A literatura capciosa acerca do Integralismo Lusitano
A História tem inúmeros eclipses de factos interessantes e dá foros de acontecido a tremendas mentiras - António Cabreira
No editorial de um vespertino dos anos de 1920, ao preparar a "opinião pública" para o encerramento, pela polícia, do diário A Monarquia, pode ler-se que os integralistas lusitanos são "os mais irreconciliáveis, os mais preciosos, os mais rancorosos inimigos da República" ["Os Integralistas", A Capital - diário republicano da noite, 4 de Janeiro de 1921, p. 1].
Nos sucessivos regimes políticos oligárquicos que combateram, os integralistas foram sempre considerados perigosos adversários cujo ideário se procurava caricaturar, falsificar e, como último recurso, proibir.
As modalidades caricaturais e falsificadoras do ideário e da acção dos integralistas transbordaram naturalmente para a historiografia. Aqui se procurará identificar o corpus dessa literatura capciosa acerca do Integralismo e do sucedâneo Nacional-Sindicalismo. Utilizamos o adjectivo "capcioso" com o significando comum na língua portuguesa: literatura que engana, cavilosa, manhosa, ardilosa.
Nem toda a literatura que erra ou induz ao erro a respeito do Integralismo, foi elaborada com capciosa intenção. É por isso que, em benefício da verdade histórica, importa arrolar e expôr as mais destacadas e cavilosas "autoridades" que, nos meios editoriais e académicos, têm vindo a ser reproduzidas sem objeção, ressalva ou errata.
Aqui se destacam dois significativos pontos de partida concatenados, identificando os seus contextos e falsidades mais salientes:
Este corpus será limitado aos casos em que a má-fé e o propósito enganoso são evidentes, por conterem flagrantes falsificações, truncagens e adulteração das fontes. O corpus aqui reunido destina-se aos jovens livres de pensamento livre, e a todos os que tenham a aspiração de conhecer a verdadeira história do Integralismo.
[17 de Maio de 2024 - J.M.Q.]
Relacionado:
Nos sucessivos regimes políticos oligárquicos que combateram, os integralistas foram sempre considerados perigosos adversários cujo ideário se procurava caricaturar, falsificar e, como último recurso, proibir.
As modalidades caricaturais e falsificadoras do ideário e da acção dos integralistas transbordaram naturalmente para a historiografia. Aqui se procurará identificar o corpus dessa literatura capciosa acerca do Integralismo e do sucedâneo Nacional-Sindicalismo. Utilizamos o adjectivo "capcioso" com o significando comum na língua portuguesa: literatura que engana, cavilosa, manhosa, ardilosa.
Nem toda a literatura que erra ou induz ao erro a respeito do Integralismo, foi elaborada com capciosa intenção. É por isso que, em benefício da verdade histórica, importa arrolar e expôr as mais destacadas e cavilosas "autoridades" que, nos meios editoriais e académicos, têm vindo a ser reproduzidas sem objeção, ressalva ou errata.
Aqui se destacam dois significativos pontos de partida concatenados, identificando os seus contextos e falsidades mais salientes:
- 1964 - 1965 - Carlos Ferrão, O Integralismo e a República - Autópsia de um Mito, 3 Vols, Lisboa, Inquérito e Editorial O Século.
- 1978 - João Medina, Salazar e os Fascistas - Salazarismo e Nacional-Sindicalismo, a história dum conflito, 1932-1935, Livraria Bertrand.
Este corpus será limitado aos casos em que a má-fé e o propósito enganoso são evidentes, por conterem flagrantes falsificações, truncagens e adulteração das fontes. O corpus aqui reunido destina-se aos jovens livres de pensamento livre, e a todos os que tenham a aspiração de conhecer a verdadeira história do Integralismo.
[17 de Maio de 2024 - J.M.Q.]
Relacionado:
- 1933 - Carta para o "Camarada Quitério" - "Não convém os mestres integralistas, porque falam sempre em Monarquia..."
- 1977 - Franco Nogueira - Um distorcido perfil de Rolão Preto
1. "Mentiras e calúnias impressionantes"
1964 - 1965 - Carlos Ferrão, O Integralismo e a República - Autópsia de um Mito, 3 Vols, Lisboa, Inquérito e Editorial O Século.
Bibliografia
1971 - Mário Saraiva - A Verdade e a Mentira - Algumas notas em resposta a «O Integralismo e a República» de Carlos Ferrão, Lisboa: Caderno 1 de Pensamento Político, 1971.
1971 - Mário Saraiva - A Verdade e a Mentira - Algumas notas em resposta a «O Integralismo e a República» de Carlos Ferrão, Lisboa: Caderno 1 de Pensamento Político, 1971.
NOTA EXPLICATIVA
Há quem viva a Política estudando e defendendo os seus ideais, exaltando-os, propagando-os, dando-se abnegadamente à luta e ao sacrifício pela «sua verdade». A boa-fé das convicções corresponde então à lealdade e à coragem das acções. Estes são, segundo o caso, ou os camaradas que comovidamente admiramos ou os adversários que sinceramente respeitamos.
Mas na sombra destes espíritos generosos e eleitos, outros seguem o caminho tortuoso da sua própria inferioridade. Incapazes de subirem aos planos superiores da inteligência, movem-se pelo sectarismo que, quanto mais se exacerba, mais avilta os sentimentos que o inspiram.
A mentira, a deslealdade, a calúnia, o ódio, são as armas de que se valem estes «políticos», para os quais a palavra adversário é sinónima de inimigo. Os seus pensamentos sustentam-se do contra. Importa-lhes menos enaltecer as ideias que professam do que depreciar e atacar as ideias dos outros. Importa-lhes, sobretudo, imprecar e conspurcar as obras e as pessoas do lado contra. E tudo servirá então para esse fim, tanto faz que verdade ou mentira.
O Sr. Carlos Ferrão, ao escrever sobre política, mostra pertencer a esta segunda espécie de indivíduos.
Quem se tiver dado à paciência de ler os seus livros — «O Integralismo e a República» -, pode facilmente comprová-lo. O autor nem esconde o seu propósito. Não é uma crítica aos princípios e às ideias integralistas que o move. Ele mesmo o diz (pág. 14, 1.° vol.): «Não nos ocuparemos da doutrina». O que lhe interessa é rebaixar, denegrir, desacreditar, ultrajar. Sem se prender a escrúpulos, revela o intuito da sua obra (Prefácio do 2.° volume), que diz ser «um libelo e uma exautoração».
O ataque aos adversários é assim a sua maneira predilecta, se não única, de fazer política; a insinuação, a injúria, a calúnia, a mentira, o insulto, tudo serve como armas. Adiante se verá como as usa.
A inspiração do exacto momento para escrever e publicar esta sua obra ofensiva é, por si, significativa. Enquanto amigos e discípulos do Integralismo se juntavam em comemoração de sentida homenagem no seu 50.° aniversário, como de efeméride de família em verdade se tratasse, o Sr. Carlos Ferrão achou bem aproveitar a ocasião para ir à porta da rua gritar para dentro os seus impropérios dirigidos aos convivas e aos homenageados, e de alguns destes à sua memória. Isto, so por si, define um carácter. Mas como cada um é o que é, hesita-se em saber se quem assim procede merece castigo ou comiseração. Prevaleceu a opinião de que merecia desprezo e, por isso, nenhum dos alvejados lhe respondeu. Apenas dois convivas, isolados, não contiveram a sua indignação, descendo à rua a ripostar-lhe: o Dr. António José de Brito no correctivo volume «Reflexões acerca do Integralismo Lusitano», onde pormenorizadamente pôs a nu os erros, as falsidades e a má fé do injuriante, e nós em algumas notas concisas oportunamente vindas a lume no Pelourinho de «O Debate». São pouco mais que esses apontamentos, que se entendeu não deverem ficar dispersos e esquecidos nas páginas do jornal, que se juntam no presente Caderno.
Temos aguardado a saída do 4.° volume, que o autor anuncia concluir a sua obra, para lhe darmos uma resposta mais completa. Tarda, porém, em sair este último volume e, na incerteza de que venha mesmo a sair, é que resolvemos por agora esta publicação.
Provavelmente, alguém se interrogará: mas num pequeno Caderno, como este, é que se pode responder a tão volumosa ofensiva? Chega a resposta?
A nós parece-nos que sim. E mereceria mais?
O leitor o julgará.
Julho de 1971.
M. S.
[Mário Saraiva, 1910-1998]
Mas na sombra destes espíritos generosos e eleitos, outros seguem o caminho tortuoso da sua própria inferioridade. Incapazes de subirem aos planos superiores da inteligência, movem-se pelo sectarismo que, quanto mais se exacerba, mais avilta os sentimentos que o inspiram.
A mentira, a deslealdade, a calúnia, o ódio, são as armas de que se valem estes «políticos», para os quais a palavra adversário é sinónima de inimigo. Os seus pensamentos sustentam-se do contra. Importa-lhes menos enaltecer as ideias que professam do que depreciar e atacar as ideias dos outros. Importa-lhes, sobretudo, imprecar e conspurcar as obras e as pessoas do lado contra. E tudo servirá então para esse fim, tanto faz que verdade ou mentira.
O Sr. Carlos Ferrão, ao escrever sobre política, mostra pertencer a esta segunda espécie de indivíduos.
Quem se tiver dado à paciência de ler os seus livros — «O Integralismo e a República» -, pode facilmente comprová-lo. O autor nem esconde o seu propósito. Não é uma crítica aos princípios e às ideias integralistas que o move. Ele mesmo o diz (pág. 14, 1.° vol.): «Não nos ocuparemos da doutrina». O que lhe interessa é rebaixar, denegrir, desacreditar, ultrajar. Sem se prender a escrúpulos, revela o intuito da sua obra (Prefácio do 2.° volume), que diz ser «um libelo e uma exautoração».
