Lusitanidade
Hipólito Raposo
... abramos Os Lusíadas - fonte de consolações íntimas, breviário de esperança (...) Camões é o poeta da Contra-Reforma - é o cantor do ideal supremo da Cristandade, apontado à Europa pelo Concílio de Trento. (...) abramos Os Lusíadas e ali prescutaremos, como em nenhuma parte, a vocação apostólica, que anima, qual seiva mística, o corpo moral da pátria bem amada.
- António Sardinha
- António Sardinha
Em 1914, em Humanismo e Nacionalidade, o jovem Hipólito Raposo apresentou a Renascença como um período de desnacionalização e a Expansão como uma das causas da decadência portuguesa (na linha de Antero de Quental), a que não subtraía a mestiçagem "deprimindo a energia moral da raça". Essa visão negativa da mestiçagem era corrente na época, em especial entre os republicanos que viam na nação portuguesa um organismo étnico. Era essa a perspectiva de Aquilino Ribeiro e de Raul Proença, do grupo da Seara Nova. Em 1926, Raul Proença defendeu mesmo uma política da Raça, ou Eugenia, como a base essencial do seu programa de regeneração da República - "a peça mestra das nossas reformas e a condição prévia de todas elas" (A Ditadura Militar, p. 65).
Nos anos de 1920 e 1930, os integralistas estavam bem nos antípodas do racismo estrutural desses republicanos. Em 1933, Hipólito Raposo via a Expansão portuguesa e a mestiçagem, assim como Os Lusíadas, à luz do que designou por "Lusitanidade" - "uma procissão civilizadora que há cinco séculos está passando":
"Há mais de cinco séculos que Portugal anda a correr mundo, a transfundir a sua alma cristã nas almas dos gentios de todas as latitudes, o seu sangue na vida de outras raças, oferecendo à história dos homens o mais belo testemunho de esforço coletivo. Contra essa certeza, não prevalecerá a ignorância ou a ingratidão de alguns, entre os milhões que com nossos maiores aprenderam a falar, nem por isso o Brasil poderá deixar de ser, entre tantas terras e gentes da Lusitanidade, a carne da nossa carne, alma da nossa alma irmã.
Pelo Brasil, Portugal revive no sangue e sobrevive no espírito, prolongando-se no futuro em luminosa imortalidade.
Aos nossos corações de poetas e cavaleiros gostoso é saber que lá por longe, na orla ocidental do Lago Atlântico, ainda permanecem alguns fiéis semeadores de afetos lusitanos, jardineiros das flores da alma, na linda pátria de que a Nação Portuguesa foi o berço e de que por saudosos afetos, sempre será o lar paterno."
Nos anos de 1920 e 1930, os integralistas estavam bem nos antípodas do racismo estrutural desses republicanos. Em 1933, Hipólito Raposo via a Expansão portuguesa e a mestiçagem, assim como Os Lusíadas, à luz do que designou por "Lusitanidade" - "uma procissão civilizadora que há cinco séculos está passando":
"Há mais de cinco séculos que Portugal anda a correr mundo, a transfundir a sua alma cristã nas almas dos gentios de todas as latitudes, o seu sangue na vida de outras raças, oferecendo à história dos homens o mais belo testemunho de esforço coletivo. Contra essa certeza, não prevalecerá a ignorância ou a ingratidão de alguns, entre os milhões que com nossos maiores aprenderam a falar, nem por isso o Brasil poderá deixar de ser, entre tantas terras e gentes da Lusitanidade, a carne da nossa carne, alma da nossa alma irmã.
Pelo Brasil, Portugal revive no sangue e sobrevive no espírito, prolongando-se no futuro em luminosa imortalidade.
Aos nossos corações de poetas e cavaleiros gostoso é saber que lá por longe, na orla ocidental do Lago Atlântico, ainda permanecem alguns fiéis semeadores de afetos lusitanos, jardineiros das flores da alma, na linda pátria de que a Nação Portuguesa foi o berço e de que por saudosos afetos, sempre será o lar paterno."