Ainda bem que às vezes faço versos que, embora desgraçados como eu, são todavia lembranças vivas do outro que eu deveria ser.
- Guilherme de Faria, in carta a Manuel de Castro, 31 de Maio de 1925
E quando a vida escura e dolorosa
Passar, desfeita em névoas de ilusão,
Na hora fatal da morte misteriosa,
– Oh piedosa e sagrada Aparição! –
Doira a minha alma com a luz radiosa
Do teu olhar de bênção e perdão!
- Guilherme de Faria, in Saudade Minha, 1926
- Guilherme de Faria, in carta a Manuel de Castro, 31 de Maio de 1925
E quando a vida escura e dolorosa
Passar, desfeita em névoas de ilusão,
Na hora fatal da morte misteriosa,
– Oh piedosa e sagrada Aparição! –
Doira a minha alma com a luz radiosa
Do teu olhar de bênção e perdão!
- Guilherme de Faria, in Saudade Minha, 1926
Nota biográfica de Guilherme de Faria (6 de Outubro de 1907 - 4 de Janeiro de 1929).
Guilherme de Faria nasceu em Guimarães.
Não tinha ainda onze anos quando fundou e dirigiu o pequeno quinzenário 5 de Dezembro, em defesa da "causa sidonista" - uma República Nova imaginada pelo presidente Sidónio Pais, que lhe custaria a vida em Dezembro de 1918.
No Outono do ano seguinte, Guilherme mudou-se com a família para Lisboa. Na convalescença de uma febre tifóide, aí terá escrito os seus primeiros versos, "na cama, com a maior naturalidade, já perfeitos" (testemunho de Lopes Correia, recolhido junto de familiares). No Outono de 1920, ter-se-á começado a assumir como Poeta, vindo a publicar o seu primeiro livro de Poemas em Abril de 1922. Tinha catorze anos de idade.
Em Outubro de 1922, no seu retorno às aulas no Liceu Pedro Nunes, depois de ter sido expulso do Liceu Passos Manuel, por ter agredido um professor que teria sido injusto com ele, era já um Poeta publicado. Segundo Joaquim Paço de Arcos, então seu colega de turma, Guilherme desinteressara-se por completo pelas matérias dos estudos. A literatura povoava-lhe o espírito, refugiando-se no Jardim da Estrela, onde recitava os seus versos, sonetos de Antero de Quental, poemas de Gomes Leal. Em Novembro, publicou Mais Poemas. Entre os seus companheiros, além do seu íntimo amigo Manuel de Castro, contavam-se Anrique Paço d'Arcos, João da Câmara, Eduardo Brazão, António Hartwich Nunes e António Pedro. Frequentavam a sua morada num amplo 2º andar do nº 11 da Rua da Horta Seca, perto do Largo de Camões, a dois passos do café "A Brasileira" do Chiado, então poiso regular de Teixeira de Pascoaes e de seus admiradores. Ali se relacionou o jovem Guilherme com escritores, literatos e artistas, tornando-se editor (com dezassete anos) de obras de Teixeira de Pascoaes - Elegia do Amor (1924), Sonetos (1925), Londres (1925) e D. Carlos (1925).
Guilherme de Faria viria a incompatibilizar-se com Teixeira de Pascoaes em 1925. Deixara o republicanismo, convertendo-se entretanto ao ideário monárquico. Talvez por influência de Alfredo Pimenta, 1882-1950, que lhe terá dado alento para publicar o seu primeiro livro de Poemas, Guilherme está entre os manuelistas das Juventudes Monárquicas Conservadoras em Março de 1923 e, em 8 de Dezembro, entre os subscritores da Carta ao sr Conselheiro Aires de Ornelas. Em 16 de Janeiro de 1924, Alfredo Pimenta lançou a Acção Realista Portuguesa, adoptando grosso modo o programa político do Integralismo Lusitano no seio da obediência a D. Manuel II. Guilherme de Faria, preferindo o original à cópia, e sem ter razões para uma fidelidade pessoal ao rei deposto, partiu ao encontro dos mestres daquele movimento de renovação cultural e política. Em 1924, em carta para Manuel de Castro, expressou a sua admiração pelo "belo e nobre Espírito" de Luís de Almeida Braga, fundador do Integralismo, dedicando-lhe o poema "Nocturno" do livro Sombra, onde se incluem versos perturbadores - "A minha alma - noite morta - / Crucificada nas ondas, / Morreu nas ondas do Mar...". O livro foi sofrido, mas muito bem acolhido pela crítica.
