
No campo da geografia, da arqueologia e da antropologia, depois de muitas hipóteses, muitos tentames, dos que ao problema geral Mendes Corrêa diz terem dado «largas a múltiplas especulações e a hipóteses das mais contraditórias» (op. cit. 296), conta a nossa bibliografia cientifica, e digamos das origens nacionais, com Os Povos Primitivos da Lusitânia do mesmo Prof. catedrático do Porto; Mendes Corrêa (Porto, 1924) e Os Celtas e povos com eles relacionados do Prof. liceal Alfredo Dias Pinheiro (Guimarães, 1928, sobretudo da pagina 367 em diante).
O problema tentou António Sardinha, em O valor da Raça (Lisboa, 1915) que apresentou por tese de concurso à cadeira de História na Faculdade de Letras de Lisboa. Este livro porém ressente-se da precipitação com que foi feito, muitas vezes António Sardinha se me queixou. Afirma erudição, inteligência viva, apreensão fácil, arquitectura brilhante; mas, se é livro de formação nacionalista (ele próprio o subintitulou de «Introdução a uma campanha nacional»), e por isso digno de ser lido, não é por essas qualidades e virtudes próprias que fica sendo monumento de certa ciência.
Se se tivesse fixado nos capítulos O génio ocidental e O espirito da Atlantida, não como construção científica mas como quadro expositivo das nebulosidades lendárias do ocidente, - e se tivesse expurgado no capítulo da Teoria da Nacionalidade as ligações que considera íntimas entre o português e o Homo Atlanticus que no baixo vale do Tejo constitui o «substractum» aborígene da população portuguesa», interpretando interpretáveis, - parece-me que o livro não perderia por isso interesse histórico, e teria ficado mais harmónico, mais atinente á intenção motriz. Assim, obra notável na bibliografia portuguesa da matéria, resta-nos mais uma tentativa de interpretação, aliás a primeira entre nós, em que se procurou relacionar o português com os primitivos habitantes do que Mendes Corrêa chamou "o velho solar lusitano" (Os Povos primitivos... pág. 5 - cap. 1).
Mais à vontade se sente nos problemas de interpretação histórica da formação da nacionalidade. A vasta cultura histórica, o fácil e brilhante poder de exposição, iluminam-lhe o caminho à esplendida intuição que ele tinha para os problemas históricos, dentro dos quais se servia, ao linguistico, poético e documental.
Um exemplo. No ensaio O Sul contra o Norte, inserto em o livro À Sombra dos Pórticos (Lisboa 1927), insurge-se contra o dualismo português que vários autores têm afirmado entre o Norte e o Sul de Portugal. Soube aproveitar-se de todos os conhecimentos da ciência moderna para provar a unidade nacional dos portugueses.
Estas «miragens eruditas», ele assim lhes chamou (p. 13), tomaram aspectos diferentes: - antagonismo étnico em Oliveira Martins, Basilio Teles, Alberto Sampaio e Teófilo Braga; - antagonismo geográfico, do litoral contra o centro, da montanha (Norte do pais) e da planície (Sul) de Basilio Teles, afinal modalidade etnológica se, como no caso, tem por base diferenciação étnica ou caracterização social procedente do meio geográfico: - antagonismo militar, quando Alberto Sampaio considera o Sul do país como produto simples da conquista do Norte, que se impôs às populações a Sul do Vouga; - antagonismo linguistico e antagonismo social, derivantes do primeiro e segundo antagonismos mencionados, sobretudo vincado em Basilio Teles, para quem o Norte era a «célula autóctone da Pátria», rural, dado aos mesteres e entregue ao comércio normal, e o «Sul arabizado e mercantilista», desequilibrado entre a produção, o consumo, e o transporte, vício púnico de mobilidade comercial.
Em oposição a este dualismo, Sardinha que não via através da nossa história o antagonismo medieval de Trezentos-Quatrocentos com o século de Quinhentos aquém, como queriam Basilio Teles (para ele o predomínio medieval do Norte foi batido pelo do Sul, mercantilista, período este em que «Portugal é um balcão») e Oliveira Martins (no século XV- XVI dominou o caracter púnico da côrte manuelina, em sua hipótese), baseia-se nos depoimentos de Antón y Fernandiz e Giménez Soler, de Rocha Peixoto e Martins Sarmento, para negar o semitismo dos Berberes. Para não alargar demasiado estas notas, não menciono as conclusões identicas a que têm chegado os investigadores que identificam arqueológica, antropológica social e glotologicamente Berberes e Iberos, sem afinidades púnicas (Otto Meltzer).
