
"É tempo, na verdade, de considerar para onde vai o regime que se mostra tão alheio e indiferente ao caminho de uma moral social que no mundo está realizando inabalavelmente as suas conquistas.”
(Francisco Rolão Preto In Tudo pelo Homem, nada contra o Homem, Palestra proferida no Radio Clube Português em 31 de Outubro de 1953, Lisboa, 1953.)
- RTP Arquivos - “Tudo pelo Homem nada contra o Homem”, Ver e Pensar, 1975.01.24, Entrevista com Francisco Rolão Preto, fundador do Integralismo Lusitano (IL) e líder do movimento Nacional-Sindicalista (NS).
- Resumo Analítico (RTP): “Entrevista com Rolão Preto sobre o dia em que aos microfones do Rádio Clube Português (RCP) em 1953, emitem a palestra "Tudo pelo Homem nada contra o Homem", e dois indivíduos da PIDE entram no estúdio para assistir; Rolão Preto faz uma retrospectiva da sua atividade política e das ideias centrais do seu pensamento político de Direita; sai de Portugal ainda sem terminar o liceu, para seguir Paiva Couceiro, oficial monárquico refugiado na Galiza que tentou derrubar o regime republicano; segue para a Bélgica, onde acaba o ensino liceal no Liceu Português de Lovaina e, é já em França que se licencia em Direito na Universidade de Toulouse; regressa a Portugal em 1917, é director do jornal "A Monarquia", quando da prisão de Hipólito Raposo; é membro da Junta Central do Integralismo Lusitano; em 1933 lança o Movimento Nacional-Sindicalismo, conhecido como "Os camisas azuis"; após uma carta escrita ao Presidente da República, general Carmona, onde defende um governo nacional com todas as tendências políticas, é preso em 1934 e, exila-se em Espanha; Salazar, em nota oficiosa proíbe então o Nacional-Sindicalismo; Rolão Preto, lembra ainda o regresso a Portugal em 1935 e, da implicação no "Golpe de Mendes Norton", contra o regime Salazarista, que o leva de novo ao exílio; novamente em Portugal, junta-se ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), para participar nas primeiras eleições do Estado Novo; apoia em 1951, o Almirante Quintão Meireles para Presidente da República; na análise à política atual, Rolão Preto, sintetiza o seu pensamento político, dizendo que é preciso "Uma aproximação ao povo, mas também às elites e que, se salve a classe média”.
Apontamento / Comentário:
Neste programa da RTP, realizado em 1975, durante o conturbado período do "PREC", apesar da incompreensão do entrevistador e narrador, e inclusive da displicência quanto aos factos e palavras de Rolão Preto, este mestre do Integralismo Lusitano surge ali de corpo inteiro, evidenciando as raízes personalistas do seu pensamento político e sublinhando e ilustrando as raízes portuguesas do seu comunitarismo. Um outro dado interessante revelado pelas imagens deste programa, ocorre quando se vislumbra sobre a mesa de trabalho de Rolão Preto o livro Razões Reais da autoria de Mário Saraiva, (edição da Biblioteca do Pensamento Político, 1970, parcialmente visível o título "Razões" de 23:19 a 23:22) seu companheiro de ideal no Integralismo Lusitano. Em Janeiro de 1975, ao iniciar-se a transição para o que viria a ser a Terceira República, era já esse o breviário de uma CAUSA REAL que, poucos anos depois, se viria a constituir em torno de Dom Duarte Pio de Bragança.
“Tudo pelo Homem nada contra o Homem” - foi uma fórmula do personalismo cristão, inspirada no pensamento de Emmanuel Mounier, adoptada na década de 1930 por um dos fundadores do Integralismo Lusitano - Francisco Rolão Preto. A expressão serviu de título a uma Palestra proferida no Radio Clube Português, em 31 de Outubro de 1953, como se refere na peça, mas fora já explicitada no capítulo “Política da Personalidade” incluído no livro “Justiça!” (1936), apreendido e proibido de circular pela polícia política de Salazar. Nessa inspirada fórmula, Rolão Preto fazia uma dupla e clara demarcação: da fórmula “Tudo pela Nação nada contra a Nação”, adoptada pelo Estado Novo, bem como da fórmula de Mussolini, “Tudo pelo Estado nada contra o Estado”. No resumo analítico do programa, aqui transcrito, é referido que “Rolão Preto faz uma retrospectiva da sua actividade política e das ideias centrais do seu pensamento político de Direita”. Assinalámos a vermelho a classificação “de Direita” para sublinhar que não era essa perspectiva de Francisco Rolão Preto, como se poderá comprovar ouvindo a entrevista. O narrador-entrevistador fez bem ao confessar que se opunha às ideias de Rolão Preto, mas julgamos que isso não lhe deu o direito de insistir numa classificação tão explicita e claramente recusada pelo entrevistado.
José Manuel Quintas
Para memória e benefício de futuros historiadores, libertos de preconceitos e de conveniências ideológicas ou político-partidárias, aqui se transcreve um pedaço significativo desta entrevista, colocando em negrito e itálico as palavras proferidas por Rolão Preto:
- "O senhor aparece na história da Primeira Republica, contra a Primeira República…
- …contra a Primeira República…
Depois há o 28 de Maio, e aparece o Salazarismo, mas o senhor doutor também aparece contra o Salazarismo…
- …contra o Salazarismo…
É preciso explicar aos jovens que o senhor doutor terá sido o “camisa azul”, um símbolo que as pessoas ligam ao fascismo, seria “o fascista”, pertencente a um partido fascista. Como é que isto pode ser explicado de uma pessoa que está sempre contra e que até escreve coisas a favor da liberdade do homem, da liberdade de expressão? Como é que isso é possível?
- “Como é que isso foi possível?…Foi uma forma de reagir. Naquela altura não havia outra. O Salazar não deixava fazer nada a um partido à Esquerda. Isso era rigorosamente proibido. E nós não podíamos fazer um partido à Direita, que era a dele. E então criamos um grupo de acção que apenas procuraria fazer triunfar certas ideias de liberdade e sobretudo de justiça social. O Nacional-Sindicalismo é, sobretudo, uma organização de aspecto social, de luta social, de defesa dos sindicatos. … Tanto assim que definitivamente rompemos com a Situação - a Situação do Salazar - quando eles fizeram as corporações. Não havia esperança de fazer nada dentro das corporações, visto que nós queríamos a liberdade dos sindicatos, queríamos o sindicato livre e não o sindicato único, etc. queríamos as conquistas indispensáveis para manter as liberdades e a maneira de viver dos portugueses.
Os camisas azuis eram sobretudo para bater no Salazar. Não era para bater em mais ninguém. Tanto assim que nós conspirámos e lutámos sempre com os republicanos.
— O dr. Rolão Preto era proprietário rural, sempre foi, nasceu já proprietário rural, e lutou por um partido de Direita…
…”não poderá definir de Direita, não, porque eu queria transformações sociais e económicas. Eu queria que a propriedade fosse também uma coisa social e não só para determinados privilegiados. A propriedade tem obrigações sociais, coloquei isso sempre nos meus escritos… (10:21) - https://arquivos.rtp.pt/conteudos/tudo-pelo-homem-nada-contra-o-homem/?fbclid=IwAR1NiQ4nydwCcRHV9vA2ftyTX5IJWcqmoRJyjS00J61glnZCvT3sM3r30pc