“A vida humana vale o que valer o seu ideal e o que valer a forma por que se procurou efectivá-lo. O homem não vive só de pão. O pão é amargo se a flor do ideal o não tempera.”
“É a poesia o mel subtil das coisas. (...) Dela brotam continuadamente as fontes sagradas da beleza, da alegria e da esperança!
- Luís de Almeida Braga
“É a poesia o mel subtil das coisas. (...) Dela brotam continuadamente as fontes sagradas da beleza, da alegria e da esperança!
- Luís de Almeida Braga
Luís Carlos de Lima de Almeida Braga (Braga, 20 de Novembro de 1886 - Lisboa, 2 de Março de 1970) foi advogado, jurista, escritor, historiador, etnógrafo, e político, tendo sido o iniciador do movimento cultural e político denominado “Integralismo Lusitano”. Dirigiu o Instituto Minhoto de Estudos Regionais e respectivo órgão de comunicação, a revista Mínia. Foi presidente da Confraria do Bom Jesus do Monte.
O pai, Carlos de Almeida Braga, advogado e político, foi Governador Civil de Aveiro; o avô deste, Cons. Francisco Xavier de Sousa Torres e Almeida, foi jurisconsulto de renome; o tio-avô, Joaquim Januário de Sousa Torres e Almeida, foi colega de curso de José Luciano de Castro, Barjona de Freitas, Gama Barros, Soares de Passos. Sendo Procurador-Geral da Fazenda, trocou correspondência com Alexandre Herculano; um outro parente colateral, João Joaquim de Almeida Braga, distinguiu-se como autor católico, em obras como O Christianismo e o Seculo (1864) Jesus Christo perante o Seculo (1865), O Prestigio das Palavras. As propriedades da família ficavam em Tadim (Casa das Quintães), Gondarém (Quinta do Outeiral) e Vila Verde (Pico de Regalados).
Luís de Almeida Braga fez os estudos secundários no Colégio do Espírito Santo, em Braga. Em 1908, está entre os subscritores de uma mensagem dos professores e estudantes de Coimbra de apoio ao novo rei D. Manuel II, após o assassinato de seu pai, o rei D. Carlos, e de seu irmão, o príncipe D. Luís Filipe. Em Coimbra, Almeida Braga estreou-se nas lides jornalísticas e políticas, ao dirigir o semanário académico monárquico Pátria Nova, mas interrompeu os seus estudos de Direito para se juntar aos voluntários que, a partir da Galiza, sob o comando de Paiva Couceiro, desencadearam as incursões monárquicas de 1911-1912. O seu irmão Joaquim, bem como o seu pai, Carlos de Almeida Braga, participaram nos combates. Joaquim Leitão, numa das suas minuciosas obras acerca das incursões monárquicas, relatou uma circunstância em que Luís Braga chegou a arriscar a vida:
“De Chaves, estribados nas reservas de Montalegre, não cessava o despejar de balas e granadas. O tenente Caio, rijamente atacado pela direita, querendo resistir ainda, manda o ajudante Luiz d’Almeida Braga ao chefe do Estado Maior, a pedir reforços. O bravo ajudante, para ir ao Quartel General, tinha de fazer uma marcha penosa e longa, por um terreno aspero, onde se erguiam ainda os pés duros do milho ceifado de fresco. Esse campo estava vasio. Só elle nesse instante, o atravessava. Uma chuva de balas caía junto do emissário. Ao baterem na terra erguiam nuvensinhas de poeira, pequeninos vulcões: - era como se a terra espirrasse. Do alto do môrro, o irmão Joaquim e Domingos (Fezas) Vital seguiam-no anciosamente, angustiosamente. Os dois fraternos camaradas viam perfeitamente que o Luiz estava sendo alvejado pelos tiros de Chaves. Nisto, elle atingiu o muro que corria ao fundo do campo. Abrigou se com elle, desapparecendo à vista do irmão e do amigo. Joaquim d’Almeida Braga cuidou o Luiz attingido pelas balas inimigas e numa voz dulcissima, em que já não cabia ódio e havia só saudade, murmurou: - “Lá m’o mataram!” Mas Luiz Braga volta d’ahi a pouco, vivo e ileso, com a resposta do Estado Maior: retirar. E o tenente Caio retira...” (Joaquim Leitão, O Ataque a Chaves, Porto, 1916, pp. 172-173; citado por Gonçalo Sampaio e Mello, "Luís de Almeida Braga", 2015).
Os combatentes monárquicos foram derrotados e dispersos pelo Governo Espanhol, vindo Almeida Braga a integrar o grupo de emigrados que seguiu para o exílio na Bélgica. Em Espanha, teve contacto com a renovação doutrinária do Carlismo de Vasquez de Mella, vindo depois a frequentar os círculos do sindicalismo católico na Bélgica, onde estudou nas Universidades de Bruxelas e de Gand. E foi na Bélgica que veio a fundar a revista Alma Portuguesa (Louvain, 1913), na qual cunhou a expressão "Integralismo Lusitano" em reacção ao movimento dos republicanos portuenses da "Nova Renascença" (1912). Voltou a Portugal em 1914, mas não chegando a tempo de participar, em Abril, no lançamento da revista de filosofia política do Integralismo Lusitano - a Nação Portuguesa. No início do Verão desse ano estava por fim em Portugal, retomando os seus estudos de Direito na Universidade de Coimbra, onde veio a ser presidente do Centro Monárquico Académico, Em 1915, o Integralismo Lusitano realizou uma série de conferências sobre a Questão Ibérica na Liga Naval, em Lisboa, sendo-lhe atribuída a conferência de encerramento. Na véspera, as instalações da Liga Naval foram assaltadas e destruídas, na sequência do golpe de Estado de Afonso Costa, não permitindo que Almeida Braga apresentasse "A lição dos factos", onde se apresentava a longa experiência histórica da afirmação da individualidade portuguesa em face da Espanha.
Em 1916, publicou Pão Alheio, suscitando o texto No jardim da Raça, onde António Sardinha identifica o Integralismo Lusitano como o "filho de Ramires". Nesse ano, os integralistas publicaram um volume com as conferências da Liga Naval acerca da Questão Ibérica, e Almeida Braga concluiu a sua licenciatura em Direito. Com a entrada de Portugal na Grande Guerra, o Integralismo transformou-se em organização política, com Almeida Braga integrando o seu orgão de direcção - a Junta Central.
