António Carlos Proença de Figueiredo nasceu em S. Pedro de Alva, em 23 de Novembro de 1901. Professor e escritor.
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, em 1925, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fundando, no ano seguinte, com o seu colega Joaquim Costa Henriques, o Colégio Luís de Camões, instituição de ensino secundário que se veio a afirmar no panorama educativo nacional. Frequentou a Escola Normal Superior, de 1928 a 1930, concluindo com aprovação em Exame de Estado.
Em Dezembro de 1930, era Secretário da Junta Provincial da Beira Marítima do Integralismo Lusitano, presidida por D. Fernando Ferrão de Tavares e Távora (proprietário e advogado), tendo como vogais, Padre Abel Matias Condeço e Dr. Antonio Abrantes Tavares (advogado e jornalista) (Política, 30 de Dezembro de 1930, p. 16).
No ano seguinte, em Março, publicou na revista Política, uma recensão a um livro de Cabral de Moncada - Do Valor e Sentido da Democracia - contendo uma importante demarcação:
"Seja-me lícito aproveitar o ensejo para mais uma vez acentuar a diferença que separa a fórmula nacionalista do Integralismo Lusitano doutros nacionalismos contemporâneos, cujos aspectos anti-cristãos mereceram a condenação formal da Igreja. Esses nacionalismos partem de uma fórmula transpersonalista, sim, mas de base exclusivamente social. Segundo eles são os valores especificamente sociais, do grupo, e da sua expressão política - o Estado, que subordinam todos os outros, elevando-se à categoria de fins exclusivos. Por isso, neles, o Estado, é tudo e o indivíduo nada, fora do Estado, que totalmente absorve aquele, como na "Cidade Antiga". Consequentemente todas as manifestações da actividade espiritual ou material do homem não podem conhecer outra lei que a do interesse e engrandecimento do Estado."
Carlos Proença rejeitava ali as doutrinas estatistas tanto da Action française como do Fascismo italiano. Para Proença, a doutrina do fascismo era "em tudo semelhante" à da Action française, se bem que "talvez mais agudamente pagã". Para uma mais aprofundada compreensão do que separava o Integralismo Lusitano dos outros nacionalismos europeus, Proença recomendava a leitura de duas obras dos mestres integralistas: Ao princípio era o Verbo (1924), de António Sardinha, e Dois nacionalismos. L'Action française e o Integralismo Lusitano (1925), de Hipólito Raposo.
No início de 1931, Proença mostrava ainda a esperança de que o Tratado de Latrão pudesse vir ajudar a corrigir o estatismo do Fascismo. Não ajudou. Meses depois, Mussolini proibiu as organizações católicas de juventude em Itália, levando à condenação papal do fascismo.
Pouco depois, deu-se também em Portugal uma outra importante decepção para os Integralistas. Em 30 de Julho de 1930, Oliveira Salazar, no discurso intitulado "Princípios Fundamentais da Revolução Política", tinha dito "querer construir o Estado social e corporativo", abandonando-se a "ficção partidária" para estabelecer uma representação nacional de base municipal. O que Salazar veio a apresentar no texto da Constituição, em 1932, foi porém uma "república unitária e corporativa", em que se mantinha a ficção da representação partidária, segundo o modelo que vinha sendo defendido pelo grupo da Seara Nova - Câmara de Partidos (Legislativa) e Câmara Corporativa (Consultiva).
Em Janeiro de 1932, Carlos Proença está entre os jovens que propõem a Rolão Preto a transformação da Liga 28 de Maio num "bloco político integralizante" - “esperamos” – escrevia – “criar com ela um belo bloco político integralizante, para dela dominarmos os acontecimentos. Porque a Liga, parece-me, pode representar, dentro em breve, um papel primacial” (Arquivo de Rolão Preto, Carta de Carlos Proença de Figueiredo a Rolão Preto, 16 de Janeiro de 1932).
Ao conhecer-se a proposta de Constituição, Carlos Proença acompanha os integralistas Rolão Preto e Alberto Monsaraz na organização do Nacional Sindicalismo, desafiando o propósito fascista de Oliveira Salazar: estabelecer um regime político assente no partido único da União Nacional. Em 1934-1935, Proença recusa integrar a União Nacional e desafia a proibição pelo governo do Nacional-Sindicalismo, assumindo a direcção do Comissariado Distrital do Nacional-Sindicalismo de Coimbra. Ao eclodir a Guerra Civil em Espanha (1936-1939), perante a forte ameaça anti-cristã nas fronteiras, Rolão Preto acabará por declarar tréguas políticas, determinando "a imediata suspensão de todos os trabalhos de propaganda e de toda actividade partidária nacional-sindicalista."