Guilherme nascera para a poesia sob a influência de Antero de Quental, António Nobre, Camilo Pessanha, Eugénio de Castro. No contacto com o Integralismo, Guilherme vai receber o influxo do seu universo estético e filosófico. A poesia de Afonso Lopes Vieira, António Sardinha, António Correia d’Oliveira, José Bruges d’Oliveira, deixava ficar para trás o decadentismo e o simbolismo, abraçando um neo-romantismo de inspiração medieval e quinhentista: o livro Saudade Minha (1926) de Guilherme de Faria surge com a "flor da saudade" na capa - o ex-libris que adopta, desenhado por Emília Castro, irmã de Manuel - e a epígrafe “Ah, Saudade minha, luz divina!", de Frei Agostinho da Cruz (1540-1619). E publica a plaquete Oração a Santo António de Lisboa, vendida a favor da associação "Florinhas da Rua":
Ó Santo que és dos maiores
De Deus na graça eternal
Cobre de bênção e flores
A Terra de Portugal!
Há tanto que já sofremos
Da sorte o duro revés,
E em miséria nos perdemos,
Santo António português!
O Reino que te foi berço,
- Reino de Santa Isabel -
Em sombras triste imerso,
Num cativeiro cruel!
Ó Santo, que a luz dos céus
Doire as almas portuguesas
Que, em sonhos maus e em tristezas,
Andam perdidas de Deus!
Que a luz do amor que trespassa
As almas dos pecadores
Para as subir, redivivas,
Ao esplendor da eterna graça,
Desça, em mil bênçãos e em flores
De formosura imortal,
Às nossas almas cativas
Na Terra de Portugal!
(Lisboa, Tipografia de Alfredo Torres, 13 de Junho de 1926)
A partir da publicação de Saudade Minha (1926), Guilherme de Faria está em diálogo com Bernardim Ribeiro, Crisfal, Camões, Frei Agostinho da Cruz, como assinalou José Rui Teixeira (2023).
Em 1927, Guilherme publica os livros Destino e Manhã de Nevoeiro. Em Janeiro desse ano, confessa a consolação que, nos seus treze anos, lhe proporcionara a leitura de Clepsidra de Camilo Pessanha; tornar-se-ia Sebastianista como Afonso Lopes Vieira, não Saudosista como Teixeira de Pascoaes. Interessou-lhe a poesia mística dos católicos portugueses, de que resultou a organização de uma Antologia de Poesias Religiosas, abrindo com a Oração do Justo Juiz pelo rei D. Duarte, que virá a ser publicada em 1947 pelas Edições Gama, com prefácio do Arcebispo de Évora, D. Manuel Mendes da Conceição Santos.
Em Março de 1927, em entrevista a Armando Boaventura no jornal A Ideia Nacional (A nova geração e o ideal nacionalista), Guilherme de Faria expõe o seu pensamento em literatura e em política. Queria contribuir para um retorno "às verdadeiras fontes do Lirismo Português: muita frescura e limpidez de sentimento, muita verdade íntima e nobreza de expressão". Mas, não haveria então adversários ou contra-correntes? - Sim, havia "uma meia dúzia de literatos retóricos e falseadores da nossa saudade", fazendo literatura de "confusões palavrosas", "excessos de imagens e objectivismo", "turbações de brumas", "metafísicas e saudosismos suspeitos". Tinha porém esperança nas novas gerações e no futuro de Portugal. Identificando-se com a obra realizada pela "geração do Resgate" - destacando Luís de Almeida Braga e António Sardinha - via aliás como "próxima a Restauração de Portugal", bastando que o regime saído do movimento militar do 28 de Maio continuasse "animado dos princípios que o gerara".
Em Junho de 1927, Guilherme prosseguia com algum optimismo, parecendo mesmo determinado a "esforçar-se por conseguir uma situação condigna com as suas altas aspirações". Em 1928, agrava-se o seu estado de saúde física e mental, recebendo no final do ano a notícia do noivado de Emília, irmã de Manuel de Castro. Guilherme de Faria ter-se-á então encontrado casualmente com Alfredo Pimenta numa barbearia de Lisboa. Ainda terá desafiado Pimenta a juntar-se-lhe no Integralismo Lusitano, a que o seu próprio filho aderira, integrando a Junta Escolar de Lisboa do Integralismo Lusitano. Oito dias depois, Guilherme de Faria morria tragicamente com apenas 21 anos.
