O caso da Suíça
António Sardinha
[ in Durante a Fogueira - Páginas da Guerra, 1927, pp. 21-29.]
Quando se fala de democracia, é inevitável logo o exemplo da Suíça como sendo a aplicação integral dos bons princípios republicanos. Um estado de espirito ilusório se constituiu, assim, em muita inteligência simplista que admite ainda a possibilidade de haver no mundo uma república onde a corrupção administrativa se não consorcie com a tirania dos partidos.
[...]
...a Suíça não é uma Nação; e se forma na Europa um Estado, como Estado democrático, não tem política exterior e vive absolutamente da condescendência dos seus vizinhos, bem mais poderosos do que ela. A existência da Suíça deve-se, em primeiro lugar, à sua situação geográfica, e muito principalmente aos interesses das quatro nações que a limitam.
...a Suíça não é uma Nação; e se forma na Europa um Estado, como Estado democrático, não tem política exterior e vive absolutamente da condescendência dos seus vizinhos, bem mais poderosos do que ela. A existência da Suíça deve-se, em primeiro lugar, à sua situação geográfica, e muito principalmente aos interesses das quatro nações que a limitam.
[...]
Uma das características das democracias [- tiranias de partidos -] é não disporem de política exterior por impossibilidade congénita. A segunda, é a continua fragmentação partidária em que a unidade nacional se dificulta e acaba por se desfazer.
Uma das características das democracias [- tiranias de partidos -] é não disporem de política exterior por impossibilidade congénita. A segunda, é a continua fragmentação partidária em que a unidade nacional se dificulta e acaba por se desfazer.
[...]
A deficiência orgânica da Suíça encontra-se bem patente. É um rudimento de nacionalidade que não conseguiu definir-se e que, se por ventura conserva uma semelhança de independência, é uma independência precária, nascida unicamente do interesse das potencias limítrofes. A democracia, a existir na Suíça, seria lógica desta forma. Porque a democracia, ou corresponde a uma fase social de transição, ou não é mais que um regresso patológico a um estádio anterior de desenvolvimento. O regresso patológico dá-se em França, em Portugal e na Rússia. Fase natural de transição é o exemplo que a Áustria nos oferece. E quando eu falo em ‹democracia› tomo «democracia» como «república», tomo «democracia» como «sistema electivo» [em tirania de partidos]. Porque nem a Áustria, nem as três nações europeias citadas, são democracias. Na America nós deparamos com uma poderosa oligarquia financeira. Na Europa aparecem-nos as mesmas oligarquias, embora de caracter político e não de índole plutocrática. Ressalva-se o caso da Suíça. Mas ressalva-se, — para o estudarmos como uma manifestação raquitisada de nacionalidade, que não alcançou ultrapassar um periodo intermediario da sua elaboração.
A deficiência orgânica da Suíça encontra-se bem patente. É um rudimento de nacionalidade que não conseguiu definir-se e que, se por ventura conserva uma semelhança de independência, é uma independência precária, nascida unicamente do interesse das potencias limítrofes. A democracia, a existir na Suíça, seria lógica desta forma. Porque a democracia, ou corresponde a uma fase social de transição, ou não é mais que um regresso patológico a um estádio anterior de desenvolvimento. O regresso patológico dá-se em França, em Portugal e na Rússia. Fase natural de transição é o exemplo que a Áustria nos oferece. E quando eu falo em ‹democracia› tomo «democracia» como «república», tomo «democracia» como «sistema electivo» [em tirania de partidos]. Porque nem a Áustria, nem as três nações europeias citadas, são democracias. Na America nós deparamos com uma poderosa oligarquia financeira. Na Europa aparecem-nos as mesmas oligarquias, embora de caracter político e não de índole plutocrática. Ressalva-se o caso da Suíça. Mas ressalva-se, — para o estudarmos como uma manifestação raquitisada de nacionalidade, que não alcançou ultrapassar um periodo intermediario da sua elaboração.
Refs.
- William Martin, La Suisse devant la guerre, Le correspondant, Agosto de 1916.
- Louis Dumur, Les Deux Suisses, 1914-1917, Paris, Éditions Bossard, 1917. [les_deux_suisse_1914-1917___[...]dumur_louis_bpt6k372333x.pdf ]