Na primeira série da revista Nação Portuguesa, Luís de Almeida Braga publicou: Sindicalismo e Republica e A lição d' Olivença (nº 5, Novembro de 1914); Do espírito da Democracia (nº 9, Outubro de 1915); Tradição e Nacionalidade (n.º 10, Dezembro de 1915); Da renascença do Tradicionalismo na Arte e na Politica (n.º 12, Novembro de 1916). A partir de 1917 foi também colaborador assíduo do jornal A Monarquia - Diário Integralista da Tarde.
Em 1919, voltou para o exílio por ter tomado parte, como secretário de Paiva Couceiro, na restauração da "Monarquia do Norte". Saindo para Espanha, esteve em Madrid, encontrando-se com António Sardinha e Alberto de Monsaraz, tirando uma famosa fotografia com a bandeira azul e branca em fundo, seguindo depois para Paris. Em Setembro de 1919, viajou com José Pequito Rebelo para Inglaterra, para virem a ser recebidos em audiência por D. Manuel II, o que ocorreu por duas vezes: em 16 de Setembro (Eastbourne) e em 28 (Fulwell Park - residência particular do monarca). Na sequência de tais encontros foi tornado público um extenso relatório subscrito por ambos, mas todo ou quase todo escrito por Almeida Braga. A ruptura dos integralistas com D. Manuel II ocorreu em Outubro de 1919.
Em Julho de 1920, Almeida Braga viajou com D. João de Almeida e Alberto Monsaraz para a Alemanha. No Grão-Ducado de Baden, em Bronnbach, visitaram o príncipe exilado D. Miguel II (filho do rei D. Miguel I de Portugal), pai de D. Duarte Nuno (que virá a ser o herdeiro do trono após a morte de D. Manuel II, em 1932, sem descendência) e avô de D. Duarte Pio, Duque de Bragança, actual herdeiro do trono de Portugal. Feito o reconhecimento de D. Duarte Nuno como pretendente ao trono de Portugal, juntando os integralistas e os legitimistas numa frente comum através do Acordo de Bronnbach, Luís de Almeida Braga viajou depois para a América do Sul, visitando o Brasil - onde proferiu conferências em São Paulo e no Rio de Janeiro -, o Uruguai e a Argentina, onde virá a casar em 1921, em Buenos Aires, com a violinista Concepción Buenaventura Pascual. As palestras proferidas no Brasil, em 1921, tiveram eco na revista Nação Portuguesa: "Um Embaixador do Integralismo" (nº 9, Março de 1923); "Das Belas Letras Brasileiras" (nº 11, 1923).
No retorno a Portugal, exercerá advocacia em Braga. Em Abril de 1922, deslocou-se com Alberto Monsaraz a Paris para subscrever um acordo político celebrado entre defensores do príncipe D. Duarte Nuno de Bragança e do rei D. Manuel II, o chamado "Pacto de Paris", que veio a ser denunciado em 1925.
Em Setembro de 1928, Almeida Braga deslocou-se a Pau, em França, na companhia do seu irmão Joaquim, de Hipólito Raposo, Rolão Preto, Mário Cardia, D. João de Almeida, entre outros, para assinalar a maioridade política de D. Duarte Nuno de Bragança, ao celebrar 21 anos. Estiveram também presentes, além do príncipe, D. Maria Teresa de Bragança, sua mãe, e D. Aldegundes de Bragança, sua tia e tutora política. A cerimónia decorreu na residência francesa dos duques de Cadaval. Recorde-se que os descendentes do rei D. Miguel, se encontravam exilados no estrangeiro por força da Carta de Lei de 19 de Dezembro de 1834.
Em 1932, fundou e dirigiu, com Hipólito Raposo, a revista Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses (1932-1934) onde, na frente político-cultural e literária, os integralistas fizeram a sua demarcação do Estado Novo e da Salazarquia, a que muitos monárquicos aderiram, sob vários pretextos e disfarces: "Pelo que respeita aos monárquicos, a aliciação por meio dos benefícios materiais concedidos ou esperados do Tesouro, disfarça-se nas desculpas do mal menor, do que vier é pior, trocando-se a fidelidade do direito pelo facto, a razão política pelo interesse privado, o que deve ser pelo que é, o futuro definitivo pelo presente incerto, precário e caduco. Homens, ideias, factos e símbolos da República já não provocam repulsa a monárquicos de responsabilidades políticas, morais e doutrinárias, que gostosamente vão abandonando princípios, posições e deveres pelos quais lutaram sem vencer, só porque agora lhes permitem vencer sem lutar.”
Apoiou o Movimento Nacional-Sindicalista (1932-1935) dirigido por Francisco Rolão Preto e Alberto Monsaraz, derradeira organização política dos integralistas visando a restauração de uma representação política municipal e corporacionista (distinta do corporativismo estatal do Estado Novo) inspirada nas liberdades da antiga monarquia portuguesa.
Em 1932, após a morte de D. Manuel II sem descendência, todos os organismos monárquicos existentes juntaram-se na Causa de D. Duarte Nuno, proclamando-o Chefe da Casa de Bragança e herdeiro do trono de Portugal. O Estado Novo de Oliveira Salazar, porém, não o reconhecendo como tal, apropriou-se dos bens da Casa de Bragança, instituindo com eles uma Fundação sob o controlo do governo da República. Almeida Braga subscreveu então, com José Augusto Vaz Pinto e Simeão Pinto de Mesquita, e sob o aval dos jurisconsultos Domingos Pinto Coelho e António Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães, um parecer contestando a decisão. A tese de Almeida Braga, e daqueles juristas, era a de que, não tendo sido extinto o morgadio da Casa de Bragança e mercê da morte sem descendência de D. Manuel II, deveriam os bens da mesma Casa transitar para a posse e gestão de D. Duarte Nuno, o novo Duque de Bragança e Chefe da Casa Real portuguesa.
