Rvmo. Sr. Padre Carlos Piasentin,
A sua tradução da obra do Padre Andrea Oddone S. J. - «Princípios Cristãos para o estudo da Sociologia» — que V. Rvma. me confiou, solicitando sobre ela o meu parecer, constitui um trabalho de grande valor e de evidente oportunidade.
O texto português em que V. Rvma. vazou o livro italiano conserva aquelas qualidades que distinguem o autor: a clareza da exposição, a precisão dos conceitos, a fluência da argumentação em que se espelham as verdades eternas.
Referi-me acima à oportunidade do livro no Brasil.
De fato: nunca nos foram tão necessárias obras como esta. Pois os cristãos em geral e, infelizmente, muitos católicos, acham-se hoje em nosso país tão impressionados e influenciados pelos diversos sistemas socialistas, que parece não mais se lembrarem de que as soluções para todos os problemas econômicos e políticos, morais e estéticos, derivam luminosas e puros, dos Evangelhos.
As Epístolas desenvolvem os temas evangélicos; o magistério da Igreja atualiza, em cada século, aqueles imutáveis pensamentos, segundo as circunstâncias históricas; os grandes doutores, como o pai de família da parábola de Cristo, «tiram de suas arcas coisas velhas e coisas novas», rasgando aos nossos olhos os panoramas da filosofia; mas a fonte verdadeira e única de tudo escorre das próprias palavras do Divino Mestre.
O valor deste livro do Padre Oddone está justamente na reivindicação que pleiteia para o Evangelho da prioridade na solução dos problemas sociais, desde a Economia Política à Teoria do Estado. Se o Reino de Cristo não é deste mundo, não podemos negar que os homens foram feitos para o Reino de Cristo; logo, os homens e tudo o que lhes pertence (instituições, leis, costumes, ciência, arte, técnica, política) integram-se no Reino de Cristo, ainda que ste não seja deste mundo. Por consequência, há deveres do Homem e do Estado para com Deus, sendo o primeiro d esses deveres aquele que é o primeiro Mandamento entre os dez que foram dados no Sinai: «Amarás a Deus sobre todas as cousas e do próximo como a ti mesmo». Donde confluímos que o Homem e o Estado pelo mesmo Homem engendrado, devem, acima de tudo, preocupar-se com as coisas do Espírito.
O mais lhes virá como acréscimo e como resultado lógico da preocupação primordial das coisas do Espírito, que determinam, no Ser Humano, uma consciência de justiça, isto é, de harmonia e de equilíbrio no recíproco tratamento e na distribuição dos bens materiais.
O livro abre com a capitulo intitulado «O valor social do Evangelho». E capitulo repleto de verdades e a revelar uma atitude corajosa, essa atitude que tem faltado numa hora universal de covardias degradantes em jace dos demagogos e das massas inconscientes, atitude que consiste em contrariar a corrente do determinismo materialista burguês, ou da dialética materialista do socia-lismo, proclamando, como fizeram os cristãos do primeiro século, que a salvação da alma, a procura de Deus constitui o négocio número um, para cada homem e para cada sociedade ou cada nação. E, assim, escreve o Padre Oddone, tão perfeitamente traduzido por V. Rvma.:
«Não basta assegurar ao homem boas condições materiais. O homem não vive só de pão, mas necessita de ideais que o elevem, de freios que o contenham, de verdades que lhe aclarem o caminho, de virtudes que o tornem capaz de esforços constantes e de sacrifícios. Nenhuma forma de vida social ou nacional é possível quando nos corações impera o egoísmo, quando a ideia da força prevalece sobre a do direito, quando a sede louca dos prazeres quebra todos os freios, quando o amor da coisa pública não domina sobre o amor mesquinho do eu».
A partir desse capítulo, seguem, numa perfeita ordem lógica, os assuntos que se desenvolvem, desde a fundação, estrutura, perenidade, direitos e deveres da sociedade conjugal, passando gradativamente pelos outros grupos naturais, até à teoria do Estado segundo os princípios cristãos. E, daí por diante, as teses do mais palpitante interesse moderno, como os que respeitam aos limites da autoridade política, à obediência à autoridade civil e a resistência às leis injustas, à liberdade e à autoridade, à concepção cristã da propriedade, ao conceito do trabalho segundo o cristianismo, todas se desenrolam à luz das Encíclicas e do magistério da Igreja, de maneira clara, incisiva e irrefutável.
O último capítulo trata de matéria importantíssima para os dias de hoje: «A Igreja e a Democracia». Funda-se, principalmente, na palavra dos Papas, evidenciando que o verdadeiro regime democrático, podendo realizar-se na forma republicana ou monárquica, deve basear-se nas leis morais eternas, e nunca nos caprichos das massas ignaras ou de governantes irresponsáveis. Todo o pensamento do capítulo pode ser resumido nas palavras de Pio XII: «Uma sã democracia, fundada sobre princípios imutáveis da lei natural e das verdades reveladas, será resolutamente contrária aquela corrupção que atribui à legislação do Estado um poder sem freios nem limites, e que faz também do regime democrático, não obstante as aparências contrárias, um puro e simples sistema de absolutismo».
Aceite, pois, V. Rvma., os meus parabéns, pela feliz iniciativa de haver traduzido a obra do Padre Oddone, o que fez com muita proficiência. Estou certo de que esse livro vai produzir excelentes frutos no Brasil.
Com o maior apreço, admirador e confrade,
Plínio Salgado
Rio de Janeiro, 30 de julho de 1951.
