57 - Movimento de Cultura Portuguesa (1957-1962)
Textos e Documentos
1957-05 - "57 - Manifesto de 57"
Não é possível servir o Espírito ou a Razão, sem partir das formas antropo-cosmológicas em que o Espírito ou a Razão se particularizam, isto é, as pátrias. Não é possível servir Portugal sem conhecer Portugal. Não é possível servir o homem português sem conhecer o homem português.
Uma tese-base, bebida em A. N. Whitehead (matemática) e Karl Jaspers (psiquiatria): a relação do homens entre si e dos homens com o cosmos radica em sistemas culturais autónomos e específicos.
Visam ou reagem a "o escolástico, o materialista dialéctico, o positivista, o metafísico". Crítica ao "criticismo do movimento da Presença", ao "positivismo católico dos escritores integralistas", ao "cooperativismo sem antropologia de António Sérgio", "o materialismo apressado dos hegelianos que não leram Hegel", etc.
Reclamam a necessidade de estudos antropológicos e cosmológicos onde fundamentem as suas hipóteses - "sem estudos antropológicos e cosmológicos que fundamentem as teses propostas, estas não passam, com efeito, de ingénuas hipóteses, inevitavelmente condenadas à frustração"
A filosofia portuguesa terá surgido com Sampaio Bruno, influenciando, de um lado, a Renascença Portuguesa e a revista A Águia - Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa - e, de um outro lado, Leonardo Coimbra que, por sua vez, influenciou a "filosofia portuguesa moderna" de Álvaro Ribeiro e José Marinho, na Faculdade de Letras do Porto.
1957-08 - "57 - Manifesto sobre a Pátria"
..."é na pátria e pela pátria que o nosso destino será mais do que um esbracejar sem sentido na lama do quotidiano"
A pátria é apenas a realidade e quem vira costas à realidade em nome de ideais abstractos, cai em utopias ingénuas, como a do «cidadão do mundo», como a dos estetas que explicam as suas frustrações por não viverem em Paris e não falarem francês, como as dos políticos que a todo o momento repetem a pergunta de um provinciano a Sócrates: é preferível ter nascido em Tebas ou em Atenas? Há sempre uma pátria...
…
A pátria é a realidade. Todos têm uma patria e é possível que um dia a pátria do homem seja o universo. Mas esse dia vem tão longe, é uma utopia tão distante que todo aquele que, nos nossos dias, pretenda desligar-se do condicionalismo do espaço e do tempo e agir e pensar como se não houvesse fronteiras, mais nao consegue do que sair da sua pátria de origem e instalar-se numa pátria de adopção onde será sempre um intruso, onde será sempre um homem dividido e impedido de se realizar plenamente.
…
A filosofia é um caminho de homens e já vimos que não há homens sem pátria. A filosofia é um caminho da razão humana, mas a razão não se basta a si própria. A oração fúnebre de Emmanuel Kant é a falência da razão pura. A razão exerce-se sobre alguma coisa, a razão exerce-se sobre as manifestações mundanais do Espírito, a razão é o sincronismo do homem com a realidade englobante que o cerca. E a realidade englobante que o cerca, qual é ela, se não é apenas a matéria? É uma história de actos humanos, é uma arte e uma literatura, é um conjunto de tradições e revelações, é uma língua portadora de palavras intraduzíveis que são talvez cifras esquecidas. Numa palavra, é uma pátria. A minha patria é a língua portuguesa, disse Fernando Pessoa.
1959-11 - António Quadros - O mito do espírito
Fontes
Bibliografia passiva
1957-05 - "57 - Manifesto de 57"
Não é possível servir o Espírito ou a Razão, sem partir das formas antropo-cosmológicas em que o Espírito ou a Razão se particularizam, isto é, as pátrias. Não é possível servir Portugal sem conhecer Portugal. Não é possível servir o homem português sem conhecer o homem português.
