Afonso Lopes Viera
Éclogas de Agora (2ª) de Afonso Lopes Viera (1º ed., Set-Out., Edição de Autor, 1935) que foram "retiradas da distribuição" pouco depois de publicadas. Entre parêntesis rectos seguem algumas anotações julgadas necessárias a uma melhor clarificação do seu conteúdo histórico. Interlocutores: Hipério [Hipólito Raposo] e Viviano [o Autor] Viviano Ó solidão, ditosa companhia se no-la enche a consciência alegre! Val-de-Lobos das almas que não vergam! Exílio, pátria dos honrados homens!... Quando emprego os meus olhos em tudo o que é passado louvo o alto destino que nos deixou de banda entre os festeiros das funções deste prado para ficarmos firmes e leais, alheios à festança de tanta vã mentira, de tanta dor do gado, inimigos de tantos maiorais!... Esse gado mesquinho defendemos tantos anos seguidos, levantando os cajados contra os lobos que assaltam os rebanhos, desde os lobos azuis [monárquicos liberais-constitucionais, que vieram a fornecer ao Estado Novo o grosso da sua componente de apoiantes monárquicos] (já muito desdentados) té os vermelhos lobos [comunistas] de perigosa goela! E agora novos lobos [corporativistas de Estado - Salazaristas] com fereza gelada devoram as ovelhas, assaltam a manada, mandando que nem brado ou voz se solte por que não se importunem tais orelhas!... Silêncio assim tão novo jamais pesou nos prados; os rebanhos arquejam sufocados, e nós, zagais do povo, já deixámos as frautas e as cantigas para apertar o punho dos cajados. Que razão tem, pastores, que nos tolham a voz? Quem poderá jamais justificá-lo? Se o que foi feito por amor de nós é bom, deixai-nos todos bendizê-lo, se é mau, devemos todos condená-lo!... Mordaças não convêm a lusas bocas; e senão vêde aqueles grandes zagais antigos, glórias desta ribeira, chamados Gil Vicente e Luís de Camões e padre António Vieira, que todos foram bravos, todos falaram rijo na Portuguesa Língua forte e clara ou no paço dos reis ou no divino Poema ou na defesa épica de escravos!... E nós, zagais que fomos os primeiros na luta destemida, havemos de ficar assim calados, mais medrosos que os gados, como ovelha que bala de perdida? E quem manda calar-nos? Esses que se abrigavam nas cabanas amigas ou nas tocas seguras quando se armavam cá no prado as brigas!... Hipério, amigo forte, peguemos outra vez nestes cajados tão useiros ao jogo e de novo saiamos com bravura e ardil a pelejar co’os lobos que ajudámos a penetrar no fundo do redil!... Hipério Sim, Viviano amigo, Quando recordo os nossos companheiros, uns já mortos, os outros desterrados, minha alma se enternece e se faz triste. Quanto esforço que andámos dispendendo, quanta renúncia aos cómodos da vida! Quanta estúpida injúria recebida desses próprios que andámos defendendo. Lembra-me o alto Antonius [António Sardinha] que do jardim da raia, cidade forte e branca, com a pressa de quem pressente a morte tanta luz derramou por estes prados! Outro morreu primeiro, moço e de mente clara, Cordário [Adriano Xavier Cordeiro] era o seu nome; Brácaro [Luís de Almeida Braga], zagal fino que se apurou em Flandres, lá guarda solitário o seu rebanho; Monsário [Alberto Monsaraz] trespassado na peleja dos lobos, vive longe de nós, em terra alheia; Rebélio [José Pequito Rebelo] tão experto nos profundos segredos da lavoura, nunca foi por ninguém aproveitado; Lucius [Afonso Lucas] foi salteado e nos risos amargos se consola... Meu Deus, que triste sorte!... Todos no exílio, todos, ou na pátria ou na morte. Viviano E tu próprio estiveste preso em choupana agreste donde não pude defender-te quando maiorais, hoje lobos, ouviram minha fala que na ribeira Clara fui botando [Referência ao julgamento de Hipólito Raposo no Tribunal de Santa Clara, no qual Afonso Lopes Vieira foi seu advogado de defesa] Hipério E tu mesmo, que foste perseguido por furiosos zagais quando cantaste esse zagal sem nome [referência à prisão de Afonso Lopes Vieira, por motivo da publicação da sua poesia «Ao Soldado Desconhecido»] que nas brigas de além morreu perdido. Com efeito, os soldados - excelentes; capitães, onde estais? Certo é que sentimos o desterro a que a nova alcateia nos condena, a que repete em voz desentoada canções da nossa avena ! [Referência à tentativa de apropriação do legado político e cultural do «Integralismo Lusitano» (em especial o de António Sardinha] feita por alguns ex-integralistas, colaboradores de Salazar depois de 1929, Marcelo Caetano, Teotónio Pereira, entre outros] E são lobos tão pérfidos no assalto, tão matreiros, tão crus e tão gulosos, que nos parece já que os outros lobos em verdade eram menos perigosos!... Viviano Hipério, dizeis bem e eu mesmo o sinto; os inimigos de antes muitas vezes sendo brutais eram até corteses; os de hoje são peçonha em água benta. Mas os zagais mais moços moços na idade, n’alma engelhadinhos - que aprenderam connosco a tocar e dançar, a serem homens, quase todos estão daquela banda donde a nós nos monteiam. Ardente mocidade, é mais feia a traição na tua idade e horrendo que te comprem por traidora! Por isso eu canto alegre, sòzinho pelo prado: Ó solidão, formosa companhia se no-la enche o coração contente! Não há luxo maior que o ser-se honrado. Hipério E pensar que lá longe na estrangeira terra, nesse exílio que dura há tantos anos, vive aquele Pastor [O Rei, D. Duarte Nuno] que salvaria estes campos da morte e da ruína e dos lobos cruéis estas ovelhas!... Pastor mais