A sua tradução da obra do Padre Andrea Oddone S. J. - «Princípios Cristãos para o estudo da Sociologia» — que V. Rvma. me confiou, solicitando sobre ela o meu parecer, constitui um trabalho de grande valor e de evidente oportunidade.
O texto português em que V. Rvma. vazou o livro italiano conserva aquelas qualidades que distinguem o autor: a clareza da exposição, a precisão dos conceitos, a fluência da argumentação em que se espelham as verdades eternas.
Referi-me acima à oportunidade do livro no Brasil.
De fato: nunca nos foram tão necessárias obras como esta. Pois os cristãos em geral e, infelizmente, muitos católicos, acham-se hoje em nosso país tão impressionados e influenciados pelos diversos sistemas socialistas, que parece não mais se lembrarem de que as soluções para todos os problemas econômicos e políticos, morais e estéticos, derivam luminosas e puros, dos Evangelhos.
As Epístolas desenvolvem os temas evangélicos; o magistério da Igreja atualiza, em cada século, aqueles imutáveis pensamentos, segundo as circunstâncias históricas; os grandes doutores, como o pai de família da parábola de Cristo, «tiram de suas arcas coisas velhas e coisas novas», rasgando aos nossos olhos os panoramas da filosofia; mas a fonte verdadeira e única de tudo escorre das próprias palavras do Divino Mestre.
O valor deste livro do Padre Oddone está justamente na reivindicação que pleiteia para o Evangelho da prioridade na solução dos problemas sociais, desde a Economia Política à Teoria do Estado. Se o Reino de Cristo não é deste mundo, não podemos negar que os homens foram feitos para o Reino de Cristo; logo, os homens e tudo o que lhes pertence (instituições, leis, costumes, ciência, arte, técnica, política) integram-se no Reino de Cristo, ainda que ste não seja deste mundo. Por consequência, há deveres do Homem e do Estado para com Deus, sendo o primeiro d esses deveres aquele que é o primeiro Mandamento entre os dez que foram dados no Sinai: «Amarás a Deus sobre todas as cousas e do próximo como a ti mesmo». Donde confluímos que o Homem e o Estado pelo mesmo Homem engendrado, devem, acima de tudo, preocupar-se com as coisas do Espírito.
O mais lhes virá como acréscimo e como resultado lógico da preocupação primordial das coisas do Espírito, que determinam, no Ser Humano, uma consciência de justiça, isto é, de harmonia e de equilíbrio no recíproco tratamento e na distribuição dos bens materiais.
O livro abre com a capitulo intitulado «O valor social do Evangelho». E capitulo repleto de verdades e a revelar uma atitude corajosa, essa atitude que tem faltado numa hora universal de covardias degradantes em jace dos demagogos e das massas inconscientes, atitude que consiste em contrariar a corrente do determinismo materialista burguês, ou da dialética materialista do socia-lismo, proclamando, como fizeram os cristãos do primeiro século, que a salvação da alma, a procura de Deus constitui o négocio número um, para cada homem e para cada sociedade ou cada nação. E, assim, escreve o Padre Oddone, tão perfeitamente traduzido por V. Rvma.:
«Não basta assegurar ao homem boas condições materiais. O homem não vive só de pão, mas necessita de ideais que o elevem, de freios que o contenham, de verdades que lhe aclarem o caminho, de virtudes que o tornem capaz de esforços constantes e de sacrifícios. Nenhuma forma de vida social ou nacional é possível quando nos corações impera o egoísmo, quando a ideia da força prevalece sobre a do direito, quando a sede louca dos prazeres quebra todos os freios, quando o amor da coisa pública não domina sobre o amor mesquinho do eu».
A partir desse capítulo, seguem, numa perfeita ordem lógica, os assuntos que se desenvolvem, desde a fundação, estrutura, perenidade, direitos e deveres da sociedade conjugal, passando gradativamente pelos outros grupos naturais, até à teoria do Estado segundo os princípios cristãos. E, daí por diante, as teses do mais palpitante interesse moderno, como os que respeitam aos limites da autoridade política, à obediência à autoridade civil e a resistência às leis injustas, à liberdade e à autoridade, à concepção cristã da propriedade, ao conceito do trabalho segundo o cristianismo, todas se desenrolam à luz das Encíclicas e do magistério da Igreja, de maneira clara, incisiva e irrefutável.
O último capítulo trata de matéria importantíssima para os dias de hoje: «A Igreja e a Democracia». Funda-se, principalmente, na palavra dos Papas, evidenciando que o verdadeiro regime democrático, podendo realizar-se na forma republicana ou monárquica, deve basear-se nas leis morais eternas, e nunca nos caprichos das massas ignaras ou de governantes irresponsáveis. Todo o pensamento do capítulo pode ser resumido nas palavras de Pio XII: «Uma sã democracia, fundada sobre princípios imutáveis da lei natural e das verdades reveladas, será resolutamente contrária aquela corrupção que atribui à legislação do Estado um poder sem freios nem limites, e que faz também do regime democrático, não obstante as aparências contrárias, um puro e simples sistema de absolutismo».
Aceite, pois, V. Rvma., os meus parabéns, pela feliz iniciativa de haver traduzido a obra do Padre Oddone, o que fez com muita proficiência. Estou certo de que esse livro vai produzir excelentes frutos no Brasil.
Com o maior apreço, admirador e confrade,
Plínio Salgado
Rio de Janeiro, 30 de julho de 1951.