O ataque aos adversários é assim a sua maneira predilecta, se não única, de fazer política; a insinuação, a injúria, a calúnia, a mentira, o insulto, tudo serve como armas. Adiante se verá como as usa.
A inspiração do exacto momento para escrever e publicar esta sua obra ofensiva é, por si, significativa. Enquanto amigos e discípulos do Integralismo se juntavam em comemoração de sentida homenagem no seu 50.° aniversário, como de efeméride de família em verdade se tratasse, o Sr. Carlos Ferrão achou bem aproveitar a ocasião para ir à porta da rua gritar para dentro os seus impropérios dirigidos aos convivas e aos homenageados, e de alguns destes à sua memória. Isto, so por si, define um carácter. Mas como cada um é o que é, hesita-se em saber se quem assim procede merece castigo ou comiseração. Prevaleceu a opinião de que merecia desprezo e, por isso, nenhum dos alvejados lhe respondeu. Apenas dois convivas, isolados, não contiveram a sua indignação, descendo à rua a ripostar-lhe: o Dr. António José de Brito no correctivo volume «Reflexões acerca do Integralismo Lusitano», onde pormenorizadamente pôs a nu os erros, as falsidades e a má fé do injuriante, e nós em algumas notas concisas oportunamente vindas a lume no Pelourinho de «O Debate». São pouco mais que esses apontamentos, que se entendeu não deverem ficar dispersos e esquecidos nas páginas do jornal, que se juntam no presente Caderno.
Temos aguardado a saída do 4.° volume, que o autor anuncia concluir a sua obra, para lhe darmos uma resposta mais completa. Tarda, porém, em sair este último volume e, na incerteza de que venha mesmo a sair, é que resolvemos por agora esta publicação.
Provavelmente, alguém se interrogará: mas num pequeno Caderno, como este, é que se pode responder a tão volumosa ofensiva? Chega a resposta?
A nós parece-nos que sim. E mereceria mais?
O leitor o julgará.
Julho de 1971.
M. S.
[Mário Saraiva, 1910-1998]
1971_-_mário_saraiva_-_a_verdade_e_a_mentira_.pdf |
2. "Camisas azuis" ou "camisas verdes"?
1978 - João Medina, Salazar e os Fascistas - Salazarismo e Nacional-Sindicalismo, a história dum conflito, 1932-1935, Livraria Bertrand, 1978.
Em 24 de Janeiro de 1975, a Rádio Televisão Portuguesa (RTP) emitiu um programa com excertos de uma entrevista com Francisco Rolão Preto (1893-1977), fundador do Integralismo Lusitano (1913-1933) e líder do Movimento Nacional Sindicalista (1932-1936) sob o título "Tudo pelo Homem nada contra o Homem".
Em 27 de Junho desse ano, João Medina deslocou-se à Soalheira e obteve também uma entrevista com Rolão Preto, que terá sido gravada e a sua transcrição por si lida e retificada e a que, em Julho, terá acrescentado uma adenda. Essa entrevista só virá a ser publicada após a morte de Rolão Preto, constituindo uma parte substancial do livro Salazar e os Fascistas - Salazarismo e Nacional-Sindicalismo - a história dum conflito 1932/ 1935 (Lisboa: Livraria Bertrand, 1978, pp. 155-209). Em separado, sob o título "Não, não e não", aqui a reproduzimos [Entrevista de Rolão Preto com João Medina] sem poder confirmar a sua autenticidade em todos os pormenores, mas por nela se vincar uma persistente e coerente recusa de Rolão Preto em ser identificado como fascista ou com o fascismo.
Nesse Verão de 1975 vivia-se em Portugal o chamado "Processo Revolucionário em Curso" (PREC), após o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Vigorava já uma Plataforma de Acordo Constitucional ou "1º Pacto MFA - Partidos" (pacto celebrado entre o Movimento das Forças Armadas e alguns partidos políticos - PS, PPD, PCP, CDS, FSP e MDP/CDE), subscrito em 11 de Abril. Nos órgãos de informação da época, refletindo os comunicados difundidos pelos partidos políticos do novo regime em gestação e pelo Conselho da Revolução (institucionalização do MFA após o 11 de Março - Lei nº 5/75, de 14 de Março) era comum dizer-se e escrever-se que o "25 de Abril" derrubara uma "ditadura fascista" (ou "regime fascista") com 48 anos (1926-74). Caminhava-se na direcção de um "Socialismo português", mas procurando reabilitar a herança partidocrática da 1ª República, pelo que se amalgamavam as ditaduras dos anos de 1920 (Ditadura Militar, 1926-28 e Ditadura Nacional, 1928-33) com a 2ª República ou Estado Novo (1933-74).
Em 1978, quando João Medina publicou o seu livro, vigorava já a Constituição de 1976, consagrando um sistema político semipresidencial, com vincado pendor partidocrático. No preâmbulo da nova Constituição, escrevia-se que, em 25 de Abril de 1974, "o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista." Mantinha-se ainda o Conselho da Revolução - órgão militar de tutela da institucionalização da 3ª República - mas caminhava-se na direção de um regime em que se previa o domínio do Estado pelos partidos subscritores do referido Pacto MFA - Partidos, então já na sua segunda versão. O Conselho da Revolução virá a ser extinto na revisão constitucional de 1982.
No sub-título do livro, João Medina identificou o Estado Novo (1933-1974) como o "Salazarismo", em referência à personalidade de António de Oliveira Salazar, presidente do Conselho de Ministros entre 1932 e 1968. Durante a entrevista com Rolão Preto, Medina deixou tombar uma vez a expressão "fascismo salazarista", mas o título e a capa do livro sugerem que Salazar teria triunfado sobre os fascistas. A ideia-chave a transmitir surge nítida na contra-capa do livro: "O Fascismo português existiu de facto: eram os camisas azuis de Rolão Preto, movimento que Salazar decidiu eliminar." Para que essa ideia tivesse credibilidade, Rolão Preto teria de surgir ali como "o fascista português". A entrevista revelou-se um fiasco: Rolão Preto recusou, como vinha recusando desde Janeiro de 1933, identificar o nacional-sindicalismo com os fascismos.
Apesar das respostas negativas de Rolão Preto durante a entrevista, Medina não desarmou, optando por diluir o seu conteúdo num longo rol de apontamentos e notas de rodapé, algumas visando rebaixar e desacreditar Rolão Preto por alegados erros ou imprecisões de memória. Desviando-se da doutrina e do programa do Nacional-Sindicalismo, Medina colocou a tónica na coreografia miliciana dos camisas azuis, tida como suficiente para provar que estes seriam "os fascistas portugueses".
E foi assim que Medina abriu o livro estampando uma fotografia "esclarecedora", na qual se mostra Rolão Preto a entrar no Palácio das Exposições do Parque Eduardo VII, entre alas de camisas azuis perfilados de braço levantado, fazendo a "saudação romana", na noite do banquete que ali lhe foi oferecido, em 18 de Fevereiro de 1933. - "Não vale uma imagem mais do que mil palavras"?...
O expediente de reduzir o Fascismo a uma coreografia não foi uma invenção de João Medina. O jornalismo das partidocracias usou muito essa habilidade nos anos 30. Os métodos milicianos de organização e propaganda estavam a ser empregues pelos mais diversos quadrantes político-ideológicos - por comunistas, fascistas, "centristas" (como os republicanos alemães ou o britânico Social Credit Party), e mesmo por anarquistas, como a Federación Anarquista Ibérica (FAI) espanhola - mas, quem não fosse favorável à partidocracia, e não se identificasse como "comunista" ou "anarquista", seria forçosamente fascista, a exautorar na "extrema-direita" do seu artificioso espectro político. Em publicações com intenção historiográfica foi Medina um dos primeiros, senão o primeiro, a adoptar esse expediente a respeito dos camisas azuis de Rolão Preto. E foi assim que, ao abrir o livro, logo após a estampa, Medina proclamou de chofre: "A ilusão de Rolão Preto foi a de alguns fascistas "puros": pensar que se podia fazer a Revolução na extrema-direita, julgar que havia um fascismo social." Sem mais, Rolão Preto seria obviamente "fascista", um "fascista puro", a incluir na "extrema-direita".
João Medina foi um marco na historiografia acerca do Nacional-Sindicalismo, não muito depois obtendo seguidores que, em livros ou artigos jornalísticos, exibindo fotografias e caricaturas ilustrativas, abrem as suas narrativas despejando a esmo os epítetos de "fascista", "extrema-direita", "direita radical", "autoritarista", entre outros mimos de conteúdo ou conotação "anti-democrática". Nessa linha se veio a colocar António Costa Pinto, com o livro Os Camisas Azuis (Lisboa, Estampa, 1994).
Até ao início dos anos 30, os integralistas, incluindo Rolão Preto, saudaram com esperança as "revoluções nacionalistas" a alastrar pela Europa, em particular as vitórias eleitorais e as subidas ao poder de Benito Mussolini em Itália e, por último, também de Adolf Hitler na Alemanha. Daí surgiu uma outra artimanha utilizada por Medina e sequazes: o de apresentar essas manifestações de esperança como uma adesão aos seus ideários e doutrinas políticas. Os integralistas saudaram com esperança as "revoluções nacionalistas", mas não adoptaram os seus ideários, programas ou doutrinas políticas. O programa do Integralismo Lusitano tinha sido estabelecido muito antes, em 1914, em obediência a princípios cristãos e bem dentro das tradições comunitárias portuguesas, em defesa da Instituição Real na chefia do Estado e de uma descentralização política com representações municipais e sindicais.