Em Dezembro de 1941, a convite de Mário de Figueiredo, Ministro da Educação Nacional (de 28 de Agosto de 1940 a 7 de Setembro de 1944), Proença vem a assumir a presidência da Comissão de Reforma do Ensino Técnico, visando uma demarcação entre os ensinos técnicos e liceal, culminando com a aprovação do seu regime jurídico em 1948.
De 1941 até à sua aposentação, em 1971, foi Director-Geral do Ensino Técnico e, após o desdobramento, Director-Geral do Ensino Técnico Profissional.
Dirigiu durante alguns anos o Boletim Escolas Técnicas (1946-1972), versando temas de acção educativa, pedagogia e didáctica.
Na década de 1960, Carlos Proença foi uma das personalidades que elaboraram estudos preparatórios do Estatuto de Educação Nacional (Émile Planchard, Henrique Veiga de Macedo, Delfim Santos, António José Viegas de Lima), cabendo-lhe a “Reestruturação do Ministério da Educação Nacional”. Durante alguns anos, até atingir o limite de idade em 1971, foi Secretário-Geral do Ministério da Educação, em regime de acumulação (gratuita).
Dos seu trabalhos publicados no domínio da Educação, destacam-se:
Pelos altos serviços prestados na educação e no ensino foi agraciado - grau de Grande Oficial – com a Ordem da Instrução Pública em 1947, com a Ordem de Cristo, em 1966 e com a Ordem de Sant'iago da Espada, em 27 de Agosto de 1971.
Nos anos 60 do século passado, foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Grupo Desportivo “A Casconha”. Sempre muito ligado à sua terra natal, orientou o restauro da Igreja Matriz em 1971. Em 28 de Novembro de 1971, S. Pedro de Alva homenageou Carlos Proença. A comissão organizadora era composta pelo Presidente da Junta, pelo Pároco (Padre David Marques) e pelo Dr. Eurico Almiro Menezes e Castro. O orador principal foi o Dr. Valentim de Almeida e Sousa, radicado no Porto. A Filarmónica também participou. Na mesa de honra estiveram presentes, além do homenageado: o vice-presidente da Câmara de Penacova; o presidente da Câmara de Arganil; o Padre Nogueira Gonçalves; Dr. Valentim de Almeida e Sousa; Dr. Augusto Soares Coimbra; Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro; Ernesto Martins de Almeida e Padre David Marques. Na Casa do Povo, onde decorreu a homenagem, foi descerrada uma fotografia de Carlos Proença.
Carlos Proença foi casado com Maria da Silva Dinis, natural da Tocha.
Em 1985, legou à sua terra natal a obra Notícias Históricas de Mondalva, um volume de cerca de trezentas páginas, com fotografias de Varela Pécurto, que traça a história de S. Pedro de Alva e região, área geográfica que o autor denomina por Mondalva - "a pequena e acidentada Mesopotâmia onde nasceu, flanqueada pelos rios Mondego e Alva, imediatamente a montante da confluência a que os forçam os prolongamentos montanhosos do Buçaco - serras do Carvalho e da Atalhada - a que deixam à corrente fluvial a estreita passagem conhecida por Entre Penedos". A edição foi promovida pelo Grupo de Amigos de S. Pedro de Alva.
Carlos Proença de Figueiredo faleceu no Hospital de Coimbra, em 11 de Outubro de 1990. Os seus restos mortais foram sepultados no cemitério de S. Pedro de Alva.
Bibliografia
1931 - Carlos Proença de Figueiredo, Recensão ao livro "Do Valor e Sentido da Democracia", de Cabral de Moncada (in Política, Ano II, nº 19, 5 de Março de 1931, pp. 14-15; nº 20, 31 de Março de 1931, pp. 12-19)
1985 - Notícias históricas de Mondalva, Edição do Grupo de Amigos de Mondalva, 1985.
Bibliografia passiva:
David Gonçalves de Almeida, "Ilustres (des)conhecidos - António Carlos Proença de Figueiredo (1901-1990)", in Penacova Actual, https://penacovactual.blogspot.com/2020/03/ilustres-desconhecidos-antonio-carlos.html [consulta em 18.07.2024 - 2:41PM]
J.M.Q. - 18.7.2024
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, em 1925, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fundando, no ano seguinte, com o seu colega Joaquim Costa Henriques, o Colégio Luís de Camões, instituição de ensino secundário que se veio a afirmar no panorama educativo nacional. Frequentou a Escola Normal Superior, de 1928 a 1930, concluindo com aprovação em Exame de Estado.