Em Abril de 1945, escrevia no Prefácio de uma nova edição da obra Da instituição real e sua disciplina de Jerónimo Osório: “Nenhuma dúvida haverá de que, perdida a solidariedade das nações, vão todas perdendo a direcção. Errado o govêrno dos povos, a desordem atinge as mais ocultas raízes da inteligência. Nada está seguro. Vacila a fé como pavio de candeia exposta ao vento em noite procelosa, e a si mesma, obscurecida, a razão se contraria e nega.”
Em 1949, Almeida Braga apoiou a candidatura do general Norton de Matos à presidência da República, sendo nesse ano irradiado, com Vieira de Almeida, da Causa Monárquica. Em 1950, subscreveu uma actualização doutrinária intitulada "Portugal restaurado pela Monarquia". A sua intransigente oposição ao Estado Novo não esmoreceu e, em 1951, voltou a apoiar uma candidatura de oposição a Oliveira Salazar, dessa vez em torno de Quintão Meireles.
O seu papel no reagrupar e na mobilização das jovens gerações integralistas contra o salazarismo foi decisivo nas décadas seguintes: incentivou a constituição do Movimento dos Monárquicos Independentes, em 1957; apoiou Rolão Preto, Mário Saraiva e Barrilaro Ruas no lançamento do movimento da "Renovação Portuguesa" e da "Biblioteca do Pensamento Político", em torno da qual se vieram a juntar Manoel Galvão, Jacinto Ferreira, Pacheco de Castro, Sá Perry-Vidal, entre outros.
Apoiou e promoveu, com Rolão Preto, a candidatura do general Humberto Delgado à presidência da República, proferindo então um célebre libelo contra o Estado Novo, em entrevista concedida ao Diário de Lisboa, publicada em 30 de Maio de 1958:
… acuso o Estado Novo de ter desvirtuado a doutrina corporativa, tornando-a uma grosseira teia de burocratas opíparos e de fiscais demagogos, que dificultam o trabalho em vez de o facilitar;
acuso-o de ter aniquilado o que restava das antigas liberdades municipais;
acuso-o de ter instituído uma censura permanente, irresponsável e absurda;
acuso-o de ter autorizado que os presos sejam agredidos, desde que se anunciou a utilidade dos “safanões a tempo”;
acuso-o de ter exagerado as tributações para empregar esse dinheiro, que é verdadeiro sangue, em obras espalhafatosas e falsas propagandas de merecimentos pessoais;
acuso-o de em tantas oportunidades fáceis ter desprezado a terra cativa de Olivença, ao contrário do generalíssimo Franco, que sem descanso reclama Gibraltar;
acuso-o de ter falseado o texto da Constituição, impossibilitando a honrada convivência dos Portugueses;
acuso-o de não ter sabido estruturar o ensino de modo a formar homens com o gosto forte da iniciativa e da independência mental;
acuso-o de construir edifícios excessivamente luxuosos para quartéis, quando mais importava instruir quadros e efectivos de sólida moral, inteiramente libertos de influências que não sejam de carácter técnico e ético militares;
acuso-o de ter criado entre nós o culto nietzcheano do super-homem;
acuso-o de ter estabelecido o Partido Único, - invenção danada do comunismo -, e de com ele e por ele embaraçar a solução do problema político português! (...)
A Legião corresponde à Guarda Vermelha da Rússia comunista: é a milícia do Partido Único. Puramente de traça e acção comunista é a chamada «União Nacional», a que não falta nenhum dos caracteres de partido único, por mais que os apaniguados, com palavras vãs, se consumam a negá-lo. Reconheceu-o o insuspeito Mihaïl Manoïlesco em seu exacto livro Le Parti Unique. (...) Manoïlesco é autor muito escutado e louvado nos nossos meios governamentais, que lhe pediram a lição contida no volume intitulado Le Siècle du Corporatisme. Perguntando o que é partido único, ele próprio respondeu: - C’est un parti politique ayant seul - de fait e de droit - la liberté d’action politique dans un pays et constituant, ainsi, une institution fondamentale du régime. Depois, mostrando que o partido único se manifestou de maneira sensivelmente análoga na Itália e na Alemanha, na Rússia e na Turquia, o professor Manoïlesco apresenta a «União Nacional» como exemplo acabado de partido único. A «União Nacional» não tem o monopólio legal da acção política, mas tem o monopólio de facto. (...)
Democracia! A mais prostituída das palavras em todas as línguas, nos tristes dias de agora!
São democratas os comunistas, são democratas os fiéis aos descaídos princípios da Revolução Francesa de 89, e são democratas os jacobinos totalitários: Hitler e Mussolini.
Há a democracia formalista e a democracia orgânica,
a democracia personalista e a democracia histórica da Suissa,
há a democracia dos países monárquicos do Norte da Europa e a democracia turbulenta das repúblicas sul-americanas,
há a democracia política e a democracia social,
a democracia legalista, tradicionalista, espiritualista da Inglaterra
e a democracia racionalista, arbitrária e invejosa,
a democracia cristã e a democracia anticristã, - que sei eu... (...)
Na bela definição de Ortega y Gasset, a essência da democracia é o diálogo com o adversário. Mas este diálogo não o autorizam as leis vigentes. E eu tenho que deixar de ser homem, o homem que renuncia à livre expressão do seu pensamento, à liberdade da palavra escrita. Porque reivindico as responsabilidades na criação e na divulgação da doutrina que alimentou esses que grosseiramente a deturparam para melhor a trair, me insurjo e revolto contra tanta confusão e tanto ludíbrio."