No dia 10 de Junho de 1922, ao assinar a sua primeira "Crónica Social" para a segunda série da revista Nação Portuguesa, Rolão Preto manifestou esperança nas revoluções nacionalistas, mas confessando também dificuldades na sua apreciação: "Na verdade, a hora que passa é de uma tal complexidade em aspectos sociais, abrange uma tão vasta simultaneidade de movimentos, de pensamento e de acção contrários ou paralelos, que a sua discriminação demanda uma atenção e trabalho bem difíceis de conseguir." Ao abordar o contexto italiano, uma descoberta lhe deu porém satisfação: "a organização cooperativista e sindical do Fascio é francamente integralista. A forma neo-mediévica da interpretação do pensamento corporativo é largamente seguida pelos chefes do sindicalismo nacional Facista". - Estaria Rolão Preto equivocado? - Decerto que não. Um integralista, melhor do que ninguém, saberia identificar aqueles que partilhavam os seus pontos de vista. Equívoco seria o de considerar-se, como ardilosamente depois se sugeriu, que teria sido essa pura forma sindicalista a que veio a ser aplicada pelo Estado Fascista. O pseudo-sindicalismo mais tarde instituído em Itália, e também em Portugal, como o próprio Rolão Preto denunciou, estava nos antípodas da sua esperança.
Após o triunfo do Fascismo em Itália, e de Miguel Primo de Rivera em Espanha, António Sardinha (1887-1925), em "Mais longe ainda!" (1923), detectou em Mussolini uma "febre nacionalista" com algo de misterioso ou enigmático: eram "as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende". Sabia-se que Mussolini vinha do jacobinismo republicano e socialista, mas não se lhe conhecia então qualquer retratação ou nova afirmação doutrinária; faltava-lhe "o sentido orgânico de uma doutrina".
Segundo Sardinha, o triunfo de Mussolini em Itália e de Miguel Primo de Rivera em Espanha, não sendo a vitória do "sentido orgânico duma doutrina" - que faltava a ambos - era no entanto entendido como “uma soberba e convincente demonstração (...) de que o Ocidente não morreu...”. A decadência do Ocidente latino, vaticinada pelos germânicos Oswald Spengler e conde de Keyserling, não se estaria a materializar. Era esse o sentido do seu optimismo.
Os integralistas eram católicos, identificando-se com o Ocidente latino, tendo uma viva noção de que as tradições políticas dos Estados europeus, bem como as respectivas ideologias e doutrinas nacionalistas, assentavam em realidades distintas no espaço e no tempo, podendo por isso apresentar feições muito diversas, mesmo contrastantes. Na Europa Ocidental há nações (e nacionalismos) com origem na Idade Média (como Portugal ou a Inglaterra), no período neo-clássico ou renascentista (como a França), ou pós-revolucionárias (como a Itália e a Alemanha, no último quartel do século XIX). Entre os integralistas havia a percepção de abismos intransponíveis entre o municipalismo das origens da nação portuguesa, de cuja herança se reclamavam, e os estatismos centralistas que tinham levado à criação da Itália e da Alemanha.
Um pouco mais tarde, no prefácio a Ao princípio era o Verbo (1924), Sardinha alertava já para perigos provenientes de além Pirineus, distinguindo três espécies de nacionalismo: (1) o nacionalismo “da sôfrega dilatação que, de nacionalismo, se torna depressa em perturbadora exaltação imperialista”; (2) o nacionalismo que, a exemplo da Suíça, quer ser “placa giratória” da Europa, e “não ambiciona para Portugal outras vantagens que não sejam as de um turismo promissor e condescendente”; e (3) o "nacionalismo esclarecido pelo tradicionalismo" - o seu nacionalismo - que identifica como "católico romano", apto a “reconstruir uma ordem internacional em que todas as pátrias, pequenas ou grandes, se achem naturalmente enlaçadas por uma finalidade comum”(p. xvi). E, como que intuindo o aproximar de uma nova hecatombe europeia, advertiu:
“Urge que, na floresta espessa dos mitos e superstições dominantes, nos não abandonemos cegamente ao encanto bárbaro da aspiração nacionalista. Acentuamos "encanto bárbaro", porque, na sua ansia impetuosa há na aspiração nacionalista que desvaira a Europa uma força de agressividade primitiva, - um total olvido da harmonia que é imperioso restabelecer nas relações dos povos, como assento sólido da Cidade-de-Deus” (pp. xiii-xiv).
Após o triunfo dos fascistas sobre o "vento anárquico e sovietista" de 1920, Rolão Preto entrou em polémica com Santa Cruz, no jornal A Época (1922). Identificando-se como nacionalista, defendeu ali a eficácia do "método fascista" em resposta à anarquia e às violências inauditas do ano vermelho em Itália. Nos campos de Ferrara, sob o impulso dos fascistas, os camponeses tinham-se aliado aos proprietários, contrariando a luta de classes promovida pelo bolchevismo. Ao encerrar a polémica, Rolão Preto reconhece os excessos também cometidos pelos fascistas, clarificando: "eu não sou fascista, sou integralista". Durante a década de 20, Rolão Preto continuará no entanto a saudar com esperança as "revoluções nacionalistas", incluindo nelas a viragem nacionalista do bolchevismo após a morte, em Janeiro de 1924, de Vladimir Ilyich Ulianov (Lenine). Na perspectiva dos integralistas, não esquecendo os seus vários contextos e perigos, o altear dos nacionalismos era entendido como criador de um ambiente propício, favorável, ao seu desejado "reaportuguesamento de Portugal".
As leis e os institutos fundamentais do Estado Fascista foram estabelecidos na segunda metade da década - em 1926, 27 e 28. Nessa época, o Fascismo recebia os favores de significativas elites políticas europeias, consignando a Enciclopédia "Larousse": "os estadistas ocidentais consideravam o fascismo uma sã concepção do interesse nacional". Em Nova Iorque, surge em 1928 uma Autobiografia de Mussolini com um panegírico de abertura assinado por Richard Washburn Child, ex-embaixador do EUA em Itália.
No ano seguinte, pelo tratado de Latrão, Mussolini permite a criação do Estado do Vaticano em Roma. Entre os integralistas, porém, continuavam a levantar-se objecções ao Fascismo na linha do pensamento de António Sardinha. Em Março de 1931, na revista Política, Carlos Proença (1901-1990), por exemplo, acentuava "a diferença que separa a fórmula nacionalista do Integralismo Lusitano doutros nacionalismos contemporâneos", demarcando-a ali tanto da Action française, que fora já objecto de condenação papal, como da fórmula fascista, "em tudo semelhante", se bem que "talvez mais agudamente pagã": "esses nacionalismos partem de uma fórmula transpersonalista, sim, mas de base exclusivamente social. Segundo eles são os valores especificamente sociais, do grupo, e da sua expressão política - o Estado, que subordinam todos os outros, elevando-se à categoria de fins exclusivos. Por isso, neles, o Estado, é tudo e o indivíduo nada, fora do Estado, que totalmente absorve aquele, como na "Cidade Antiga". (Carlos Proença in Política, nº 19, 5 de Março de 1931, pp. 14-15; nº 20, 31 de Março de 1931, pp. 12-19 [Recensão ao livro "Do Valor e Sentido da Democracia", de Cabral de Moncada]. Era uma clara identificação e rejeição do totalitarismo indiciado pelas formulações nacionalistas do Fascismo. A trégua de Mussolini com a Igreja Católica não irá durar muito e, em Junho, logo após a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o papa Pio XI condena o Fascismo através da Encíclica Non abbiamo bisogno, denunciando a existência de “um partido, um regime, com base numa ideologia que resulta abertamente numa verdadeira estatolatria pagã”. O papa Pio XI vinha afinal corroborar as objecções integralistas, fazendo soar o alarme Urbi et Orbi. A doutrina do Estado totalitário do Fascismo estava ainda por definir clara e explicitamente, mas começavam a revelar-se na prática os seus traços fundamentais. O jacobinismo de Mussolini vinha de novo à superfície e, sem margem para dúvida, era o próprio quem definia pouco depois a sua doutrina fascista como um totalitarismo [1932 - Fascismo]. Em Janeiro de 1933, em entrevista à United Press, Rolão Preto não teve dúvida em demarcar-se do fascismo e do hitlerismo, classificando-os como "totalitarismos divinizadores do Estado cesarista".
Tal como Medina, Costa Pinto considerou que Rolão Preto "só a partir de 1945 se afastaria do fascismo" (A. C. Pinto, Camisas Azuis, citado, p. 38). Um outro expediente dessa capciosa literatura a respeito do Nacional-Sindicalismo consiste em ocultar-se a demarcação de Rolão Preto em 1922 - "eu não sou fascista, sou integralista" - bem como as suas repetidas e incisivas rejeições do Estatismo totalitário do Fascismo ao longo dos anos 30. A documentação que o atesta não é tão escassa e insipiente quanto se procurou fazer crer.
Em 16 de Julho de 1933, o capitão Correia de Campos, nacional-sindicalista, proferiu uma conferência no Teatro São Carlos. Rolão Preto está entre a assistência e é aclamado, pronunciando um discurso muito aplaudido. No livro Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas (1940, pp. 126-127), Plácido Barbosa, reproduz palavras significativas, visando o chefe do Governo, Oliveira Salazar, o Comunismo e o Fascismo (negrito acrescentado):
"pesam sobre nós as velhas teorias financeiras, os absurdos conceitos económicos, em nome dos quais o homem é escravo da Plutocracia, da Usura e do Estado.
A economia moderna tem de assentar sobre a Justiça, isto é sobre o Trabalho.
Todas as autoridades devem ser protegidas e reforçadas pela comunidade nacional. Assim o homem será livre dentro da solidariedade. A liberdade é essencial à marcha do mundo.
Por isso nós estamos para além do Comunismo, que é a escravidão do homem em proveito do indivíduo; para além do Fascismo que é a escravidão do homem em proveito do Império.
Nós, ao contrário, queremos o indivíduo no quadro da família, em proveito do homem, o indivíduo no quadro do sindicato em proveito e reforço do homem; o indivíduo no quadro da nação em proveito e garantia do homem.
Cada um desses quadros é um circulo de liberdade que protege o homem contra a vontade arbitrária de tiranos".