Uma tese-base, bebida em A. N. Whitehead (matemática) e Karl Jaspers (psiquiatria): a relação do homens entre si e dos homens com o cosmos radica em sistemas culturais autónomos e específicos.
Visam ou reagem a "o escolástico, o materialista dialéctico, o positivista, o metafísico". Crítica ao "criticismo do movimento da Presença", ao "positivismo católico dos escritores integralistas", ao "cooperativismo sem antropologia de António Sérgio", "o materialismo apressado dos hegelianos que não leram Hegel", etc.
Reclamam a necessidade de estudos antropológicos e cosmológicos onde fundamentem as suas hipóteses - "sem estudos antropológicos e cosmológicos que fundamentem as teses propostas, estas não passam, com efeito, de ingénuas hipóteses, inevitavelmente condenadas à frustração"
A filosofia portuguesa terá surgido com Sampaio Bruno, influenciando, de um lado, a Renascença Portuguesa e a revista A Águia - Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa - e, de um outro lado, Leonardo Coimbra que, por sua vez, influenciou a "filosofia portuguesa moderna" de Álvaro Ribeiro e José Marinho, na Faculdade de Letras do Porto.
1957-08 - "57 - Manifesto sobre a Pátria"
..."é na pátria e pela pátria que o nosso destino será mais do que um esbracejar sem sentido na lama do quotidiano"
A pátria é apenas a realidade e quem vira costas à realidade em nome de ideais abstractos, cai em utopias ingénuas, como a do «cidadão do mundo», como a dos estetas que explicam as suas frustrações por não viverem em Paris e não falarem francês, como as dos políticos que a todo o momento repetem a pergunta de um provinciano a Sócrates: é preferível ter nascido em Tebas ou em Atenas? Há sempre uma pátria...
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A pátria é a realidade. Todos têm uma patria e é possível que um dia a pátria do homem seja o universo. Mas esse dia vem tão longe, é uma utopia tão distante que todo aquele que, nos nossos dias, pretenda desligar-se do condicionalismo do espaço e do tempo e agir e pensar como se não houvesse fronteiras, mais nao consegue do que sair da sua pátria de origem e instalar-se numa pátria de adopção onde será sempre um intruso, onde será sempre um homem dividido e impedido de se realizar plenamente.
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A filosofia é um caminho de homens e já vimos que não há homens sem pátria. A filosofia é um caminho da razão humana, mas a razão não se basta a si própria. A oração fúnebre de Emmanuel Kant é a falência da razão pura. A razão exerce-se sobre alguma coisa, a razão exerce-se sobre as manifestações mundanais do Espírito, a razão é o sincronismo do homem com a realidade englobante que o cerca. E a realidade englobante que o cerca, qual é ela, se não é apenas a matéria? É uma história de actos humanos, é uma arte e uma literatura, é um conjunto de tradições e revelações, é uma língua portadora de palavras intraduzíveis que são talvez cifras esquecidas. Numa palavra, é uma pátria. A minha patria é a língua portuguesa, disse Fernando Pessoa.
1959-11 - António Quadros - O mito do espírito
Fontes
- https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/57/57.htm (Existências: A. 1, n.º 1 (Maio 1957)-a. 5, n.º 11 (Jun. 1962)
Bibliografia passiva
- Álvaro Costa de Matos, O Jornal 57: História & Memória
- 2012 - Manuel Gama, A Questão da Filosofia Portuguesa, em Pedro Calafate, José Luis Mora García, Xavier Agenjo Bullón (Editores), Filosofía y Literatura en la Península Ibérica. Respuesta a la Crisis Finisecular, Fundación Ignacio Larramendi, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Associación de Hispanismo Filosófico, Madrid, 2012, pp. 123-142.
- 2016 - Manuel Gama - António Quadros e o "57 - Movimento de Cultura Portuguesa". Em M. C. Pimental (Coord.), António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos. Lisboa: Universidade Católica Editora, pp. 147-156.