[16.6.2024 - J.M.Q.]
Poesia
Guilherme de Faria nasceu em Guimarães.
Não tinha ainda onze anos quando fundou e dirigiu o pequeno quinzenário 5 de Dezembro, em defesa da "causa sidonista" - uma República Nova imaginada pelo presidente Sidónio Pais, que lhe custaria a vida em Dezembro de 1918.
No Outono do ano seguinte, Guilherme mudou-se com a família para Lisboa. Na convalescença de uma febre tifóide, aí terá escrito os seus primeiros versos, "na cama, com a maior naturalidade, já perfeitos" (testemunho de Lopes Correia, recolhido junto de familiares). No Outono de 1920, ter-se-á começado a assumir como Poeta, vindo a publicar o seu primeiro livro de Poemas em Abril de 1922. Tinha catorze anos de idade.
Em Outubro de 1922, no seu retorno às aulas no Liceu Pedro Nunes, depois de ter sido expulso do Liceu Passos Manuel, por ter agredido um professor que teria sido injusto com ele, era já um Poeta publicado. Segundo Joaquim Paço de Arcos, então seu colega de turma, Guilherme desinteressara-se por completo pelas matérias dos estudos. A literatura povoava-lhe o espírito, refugiando-se no Jardim da Estrela, onde recitava os seus versos, sonetos de Antero de Quental, poemas de Gomes Leal. Em Novembro, publicou Mais Poemas. Entre os seus companheiros, além do seu íntimo amigo Manuel de Castro, contavam-se Anrique Paço d'Arcos, João da Câmara, Eduardo Brazão, António Hartwich Nunes e António Pedro. Frequentavam a sua morada num amplo 2º andar do nº 11 da Rua da Horta Seca, perto do Largo de Camões, a dois passos do café "A Brasileira" do Chiado, então poiso regular de Teixeira de Pascoaes e de seus admiradores. Ali se relacionou o jovem Guilherme com escritores, literatos e artistas, tornando-se editor (com dezassete anos) de obras de Teixeira de Pascoaes - Elegia do Amor (1924), Sonetos (1925), Londres (1925) e D. Carlos (1925).
Guilherme de Faria viria a incompatibilizar-se com Teixeira de Pascoaes em 1925. Deixara o republicanismo, convertendo-se entretanto ao ideário monárquico. Talvez por influência de Alfredo Pimenta, 1882-1950, que lhe terá dado alento para publicar o seu primeiro livro de Poemas, Guilherme está entre os manuelistas das Juventudes Monárquicas Conservadoras em Março de 1923 e, em 8 de Dezembro, entre os subscritores da Carta ao sr Conselheiro Aires de Ornelas. Em 16 de Janeiro de 1924, Alfredo Pimenta lançou a Acção Realista Portuguesa, adoptando grosso modo o programa político do Integralismo Lusitano no seio da obediência a D. Manuel II. Guilherme de Faria, preferindo o original à cópia, e sem ter razões para uma fidelidade pessoal ao rei deposto, partiu ao encontro dos mestres daquele movimento de renovação cultural e política. Em 1924, em carta para Manuel de Castro, expressou a sua admiração pelo "belo e nobre Espírito" de Luís de Almeida Braga, fundador do Integralismo, dedicando-lhe o poema "Nocturno" do livro Sombra, onde se incluem versos perturbadores - "A minha alma - noite morta - / Crucificada nas ondas, / Morreu nas ondas do Mar...". O livro foi sofrido, mas muito bem acolhido pela crítica.
Guilherme nascera para a poesia sob a influência de Antero de Quental, António Nobre, Camilo Pessanha, Eugénio de Castro. No contacto com o Integralismo, Guilherme vai receber o influxo do seu universo estético e filosófico. A poesia de Afonso Lopes Vieira, António Sardinha, António Correia d’Oliveira, José Bruges d’Oliveira, deixava ficar para trás o decadentismo e o simbolismo, abraçando um neo-romantismo de inspiração medieval e quinhentista: o livro Saudade Minha (1926) de Guilherme de Faria surge com a "flor da saudade" na capa - o ex-libris que adopta, desenhado por Emília Castro, irmã de Manuel - e a epígrafe “Ah, Saudade minha, luz divina!", de Frei Agostinho da Cruz (1540-1619). E publica a plaquete Oração a Santo António de Lisboa, vendida a favor da associação "Florinhas da Rua":
Ó Santo que és dos maiores
De Deus na graça eternal
Cobre de bênção e flores
A Terra de Portugal!