Ainda nesse ano, ao ser revelado na imprensa estrangeira a existência de planos italianos e alemães para os territórios portugueses do ultramar africano, que poderiam estar a seduzir os britânicos, o nacional-sindicalismo convoca uma manifestação de protesto junto à embaixada do Reino Unido. A manifestação foi proibida pelo governo mas, em Junho do ano seguinte, face à repressão que se estava já a abater sobre o nacional-sindicalismo - assaltos e encerramento das suas sedes, proibição das suas publicações - Rolão Preto envia uma representação (pública) ao presidente da República, em que o modelo totalitário do fascismo, adoptado por Salazar no partido único da União Nacional, é um foco essencial do protesto.
O governo respondeu com a prisão e desterro de Rolão Preto e Alberto Monsaraz, proibindo pouco depois o Nacional-Sindicalismo. Em resposta, a Junta Nacional-Sindicalista denunciou a imitação do totalitarismo fascista por parte do governo de Salazar.
No início de 1935, ao retornar a Portugal após a farsa eleitoral de Dezembro de 1934, Rolão Preto voltou a condenar e a rejeitar o Fascismo no seu discurso aos intelectuais nacionalistas.
Mas Rolão Preto não se limitou a rejeitar o totalitarismo dos fascismos em declarações à imprensa, em comunicados ou em discursos, vindo a ser esse um dos temas centrais do seu livro Justiça! (1936), em defesa de uma revolução personalista e comunitária. O livro foi proibido pelo governo de Salazar.
Além de ter afirmado o seu Integralismo como distinto do Fascismo desde o início dos anos 20, e rejeitado os totalitarismos desde que estes deram prova de vida, no início dos anos 30, Rolão Preto não se incluía a si mesmo sequer nas chamadas "direitas" (ver entrevista à RTP - "Tudo pelo Homem nada contra o Homem"). Tal como para os seus pares no Integralismo Lusitano, também para Rolão Preto era urgente fazer desaparecer as filhas dilectas do individualismo solto da Revolução Francesa: as "esquerdas" e as "direitas" ideológicas, por meio das quais os povos são ludibriados, fazendo-os esquecer a representação no Estado dos seus reais interesses comunitários, sociais e profissionais.
Os ardis podem ir ainda mais além, atribuindo-se ao Nacional-Sindicalismo vagos "elementos fascizantes" na sua génese ou no seu desenvolvimento ou, ainda, considerar-se que a substância do Fascismo seria o método, e vice-versa, para se concluir falaciosamente que os camisas azuis seriam uma organização de "tipo fascista". Por ignorância ou má-fé, o que se esconde por detrás desses jogos de palavras é a origem e a natureza da doutrina totalitária que está na base do Estado Fascista instituído por Mussolini.
O repertório de artifícios e ardis lançados contra o pensamento e acção dos integralistas, e em particular de Rolão Preto, pode decerto vir ainda a ser objecto de remodelações, mas não deixará de revelar a sua impotência face à límpida doutrina anti-totalitária do Nacional-Sindicalismo:
"Municipalista, Regionalista, Sindicalista... eis outros tantos aspectos por que se define a liberdade - aspectos que o Liberalismo combateu, pelo centralismo eleitoral do Poder, em nome da libertação do indivíduo isolado - e que constituem a armadura forte e invencível do Homem contra as prepotências do Estado e os abusos de mando de outros homens." (in Palavras do Dr. Rolão Preto pronunciadas no banquete dos intelectuais nacionalistas, União Nacional, Leiria, Ano VII, nº 387, 3 de Março de 1935, pp. 1, 2, 3, 6.)
João Medina decidiu apresentar Rolão Preto como "fascista", aliás como um "fascista puro", e daí a ocultação e deturpação da doutrina Nacional-Sindicalista. Na página 15 do livro Salazar e os Fascistas, cita um índice, retirado de um folheto de propaganda, onde se enumeram "as bases do Estado nacional-sindicalista": "1. A Família; 2. A Tradição; 3. O Município; 4. O Sindicato; 5. A Corporação; e 6. A Nação". Esse índice, ali apresentado sem qualquer elucidação, é o que de mais rigoroso nos apresenta a respeito da doutrina nacional-sindicalista. Uma breve reflexão se impõe - Qual a concepção do Estado de Rolão Preto? Consideraria ele, tal como Mussolini, que "o Estado é um absoluto" e que "indivíduos e grupos só são «pensáveis» quando estão no Estado"?
Para servir o seu propósito, Medina não elucidou nem podia elucidar a doutrina nacional-sindicalista do Estado, porque, sendo esta essencialmente municipalista e sindicalista, está nos antípodas do totalitarismo: enquanto no Fascismo, "tudo está no Estado, e nada humano ou espiritual existe, muito menos tem valor, fora do Estado" ("é, nesse sentido, totalitário", na definição de Benito Mussolini, em 1932), na doutrina defendida por Rolão Preto, tudo o que é humano e tem valor social - a Família, o Município, o Sindicato... - tem que manter a sua autonomia, liberdade, fora da alçada do Estado. A primacial tarefa ou função do Estado Nacional-Sindicalista é a de prestar serviço à Família, ao Município, ao Sindicato, à Corporação, à Nação.
Os Estatismos do século XX foram, sem exceção, filhos da filosofia iluminista do século XVIII, base das doutrinas da Revolução (1789), de que Mussolini retirou aqueles elementos que, nas suas próprias palavras, tinham "valor de vida". [1932 - Benito Mussolini - Fascismo]. Os princípios do Nacional-Sindicalismo firmam-se na matriz personalista e comunitária do Integralismo, desmentindo concessões aos Estatismos modernos - Democratista, Socialista, Comunista ou Fascista.
Ao ocultar a concepção antitotalitária do Estado do Nacional-Sindicalismo, ocultou-se porque é que Rolão Preto não prescindia das liberdades sindicais, cívicas e políticas, ao confrontar-se com o nascente Estado Novo de Oliveira Salazar. Sendo elucidados os princípios da doutrina Nacional-Sindicalista facilmente se entenderia porque é que Rolão Preto rejeitou o Regime de Partido Único e o Corporativismo de Estado da "República unitária e corporativa" instalada pela Salazarquia - o modelo do Partido Único tinha antecedentes no Bolchevismo e no Fascismo; o Corporativismo de Estado tinha antecedente no Fascismo.
A Constituição que Salazar mandou referendar adoptou o modelo bicameral proposto pelo grupo da Seara Nova - Câmara Legislativa de Partidos e Câmara Consultiva Corporativa - mas consagrou na prática um regime de Partido Único. Apenas a União Nacional tinha existência legal, e só durante os períodos eleitorais era permitido às oposições apresentarem-se perante os eleitores. Em 1934, nem isso foi possível: o Nacional-Sindicalismo foi proibido seis meses antes das eleições (cf. Salazar e a proibição do Nacional-Sindicalismo); foi reforçada a censura na imprensa (o jornal Revolução foi suspenso); a eleição foi realizada em colégio eleitoral único, de lista completa (a lista mais votada elegia o pleno dos deputados); com a lista da União Nacional a ser a única admitida na eleição. A própria lei eleitoral só foi publicada cerca de um mês antes do acto eleitoral, baseando-se num conceito de Estado totalitário decalcado do fascismo [Decreto-lei 24:631, de 6 de Novembro de 1934]. A eleição de 16 de Dezembro, denunciada como farsa pelos Nacional-Sindicalistas, garantiu à União Nacional o pleno dos deputados na Assembleia Nacional. Após a II Guerra Mundial, foram introduzidos colégios distritais, mas manteve-se a eleição de lista completa; a União Nacional como o único partido legalmente constituído; censura na imprensa, etc., o que explica a inexistência das oposições no Parlamento em toda a vigência da Constituição do Estado Novo. (ver, José Manuel Quintas, "Assembleia Nacional" e "Eleições para a Assembleia Nacional" in Fernando Rosas; J. M. Brandão de Brito (Org.), Dicionário de História do Estado Novo, Vol. I, Lisboa, 1996, pp. 69-70; 288-291).
O Nacional-Sindicalismo foi proibido por Salazar, mas sofreu infiltrações e cisões desagregadoras, antes e depois da prisão e do exílio de Rolão Preto e Alberto Monsaraz. Segundo a narrativa de Medina, teria havido uma cisão entre os "fascistas puros", chefiados por Rolão Preto, e os "fascistas filo-salazaristas" que vieram a integrar a União Nacional, o partido único do regime. Na verdade, ocorreu toda uma outra história, explicitada, no plano dos fundamentos, no livro Justiça! (1936): junto de Rolão Preto, ficaram os antifascistas, antitotalitários, os que defendiam o sindicalismo livre e as liberdades políticas e que resistiram à sedução das benesses do poder, recusando integrar a Salazarquia (ver Justiça!, Capítulos III, IV e V, pp. 21-42).
Em resumo, Medina retomou ali os processos da "velha escola” da distorção dos factos e da caricatura dos adversários políticos, em declarada sintonia, aliás, com o capcioso Carlos Ferrão de O Integralismo e a República (Autópsia dum Mito). Não sendo o livro Salazar e os Fascistas apresentado como "um libelo e uma exautoração", como a "Autópsia" de Ferrão, Medina não esconde a sua aversão ao Integralismo Lusitano e ao seu desenvolvimento no Movimento Nacional-Sindicalista, começando por atribuir-lhes "ódios rábicos" e "outras fobias" (p. 8). A aversão e a má-fé de Medina está bem presente ao longo de todo o livro. Seguindo de perto os processos de Carlos Ferrão, Medina não hesita em descer à mentira quando, por exemplo, atribui a Rolão Preto apoio aos alemães durante a guerra, citando uma passagem do livro Para além da guerra (1942) em que ele teria considerado que o triunfo do bloco anglo-saxónico significaria "a queda inevitável da atual civilização", acrescentando, que "a Alemanha actual, socialista e popular, está muito acima da velha Inglaterra, capitalista e feudal" (João Medina, Salazar e os Fascistas, p. 51). A falsificação é evidente e grotesca. Ao lermos o livro Para além da guerra, sob o título "Esquemas" (pp. 91-100), verificamos que Rolão Preto está a expor os principais pontos de vista e de propaganda dos blocos beligerantes. O que Medina cita como sendo a perspetiva de Rolão Preto é o ponto de vista germânico, ali por ele resumido. Na mesma página citada por Medina, partindo da posição britânica e americana, essa perspectiva é ali também apresentada por Rolão Preto como uma "absurda e falsa conclusão germânica" (Para além da guerra, p. 94).