Em Dezembro de 1930, era Secretário da Junta Provincial da Beira Marítima do Integralismo Lusitano, presidida por D. Fernando Ferrão de Tavares e Távora (proprietário e advogado), tendo como vogais, Padre Abel Matias Condeço e Dr. Antonio Abrantes Tavares (advogado e jornalista) (Política, 30 de Dezembro de 1930, p. 16).
No ano seguinte, em Março, publicou na revista Política, uma recensão a um livro de Cabral de Moncada - Do Valor e Sentido da Democracia - contendo uma importante demarcação:
"Seja-me lícito aproveitar o ensejo para mais uma vez acentuar a diferença que separa a fórmula nacionalista do Integralismo Lusitano doutros nacionalismos contemporâneos, cujos aspectos anti-cristãos mereceram a condenação formal da Igreja. Esses nacionalismos partem de uma fórmula transpersonalista, sim, mas de base exclusivamente social. Segundo eles são os valores especificamente sociais, do grupo, e da sua expressão política - o Estado, que subordinam todos os outros, elevando-se à categoria de fins exclusivos. Por isso, neles, o Estado, é tudo e o indivíduo nada, fora do Estado, que totalmente absorve aquele, como na "Cidade Antiga". Consequentemente todas as manifestações da actividade espiritual ou material do homem não podem conhecer outra lei que a do interesse e engrandecimento do Estado."
Carlos Proença rejeitava ali as doutrinas estatistas tanto da Action française como do Fascismo italiano. Para Proença, a doutrina do fascismo era "em tudo semelhante" à da Action française, se bem que "talvez mais agudamente pagã". Para uma mais aprofundada compreensão do que separava o Integralismo Lusitano dos outros nacionalismos europeus, Proença recomendava a leitura de duas obras dos mestres integralistas: Ao princípio era o Verbo (1924), de António Sardinha, e Dois nacionalismos. L'Action française e o Integralismo Lusitano (1925), de Hipólito Raposo.
No início de 1931, Proença mostrava ainda a esperança de que o Tratado de Latrão pudesse vir ajudar a corrigir o estatismo do Fascismo. Não ajudou. Meses depois, Mussolini proibiu as organizações católicas de juventude em Itália, levando à condenação papal do fascismo.
Pouco depois, deu-se também em Portugal uma outra importante decepção para os Integralistas. Em 30 de Julho de 1930, Oliveira Salazar, no discurso intitulado "Princípios Fundamentais da Revolução Política", tinha dito "querer construir o Estado social e corporativo", abandonando-se a "ficção partidária" para estabelecer uma representação nacional de base municipal. O que Salazar veio a apresentar no texto da Constituição, em 1932, foi porém uma "república unitária e corporativa", em que se mantinha a ficção da representação partidária, segundo o modelo que vinha sendo defendido pelo grupo da Seara Nova - Câmara de Partidos (Legislativa) e Câmara Corporativa (Consultiva).
Em Janeiro de 1932, Carlos Proença está entre os jovens que propõem a Rolão Preto a transformação da Liga 28 de Maio num "bloco político integralizante" - “esperamos” – escrevia – “criar com ela um belo bloco político integralizante, para dela dominarmos os acontecimentos. Porque a Liga, parece-me, pode representar, dentro em breve, um papel primacial” (Arquivo de Rolão Preto, Carta de Carlos Proença de Figueiredo a Rolão Preto, 16 de Janeiro de 1932).
Ao conhecer-se a proposta de Constituição, Carlos Proença acompanha os integralistas Rolão Preto e Alberto Monsaraz na organização do Nacional Sindicalismo, desafiando o propósito fascista de Oliveira Salazar: estabelecer um regime político assente no partido único da União Nacional. Em 1934-1935, Proença recusa integrar a União Nacional e desafia a proibição pelo governo do Nacional-Sindicalismo, assumindo a direcção do Comissariado Distrital do Nacional-Sindicalismo de Coimbra. Ao eclodir a Guerra Civil em Espanha (1936-1939), perante a forte ameaça anti-cristã nas fronteiras, Rolão Preto acabará por declarar tréguas políticas, determinando "a imediata suspensão de todos os trabalhos de propaganda e de toda actividade partidária nacional-sindicalista."
Em Dezembro de 1941, a convite de Mário de Figueiredo, Ministro da Educação Nacional (de 28 de Agosto de 1940 a 7 de Setembro de 1944), Proença vem a assumir a presidência da Comissão de Reforma do Ensino Técnico, visando uma demarcação entre os ensinos técnicos e liceal, culminando com a aprovação do seu regime jurídico em 1948.
