O Ponto da Situação
Mário Saraiva
No espaço mental de um povo senhor do seu destino, as ideias precursoras e orientadoras seguem rotas projetadas com segurança, suscetíveis, porém, das correções que os dados circunstanciais aconselhem ou obriguem. Determinar a posição na linha de pensamento e infletir segundo as conveniências de momento são recursos que o mais experimentado navegador não despreza e de que se vale em determinados momentos. Alcançar o objetivo depende do modo e jeito de persegui-lo.
«A Política é uma navegação», escreveu num interessante caderno que teve o dom singular da oportunidade o saudoso e distinto Amigo que foi Alberto de Monsaraz. Começava-se a sair então da fase equívoca da 2ª República. As inteligências mais penetrantes do integralismo descriam já de que se viesse a cumprir o programa prometido ao País no célebre discurso impropriamente chamado da Sala do Risco, e de se resolver o problema político deixado em suspenso. Acomodava-se o Estado à «definitivação do provisório».
Os monárquicos, na generalidade, tinham até aí dado confiadamente o seu apoio, sem reservas e sem condições, ao governo sucessor do movimento militar do «28 de Maio». Era, pois, a hora de tomar o ponto da situação e de eventualmente corrigir desvios de orientação. Alertava Alberto de Monsaraz: «Há, de tempos a tempos, que tomar-se a altura do Sol para que a rota se não extravie pela superfície movediça de factos e circunstâncias, num mar-alto sem referências nem horizontes». Também hoje, Portugal vagueia num mundo transformado e revolto, sem horizonte nem pontos de referência nacionais.
A nau do Estado singra ao acaso, impelida por ventos estranhos, desprovida de pilotos responsáveis e conscientes da nacionalidade a que pertencem.
Apontam-nos, envolvida na névoa da distância a mancha dúbia da Terra Prometida - a C.E.E. Miragem paradisíaca, ou holocausto das pátrias? «Europa das nações. ou «Europa dos cidadãos»? Aliança ou fusão?
Dois conceitos diametralmente distintos, dois projetos essencialmente antagónicos. E de que lado está o Governo? Ele tem o dever estrito de nos informar. Os portugueses têm o direito de, rigorosamente, o saber! O povo tem de ter a consciência exata de que se joga aqui o seu destino nacional e humano. Repetimos a pergunta: qual a orientação do Governo? O Presidente da República já se declarou, em expressões citadas na imprensa e, sem surpresa, aliás, pelo projeto maçónico da fusão: «Europa dos cidadãos, nação única europeia. Que nos permita a «abertura» presidencial um vago pensamento. Não andará a comandar a opção do Dr. Mário Soares o sonho megalómano de ocupar o mais alto cargo da fantasiada «República Europeia»? Mera suposição apenas, claro. A liberdade de sonhar é de cada um e os sonhos, «realização de desejos», são os mais elementares na interpretação onírica de Freud. Aos politicantes «mais medíocres», cúmplices do mesmo atentado antinacional, é que talvez os mobilize a mísera ambição de serem deputados, quando muito ministros europeus...
Senhores da Governança, nada de desmandos! Em primeira e última análise, quem há-de decidir do seu futuro é o Povo. E de que lado está o Povo? Já alguém lho perguntou nesta democracia? Já lhe foi posta a questão com a clareza indispensável?
Estamos num momento dramático de determinar posições, porque corremos o perigo de um naufrágio mortal. O tempo não admite delongas. Tudo depressa parece encaminhar-se para que esta 3.ª República termine a obra demolidora que há dezoito anos iniciou.
Pela Padroeira dar-se-á a graça de Portugal destruir a 3. República, antes que esta o destrua como Nação livre e independente? Com a intercessão divina tudo é possível, mas Deus avisou o homem: faz tu, que eu ajudarei! E, portanto, o povo que tem de agir. E pode fazê-lo, primeiro que tudo, pelo espírito e pela vontade; basta que se sinta português.