A respeito da posição de Rolão Preto face aos beligerantes, em entrevista a José Plácido Barbosa (Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas, 1940), num livro que Medina cita várias vezes e de que transcreve aliás um longo excerto (Salazar e os Fascistas, 1978, pp. 231-239; conhecia pois bem esse livro!), pode verificar-se a posição de Rolão Preto, e a perspectiva geopolítica que a determina, face aos blocos de uma iminente guerra europeia (as entrevistas terminam em Maio de 1939):
"Resumiu V. Exª as condições internas da realização do império português. Há também condições externas de grande importância, não é verdade?
- Por certo, fundamentais. Deve-se continuar fiéis, naturalmente, à aliança inglesa. Portugal, nação imperial atlântica, nação oceânica por excelência, não pode fugir à necessidade de se apoiar no mar.
Há oito séculos que essa realidade geográfica condiciona sua política externa."
(p. 53)
(...)
"- A Aliança Inglesa é pois indispensável a Portugal. Estão todavia surgindo na Europa outros valores de grande importância.
A Itália por exemplo.
- Os erros que atiraram a Itália para um plano contrário à política inglesa é possível que venham "todos" a pagá-los tragicamente um dia."
(p. 54)
E, mais adiante:
"- O Doutor Salazar mantendo-se fiel à Aliança Inglesa tem portanto os aplausos de V. Exªa.
- Certamente. Não sou eu quem lhe negue justiça que mereça. De resto espero que ele me fará também justiça de me julgar incapaz de cometer pecado de facciosismo, preocupações de espírito contra, que tudo condena quanto não esteja na linha recta do seu próprio pensamento."
(p. 56)
Os "erros que atiraram a Itália para um plano contrário à política inglesa", ali referidos por Rolão Preto, foram os que conduziram à Segunda Guerra Italo-Etíope (1935-36), com a Itália fascista a invadir a Abissínia. Desde Janeiro de 1933, que Rolão Preto vinha condenando os totalitarismos fascista e hitleriano. A partir da invasão da Abissínia, em Outubro de 1935, a sua demarcação e condenação tinha uma motivação também geopolítica: "a partir da guerra da Abissínia já não tenho nada a ver com o Mussolini!" (Entrevista - "Não, não e não").
O expediente de reduzir o Fascismo a uma coreografia não foi uma invenção de João Medina. O jornalismo das partidocracias usou muito essa habilidade nos anos 30. Os métodos milicianos de organização e propaganda estavam a ser empregues pelos mais diversos quadrantes político-ideológicos - por comunistas, fascistas, "centristas" (como os republicanos alemães ou o britânico Social Credit Party), e mesmo por anarquistas, como a Federación Anarquista Ibérica (FAI) espanhola - mas, quem não fosse favorável à partidocracia, e não se identificasse como "comunista" ou "anarquista", seria forçosamente fascista, a exautorar na "extrema-direita" do seu artificioso espectro político. Em publicações com intenção historiográfica foi Medina um dos primeiros, senão o primeiro, a adoptar esse expediente a respeito dos camisas azuis de Rolão Preto. E foi assim que, ao abrir o livro, logo após a estampa, Medina proclamou de chofre: "A ilusão de Rolão Preto foi a de alguns fascistas "puros": pensar que se podia fazer a Revolução na extrema-direita, julgar que havia um fascismo social." Sem mais, Rolão Preto seria obviamente "fascista", um "fascista puro", a incluir na "extrema-direita".
João Medina foi um marco na historiografia acerca do Nacional-Sindicalismo, não muito depois obtendo seguidores que, em livros ou artigos jornalísticos, exibindo fotografias e caricaturas ilustrativas, abrem as suas narrativas despejando a esmo os epítetos de "fascista", "extrema-direita", "direita radical", "autoritarista", entre outros mimos de conteúdo ou conotação "anti-democrática". Nessa linha se veio a colocar António Costa Pinto, com o livro Os Camisas Azuis (Lisboa, Estampa, 1994).
Até ao início dos anos 30, os integralistas, incluindo Rolão Preto, saudaram com esperança as "revoluções nacionalistas" a alastrar pela Europa, em particular as vitórias eleitorais e as subidas ao poder de Benito Mussolini em Itália e, por último, também de Adolf Hitler na Alemanha. Daí surgiu uma outra artimanha utilizada por Medina e sequazes: o de apresentar essas manifestações de esperança como uma adesão aos seus ideários e doutrinas políticas. Os integralistas saudaram com esperança as "revoluções nacionalistas", mas não adoptaram os seus ideários, programas ou doutrinas políticas. O programa do Integralismo Lusitano tinha sido estabelecido muito antes, em 1914, em obediência a princípios cristãos e bem dentro das tradições comunitárias portuguesas, em defesa da Instituição Real na chefia do Estado e de uma descentralização política com representações municipais e sindicais.
No dia 10 de Junho de 1922, ao assinar a sua primeira "Crónica Social" para a segunda série da revista Nação Portuguesa, Rolão Preto manifestou esperança nas revoluções nacionalistas, mas confessando também dificuldades na sua apreciação: "Na verdade, a hora que passa é de uma tal complexidade em aspectos sociais, abrange uma tão vasta simultaneidade de movimentos, de pensamento e de acção contrários ou paralelos, que a sua discriminação demanda uma atenção e trabalho bem difíceis de conseguir." Ao abordar o contexto italiano, uma descoberta lhe deu porém satisfação: "a organização cooperativista e sindical do Fascio é francamente integralista. A forma neo-mediévica da interpretação do pensamento corporativo é largamente seguida pelos chefes do sindicalismo nacional Facista". - Estaria Rolão Preto equivocado? - Decerto que não. Um integralista, melhor do que ninguém, saberia identificar aqueles que partilhavam os seus pontos de vista. Equívoco seria o de considerar-se, como ardilosamente depois se sugeriu, que teria sido essa pura forma sindicalista a que veio a ser aplicada pelo Estado Fascista. O pseudo-sindicalismo mais tarde instituído em Itália, e também em Portugal, como o próprio Rolão Preto denunciou, estava nos antípodas da sua esperança.
Após o triunfo do Fascismo em Itália, e de Miguel Primo de Rivera em Espanha, António Sardinha (1887-1925), em "Mais longe ainda!" (1923), detectou em Mussolini uma "febre nacionalista" com algo de misterioso ou enigmático: eram "as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende". Sabia-se que Mussolini vinha do jacobinismo republicano e socialista, mas não se lhe conhecia então qualquer retratação ou nova afirmação doutrinária; faltava-lhe "o sentido orgânico de uma doutrina".
Segundo Sardinha, o triunfo de Mussolini em Itália e de Miguel Primo de Rivera em Espanha, não sendo a vitória do "sentido orgânico duma doutrina" - que faltava a ambos - era no entanto entendido como “uma soberba e convincente demonstração (...) de que o Ocidente não morreu...”. A decadência do Ocidente latino, vaticinada pelos germânicos Oswald Spengler e conde de Keyserling, não se estaria a materializar. Era esse o sentido do seu optimismo.
Os integralistas eram católicos, identificando-se com o Ocidente latino, tendo uma viva noção de que as tradições políticas dos Estados europeus, bem como as respectivas ideologias e doutrinas nacionalistas, assentavam em realidades distintas no espaço e no tempo, podendo por isso apresentar feições muito diversas, mesmo contrastantes. Na Europa Ocidental há nações (e nacionalismos) com origem na Idade Média (como Portugal ou a Inglaterra), no período neo-clássico ou renascentista (como a França), ou pós-revolucionárias (como a Itália e a Alemanha, no último quartel do século XIX). Entre os integralistas havia a percepção de abismos intransponíveis entre o municipalismo das origens da nação portuguesa, de cuja herança se reclamavam, e os estatismos centralistas que tinham levado à criação da Itália e da Alemanha.
Um pouco mais tarde, no prefácio a Ao princípio era o Verbo (1924), Sardinha alertava já para perigos provenientes de além Pirineus, distinguindo três espécies de nacionalismo: (1) o nacionalismo “da sôfrega dilatação que, de nacionalismo, se torna depressa em perturbadora exaltação imperialista”; (2) o nacionalismo que, a exemplo da Suíça, quer ser “placa giratória” da Europa, e “não ambiciona para Portugal outras vantagens que não sejam as de um turismo promissor e condescendente”; e (3) o "nacionalismo esclarecido pelo tradicionalismo" - o seu nacionalismo - que identifica como "católico romano", apto a “reconstruir uma ordem internacional em que todas as pátrias, pequenas ou grandes, se achem naturalmente enlaçadas por uma finalidade comum”(p. xvi). E, como que intuindo o aproximar de uma nova hecatombe europeia, advertiu:
“Urge que, na floresta espessa dos mitos e superstições dominantes, nos não abandonemos cegamente ao encanto bárbaro da aspiração nacionalista. Acentuamos "encanto bárbaro", porque, na sua ansia impetuosa há na aspiração nacionalista que desvaira a Europa uma força de agressividade primitiva, - um total olvido da harmonia que é imperioso restabelecer nas relações dos povos, como assento sólido da Cidade-de-Deus” (pp. xiii-xiv).