Há tanto que já sofremos
Da sorte o duro revés,
E em miséria nos perdemos,
Santo António português!
O Reino que te foi berço,
- Reino de Santa Isabel -
Em sombras triste imerso,
Num cativeiro cruel!
Ó Santo, que a luz dos céus
Doire as almas portuguesas
Que, em sonhos maus e em tristezas,
Andam perdidas de Deus!
Que a luz do amor que trespassa
As almas dos pecadores
Para as subir, redivivas,
Ao esplendor da eterna graça,
Desça, em mil bênçãos e em flores
De formosura imortal,
Às nossas almas cativas
Na Terra de Portugal!
(Lisboa, Tipografia de Alfredo Torres, 13 de Junho de 1926)
A partir da publicação de Saudade Minha (1926), Guilherme de Faria está em diálogo com Bernardim Ribeiro, Crisfal, Camões, Frei Agostinho da Cruz, como assinalou José Rui Teixeira (2023).
Em 1927, Guilherme publica os livros Destino e Manhã de Nevoeiro. Em Janeiro desse ano, confessa a consolação que, nos seus treze anos, lhe proporcionara a leitura de Clepsidra de Camilo Pessanha; tornar-se-ia Sebastianista como Afonso Lopes Vieira, não Saudosista como Teixeira de Pascoaes. Interessou-lhe a poesia mística dos católicos portugueses, de que resultou a organização de uma Antologia de Poesias Religiosas, abrindo com a Oração do Justo Juiz pelo rei D. Duarte, que virá a ser publicada em 1947 pelas Edições Gama, com prefácio do Arcebispo de Évora, D. Manuel Mendes da Conceição Santos.
Em Março de 1927, em entrevista a Armando Boaventura no jornal A Ideia Nacional (A nova geração e o ideal nacionalista), Guilherme de Faria expõe o seu pensamento em literatura e em política. Queria contribuir para um retorno "às verdadeiras fontes do Lirismo Português: muita frescura e limpidez de sentimento, muita verdade íntima e nobreza de expressão". Mas, não haveria então adversários ou contra-correntes? - Sim, havia "uma meia dúzia de literatos retóricos e falseadores da nossa saudade", fazendo literatura de "confusões palavrosas", "excessos de imagens e objectivismo", "turbações de brumas", "metafísicas e saudosismos suspeitos". Tinha porém esperança nas novas gerações e no futuro de Portugal. Identificando-se com a obra realizada pela "geração do Resgate" - destacando Luís de Almeida Braga e António Sardinha - via aliás como "próxima a Restauração de Portugal", bastando que o regime saído do movimento militar do 28 de Maio continuasse "animado dos princípios que o gerara".
Em Junho de 1927, Guilherme prosseguia com algum optimismo, parecendo mesmo determinado a "esforçar-se por conseguir uma situação condigna com as suas altas aspirações". Em 1928, agrava-se o seu estado de saúde física e mental, recebendo no final do ano a notícia do noivado de Emília, irmã de Manuel de Castro. Guilherme de Faria ter-se-á então encontrado casualmente com Alfredo Pimenta numa barbearia de Lisboa. Ainda terá desafiado Pimenta a juntar-se-lhe no Integralismo Lusitano, a que o seu próprio filho aderira, integrando a Junta Escolar de Lisboa do Integralismo Lusitano. Oito dias depois, Guilherme de Faria morria tragicamente com apenas 21 anos.
[16.6.2024 - J.M.Q.]
Poesia
- 1922 - Poemas, Lisboa, Imp. de Manoel Lucas Torres. (sob o signo de António Nobre e Antero de Quental)
- 1922 - Mais Poemas, Lisboa, Imp. de Manoel Lucas Torres. (dedicado a Alfredo Pimenta, que lhe deu alento para publicar Poemas)
- 1924 - Sombra, Lisboa, Biblioteca Nacional. (termina com o poema "Nocturno" - "A minha alma - noite morta - / Crucificada nas ondas, / Morreu nas ondas do Mar..." - dedicado a Luís de Almeida Braga, 1886-1970; )
1926 - Saudade Minha, Lisboa, Tipografia de Alfredo Torres. (com a "flor da saudade", o seu ex-libris desenhado por Emília Castro; "Ah, Saudade minha, luz divina!", uma epígrafe de Frei Agostinho da Cruz. - 1926 - Oração a Santo António de Lisboa. plaqueta. Lisboa, Tipografia de Alfredo Torres.