O pensamento político português foi enriquecido com o seus estudos e edições dos clássicos, entre outros: Jerónimo Osório, Frei João dos Prazeres, José da Gama e Castro. Almeida Braga foi um exímio evocador do passado (v.g. em Das Corporações do Trabalho em Portugal, Miguel de Vasconcelos e D. Jerónimo Osório), escrevendo também sobre o objecto da História e a função do historiador:
“O objecto essencial da História consiste em despertar a memória colectiva nas memórias individuais, suscitando a solidariedade das consciências no presente pela recordação do passado comum. Mas para que bem se estreite essa dupla solidariedade dos vivos com os mortos e dos vivos entre si, tudo há-de ser autêntico no inventário das eras extintas.” E adiante: “Da ciência não deve querer a História mais do que o espírito com que é criada: o respeito dos factos, a prudência, não avançando conclusões sem demorada análise, a possível imparcialidade, o receio de generalizar, a distinção do que é geral do acidental. Enquanto reúne os materiais de que há-de servir-se, e os escolhe, e pesa, e os medita, pode o historiador ser apenas erudito ou crítico; mas quando chega o momento de trasladar ao papel o que observou e colheu, não deve ser mais do que um artista, rendido à beleza estatuária da História. E porque a vida humana é um drama, as serenas virtudes da investigação científica têm de ceder à compreensão das paixões defuntas, para que seja verdade o que é verosímil.” (...) “História útil é só aquela onde a nua verdade ensina, para os corrigir ou evitar, erros e defeitos.” (Espada ao Sol, pp. 85, 109-111).
As suas obras oferecem-nos páginas memoráveis, cobrindo uma grande variedade de temas: jurídicos, em defesa do latim, das nossas instituições, tradições, inclusive sobre a escrita e o ofício do escritor.
Em Paixão e graça da terra, deplorou “a deformação das palavras castiças, o abuso do estrangeirismo estridente e inútil, o emprego absurdo das preposições, a introdução de sons estranhos à música da língua”, acabando por concluir que "se um povo escravo souber conservar o amor da sua língua terá sempre consigo o segredo da sua própria liberdade."
E Luís de Almeida Braga deveras amou a "Língua Portuguesa, trilo de ave no fino azul e trovão que abala o céu; meiga e brava, que ora se roja como as ondas na areia – quando soluça e chora, ora como as ondas se alevanta e encrespa – quando ruge, amaldiçoa ou ameaça! Veio-lhe do arfar das naus a cadência lânguida, e o mar lhe pegou o cheiro que tem a algas e sargaço. Fogosa como corcel de batalha e dócil como o vime. Urdida na penumbra das ramadas e bordada sob laranjeiras em flor, é branda e cândida, boa para confessar baixinho segredos do coração e o abrir e abrasar em arroubos místicos.”“Língua em que o sol se namorou da névoa e criou a neblina para ensinar o gosto musical das palavras, que mais do que dizem deixam adivinhar. Língua de esmeraldas e madrepérolas, a mais terna entre todas e a mais linda, como não amar-te…” («Na manhã das Profecias», in Paixão e graça da terra, 3.ª ed., pp. 338-339).
J.M.Q.
Bibliografia
1916 - O culto da tradição.
1916 - Pão alheio.
1918 - O Mar Tenebroso.
1921 - O sentimento nacionalista.
1923 - O significado nacional da obra de Camilo.
1930 - Ao serviço da terra.
1930 - Caridade de Pátria.
1932 - Paixão e graça da terra.
1933 - "Em signo de Latim", Introdução a Aubrey F. G. Bell, O Humanista D. Jerónimo Osório.
1940 - Grandeza e misérias do Bom Jesus do Monte;
1942 - Sob o pendão real.
1943 - Posição de António Sardinha.
1943 - "À porta da aula de Fr. João dos Prazeres", estudo introdutório em Abecedário real de Frei João dos Prazeres.
1944 - Prefácio a Henrique de Paiva Couceiro, Profissão de Fé – Lusitânia Transformada.
1944 - Revolta da inteligência.
1945 - Prefácio a D. Jerónimo Osório, Da Instituição Real e Sua Disciplina.
1948 - Dom João Valera e as letras portuguesas do seu tempo.
1949 - Lunário sentimental.
1951 - "Evocação de António Sardinha", Tribuna de Petrópolis, Ano III, nº 21, Abril de 1951, pp. 1 e 5.
1954 - Nuvens sobre o deserto
1959 - Loa do vinho verde.
1969 - Espada ao sol.
Bibliografia passiva
1916 - António Sardinha - No jardim da Raça
1986 - Henrique Barrilaro Ruas, «A figura e a obra de Luís de Almeida Braga», Diário de Notícias, ed. 23 de Setembro de 1986, p. 8.
1994 - António Manuel Couto Viana, "Luís de Almeida Braga", Colegial de Letras e Lembranças, Lisboa, Universitária, 1994, pp. 221-222.
2009 - Maria Gonçalves, Nação e Portugalidade na obra literária de Luís de Almeida Braga, Dissertação de Mestrado em Estudos Literários, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009.
2015 - Gonçalo Sampaio e Mello - "Luís de Almeida Braga ou o elogio da derrota", RJLB, Ano 1, nº 3, pp. 735-781.
O pai, Carlos de Almeida Braga, advogado e político, foi Governador Civil de Aveiro; o avô deste, Cons. Francisco Xavier de Sousa Torres e Almeida, foi jurisconsulto de renome; o tio-avô, Joaquim Januário de Sousa Torres e Almeida, foi colega de curso de José Luciano de Castro, Barjona de Freitas, Gama Barros, Soares de Passos. Sendo Procurador-Geral da Fazenda, trocou correspondência com Alexandre Herculano; um outro parente colateral, João Joaquim de Almeida Braga, distinguiu-se como autor católico, em obras como O Christianismo e o Seculo (1864) Jesus Christo perante o Seculo (1865), O Prestigio das Palavras. As propriedades da família ficavam em Tadim (Casa das Quintães), Gondarém (Quinta do Outeiral) e Vila Verde (Pico de Regalados).