Após o triunfo dos fascistas sobre o "vento anárquico e sovietista" de 1920, Rolão Preto entrou em polémica com Santa Cruz, no jornal A Época (1922). Identificando-se como nacionalista, defendeu ali a eficácia do "método fascista" em resposta à anarquia e às violências inauditas do ano vermelho em Itália. Nos campos de Ferrara, sob o impulso dos fascistas, os camponeses tinham-se aliado aos proprietários, contrariando a luta de classes promovida pelo bolchevismo. Ao encerrar a polémica, Rolão Preto reconhece os excessos também cometidos pelos fascistas, clarificando: "eu não sou fascista, sou integralista". Durante a década de 20, Rolão Preto continuará no entanto a saudar com esperança as "revoluções nacionalistas", incluindo nelas a viragem nacionalista do bolchevismo após a morte, em Janeiro de 1924, de Vladimir Ilyich Ulianov (Lenine). Na perspectiva dos integralistas, não esquecendo os seus vários contextos e perigos, o altear dos nacionalismos era entendido como criador de um ambiente propício, favorável, ao seu desejado "reaportuguesamento de Portugal".
As leis e os institutos fundamentais do Estado Fascista foram estabelecidos na segunda metade da década - em 1926, 27 e 28. Nessa época, o Fascismo recebia os favores de significativas elites políticas europeias, consignando a Enciclopédia "Larousse": "os estadistas ocidentais consideravam o fascismo uma sã concepção do interesse nacional". Em Nova Iorque, surge em 1928 uma Autobiografia de Mussolini com um panegírico de abertura assinado por Richard Washburn Child, ex-embaixador do EUA em Itália.
No ano seguinte, pelo tratado de Latrão, Mussolini permite a criação do Estado do Vaticano em Roma. Entre os integralistas, porém, continuavam a levantar-se objecções ao Fascismo na linha do pensamento de António Sardinha. Em Março de 1931, na revista Política, Carlos Proença (1901-1990), por exemplo, acentuava "a diferença que separa a fórmula nacionalista do Integralismo Lusitano doutros nacionalismos contemporâneos", demarcando-a ali tanto da Action française, que fora já objecto de condenação papal, como da fórmula fascista, "em tudo semelhante", se bem que "talvez mais agudamente pagã": "esses nacionalismos partem de uma fórmula transpersonalista, sim, mas de base exclusivamente social. Segundo eles são os valores especificamente sociais, do grupo, e da sua expressão política - o Estado, que subordinam todos os outros, elevando-se à categoria de fins exclusivos. Por isso, neles, o Estado, é tudo e o indivíduo nada, fora do Estado, que totalmente absorve aquele, como na "Cidade Antiga". (Carlos Proença in Política, nº 19, 5 de Março de 1931, pp. 14-15; nº 20, 31 de Março de 1931, pp. 12-19 [Recensão ao livro "Do Valor e Sentido da Democracia", de Cabral de Moncada]. Era uma clara identificação e rejeição do totalitarismo indiciado pelas formulações nacionalistas do Fascismo. A trégua de Mussolini com a Igreja Católica não irá durar muito e, em Junho, logo após a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o papa Pio XI condena o Fascismo através da Encíclica Non abbiamo bisogno, denunciando a existência de “um partido, um regime, com base numa ideologia que resulta abertamente numa verdadeira estatolatria pagã”. O papa Pio XI vinha afinal corroborar as objecções integralistas, fazendo soar o alarme Urbi et Orbi. A doutrina do Estado totalitário do Fascismo estava ainda por definir clara e explicitamente, mas começavam a revelar-se na prática os seus traços fundamentais. O jacobinismo de Mussolini vinha de novo à superfície e, sem margem para dúvida, era o próprio quem definia pouco depois a sua doutrina fascista como um totalitarismo [1932 - Fascismo]. Em Janeiro de 1933, em entrevista à United Press, Rolão Preto não teve dúvida em demarcar-se do fascismo e do hitlerismo, classificando-os como "totalitarismos divinizadores do Estado cesarista".
Tal como Medina, Costa Pinto considerou que Rolão Preto "só a partir de 1945 se afastaria do fascismo" (A. C. Pinto, Camisas Azuis, citado, p. 38). Um outro expediente dessa capciosa literatura a respeito do Nacional-Sindicalismo consiste em ocultar-se a demarcação de Rolão Preto em 1922 - "eu não sou fascista, sou integralista" - bem como as suas repetidas e incisivas rejeições do Estatismo totalitário do Fascismo ao longo dos anos 30. A documentação que o atesta não é tão escassa e insipiente quanto se procurou fazer crer.
Em 16 de Julho de 1933, o capitão Correia de Campos, nacional-sindicalista, proferiu uma conferência no Teatro São Carlos. Rolão Preto está entre a assistência e é aclamado, pronunciando um discurso muito aplaudido. No livro Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas (1940, pp. 126-127), Plácido Barbosa, reproduz palavras significativas, visando o chefe do Governo, Oliveira Salazar, o Comunismo e o Fascismo (negrito acrescentado):
"pesam sobre nós as velhas teorias financeiras, os absurdos conceitos económicos, em nome dos quais o homem é escravo da Plutocracia, da Usura e do Estado.
A economia moderna tem de assentar sobre a Justiça, isto é sobre o Trabalho.
Todas as autoridades devem ser protegidas e reforçadas pela comunidade nacional. Assim o homem será livre dentro da solidariedade. A liberdade é essencial à marcha do mundo.
Por isso nós estamos para além do Comunismo, que é a escravidão do homem em proveito do indivíduo; para além do Fascismo que é a escravidão do homem em proveito do Império.
Nós, ao contrário, queremos o indivíduo no quadro da família, em proveito do homem, o indivíduo no quadro do sindicato em proveito e reforço do homem; o indivíduo no quadro da nação em proveito e garantia do homem.
Cada um desses quadros é um circulo de liberdade que protege o homem contra a vontade arbitrária de tiranos".
Ainda nesse ano, ao ser revelado na imprensa estrangeira a existência de planos italianos e alemães para os territórios portugueses do ultramar africano, que poderiam estar a seduzir os britânicos, o nacional-sindicalismo convoca uma manifestação de protesto junto à embaixada do Reino Unido. A manifestação foi proibida pelo governo mas, em Junho do ano seguinte, face à repressão que se estava já a abater sobre o nacional-sindicalismo - assaltos e encerramento das suas sedes, proibição das suas publicações - Rolão Preto envia uma representação (pública) ao presidente da República, em que o modelo totalitário do fascismo, adoptado por Salazar no partido único da União Nacional, é um foco essencial do protesto.
O governo respondeu com a prisão e desterro de Rolão Preto e Alberto Monsaraz, proibindo pouco depois o Nacional-Sindicalismo. Em resposta, a Junta Nacional-Sindicalista denunciou a imitação do totalitarismo fascista por parte do governo de Salazar.
No início de 1935, ao retornar a Portugal após a farsa eleitoral de Dezembro de 1934, Rolão Preto voltou a condenar e a rejeitar o Fascismo no seu discurso aos intelectuais nacionalistas.
Mas Rolão Preto não se limitou a rejeitar o totalitarismo dos fascismos em declarações à imprensa, em comunicados ou em discursos, vindo a ser esse um dos temas centrais do seu livro Justiça! (1936), em defesa de uma revolução personalista e comunitária. O livro foi proibido pelo governo de Salazar.
Além de ter afirmado o seu Integralismo como distinto do Fascismo desde o início dos anos 20, e rejeitado os totalitarismos desde que estes deram prova de vida, no início dos anos 30, Rolão Preto não se incluía a si mesmo sequer nas chamadas "direitas" (ver entrevista à RTP - "Tudo pelo Homem nada contra o Homem"). Tal como para os seus pares no Integralismo Lusitano, também para Rolão Preto era urgente fazer desaparecer as filhas dilectas do individualismo solto da Revolução Francesa: as "esquerdas" e as "direitas" ideológicas, por meio das quais os povos são ludibriados, fazendo-os esquecer a representação no Estado dos seus reais interesses comunitários, sociais e profissionais.
Os ardis podem ir ainda mais além, atribuindo-se ao Nacional-Sindicalismo vagos "elementos fascizantes" na sua génese ou no seu desenvolvimento ou, ainda, considerar-se que a substância do Fascismo seria o método, e vice-versa, para se concluir falaciosamente que os camisas azuis seriam uma organização de "tipo fascista". Por ignorância ou má-fé, o que se esconde por detrás desses jogos de palavras é a origem e a natureza da doutrina totalitária que está na base do Estado Fascista instituído por Mussolini.
O repertório de artifícios e ardis lançados contra o pensamento e acção dos integralistas, e em particular de Rolão Preto, pode decerto vir ainda a ser objecto de remodelações, mas não deixará de revelar a sua impotência face à límpida doutrina anti-totalitária do Nacional-Sindicalismo:
"Municipalista, Regionalista, Sindicalista... eis outros tantos aspectos por que se define a liberdade - aspectos que o Liberalismo combateu, pelo centralismo eleitoral do Poder, em nome da libertação do indivíduo isolado - e que constituem a armadura forte e invencível do Homem contra as prepotências do Estado e os abusos de mando de outros homens." (in Palavras do Dr. Rolão Preto pronunciadas no banquete dos intelectuais nacionalistas, União Nacional, Leiria, Ano VII, nº 387, 3 de Março de 1935, pp. 1, 2, 3, 6.)
João Medina decidiu apresentar Rolão Preto como "fascista", aliás como um "fascista puro", e daí a ocultação e deturpação da doutrina Nacional-Sindicalista. Na página 15 do livro Salazar e os Fascistas, cita um índice, retirado de um folheto de propaganda, onde se enumeram "as bases do Estado nacional-sindicalista": "1. A Família; 2. A Tradição; 3. O Município; 4. O Sindicato; 5. A Corporação; e 6. A Nação". Esse índice, ali apresentado sem qualquer elucidação, é o que de mais rigoroso nos apresenta a respeito da doutrina nacional-sindicalista. Uma breve reflexão se impõe - Qual a concepção do Estado de Rolão Preto? Consideraria ele, tal como Mussolini, que "o Estado é um absoluto" e que "indivíduos e grupos só são «pensáveis» quando estão no Estado"?