- 1927 - Destino, Lisboa, Biblioteca Nacional.
- 1927 - Manhã de Nevoeiro, Lisboa, Biblioteca Nacional.
- 1929 - Desencanto, Lisboa, Imprensa Nacional. (Edição póstuma, publicado um mês após a morte do poeta)
- 1929 - Saudade Minha (poesias escolhidas), Lisboa, Imprensa Nacional; 2ª. ed., Maia, Cosmorama, 2007; 3ª ed., Maia, Cosmorama, 2008. (Edições póstumas).
- 2013 - O Livro de Guilherme de Faria. I. Saudade Minha (poesias escolhidas), Maia, Cosmorama, 2013.
- 1927 - Um poeta português, A Folha do Lado, 30 de Janeiro de 1927. (Sobre Camilo Pessanha)
- 1927 - "A nova geração e o ideal nacionalista" (entrevista por Armando Boaventura), in A Ideia Nacional, 30 de Março de 1927. (Acerca do papel do Integralismo Lusitano no renascimento e na restauração de Portugal)
Bibliografia passiva (selecção)
Ref.:
https://officiumlectionis.pt/guilherme-de-faria-3/
- 1928 - António Pedro, "Poesia - Os contemporâneos I - Guilherme de Faria", Nação Portuguesa, Série V, Tomo I, nº 6, Dezembro de 1928, pp. 437-448.
- 1929 - Alfredo Pimenta, "Quatro escritores vimaranenses. 1) O poeta Guilherme de Faria», in Páginas Minhotas, Lisboa, Organizações Bloco, 1950, pp. 37-43 ("Algumas palavras sobre o poeta Guilherme de Faria", in A Voz, 9 de Janeiro de 1929).
- 1930 - Lopes Correia, "Guilherme de Faria", Correio de Coimbra, 5 de Abril de 1930.
- 1937 - Manuel Anselmo, "Guilherme de Faria e o lirismo integral", in Antologia Moderna, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1937, pp. 159-167.
- 1938 - Luís Forjaz Trigueiros, "O lirismo de Guilherme de Faria", Diário de Lisboa, 13 de Janeiro de 1938.
- 1943 - Joaquim Manso, "O sonho inacabado de um Poeta", Revista de Guimarães, 53 (1-2), Janeiro-Junho 1943, pp. 152-155.
- 1951 - Leitão de Barros, "Morreu há vinte e dois anos Guilherme de Faria, um notável poeta esquecido", O Século, 4 de Janeiro de 1951.
- 1968 - José Gomes Ferreira, Dias Comuns V - Continuação do Sol, Alfragide, Dom Quixote, 2010, pp. 23-26 (7 de Junho de 1968).
- 1970 - J. M. Pinto de Almeida, "Guilherme de Faria", Notícias de Guimarães, 26 de Setembro de 1970.
- 1970 - Joaquim Paço d'Arcos, "Destino e Obra do Poeta Guilherme de Faria", separata da revista Ocidente, Vol. LXXIX, Lisboa, 1970 (Reed. in Pedras à Beira da Estrada, Lisboa, Guimarães Editores, 1971, pp. 330-386)
- 1985 - "Guilherme de Faria apreciado por Hipólito Raposo", in Notícias de Guimarães, 11de Outubro de 1985.
- 2008 - José Rui Teixeira, "A redescoberta de Guilherme de Faria", in Saudade Minha (poesias escolhidas), Maia, Cosmorama, 2008, pp. 7-15
- 2011 - José Rui Teixeira, Vida e Obra de Guilherme de Faria - Os versos de luz por escrever, Maia, Cosmorama Edições, 2013. Um excelente estudo sobre o Poeta - "uma biografia ímpar: pelo rigor da metodologia, pelo valor (e exaustão) da informação nela recolhida e pelo tratamento criterioso da mesma" (Maria João Reynaud). Acerca do Integralismo Lusitano, ver as páginas 126-130, 143-144.
- 2023 - José Rui Teixeira, Introdução a Guilherme de Faria. Poesia (vol. 1: édita). Porto, Officium Lectionis, 2023, pp. 5-19. Uma súmula incontornável.
Ref.:
https://officiumlectionis.pt/guilherme-de-faria-3/
O Poeta do Amor-Morte
CONFUNDEM-SE em negrume de mistério, a vida e a morte de Guilherme de Faria; a definir-se em vão uma pela outra, abrem e fecham um ciclo de dor.