De 1941 até à sua aposentação, em 1971, foi Director-Geral do Ensino Técnico e, após o desdobramento, Director-Geral do Ensino Técnico Profissional.
Dirigiu durante alguns anos o Boletim Escolas Técnicas (1946-1972), versando temas de acção educativa, pedagogia e didáctica.
Na década de 1960, Carlos Proença foi uma das personalidades que elaboraram estudos preparatórios do Estatuto de Educação Nacional (Émile Planchard, Henrique Veiga de Macedo, Delfim Santos, António José Viegas de Lima), cabendo-lhe a “Reestruturação do Ministério da Educação Nacional”. Durante alguns anos, até atingir o limite de idade em 1971, foi Secretário-Geral do Ministério da Educação, em regime de acumulação (gratuita).
Dos seu trabalhos publicados no domínio da Educação, destacam-se:
- Espírito Nacional e o Ensino da História - dissertação apresentada em Exame de Estado;
- Comentário Politico da Restauração - separata do boletim da BGUC;
- Estudos Preparatórios da Reforma do Ensino Técnico - (em colaboração) - separata do boletim Escolas Técnicas;
- O Ensino Elementar Agrícola, sua Evolução Histórica e seus Problemas - separata do boletim Escolas Técnicas
- Uma Reforma do Ensino Técnico e seu Desenvolvimento - separata do boletim Escolas Técnicas.
Pelos altos serviços prestados na educação e no ensino foi agraciado - grau de Grande Oficial – com a Ordem da Instrução Pública em 1947, com a Ordem de Cristo, em 1966 e com a Ordem de Sant'iago da Espada, em 27 de Agosto de 1971.
Nos anos 60 do século passado, foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Grupo Desportivo “A Casconha”. Sempre muito ligado à sua terra natal, orientou o restauro da Igreja Matriz em 1971. Em 28 de Novembro de 1971, S. Pedro de Alva homenageou Carlos Proença. A comissão organizadora era composta pelo Presidente da Junta, pelo Pároco (Padre David Marques) e pelo Dr. Eurico Almiro Menezes e Castro. O orador principal foi o Dr. Valentim de Almeida e Sousa, radicado no Porto. A Filarmónica também participou. Na mesa de honra estiveram presentes, além do homenageado: o vice-presidente da Câmara de Penacova; o presidente da Câmara de Arganil; o Padre Nogueira Gonçalves; Dr. Valentim de Almeida e Sousa; Dr. Augusto Soares Coimbra; Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro; Ernesto Martins de Almeida e Padre David Marques. Na Casa do Povo, onde decorreu a homenagem, foi descerrada uma fotografia de Carlos Proença.
Carlos Proença foi casado com Maria da Silva Dinis, natural da Tocha.
Em 1985, legou à sua terra natal a obra Notícias Históricas de Mondalva, um volume de cerca de trezentas páginas, com fotografias de Varela Pécurto, que traça a história de S. Pedro de Alva e região, área geográfica que o autor denomina por Mondalva - "a pequena e acidentada Mesopotâmia onde nasceu, flanqueada pelos rios Mondego e Alva, imediatamente a montante da confluência a que os forçam os prolongamentos montanhosos do Buçaco - serras do Carvalho e da Atalhada - a que deixam à corrente fluvial a estreita passagem conhecida por Entre Penedos". A edição foi promovida pelo Grupo de Amigos de S. Pedro de Alva.
Carlos Proença de Figueiredo faleceu no Hospital de Coimbra, em 11 de Outubro de 1990. Os seus restos mortais foram sepultados no cemitério de S. Pedro de Alva.
Bibliografia
1931 - Carlos Proença de Figueiredo, Recensão ao livro "Do Valor e Sentido da Democracia", de Cabral de Moncada (in Política, Ano II, nº 19, 5 de Março de 1931, pp. 14-15; nº 20, 31 de Março de 1931, pp. 12-19)
1985 - Notícias históricas de Mondalva, Edição do Grupo de Amigos de Mondalva, 1985.
Bibliografia passiva:
David Gonçalves de Almeida, "Ilustres (des)conhecidos - António Carlos Proença de Figueiredo (1901-1990)", in Penacova Actual, https://penacovactual.blogspot.com/2020/03/ilustres-desconhecidos-antonio-carlos.html [consulta em 18.07.2024 - 2:41PM]
J.M.Q. - 18.7.2024