Para servir o seu propósito, Medina não elucidou nem podia elucidar a doutrina nacional-sindicalista do Estado, porque, sendo esta essencialmente municipalista e sindicalista, está nos antípodas do totalitarismo: enquanto no Fascismo, "tudo está no Estado, e nada humano ou espiritual existe, muito menos tem valor, fora do Estado" ("é, nesse sentido, totalitário", na definição de Benito Mussolini, em 1932), na doutrina defendida por Rolão Preto, tudo o que é humano e tem valor social - a Família, o Município, o Sindicato... - tem que manter a sua autonomia, liberdade, fora da alçada do Estado. A primacial tarefa ou função do Estado Nacional-Sindicalista é a de prestar serviço à Família, ao Município, ao Sindicato, à Corporação, à Nação.
Os Estatismos do século XX foram, sem exceção, filhos da filosofia iluminista do século XVIII, base das doutrinas da Revolução (1789), de que Mussolini retirou aqueles elementos que, nas suas próprias palavras, tinham "valor de vida". [1932 - Benito Mussolini - Fascismo]. Os princípios do Nacional-Sindicalismo firmam-se na matriz personalista e comunitária do Integralismo, desmentindo concessões aos Estatismos modernos - Democratista, Socialista, Comunista ou Fascista.
Ao ocultar a concepção antitotalitária do Estado do Nacional-Sindicalismo, ocultou-se porque é que Rolão Preto não prescindia das liberdades sindicais, cívicas e políticas, ao confrontar-se com o nascente Estado Novo de Oliveira Salazar. Sendo elucidados os princípios da doutrina Nacional-Sindicalista facilmente se entenderia porque é que Rolão Preto rejeitou o Regime de Partido Único e o Corporativismo de Estado da "República unitária e corporativa" instalada pela Salazarquia - o modelo do Partido Único tinha antecedentes no Bolchevismo e no Fascismo; o Corporativismo de Estado tinha antecedente no Fascismo.
A Constituição que Salazar mandou referendar adoptou o modelo bicameral proposto pelo grupo da Seara Nova - Câmara Legislativa de Partidos e Câmara Consultiva Corporativa - mas consagrou na prática um regime de Partido Único. Apenas a União Nacional tinha existência legal, e só durante os períodos eleitorais era permitido às oposições apresentarem-se perante os eleitores. Em 1934, nem isso foi possível: o Nacional-Sindicalismo foi proibido seis meses antes das eleições (cf. Salazar e a proibição do Nacional-Sindicalismo); foi reforçada a censura na imprensa (o jornal Revolução foi suspenso); a eleição foi realizada em colégio eleitoral único, de lista completa (a lista mais votada elegia o pleno dos deputados); com a lista da União Nacional a ser a única admitida na eleição. A própria lei eleitoral só foi publicada cerca de um mês antes do acto eleitoral, baseando-se num conceito de Estado totalitário decalcado do fascismo [Decreto-lei 24:631, de 6 de Novembro de 1934]. A eleição de 16 de Dezembro, denunciada como farsa pelos Nacional-Sindicalistas, garantiu à União Nacional o pleno dos deputados na Assembleia Nacional. Após a II Guerra Mundial, foram introduzidos colégios distritais, mas manteve-se a eleição de lista completa; a União Nacional como o único partido legalmente constituído; censura na imprensa, etc., o que explica a inexistência das oposições no Parlamento em toda a vigência da Constituição do Estado Novo. (ver, José Manuel Quintas, "Assembleia Nacional" e "Eleições para a Assembleia Nacional" in Fernando Rosas; J. M. Brandão de Brito (Org.), Dicionário de História do Estado Novo, Vol. I, Lisboa, 1996, pp. 69-70; 288-291).
O Nacional-Sindicalismo foi proibido por Salazar, mas sofreu infiltrações e cisões desagregadoras, antes e depois da prisão e do exílio de Rolão Preto e Alberto Monsaraz. Segundo a narrativa de Medina, teria havido uma cisão entre os "fascistas puros", chefiados por Rolão Preto, e os "fascistas filo-salazaristas" que vieram a integrar a União Nacional, o partido único do regime. Na verdade, ocorreu toda uma outra história, explicitada, no plano dos fundamentos, no livro Justiça! (1936): junto de Rolão Preto, ficaram os antifascistas, antitotalitários, os que defendiam o sindicalismo livre e as liberdades políticas e que resistiram à sedução das benesses do poder, recusando integrar a Salazarquia (ver Justiça!, Capítulos III, IV e V, pp. 21-42).
Em resumo, Medina retomou ali os processos da "velha escola” da distorção dos factos e da caricatura dos adversários políticos, em declarada sintonia, aliás, com o capcioso Carlos Ferrão de O Integralismo e a República (Autópsia dum Mito). Não sendo o livro Salazar e os Fascistas apresentado como "um libelo e uma exautoração", como a "Autópsia" de Ferrão, Medina não esconde a sua aversão ao Integralismo Lusitano e ao seu desenvolvimento no Movimento Nacional-Sindicalista, começando por atribuir-lhes "ódios rábicos" e "outras fobias" (p. 8). A aversão e a má-fé de Medina está bem presente ao longo de todo o livro. Seguindo de perto os processos de Carlos Ferrão, Medina não hesita em descer à mentira quando, por exemplo, atribui a Rolão Preto apoio aos alemães durante a guerra, citando uma passagem do livro Para além da guerra (1942) em que ele teria considerado que o triunfo do bloco anglo-saxónico significaria "a queda inevitável da atual civilização", acrescentando, que "a Alemanha actual, socialista e popular, está muito acima da velha Inglaterra, capitalista e feudal" (João Medina, Salazar e os Fascistas, p. 51). A falsificação é evidente e grotesca. Ao lermos o livro Para além da guerra, sob o título "Esquemas" (pp. 91-100), verificamos que Rolão Preto está a expor os principais pontos de vista e de propaganda dos blocos beligerantes. O que Medina cita como sendo a perspetiva de Rolão Preto é o ponto de vista germânico, ali por ele resumido. Na mesma página citada por Medina, partindo da posição britânica e americana, essa perspectiva é ali também apresentada por Rolão Preto como uma "absurda e falsa conclusão germânica" (Para além da guerra, p. 94).
A respeito da posição de Rolão Preto face aos beligerantes, em entrevista a José Plácido Barbosa (Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas, 1940), num livro que Medina cita várias vezes e de que transcreve aliás um longo excerto (Salazar e os Fascistas, 1978, pp. 231-239; conhecia pois bem esse livro!), pode verificar-se a posição de Rolão Preto, e a perspectiva geopolítica que a determina, face aos blocos de uma iminente guerra europeia (as entrevistas terminam em Maio de 1939):
"Resumiu V. Exª as condições internas da realização do império português. Há também condições externas de grande importância, não é verdade?
- Por certo, fundamentais. Deve-se continuar fiéis, naturalmente, à aliança inglesa. Portugal, nação imperial atlântica, nação oceânica por excelência, não pode fugir à necessidade de se apoiar no mar.
Há oito séculos que essa realidade geográfica condiciona sua política externa."
(p. 53)
(...)
"- A Aliança Inglesa é pois indispensável a Portugal. Estão todavia surgindo na Europa outros valores de grande importância.
A Itália por exemplo.
- Os erros que atiraram a Itália para um plano contrário à política inglesa é possível que venham "todos" a pagá-los tragicamente um dia."
(p. 54)
E, mais adiante:
"- O Doutor Salazar mantendo-se fiel à Aliança Inglesa tem portanto os aplausos de V. Exªa.
- Certamente. Não sou eu quem lhe negue justiça que mereça. De resto espero que ele me fará também justiça de me julgar incapaz de cometer pecado de facciosismo, preocupações de espírito contra, que tudo condena quanto não esteja na linha recta do seu próprio pensamento."
(p. 56)
Os "erros que atiraram a Itália para um plano contrário à política inglesa", ali referidos por Rolão Preto, foram os que conduziram à Segunda Guerra Italo-Etíope (1935-36), com a Itália fascista a invadir a Abissínia. Desde Janeiro de 1933, que Rolão Preto vinha condenando os totalitarismos fascista e hitleriano. A partir da invasão da Abissínia, em Outubro de 1935, a sua demarcação e condenação tinha uma motivação também geopolítica: "a partir da guerra da Abissínia já não tenho nada a ver com o Mussolini!" (Entrevista - "Não, não e não").
* * * * *
Ao proibir o Nacional-Sindicalismo, Salazar acusou-o de "se inspirar em certos modelos estrangeiros”. Em resposta, em Agosto de 1934, lê-se no comunicado da Junta de Acção Nacional-Sindicalista (JAN-S):
"O Movimento N. S. nunca se inspirou, nem tinha que inspirar-se em ideologias de modelos estrangeiros, fundada como foi por nacionalistas portugueses, cuja doutrina é anterior, não só à dos homens do Governo e à sua «União Nacional» — o que seria pouco em verdade — como também à doutrinação fascista e nazista, ou a qualquer outro aspecto de Revolução Nacionalista na Europa."
Em seguida, a JAN-S reconhece que "aceitou a técnica da acção fascista por se ter revelado, na prática, a mais eficaz", mas não sem rejeitar uma vez mais o totalitarismo do Fascismo e colocando em evidencia a "sua posição doutrinária para além do Fascismo, do Hitlerismo e do Comunismo, definindo as características do Nacionalismo Português, tradicionalmente incompatível com a divinização do Estado e cioso das prerrogativas e liberdades essenciais da personalidade humana".
