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A ENERGIA NACIONAL

António Sardinha

RESUMO
António Sardinha defende aqui que a verdadeira força de Portugal reside na energia e tradição do seu povo, que deve superar o pessimismo e a má política através de uma renovada fé no legado histórico da nação.
  • O texto relata um encontro casual do autor com um jovem oficial regressado de Moçambique, que revela uma forte vocação militar e um profundo sentido de missão nacional. Sardinha destaca a energia e o espírito da “raça” portuguesa, ainda vivos apesar das dificuldades políticas e do desânimo nacional. O jovem oficial, marcado pela experiência colonial, sente orgulho na herança portuguesa em África, mas também manifesta frustração com a política desorganizada da metrópole, que abandona as colónias à sua sorte. 
  • O autor reflete sobre a crise de identidade e de valores que afeta a juventude portuguesa da época, sugerindo que a solução passa por reencontrar uma doutrina nacionalista, baseada na tradição e na continuidade histórica de Portugal. Sardinha defende que o pessimismo deve ser superado por uma fé renovada nos destinos do país, inspirada pelo exemplo dos antepassados e pela energia nacional que persiste, mesmo adormecida.
  • No final, Sardinha apela à reflexão sobre as causas da decadência nacional e à necessidade de uma doutrina que una e revitalize o país, contrapondo a influência negativa da política partidária à força histórica e moral do povo português.





​ A ENERGIA NACIONAL

Na minha última noite de Lisboa devi a um encontro casual de café o conhecer um moço oficial que nas vésperas regressara de Moçambique, depois de uma ausência demorada naquela nossa colónia. Foram breves as palavras que trocámos. Mas nas fugitivas impressões que recolhi da sua boca, pude verificar mais uma vez que não está morta nas nossas veias a admirável energia da raça. Esse rapaz, que um minguado galão de alferes distinguia com sobriedade no seu uniforme correto, manifestou-se logo, no tumulto incaracterístico da gente que entrava e saía, como uma vocação militar decidida. Amava a sua profissão, sem que mo dissesse, quem tão militarmente se detalhava na frase curta, como de comando, no gesto sacudido e rápido, a que um certo nervosismo emprestava, de quando em quando, não sei que relâmpagos de uma profunda vida interior.

Eu hei-de ser sempre, impenitentemente, um ‘espectador’ de almas. É a alma que me prende a atenção, se me debruço para o estudo de um temperamento ou de uma sensibilidade. Por detrás da sua máscara fortemente vincada, no moço oficial ardia uma alma, no sentido magnífico da palavra!

Experimentara os combates, praticara o exercício nobre do perigo e não lhe faltava índole literária para cultivar e definir com exatidão as suas emoções violentas de soldado. Coisa é já para notar que nele o gosto das Letras não se sobrepunha de modo nenhum ao equilíbrio do homem, sendo apenas, na sua psicologia, mais um elemento superior de compreensão do que um apetite feminino de sibarita do pensamento. Falámos, como é de ver, do nosso domínio em África – na sensação sempre viva que ele tivera do prestígio português, cimentado por tantos séculos de ocupação no espírito maleável do indígena. O futuro de Moçambique saltou naturalmente à flor da conversa. Entenebreceu-se a alegria desanuviada do meu companheiro de uma hora e pelo que lhe ouvi então, adivinhei que esplêndido terreno não era o seu desalento de desiludido para que a verdade política, uma vez lá despertada, não houvesse de florescer em altos motivos de esperança!