Filho-família bem-amado, irmão e companheiro leal, menino que se fez homem a beber fel de desventura, homem-menino por força e graça dos vinte anos, metade da vida passou a gemer no naufrágio do seu sonho na terra, indo viver na morte o sonho de ser amortalhado em espuma do mar.
Fiel à graça do amor, o amor e a morte em sua alma viveram abraçados, para mais cedo e mais fortemente renegarem a vida sepultando-lhe nas frias àguas a coroa de poeta e o coração ardente de português. Ficou de luto e amargurada a nossa família espiritual, ao calar-se a voz do mais alto e puro amor à Esperança, e ao ver partidas as asas de um génio bom da nossa Vitoria.
Aos nossos olhos fica eternamente acenando o seu adeus triste em folhas de versos, como lenço saudoso de cantigas de quem se embarca e se perde em palpitações de luz roxa; em nossos ouvidos estremece e plange o marulho soluçante da sua lira.
Não profanemos o silencio para saber a razão da sua desgraça; não perguntemos à dor porque foi dor... Se alguma alma de mulher ficou na vida com o segredo da morte deste Poeta, sagre em relicário o próprio coração e cumpra o destino de guardar nele, amargamente, a essência imortal de uma saudade que mata...
E vós, amigos, irmãos de alma e de juventude de um Poeta grande e desgraçado, se quereis glorificá-lo com amor, levantai-lhe, sobre a dura pedra dos seus últimos passos, o padrão de uma coluna votiva: coluna que seja a cruz de Cristo, abraçada de saudades em flor, e nela venha cativar-se, trazida na voz das águas, a ultima vibração da sua voz, o suspiro em que a Deus pediu perdão de morrer, depois de ter chorado:
Ondas marinhas,
Ondas, dizei-me,
Saudosamente,
Saudades minhas, de um bem ausente...
E adormecei-me
Na pura graça
De sonho e morte.
......................................................
......................................................
......................................................
- Saudades minhas... Sonho da morte...
- Oh meus amores!...
H. R.
(Hipólito Raposo, 1885-1953, "O Poeta do Amor-Morte", in Política, nº 1, 15 de Abril de 1929, p. 13)
CONFUNDEM-SE em negrume de mistério, a vida e a morte de Guilherme de Faria; a definir-se em vão uma pela outra, abrem e fecham um ciclo de dor.
Filho-família bem-amado, irmão e companheiro leal, menino que se fez homem a beber fel de desventura, homem-menino por força e graça dos vinte anos, metade da vida passou a gemer no naufrágio do seu sonho na terra, indo viver na morte o sonho de ser amortalhado em espuma do mar.
Fiel à graça do amor, o amor e a morte em sua alma viveram abraçados, para mais cedo e mais fortemente renegarem a vida sepultando-lhe nas frias àguas a coroa de poeta e o coração ardente de português. Ficou de luto e amargurada a nossa família espiritual, ao calar-se a voz do mais alto e puro amor à Esperança, e ao ver partidas as asas de um génio bom da nossa Vitoria.
Aos nossos olhos fica eternamente acenando o seu adeus triste em folhas de versos, como lenço saudoso de cantigas de quem se embarca e se perde em palpitações de luz roxa; em nossos ouvidos estremece e plange o marulho soluçante da sua lira.
Não profanemos o silencio para saber a razão da sua desgraça; não perguntemos à dor porque foi dor... Se alguma alma de mulher ficou na vida com o segredo da morte deste Poeta, sagre em relicário o próprio coração e cumpra o destino de guardar nele, amargamente, a essência imortal de uma saudade que mata...
E vós, amigos, irmãos de alma e de juventude de um Poeta grande e desgraçado, se quereis glorificá-lo com amor, levantai-lhe, sobre a dura pedra dos seus últimos passos, o padrão de uma coluna votiva: coluna que seja a cruz de Cristo, abraçada de saudades em flor, e nela venha cativar-se, trazida na voz das águas, a ultima vibração da sua voz, o suspiro em que a Deus pediu perdão de morrer, depois de ter chorado:
Ondas marinhas,
Ondas, dizei-me,
Saudosamente,
Saudades minhas, de um bem ausente...
E adormecei-me
Na pura graça
De sonho e morte.
......................................................
......................................................
......................................................
- Saudades minhas... Sonho da morte...
- Oh meus amores!...
H. R.
(Hipólito Raposo, 1885-1953, "O Poeta do Amor-Morte", in Política, nº 1, 15 de Abril de 1929, p. 13)