Luís de Almeida Braga fez os estudos secundários no Colégio do Espírito Santo, em Braga. Em 1908, está entre os subscritores de uma mensagem dos professores e estudantes de Coimbra de apoio ao novo rei D. Manuel II, após o assassinato de seu pai, o rei D. Carlos, e de seu irmão, o príncipe D. Luís Filipe. Em Coimbra, Almeida Braga estreou-se nas lides jornalísticas e políticas, ao dirigir o semanário académico monárquico Pátria Nova, mas interrompeu os seus estudos de Direito para se juntar aos voluntários que, a partir da Galiza, sob o comando de Paiva Couceiro, desencadearam as incursões monárquicas de 1911-1912. O seu irmão Joaquim, bem como o seu pai, Carlos de Almeida Braga, participaram nos combates. Joaquim Leitão, numa das suas minuciosas obras acerca das incursões monárquicas, relatou uma circunstância em que Luís Braga chegou a arriscar a vida:
“De Chaves, estribados nas reservas de Montalegre, não cessava o despejar de balas e granadas. O tenente Caio, rijamente atacado pela direita, querendo resistir ainda, manda o ajudante Luiz d’Almeida Braga ao chefe do Estado Maior, a pedir reforços. O bravo ajudante, para ir ao Quartel General, tinha de fazer uma marcha penosa e longa, por um terreno aspero, onde se erguiam ainda os pés duros do milho ceifado de fresco. Esse campo estava vasio. Só elle nesse instante, o atravessava. Uma chuva de balas caía junto do emissário. Ao baterem na terra erguiam nuvensinhas de poeira, pequeninos vulcões: - era como se a terra espirrasse. Do alto do môrro, o irmão Joaquim e Domingos (Fezas) Vital seguiam-no anciosamente, angustiosamente. Os dois fraternos camaradas viam perfeitamente que o Luiz estava sendo alvejado pelos tiros de Chaves. Nisto, elle atingiu o muro que corria ao fundo do campo. Abrigou se com elle, desapparecendo à vista do irmão e do amigo. Joaquim d’Almeida Braga cuidou o Luiz attingido pelas balas inimigas e numa voz dulcissima, em que já não cabia ódio e havia só saudade, murmurou: - “Lá m’o mataram!” Mas Luiz Braga volta d’ahi a pouco, vivo e ileso, com a resposta do Estado Maior: retirar. E o tenente Caio retira...” (Joaquim Leitão, O Ataque a Chaves, Porto, 1916, pp. 172-173; citado por Gonçalo Sampaio e Mello, "Luís de Almeida Braga", 2015).
Os combatentes monárquicos foram derrotados e dispersos pelo Governo Espanhol, vindo Almeida Braga a integrar o grupo de emigrados que seguiu para o exílio na Bélgica. Em Espanha, teve contacto com a renovação doutrinária do Carlismo de Vasquez de Mella, vindo depois a frequentar os círculos do sindicalismo católico na Bélgica, onde estudou nas Universidades de Bruxelas e de Gand. E foi na Bélgica que veio a fundar a revista Alma Portuguesa (Louvain, 1913), na qual cunhou a expressão "Integralismo Lusitano" em reacção ao movimento dos republicanos portuenses da "Nova Renascença" (1912). Voltou a Portugal em 1914, mas não chegando a tempo de participar, em Abril, no lançamento da revista de filosofia política do Integralismo Lusitano - a Nação Portuguesa. No início do Verão desse ano estava por fim em Portugal, retomando os seus estudos de Direito na Universidade de Coimbra, onde veio a ser presidente do Centro Monárquico Académico, Em 1915, o Integralismo Lusitano realizou uma série de conferências sobre a Questão Ibérica na Liga Naval, em Lisboa, sendo-lhe atribuída a conferência de encerramento. Na véspera, as instalações da Liga Naval foram assaltadas e destruídas, na sequência do golpe de Estado de Afonso Costa, não permitindo que Almeida Braga apresentasse "A lição dos factos", onde se apresentava a longa experiência histórica da afirmação da individualidade portuguesa em face da Espanha.
Em 1916, publicou Pão Alheio, suscitando o texto No jardim da Raça, onde António Sardinha identifica o Integralismo Lusitano como o "filho de Ramires". Nesse ano, os integralistas publicaram um volume com as conferências da Liga Naval acerca da Questão Ibérica, e Almeida Braga concluiu a sua licenciatura em Direito. Com a entrada de Portugal na Grande Guerra, o Integralismo transformou-se em organização política, com Almeida Braga integrando o seu orgão de direcção - a Junta Central.
Na primeira série da revista Nação Portuguesa, Luís de Almeida Braga publicou: Sindicalismo e Republica e A lição d' Olivença (nº 5, Novembro de 1914); Do espírito da Democracia (nº 9, Outubro de 1915); Tradição e Nacionalidade (n.º 10, Dezembro de 1915); Da renascença do Tradicionalismo na Arte e na Politica (n.º 12, Novembro de 1916). A partir de 1917 foi também colaborador assíduo do jornal A Monarquia - Diário Integralista da Tarde.
Em 1919, voltou para o exílio por ter tomado parte, como secretário de Paiva Couceiro, na restauração da "Monarquia do Norte". Saindo para Espanha, esteve em Madrid, encontrando-se com António Sardinha e Alberto de Monsaraz, tirando uma famosa fotografia com a bandeira azul e branca em fundo, seguindo depois para Paris. Em Setembro de 1919, viajou com José Pequito Rebelo para Inglaterra, para virem a ser recebidos em audiência por D. Manuel II, o que ocorreu por duas vezes: em 16 de Setembro (Eastbourne) e em 28 (Fulwell Park - residência particular do monarca). Na sequência de tais encontros foi tornado público um extenso relatório subscrito por ambos, mas todo ou quase todo escrito por Almeida Braga. A ruptura dos integralistas com D. Manuel II ocorreu em Outubro de 1919.
Em Julho de 1920, Almeida Braga viajou com D. João de Almeida e Alberto Monsaraz para a Alemanha. No Grão-Ducado de Baden, em Bronnbach, visitaram o príncipe exilado D. Miguel II (filho do rei D. Miguel I de Portugal), pai de D. Duarte Nuno (que virá a ser o herdeiro do trono após a morte de D. Manuel II, em 1932, sem descendência) e avô de D. Duarte Pio, Duque de Bragança, actual herdeiro do trono de Portugal. Feito o reconhecimento de D. Duarte Nuno como pretendente ao trono de Portugal, juntando os integralistas e os legitimistas numa frente comum através do Acordo de Bronnbach, Luís de Almeida Braga viajou depois para a América do Sul, visitando o Brasil - onde proferiu conferências em São Paulo e no Rio de Janeiro -, o Uruguai e a Argentina, onde virá a casar em 1921, em Buenos Aires, com a violinista Concepción Buenaventura Pascual. As palestras proferidas no Brasil, em 1921, tiveram eco na revista Nação Portuguesa: "Um Embaixador do Integralismo" (nº 9, Março de 1923); "Das Belas Letras Brasileiras" (nº 11, 1923).