Preocupei-me um pouco mais com essa figura de rapaz, que eu soube mais tarde ter dedicado o melhor da sua adolescência à exaltação lírica da república, estranho delírio em que a musa sonora de Victor Hugo nos embebedava, quando abrimos os olhos para as realidades do mundo. Ao contacto, porém, de uma dureza hedionda, desvanecera-se-lhe depois o sonho romântico, que todos nós mais ou menos convivemos de perto. E na calma imensa das noites equatoriais, perturbado pelo mistério enervante da selva, eu reconstituo bem como a sua vocação de soldado lhe daria lá longe o sentimento perfeito da soberania que representava. Representava a soberania católica e monárquica de um país que, enquanto possuíra continuidade na sua tradição, guardou inalteravelmente a obra comum de um passado de Navegação e Apostolado que o ungira como um dos maiores pioneiros da civilização. Foi também assim, debaixo das solicitações inexprimíveis do céu africano, que o neto de Renan sentiu erguer-se dentro de si, para além do ceticismo dissolvente do avô, o apelo austeríssimo dos seus Maiores, ensinando-lhe a comunidade dos Vivos e dos Mortos na aceitação da mesma regra moral de que se alimentava ainda o génio oculto da França.

Ignoro quais são os caminhos por onde se passeia o moço oficial na sua tristeza de português da derrocada. No entanto, um como que secreto desejo de afirmação se desprendia das suas falas sacudidas, sobretudo se aludia à ruina da nossa herança africana, fixando a responsabilidade numa indicação que valia como um símbolo. O mal vinha dali, vinha do Terreiro do Paço! Por seus próprios olhos verificara, verificara dolorosamente pela sua experiência pessoal, o que era a política, a política miúda e mesquinha de partido, mais ocupada em se segurar no poder do que em prevenir convenientemente as dificuldades da nossa ação colonial, deixando partir as expedições sem ordem nem consistência, inteiramente ao acaso, e abandonando assim à sua sorte esses pedaços longínquos do Portugal-Maior, que nós andávamos atirando sem remorso para as mãos de vizinhos cobiçosos. E num protesto o moço oficial traduzia o seu entediamento pela metrópole e o desejo de tornar de novo para a África, onde ele vivera ainda uns restos da nossa grandeza, no respeito com que o preto nos obedece, nos vestígios bem evidentes que lá assinalam por toda a parte a passagem vitoriosa da raça.

«Se visse a fortaleza de Moçambique! Bate-lhe o mar nos paredões e, em meio de areia solta, é toda feita de pedra levada do Reino!» E o amor da velha Madre-Lusitânia iluminava-lhe os olhos na quente admiração de tão grande esforço, em que se perpetuara um vislumbre da energia nacional, adormecida há muito no sono secular do Encoberto. Silencioso uns segundos, como que inclinado para dentro de si, dir-se-ia agora que uma comparação amargurada lhe absorvia a atenção. Mas o militar, de alerta, não consentiu que fosse fundo esse como que fio de melancolia. «Morrer, mas devagar!», já bradara em Alcácer um dos mais gloriosos reis de Portugal. Não se demitia com ligeireza da sua mocidade e da sua ânsia viril de servir quem viera de cursar em África a escola perdida das nossas antigas virtudes guerreiras. E o espectro do Terreiro do Paço erguia-se outra vez das suas reflexões, cortadas por um acento de saborosa franqueza e com ele, como um esconjuro, a necessidade de abalar – de se ir novamente para além da água...

As conveniências ordenavam-me que não perseguisse com insistência a desilusão do moço oficial. Mas tirando a filosofia do caso, lembrava-me como Eça de Queiroz acertara com dedo de mestre ao atirar para uma concessão em Moçambique o Gonçalo Mendes Ramires da sua novela encantadora. Um como que segundo batismo o aguardava na existência áspera da colónia, com o trabalho e a presença nítida das suas responsabilidades de português temperando-lhe as fraquezas generosas do carácter. Também no romance célebre de Melchior de Vogué, afastado das torpezas da política, Pierre Andarran, militar e colonial, é como que o exemplo da verdadeira França, fiel ainda às solicitações tradicionais da sua formação histórica. «Não confundas, escrevia-lhe o irmão, a França com os seus donos ocasionais.» Se alguma coisa eu tivesse de opor às conclusões desoladas do moço oficial, outras palavras não seriam as minhas também! Não confunda ele Portugal com os seus senhores de um momento, que bem pouco representarão na vida centenária da Pátria. O que é preciso é que o seu pessimismo se documente e analise, não de maneira a ser uma finalidade, uma como que solução de inteligência, mas sim a porta aberta para uma síntese mental e social, de que saia mais viva a sua fé nos destinos de Portugal.