A crise profunda que amolenta os portugueses contemporâneos advém de se ter perdido o sentimento e o orgulho da Portugalidade. Mas não haja ilusões nem desânimos. Ainda que no instante derradeiro, ele despertará numa explosão redentora indomável. FOI SEMPRE ASSIM.
«A Política é uma navegação», escreveu num interessante caderno que teve o dom singular da oportunidade o saudoso e distinto Amigo que foi Alberto de Monsaraz. Começava-se a sair então da fase equívoca da 2ª República. As inteligências mais penetrantes do integralismo descriam já de que se viesse a cumprir o programa prometido ao País no célebre discurso impropriamente chamado da Sala do Risco, e de se resolver o problema político deixado em suspenso. Acomodava-se o Estado à «definitivação do provisório».
Os monárquicos, na generalidade, tinham até aí dado confiadamente o seu apoio, sem reservas e sem condições, ao governo sucessor do movimento militar do «28 de Maio». Era, pois, a hora de tomar o ponto da situação e de eventualmente corrigir desvios de orientação. Alertava Alberto de Monsaraz: «Há, de tempos a tempos, que tomar-se a altura do Sol para que a rota se não extravie pela superfície movediça de factos e circunstâncias, num mar-alto sem referências nem horizontes». Também hoje, Portugal vagueia num mundo transformado e revolto, sem horizonte nem pontos de referência nacionais.
A nau do Estado singra ao acaso, impelida por ventos estranhos, desprovida de pilotos responsáveis e conscientes da nacionalidade a que pertencem.
Apontam-nos, envolvida na névoa da distância a mancha dúbia da Terra Prometida - a C.E.E. Miragem paradisíaca, ou holocausto das pátrias? «Europa das nações. ou «Europa dos cidadãos»? Aliança ou fusão?
Dois conceitos diametralmente distintos, dois projetos essencialmente antagónicos. E de que lado está o Governo? Ele tem o dever estrito de nos informar. Os portugueses têm o direito de, rigorosamente, o saber! O povo tem de ter a consciência exata de que se joga aqui o seu destino nacional e humano. Repetimos a pergunta: qual a orientação do Governo? O Presidente da República já se declarou, em expressões citadas na imprensa e, sem surpresa, aliás, pelo projeto maçónico da fusão: «Europa dos cidadãos, nação única europeia. Que nos permita a «abertura» presidencial um vago pensamento. Não andará a comandar a opção do Dr. Mário Soares o sonho megalómano de ocupar o mais alto cargo da fantasiada «República Europeia»? Mera suposição apenas, claro. A liberdade de sonhar é de cada um e os sonhos, «realização de desejos», são os mais elementares na interpretação onírica de Freud. Aos politicantes «mais medíocres», cúmplices do mesmo atentado antinacional, é que talvez os mobilize a mísera ambição de serem deputados, quando muito ministros europeus...
Senhores da Governança, nada de desmandos! Em primeira e última análise, quem há-de decidir do seu futuro é o Povo. E de que lado está o Povo? Já alguém lho perguntou nesta democracia? Já lhe foi posta a questão com a clareza indispensável?
Estamos num momento dramático de determinar posições, porque corremos o perigo de um naufrágio mortal. O tempo não admite delongas. Tudo depressa parece encaminhar-se para que esta 3.ª República termine a obra demolidora que há dezoito anos iniciou.
Pela Padroeira dar-se-á a graça de Portugal destruir a 3. República, antes que esta o destrua como Nação livre e independente? Com a intercessão divina tudo é possível, mas Deus avisou o homem: faz tu, que eu ajudarei! E, portanto, o povo que tem de agir. E pode fazê-lo, primeiro que tudo, pelo espírito e pela vontade; basta que se sinta português.
A crise profunda que amolenta os portugueses contemporâneos advém de se ter perdido o sentimento e o orgulho da Portugalidade. Mas não haja ilusões nem desânimos. Ainda que no instante derradeiro, ele despertará numa explosão redentora indomável. FOI SEMPRE ASSIM.
Mário Saraiva, O Ponto da Situação in Em Tempo de Mudança, Lisboa, Ed. Cultura Monárquica, 1992, pp. 15-17.