No retorno a Portugal, exercerá advocacia em Braga. Em Abril de 1922, deslocou-se com Alberto Monsaraz a Paris para subscrever um acordo político celebrado entre defensores do príncipe D. Duarte Nuno de Bragança e do rei D. Manuel II, o chamado "Pacto de Paris", que veio a ser denunciado em 1925.
Em Setembro de 1928, Almeida Braga deslocou-se a Pau, em França, na companhia do seu irmão Joaquim, de Hipólito Raposo, Rolão Preto, Mário Cardia, D. João de Almeida, entre outros, para assinalar a maioridade política de D. Duarte Nuno de Bragança, ao celebrar 21 anos. Estiveram também presentes, além do príncipe, D. Maria Teresa de Bragança, sua mãe, e D. Aldegundes de Bragança, sua tia e tutora política. A cerimónia decorreu na residência francesa dos duques de Cadaval. Recorde-se que os descendentes do rei D. Miguel, se encontravam exilados no estrangeiro por força da Carta de Lei de 19 de Dezembro de 1834.
Em 1932, fundou e dirigiu, com Hipólito Raposo, a revista Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses (1932-1934) onde, na frente político-cultural e literária, os integralistas fizeram a sua demarcação do Estado Novo e da Salazarquia, a que muitos monárquicos aderiram, sob vários pretextos e disfarces: "Pelo que respeita aos monárquicos, a aliciação por meio dos benefícios materiais concedidos ou esperados do Tesouro, disfarça-se nas desculpas do mal menor, do que vier é pior, trocando-se a fidelidade do direito pelo facto, a razão política pelo interesse privado, o que deve ser pelo que é, o futuro definitivo pelo presente incerto, precário e caduco. Homens, ideias, factos e símbolos da República já não provocam repulsa a monárquicos de responsabilidades políticas, morais e doutrinárias, que gostosamente vão abandonando princípios, posições e deveres pelos quais lutaram sem vencer, só porque agora lhes permitem vencer sem lutar.”
Apoiou o Movimento Nacional-Sindicalista (1932-1935) dirigido por Francisco Rolão Preto e Alberto Monsaraz, derradeira organização política dos integralistas visando a restauração de uma representação política municipal e corporacionista (distinta do corporativismo estatal do Estado Novo) inspirada nas liberdades da antiga monarquia portuguesa.
Em 1932, após a morte de D. Manuel II sem descendência, todos os organismos monárquicos existentes juntaram-se na Causa de D. Duarte Nuno, proclamando-o Chefe da Casa de Bragança e herdeiro do trono de Portugal. O Estado Novo de Oliveira Salazar, porém, não o reconhecendo como tal, apropriou-se dos bens da Casa de Bragança, instituindo com eles uma Fundação sob o controlo do governo da República. Almeida Braga subscreveu então, com José Augusto Vaz Pinto e Simeão Pinto de Mesquita, e sob o aval dos jurisconsultos Domingos Pinto Coelho e António Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães, um parecer contestando a decisão. A tese de Almeida Braga, e daqueles juristas, era a de que, não tendo sido extinto o morgadio da Casa de Bragança e mercê da morte sem descendência de D. Manuel II, deveriam os bens da mesma Casa transitar para a posse e gestão de D. Duarte Nuno, o novo Duque de Bragança e Chefe da Casa Real portuguesa.
Em Abril de 1945, escrevia no Prefácio de uma nova edição da obra Da instituição real e sua disciplina de Jerónimo Osório: “Nenhuma dúvida haverá de que, perdida a solidariedade das nações, vão todas perdendo a direcção. Errado o govêrno dos povos, a desordem atinge as mais ocultas raízes da inteligência. Nada está seguro. Vacila a fé como pavio de candeia exposta ao vento em noite procelosa, e a si mesma, obscurecida, a razão se contraria e nega.”
Em 1949, Almeida Braga apoiou a candidatura do general Norton de Matos à presidência da República, sendo nesse ano irradiado, com Vieira de Almeida, da Causa Monárquica. Em 1950, subscreveu uma actualização doutrinária intitulada "Portugal restaurado pela Monarquia". A sua intransigente oposição ao Estado Novo não esmoreceu e, em 1951, voltou a apoiar uma candidatura de oposição a Oliveira Salazar, dessa vez em torno de Quintão Meireles.
O seu papel no reagrupar e na mobilização das jovens gerações integralistas contra o salazarismo foi decisivo nas décadas seguintes: incentivou a constituição do Movimento dos Monárquicos Independentes, em 1957; apoiou Rolão Preto, Mário Saraiva e Barrilaro Ruas no lançamento do movimento da "Renovação Portuguesa" e da "Biblioteca do Pensamento Político", em torno da qual se vieram a juntar Manoel Galvão, Jacinto Ferreira, Pacheco de Castro, Sá Perry-Vidal, entre outros.
Apoiou e promoveu, com Rolão Preto, a candidatura do general Humberto Delgado à presidência da República, proferindo então um célebre libelo contra o Estado Novo, em entrevista concedida ao Diário de Lisboa, publicada em 30 de Maio de 1958:
… acuso o Estado Novo de ter desvirtuado a doutrina corporativa, tornando-a uma grosseira teia de burocratas opíparos e de fiscais demagogos, que dificultam o trabalho em vez de o facilitar;
acuso-o de ter aniquilado o que restava das antigas liberdades municipais;
acuso-o de ter instituído uma censura permanente, irresponsável e absurda;
acuso-o de ter autorizado que os presos sejam agredidos, desde que se anunciou a utilidade dos “safanões a tempo”;
acuso-o de ter exagerado as tributações para empregar esse dinheiro, que é verdadeiro sangue, em obras espalhafatosas e falsas propagandas de merecimentos pessoais;
acuso-o de em tantas oportunidades fáceis ter desprezado a terra cativa de Olivença, ao contrário do generalíssimo Franco, que sem descanso reclama Gibraltar;
acuso-o de ter falseado o texto da Constituição, impossibilitando a honrada convivência dos Portugueses;
acuso-o de não ter sabido estruturar o ensino de modo a formar homens com o gosto forte da iniciativa e da independência mental;
acuso-o de construir edifícios excessivamente luxuosos para quartéis, quando mais importava instruir quadros e efectivos de sólida moral, inteiramente libertos de influências que não sejam de carácter técnico e ético militares;
acuso-o de ter criado entre nós o culto nietzcheano do super-homem;
acuso-o de ter estabelecido o Partido Único, - invenção danada do comunismo -, e de com ele e por ele embaraçar a solução do problema político português! (...)