Eu não pretendo de modo algum arvorar-me em preceptor da mentalidade de ninguém. Mas se a mim me não ilude a minha observação de psicólogo amador, creio bem que o moço oficial se encontra a braços com aquela crise temerosa que tem sido a crise de todos nós, os que pairamos já hoje à roda dos trinta anos. Padece, e eu sei quanto isso dói e fere até ao âmago! o desacordo das exigências concretas da sua personalidade com a primazia intelectual dos supostos princípios do século. No dia em que se veja de posse de uma doutrina que o explique e reconcilie consigo mesmo, o conflito entre os factos e as ideias de que o seu espírito suporta nobremente as consequências, há-de dar lugar a uma certeza dominadora, em que a sua febre de ação acabará por se clarificar à luz das grandes verdades tradicionais.

O nacionalismo, elevado à sensibilidade consciente de uma diferença eterna, porque é natural, trouxe-o de África o moço oficial, que já anda tateando a sua estrada de Damasco. Portador de uma parcela de autoridade, em que a suserania da metrópole acordava decerto para a sua emoção literária a obra esquecida de tanto missionário e de tanto navegador, diante das pedras morenas da fortaleza de Moçambique, ele teve como que a visão do que é a permanência de um povo através da sequência da sua história. Parecidamente, em face dos destroços heroicos de uma torre contemporânea dos barões lorenos da Cruzada, é que Maurice Barrès abjurou do seu diletantismo cosmopolita, confessando com sinceridade as disciplinas sagradas da Terra e dos Mortos. A Terra e os Mortos falaram na imensidade do sertão africano a uma alma lusitana, que se debruçou um pouco mais para as vozes indistintas que subiam do seu ser. Adivinhando-se escutadas, elas cresceram em coro da obscuridade subconsciente em que jaziam e são hoje outras tantas clareiras rasgadas para um horizonte que já se pressente carregado de promessas...

Quem, como o moço oficial, meu conhecido de há dias, dispõe, na sua vocação militar, de qualidades tão positivas de obediência, raciocinada e voluntária, não deve furtar-se às sugestões de uma forte paixão patriótica. O que é imperioso é examinar-se com minúcia na crise que atravessa e que é o reflexo da crise que atravessamos. Será a ruína portuguesa filha de uma enfermidade da raça, ou antes o fruto danoso de uma causa estranha às direções do nosso génio ancestral? É aqui que surge a necessidade de uma doutrina, que, deduzida dos factos, e o facto fundamental é a nacionalidade, conclua metódica e experimentalmente nos princípios a aplicar como remédio. Essa doutrina existe. Existe exemplificada e traduzida na revivescência nacionalista que se levanta pelo mundo todo e a que o nosso Portugal já não é, felizmente, alheio. Entrego o problema à meditação do moço oficial. De um lado, a influência desorganizadora do Terreiro do Paço; do outro, o arranco infatigável que levava do Reino até as próprias pedras com que construíamos as fortalezas de Além-Mar. Compare e reflita o moço oficial. E possa eu ainda chamar-lhe meu companheiro de convicção e de luta, eu que fiquei agradecendo o seu conhecimento a um encontro casual de café, na minha última noite de Lisboa!

In António Sardinha, Ao ritmo da ampulheta - Crítica e doutrina, 1925.
​​...nós não levantaríamos nem o dedo mínimo, se salvar Portugal fosse salvar o conúbio apertado de plutocratas e arrivistas em que para nós se resumem, à luz da perfeita justiça, as "esquerdas" e as "direitas"!

​​- António Sardinha (1887-1925) - 
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