Na entrevista com Medina, Rolão Preto tinha identificado o motivo da sua ruptura com o Estado Novo na criação do "pseudo-sindicalismo" de Salazar (ver "Não, não e não"; também a entrevista à RTP, "Tudo pelo Homem nada contra o Homem"). João Medina fez-se de desentendido, escondendo, como Salazar quis esconder, as afinidades entre o Estado Novo e o Estado Fascista de Mussolini.
Ao reduzir o Estado Novo de Salazar a um regime meramente pessoal e autoritário, Medina exibiu a coreografia dos "camisas azuis", mas sem dar muito destaque à dos "camisas verdes" da Acção Escolar de Vanguarda (mais tarde Mocidade Portuguesa), bem como às influências fascistas acolhidas ao criar-se o partido único da União Nacional e ao instalar-se um Corporativismo de Estado.
A falsificação das ideias de Rolão Preto, da doutrina e da ação do MNS na luta contra o estabelecimento da Salazarquia, apresentada por Medina no livro Salazar e os Fascistas, acabou por ser, no essencial, a transposição da visão que Salazar pretendia veicular acerca dos "camisas azuis" para o contexto do recém-criado regime partidocrático da 3ª República.
O projecto político do Integralismo Lusitano contemplou, desde o início, uma dupla restauração: restauração da Instituição Real na chefia do Estado e restauração da República por intermédio de uma representação municipal e sindical. Após o 28 de Maio de 1926, os fundadores do Integralismo suspenderam a reivindicação monárquica, mas retomaram-na após a institucionalização do Estado Novo, vindo a estar presente no testamento político que transmitiram às novas gerações - "Portugal Restaurado pela Monarquia" (1950). A Salazarquia, no seguinte Congresso da União Nacional, desfez imediatamente qualquer miragem de uma futura restauração da Instituição Real. Nas décadas seguintes, os jovens herdeiros do Integralismo continuaram a combater o Estado Novo ao lado das chamadas "oposições republicanas".
Após o 25 de Abril de 1974, Rolão Preto acolheu com alívio e alegria as liberdades cívicas e políticas por fim alcançadas, mas irá continuar a pugnar, tal como o seu companheiro Mário Saraiva (1910-1998), por uma Outra Democracia.
Após 1976, a oligarquia do partido único foi substituída pelas oligarquias dos partidos subscritores do pacto com o MFA, continuando por isso a ser um regime contrário ao ideário do Integralismo Lusitano: manteve-se o monopólio da representação da República através de partidos ideológicos. Os integralistas, além da reivindicação monárquica, continuaram naturalmente a reivindicar a restauração da República, subtraindo-a ao controlo das oligarquias partidárias - "Queremos o rei e os sovietes!" - foi a fórmula sindicalista então proclamada por Rolão Preto.
A falsificação de João Medina a respeito do ideário do Integralismo Lusitano e do Nacional-Sindicalismo visava colher frutos entre os mais desprevenidos e ignorantes. Tal como Carlos Ferrão, João Medina acreditava que, das mentiras, alguma coisa ficaria. Ao ocultar o ideário personalista e comunitário de Rolão Preto, e ao mentir acerca da sua posição face aos beligerantes na II Grande Guerra, Medina não prestou serviço à verdade histórica, antes aos salazaristas ciosos por esconder a forte influência e o contributo da doutrina do fascismo na instalação do Estado Novo e sua Salazarquia.
[27 de Abril de 2024, actualizado em 20 de Setembro de 2024]
J. M. Q.
"O Movimento N. S. nunca se inspirou, nem tinha que inspirar-se em ideologias de modelos estrangeiros, fundada como foi por nacionalistas portugueses, cuja doutrina é anterior, não só à dos homens do Governo e à sua «União Nacional» — o que seria pouco em verdade — como também à doutrinação fascista e nazista, ou a qualquer outro aspecto de Revolução Nacionalista na Europa."
Em seguida, a JAN-S reconhece que "aceitou a técnica da acção fascista por se ter revelado, na prática, a mais eficaz", mas não sem rejeitar uma vez mais o totalitarismo do Fascismo e colocando em evidencia a "sua posição doutrinária para além do Fascismo, do Hitlerismo e do Comunismo, definindo as características do Nacionalismo Português, tradicionalmente incompatível com a divinização do Estado e cioso das prerrogativas e liberdades essenciais da personalidade humana".
Na entrevista com Medina, Rolão Preto tinha identificado o motivo da sua ruptura com o Estado Novo na criação do "pseudo-sindicalismo" de Salazar (ver "Não, não e não"; também a entrevista à RTP, "Tudo pelo Homem nada contra o Homem"). João Medina fez-se de desentendido, escondendo, como Salazar quis esconder, as afinidades entre o Estado Novo e o Estado Fascista de Mussolini.
Ao reduzir o Estado Novo de Salazar a um regime meramente pessoal e autoritário, Medina exibiu a coreografia dos "camisas azuis", mas sem dar muito destaque à dos "camisas verdes" da Acção Escolar de Vanguarda (mais tarde Mocidade Portuguesa), bem como às influências fascistas acolhidas ao criar-se o partido único da União Nacional e ao instalar-se um Corporativismo de Estado.
A falsificação das ideias de Rolão Preto, da doutrina e da ação do MNS na luta contra o estabelecimento da Salazarquia, apresentada por Medina no livro Salazar e os Fascistas, acabou por ser, no essencial, a transposição da visão que Salazar pretendia veicular acerca dos "camisas azuis" para o contexto do recém-criado regime partidocrático da 3ª República.
O projecto político do Integralismo Lusitano contemplou, desde o início, uma dupla restauração: restauração da Instituição Real na chefia do Estado e restauração da República por intermédio de uma representação municipal e sindical. Após o 28 de Maio de 1926, os fundadores do Integralismo suspenderam a reivindicação monárquica, mas retomaram-na após a institucionalização do Estado Novo, vindo a estar presente no testamento político que transmitiram às novas gerações - "Portugal Restaurado pela Monarquia" (1950). A Salazarquia, no seguinte Congresso da União Nacional, desfez imediatamente qualquer miragem de uma futura restauração da Instituição Real. Nas décadas seguintes, os jovens herdeiros do Integralismo continuaram a combater o Estado Novo ao lado das chamadas "oposições republicanas".
Após o 25 de Abril de 1974, Rolão Preto acolheu com alívio e alegria as liberdades cívicas e políticas por fim alcançadas, mas irá continuar a pugnar, tal como o seu companheiro Mário Saraiva (1910-1998), por uma Outra Democracia.
Após 1976, a oligarquia do partido único foi substituída pelas oligarquias dos partidos subscritores do pacto com o MFA, continuando por isso a ser um regime contrário ao ideário do Integralismo Lusitano: manteve-se o monopólio da representação da República através de partidos ideológicos. Os integralistas, além da reivindicação monárquica, continuaram naturalmente a reivindicar a restauração da República, subtraindo-a ao controlo das oligarquias partidárias - "Queremos o rei e os sovietes!" - foi a fórmula sindicalista então proclamada por Rolão Preto.
A falsificação de João Medina a respeito do ideário do Integralismo Lusitano e do Nacional-Sindicalismo visava colher frutos entre os mais desprevenidos e ignorantes. Tal como Carlos Ferrão, João Medina acreditava que, das mentiras, alguma coisa ficaria. Ao ocultar o ideário personalista e comunitário de Rolão Preto, e ao mentir acerca da sua posição face aos beligerantes na II Grande Guerra, Medina não prestou serviço à verdade histórica, antes aos salazaristas ciosos por esconder a forte influência e o contributo da doutrina do fascismo na instalação do Estado Novo e sua Salazarquia.
[27 de Abril de 2024, actualizado em 20 de Setembro de 2024]
J. M. Q.
(Para quem não desiste na busca da verdade das ideias, das almas e dos factos, aí fica a Entrevista tal como foi publicada, sem poder verificar a sua integral autenticidade, mas começando precisamente com um "não" em resposta à primeira pergunta - 1975 - Francisco Rolão Preto - Entrevista - "Não, não e não").
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1933 - Carta para o "Camarada Quitério" - "Não convém os mestres integralistas, porque falam sempre em Monarquia..."
1977 - Franco Nogueira - Um distorcido perfil de Rolão Preto
1933 - Carta para o "Camarada Quitério" - "Não convém os mestres integralistas, porque falam sempre em Monarquia..."
1977 - Franco Nogueira - Um distorcido perfil de Rolão Preto
Outras referências
1932 - Benito Mussolini - Fascismo
1934-07-29 - Salazar e a proibição do Nacional-Sindicalismo
1934-12-24 - O Nacional-Sindicalismo após a Farsa Eleitoral
1934 - Acção Escolar de Vanguarda
1936 - Francisco Rolão Preto - Justiça!
1945 - Rolão Preto - Tudo pelo Homem, nada contra o Homem (entrevista ao Diário de Lisboa)
1959-01-13 - Entrevista a Francisco Rolão Preto (RDP)
1975-01-24 - Francisco Rolão Preto - Tudo pelo Homem nada contra o Homem
1975-07 - Francisco Rolão Preto - Entrevista - "Não, não e não".
1932 - Benito Mussolini - Fascismo
1934-07-29 - Salazar e a proibição do Nacional-Sindicalismo
1934-12-24 - O Nacional-Sindicalismo após a Farsa Eleitoral
1934 - Acção Escolar de Vanguarda
1936 - Francisco Rolão Preto - Justiça!
1945 - Rolão Preto - Tudo pelo Homem, nada contra o Homem (entrevista ao Diário de Lisboa)
1959-01-13 - Entrevista a Francisco Rolão Preto (RDP)
1975-01-24 - Francisco Rolão Preto - Tudo pelo Homem nada contra o Homem
1975-07 - Francisco Rolão Preto - Entrevista - "Não, não e não".