A Legião corresponde à Guarda Vermelha da Rússia comunista: é a milícia do Partido Único. Puramente de traça e acção comunista é a chamada «União Nacional», a que não falta nenhum dos caracteres de partido único, por mais que os apaniguados, com palavras vãs, se consumam a negá-lo. Reconheceu-o o insuspeito Mihaïl Manoïlesco em seu exacto livro Le Parti Unique. (...) Manoïlesco é autor muito escutado e louvado nos nossos meios governamentais, que lhe pediram a lição contida no volume intitulado Le Siècle du Corporatisme. Perguntando o que é partido único, ele próprio respondeu: - C’est un parti politique ayant seul - de fait e de droit - la liberté d’action politique dans un pays et constituant, ainsi, une institution fondamentale du régime. Depois, mostrando que o partido único se manifestou de maneira sensivelmente análoga na Itália e na Alemanha, na Rússia e na Turquia, o professor Manoïlesco apresenta a «União Nacional» como exemplo acabado de partido único. A «União Nacional» não tem o monopólio legal da acção política, mas tem o monopólio de facto. (...)
Democracia! A mais prostituída das palavras em todas as línguas, nos tristes dias de agora!
São democratas os comunistas, são democratas os fiéis aos descaídos princípios da Revolução Francesa de 89, e são democratas os jacobinos totalitários: Hitler e Mussolini.
Há a democracia formalista e a democracia orgânica,
a democracia personalista e a democracia histórica da Suissa,
há a democracia dos países monárquicos do Norte da Europa e a democracia turbulenta das repúblicas sul-americanas,
há a democracia política e a democracia social,
a democracia legalista, tradicionalista, espiritualista da Inglaterra
e a democracia racionalista, arbitrária e invejosa,
a democracia cristã e a democracia anticristã, - que sei eu... (...)
Na bela definição de Ortega y Gasset, a essência da democracia é o diálogo com o adversário. Mas este diálogo não o autorizam as leis vigentes. E eu tenho que deixar de ser homem, o homem que renuncia à livre expressão do seu pensamento, à liberdade da palavra escrita. Porque reivindico as responsabilidades na criação e na divulgação da doutrina que alimentou esses que grosseiramente a deturparam para melhor a trair, me insurjo e revolto contra tanta confusão e tanto ludíbrio."
O pensamento político português foi enriquecido com o seus estudos e edições dos clássicos, entre outros: Jerónimo Osório, Frei João dos Prazeres, José da Gama e Castro. Almeida Braga foi um exímio evocador do passado (v.g. em Das Corporações do Trabalho em Portugal, Miguel de Vasconcelos e D. Jerónimo Osório), escrevendo também sobre o objecto da História e a função do historiador:
“O objecto essencial da História consiste em despertar a memória colectiva nas memórias individuais, suscitando a solidariedade das consciências no presente pela recordação do passado comum. Mas para que bem se estreite essa dupla solidariedade dos vivos com os mortos e dos vivos entre si, tudo há-de ser autêntico no inventário das eras extintas.” E adiante: “Da ciência não deve querer a História mais do que o espírito com que é criada: o respeito dos factos, a prudência, não avançando conclusões sem demorada análise, a possível imparcialidade, o receio de generalizar, a distinção do que é geral do acidental. Enquanto reúne os materiais de que há-de servir-se, e os escolhe, e pesa, e os medita, pode o historiador ser apenas erudito ou crítico; mas quando chega o momento de trasladar ao papel o que observou e colheu, não deve ser mais do que um artista, rendido à beleza estatuária da História. E porque a vida humana é um drama, as serenas virtudes da investigação científica têm de ceder à compreensão das paixões defuntas, para que seja verdade o que é verosímil.” (...) “História útil é só aquela onde a nua verdade ensina, para os corrigir ou evitar, erros e defeitos.” (Espada ao Sol, pp. 85, 109-111).
As suas obras oferecem-nos páginas memoráveis, cobrindo uma grande variedade de temas: jurídicos, em defesa do latim, das nossas instituições, tradições, inclusive sobre a escrita e o ofício do escritor.
Em Paixão e graça da terra, deplorou “a deformação das palavras castiças, o abuso do estrangeirismo estridente e inútil, o emprego absurdo das preposições, a introdução de sons estranhos à música da língua”, acabando por concluir que "se um povo escravo souber conservar o amor da sua língua terá sempre consigo o segredo da sua própria liberdade."
E Luís de Almeida Braga deveras amou a "Língua Portuguesa, trilo de ave no fino azul e trovão que abala o céu; meiga e brava, que ora se roja como as ondas na areia – quando soluça e chora, ora como as ondas se alevanta e encrespa – quando ruge, amaldiçoa ou ameaça! Veio-lhe do arfar das naus a cadência lânguida, e o mar lhe pegou o cheiro que tem a algas e sargaço. Fogosa como corcel de batalha e dócil como o vime. Urdida na penumbra das ramadas e bordada sob laranjeiras em flor, é branda e cândida, boa para confessar baixinho segredos do coração e o abrir e abrasar em arroubos místicos.”“Língua em que o sol se namorou da névoa e criou a neblina para ensinar o gosto musical das palavras, que mais do que dizem deixam adivinhar. Língua de esmeraldas e madrepérolas, a mais terna entre todas e a mais linda, como não amar-te…” («Na manhã das Profecias», in Paixão e graça da terra, 3.ª ed., pp. 338-339).
J.M.Q.
Bibliografia
1916 - O culto da tradição.
1916 - Pão alheio.
1918 - O Mar Tenebroso.
1921 - O sentimento nacionalista.
1923 - O significado nacional da obra de Camilo.