luso e nosso outro se não conhece; tem puras qualidades que rebrilham entre as dos guardadores da honra e da mantença das lavouras. Ele é bravo e é pobre; a nossa Língua fala que um século vivido entre as alheias jamais fez esquecida; aprendeu na dureza e alta dignidade do pão do seu exílio a saber como os pobres são honrados quase só pelo serem, e como o ventre obeso dos tiranos do mando ou do dinheiro é cousa dura e feia. Se ele um dia viesse aos nossos lusos prados acabava-se a dança dos pastores que são hóspedes caros ou ligeiros da cabana onde em feno perfumado se repolteriam todos, monarcas da desordem ou da vil tirania. Oh! a danada dança, dança desordenada! Este espicaça o gado e açula os lobos; esse é honrado e tapa os negros crimes; aquele engorda e o gado está no fio; outros querem livrar-se e fugindo abandonam o rebanho... Rendeiros todos são, nenhum é dono. Pois como hão-de estimar a boa terra quando a trazem de renda e a fatigam? Um dia abalam - quem lhes faz as contas? E se acaso um bom velho de olhos azuis e de alma enamorada [Henrique de Paiva Couceiro] se dispõe a guardar o gado solto, os maus zagais do prado vão e pegam-lhe fogo! Quando virás um dia, pastor que sejas dono e não rendeiro, morador e não hóspede, bem apegado à terra, capaz de ter amor, leal, nunca onzeneiro, descendente daqueles que guardaram as queridas ovelhas sem jamais esfolá-las nem à fome matá-las nem à bruta tangê-las?... Viviano Amigo, que Pastor venha depressa à terra sua e nossa que com tanta mentira se esboroa e com tão crua fome desfalece; mas que sempre recorde que descende dos ínclitos Pastores que fizeram tão grande a nossa glória porque amavam a terra estimando-lhe a gente. Mas que nunca se esqueça de que provém do Mestre [O Mestre de Avis, Rei D. João I] e do Segundo Joane [Rei D. João II]. O primeiro que foi senão o povo coroado por chefe e revendo-se todo na sua própria imagem coroada? Ó Fernão Lopes, conta como os ventres ao sol lá em Aljubarrota pelejavam! - E Joane, «de fama sempiterna», destruiu, para bem desta lavoura, as moagens que a terra devoravam!... Que o Pastor que chamamos assim como eles seja: que respeite sem quebra as nossas liberdades, lembrando-se do verso que falando Da Lusitana antiga liberdade nos dá tamanha honra; que toda a usura açaime e o trabalho defenda; que ame a lavoura, donde um povo inteiro vive; que não chame às províncias do Além-mar colónias, o que já é perdê-las; [Alusão ao Acto Colonial e ao Colonialismo, a que os integralistas se opunham] que nunca ao pé consinta as cortesãs beatas, os duques descarados, os condes financeiros, a fim de que essa corte seja aquela corte de alto esplendor onde o chefe da Casa dos vinte e quatro ofícios penetre entre brandões que se acenderam para honras lhe dar de Embaixador!...
9 Comments
Joao
15/1/2021 11:43:26 am
MONARQUIA ORGÂNICA TRADICIONALISTA ANTI-PARLAMENTAR
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Joao
15/7/2021 10:03:41 pm
Falam em Luís de Vaz Camões, era príncipe de Espanha, nem era Português, nunca o foi, mas os iluminados pela Santa que apoiam Turcos ou Caucasianos, são pessoas do mais inteligente que temos em Portugal, historiadores que Mentem não sei que tipo de propósito é este, não entendo.
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Joao
15/7/2021 10:13:30 pm
Registo 5 - Succeffum é sucessor, Patrem é pai e Nativita é nascimento. Mais uma situação para os Iluminados Portugueses, podem estar certos que quando existir monarquia, todos vós passam a estrangeiros.
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Joao
15/7/2021 10:16:21 pm
A fuccefaõ ao Throno de Portugal he pelo direito do fangue, regulada nas Cortes » de Lamego do anno de 1143, conforme as Leys de » Lamego, que ali foraõ eftabelecidas, como eu o re»firo no tomo I, da minha Hitoria, pag. 55.
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Joao
16/7/2021 02:18:46 am
Agora vou provar que a vossa Igreja Católica Romana e Apostólica, vai embora de Portugal, nunca esteve em Portugal, Vamos às provas documentais e estou cansado dos Bispos e Cardeais em Portugal. Desde D. Afonso Henriques, passando por Philippe I, II, III e IV de Espanha, até João V eu sei que o Reino de Portugal nunca conteve a vossa Católica, mas sim Cristianismo que é Judaísmo.
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Joao
16/7/2021 02:38:40 am
Portugal voltará para o Judaísmo aquando tivermos novamente Monarquia implementada e todos que apoiam Turcos, Bourbons e Orleans e a Católica, não os quero em Portugal aquando da Monarquia.
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Joao
17/7/2021 08:47:23 am
Os Lusitanos como vocês falam nos poemas eram chamados de Patrícios e esta denominação vem dos Helvéticos com ligação à Alemanha à Saxoniae. O nome Parroman, Dudingen, Thuringiae, Duens, ou mesmo Felgarum ou Velgerum é tudo igual e trago em latim para vós calar a todos, minha família.
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Joao
17/7/2021 03:00:40 pm
Este Conde Henrique o pai de D. Afonso Henriques veio da casa de Limburg e esta casa é Judaica, como Savoie, Borgonha, Schonenberg, Englisberg, Chapelle, Montagu, Montpellier etc.
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Joao
17/7/2021 03:31:56 pm
Bragança vem da Baviera
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Fevereiro 2021
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