À unidade afirmada por Martins Sarmento, que vê, após a expulsão dos Arabes, «surgir desde o extremo do Algarve até o extremo da Galiza um povo uno, com a mesmo modo de sentir e de pensar, com a mesma língua». (Ora Marítima, 2ª ed. p. 161) reune a unidade de lingua que «as populações cristãs do Sul do que veio a ser Portugal, falaram já, antes da reconquista do sec. XII, a mesma que as do Norte», na demonstração de Adolfo Coelho nas Origens do português do Sul.
Depois, a unidade de fé nas populações, sob o impulso activo e vivificador do cristianismo, ligada à unidade de língua (A. Coelho), à uniformidade lírica (Ribera y Tarragó) que exprime unidade de sentimento entre o Norte e o Sul não indicam a unidade de raça? O mesmo fragmentarismo dos pequenos reinos, principados e valaiatos do sul, manifesta pelo seu espirito de rebeldia contra o domínio arábico a hostilidade das raças, que veio dar como resultado a relativa facilidade da reconquista do Sul, a qual compreendemos melhor por factos de ordem etno-religiosa já citados: 1.º parentesco ibero-berber; 2.º oposição arábico berber: 3.° unidade de raça, impulsionada nos elementos berberes pela hostilidade original contra o árabe, e nos elementos moçárabes pela religião, pela língua, pelas tradições comuns aos cristãos do Norte, libertos já do jugo estranho.
Referindo-me ainda ao antagonismo denunciado pela conquista do Norte sobre o Sul (A. Sampaio), Antonio Sardinha reconhece a conquista a que logicamente chama «libertação», mas por isso mesmo rejeita a explicação dessa conquista, baseada no dualismo do Norte cristão e do Sul muçulmano.
De Alexandre Herculano em diante no campo histórico, e nas investigações arqueológicas (monumentais, antropológicas, etnológicas, linguisticas, literárias, artísticas), iberistas e arabistas, tanto peninsulares como transpirenaicos, convergem na prova da superficial influencia semítica, e na força da unidade étnica das populações periféricas da meseta castelhana (confrontar Menéndez y Pidal, e Teófilo, no que fica dito), um grupo a . sobre o Atlantico, outro a E. para o Mediterrâneo, com maior força coesiva o primeiro e mais liberto de influencias extra-
peninsulares. Foi a esta afinidade do Ocidente que Teófilo chamou lusismo.
«Para o caso português, - diz ele, — a determinação do nacionalismo é a revelação de uma força latente, que, desde que se torne consciente, será um impulso de progresso e de energia» (Hist. da Poesia Pop., p. VIII). É a confirmação do pensamento de António Sardinha, num espirito tão oposto na aparência.
Nada de língua d'oc a um lado e lingua d'oil a outro; nada de godos ao Norte e púnicos ou muçulmanos ao Sul; nada de exclusivo ruralismo contra exclusivo mercantilismo; nada de conquistadores e conquistados; nada pois de guerra permanente entre o Norte e o Sul. Diferenciações mesológicas, oscilações antropológicas evidentemente absorvidas, não constituem antagonismos que quebrem ou fragmentem a unidade nacional. «Há na sua bela homogeneidade moral e social o Portugal de nós todos», (p. 55) na conclusão vitoriosa de António Sardinha.
Se, à parte a investigação e interpretação dos factos, queria António Sardinha servir a sua nação, conseguíu-o, porque a demonstração da unidade nacional é um bom serviço prestado. O nacionalista deve servir a nação, e ele serviu-a, provando a inanidade dos que a proclamaram dual e divisa e ele proclamou una e indivisa.
Luís CHAVES
[negritos acrescentados]
[ Luís Chaves, "Problemas étnicos - as origens portuguesas em António Sardinha", Política, nº 10, 10 de Janeiro de 1930, pp. 37-40.]
Luís Chaves, "Problemas étnicos - as origens portuguesas em António Sardinha", Política, nº 10, 10 de Janeiro de 1930, pp. 37-40.