1930 - Ao serviço da terra.
1930 - Caridade de Pátria.
1932 - Paixão e graça da terra.
1933 - "Em signo de Latim", Introdução a Aubrey F. G. Bell, O Humanista D. Jerónimo Osório.
1940 - Grandeza e misérias do Bom Jesus do Monte;
1942 - Sob o pendão real.
1943 - Posição de António Sardinha.
1943 - "À porta da aula de Fr. João dos Prazeres", estudo introdutório em Abecedário real de Frei João dos Prazeres.
1944 - Prefácio a Henrique de Paiva Couceiro, Profissão de Fé – Lusitânia Transformada.
1944 - Revolta da inteligência.
1945 - Prefácio a D. Jerónimo Osório, Da Instituição Real e Sua Disciplina.
1948 - Dom João Valera e as letras portuguesas do seu tempo.
1949 - Lunário sentimental.
1951 - "Evocação de António Sardinha", Tribuna de Petrópolis, Ano III, nº 21, Abril de 1951, pp. 1 e 5.
1954 - Nuvens sobre o deserto
1959 - Loa do vinho verde.
1969 - Espada ao sol.
Bibliografia passiva
1916 - António Sardinha - No jardim da Raça
1986 - Henrique Barrilaro Ruas, «A figura e a obra de Luís de Almeida Braga», Diário de Notícias, ed. 23 de Setembro de 1986, p. 8.
1994 - António Manuel Couto Viana, "Luís de Almeida Braga", Colegial de Letras e Lembranças, Lisboa, Universitária, 1994, pp. 221-222.
2009 - Maria Gonçalves, Nação e Portugalidade na obra literária de Luís de Almeida Braga, Dissertação de Mestrado em Estudos Literários, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009.
2015 - Gonçalo Sampaio e Mello - "Luís de Almeida Braga ou o elogio da derrota", RJLB, Ano 1, nº 3, pp. 735-781.
Antologia
“De todas as formas de governo é o governo monárquico o de mais flexibilidade, de mais elasticidade, o que melhor se ajusta, sem nada perder da sua natureza, às novidades do tempo, que incessantemente alteram e transformam as criações humanas.”
“Para países como Portugal, que não subsistiram apenas sob o regime natural monárquico mas em que juntamente nasceram o país e o regime, a Monarquia é a condição indispensável de vida certa. A nação portuguesa formou-se com a Monarquia, de modo que a história da Monarquia é a própria história de Portugal, a história das instituições, das leis, dos costumes portugueses.”
“Não há organismo vivo que possa manter existência sã e normal senão sujeitando-se às leis que presidiram ao seu nascimento.”
(A Revolta da Inteligência, 1944, pp. 13-14, 58-59)
“A República é sempre igual a si mesma, quer se apresente sob a forma parlamentar, quer se confie a um poder ditatorial, quer aperte as malhas de ouro da armadura corporativa. É sempre a desordem nas ideias, quando a não é igualmente nas ruas; a improvisação, que gera a incompetência; a descontinuidade no esforço útil; o predomínio constante dos interesses particulares sobre o interesse público.”
(«À porta da aula de Fr. João dos Prazeres», Abecedário Real, 1943, pp. XXVI, XXIX).
“Sob a afirmação de que a forma política do Estado é indiferente e homens honrados bastam à frente do Estado para o bem do Estado, acobertam-se os últimos partidários envergonhados do regime republicano. E temerosos de que, por as suas palavras e os seus actos não se conformarem com os seus íntimos sentimentos, venham a ser acusados de duplicidade, pretendem conservar a contextura da República, declaram a República intangível, e embaraçam-se na solução a dar a todas as questões que no fundo afectam a própria essência do regime, a sua doutrina filosófica e religiosa, moral e social.”
(«À porta da aula de Fr. João dos Prazeres», Abecedário Real , 1943, p. XXVII)
Pelo que respeita aos monárquicos, a aliciação por meio dos benefícios materiais concedidos ou esperados do Tesouro, disfarça-se nas desculpas do mal menor, do
que vier é pior, trocando-se a fidelidade do direito pelo facto, a razão política pelo interesse privado, o que deve ser pelo que é, o futuro definitivo pelo presente incerto, precário e caduco. Homens, ideias, factos e símbolos da República já não provocam repulsa a monárquicos de responsabilidades políticas, morais e doutrinárias, que gostosamente vão abandonando princípios, posições e deveres pelos quais lutaram sem vencer, só porque agora lhes permitem vencer sem lutar.”
(Almeida Braga e Hipólito Raposo, in Integralismo Lusitano – Estudos Portugueses, vol. II, fasc. XII, Março de 1934, pp. 687-688)
In memorian
“...Foi num trabalho de destrinça e de ordenação (Mário Saraiva editou a sua derradeira obra, Espada ao Sol) que me foi dado penetrar no íntimo e derradeiro labor espiritual de Luís de Almeida Braga e apreciar o apuro que o guiava através das emendas sobrepostas nas páginas dactilografadas, e de notas juntas, adrede tomadas em fragmentos de papel (até bilhetes de eléctricos e margens dos jornais), quando por fora de casa se lembrava de rectificar ou aperfeiçoar qualquer expressão já escrita. Então, nas bem encontradas transposições de palavras e na substituição, em crescendo, de adjectivos e de verbos, tornou-se-me evidente o permanente esforço que o dominava de melhorar a forma em procura da perfeição. Via-se que, como artista, Luís de Almeida Braga manobrava os termos na ânsia manifesta de alcançar a beleza. Até a sonoridade o preocupava e aí compreendi bem que não foi sem justo motivo que escolheu para título de outro volume a publicar o de Música Aparente. De facto, encontram-se em muitas páginas suas verdadeiros trechos musicais, pela harmonia orquestral que se desprende da sua leitura. Não me sai da lembrança aquele extraordinário e emocionante prefácio que acompanha o não menos emocionante poema de António Sardinha Roubo de Europa...”
(Mário Saraiva, «O Testamento Político de Luís de Almeida Braga», in Consciência Nacional, n.º 137, Junho de 1987, p. 2 e Em Tempo de Mudança, Lisboa, 1992, p. 222).
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