Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, foi uma revista dirigida por Luís de Almeida Braga e Hipólito Raposo, membros da Junta Central do Integralismo Lusitano, publicada em 2 Volumes, com 12 Fascículos cada, de Abril de 1932 a Março de 1934.
Este periódico veio substituir a revista Nação Portuguesa que, em 1928, ficara nas mãos de dissidentes do Integralismo Lusitano, em ruptura assumida perante a Junta Central.
Esta foi a última publicação periódica fundada e dirigida pela primeira geração do Integralismo Lusitano, aqui em crescente rejeição e combate ao Salazarismo e à Salazarquia.
Este periódico veio substituir a revista Nação Portuguesa que, em 1928, ficara nas mãos de dissidentes do Integralismo Lusitano, em ruptura assumida perante a Junta Central.
Esta foi a última publicação periódica fundada e dirigida pela primeira geração do Integralismo Lusitano, aqui em crescente rejeição e combate ao Salazarismo e à Salazarquia.
Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. I, Fasc. I, Sumário. No final pode ler-se: "Destinando-se esta publicação a reunir e divulgar elementos de estudo para a reconstrução nacional em todos os aspectos, a colaboração técnica ou crítica que lhe seja dada, não importa, por si, a aceitação da doutrina do Integralismo Lusitano, nem traduz qualquer solidariedade com a sua organização política."
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Ao sopro dos ventos desta monção funesta, vão caindo torres de mentiras e de títulos falsos, arrastando para o abismo as vãs reputações das piratarias dos bancos.
Os que aceitaram os ditames de inteligência e de moral que nos guiam, não se deslumbraram com os fulgores do oiro da jogatina, nem agora velam as faces de vergonha ou cobrem a cabeça das cinzas da penitência.
Fáceis profetas em nossa terra, por longas e exasperadas cominatórias, espectadores da ruina dos que ganharam milhões e perderam a honra, enquanto os exaltavam jornalistas sem independência, em gazetas de comércio – contemplamos nos escombros que aí avultam, as sanções daquela justiça imanente que não deixa de ferir a política sem dignidade, à sombra das leis sem moral.
Não nos alegram as desventuras e as misérias, mas chegou a hora de celebrar a justificação com que sempre fulminámos os vícios e abusos do dinheiro na aliança dos plutocratas de todas as cores com a Democracia Política de todos os partidos. O século XX tem de repudiar uma herança maldita, esse brilho metálico de um falso progresso que foi crestando de aridez as almas, cobriu a terra de máquinas e espalhou a fome no mundo. (pp. 4-5)
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Aos nossos amigos que o possam conseguir, recomendamos, como primeiro dever, a formação do estado de consciência que as suas profissões lhes exigirem, tendo sempre presente que a nossa vitória não se conquista pelo número de eleitores em urnas de lata, mas pela persuasão da verdade, que não pretendemos reunir massas confusas de homens, mas formar portugueses dignos e constituir núcleos de pensamento, para a reconstituição nacional. (p. 5)
Documento anunciando a dissolução da organização política do Integralismo Lusitano. Doravante, a designação "Integralismo Lusitano" passou a exprimir apenas um conceito doutrinário.
(...) Perdida a lição da Filosofia e da teologia escolástica, o Renascimento não soube criar uma filosofia própria. E assim não chegou nunca a ser uma doutrina coerente, um sistema definido. Exaltar o homem, glorificar a vida terrena, foi a única regra precisa que então dominou.
(p. 278)
A novidade da Renascença esteve só na cega admiração que votou à Antiguidade, tomando-a como perfeito modelo para a vida, como regra suprema de moral, como expressão totalitária da cultura. Na Idade-Média é o problema moral que preocupa as inteligências; na Renascença é o problema estético. A Renascença copia a antiguidade; a Idade-Média transforma-a, funde-a em si própria.
A ambição máxima dos renascentistas consistia em exprimir os pensamentos mais comuns em elegantíssimo latim, onde repercutisse a sonoridade de Cícero, outra vez desse flor a malícia de Horácio e o ritmo de Vergílio encadeasse as palavras.
Desvendar o sentido trágico da vida era curiosidade que os não apoquentava. Nunca a Arte foi para eles a manifestação humana da beleza. Perdido o verdadeiro caminho da Antiguidade, encerram-se na imitação estéril e fria, forjando assim uma literatura de pedagogos e de escolares. (p. 286)
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O que se chama Renascença pode bem dizer-se que foi antes a morte de muitas coisas. Sob o pretexto de regressar à civilização greco-romana, só se tomou dela o que era forma externa, porque só ela permanecera nos textos escritos. E essa restituição assim incompleta não podia ter senão caracter artificial, pois apenas agitava formulas que, havia séculos, tinham deixado de viver. As ideias não passavam de simples divertimentos dialécticos, eram frívolas galanterias do espírito. (p. 287)
A Renascença desviou o curso da civilização. Fazendo prevalecer as forças políticas sobre a espontaneidade social, fez desabrochar as flores venenosas da abstracção jurídica, criou o absolutismo económico e outra vez ergueu aos altares os ídolos, já partidos, do individualismo e do Estado, deus e senhor das almas.
Abolidas as garantias locais do direito foraleiro, renascia a ordem jurídica da unidade romana. A pretexto de renovar a letra quási sumida e as palavras quási obsoletas dos Forais, de igualar as moedas, que eram diferentes no pagamento das prestações censíticas e de elevar a Lei geral o monumento das Ordenações, El-Rei Dom Manuel chamou a si todos esses pequenos códigos concelhios, extinguiu as imunidades neles contidas, e sobre as ruínas do velho edifício do Direito consuetudinário construiu, ao gosto do tempo, a unidade absoluta do Estado. O Estado era também uma obra de arte, de que o povo ficava arredado.
Dividiu-se então o mundo em duas castas: a dos doutos e a dos ignorantes. E a gente humilde só achou desdens. ... (p. 353)
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Como estamos longe da ternura com que Fernão Lopes recolhia as palavras do "poboo meudo", da "arraia meuda" !
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Em política, a Renascença chama-se Maquiavelismo, - era a ciencia de vencer e dominar pela força e pela astúcia. (p. 354)
A economia social do trabalho, da solidariedade humana, da justiça contratual e das corporações profissionais, que subordina as riquezas ao homem e coordena o fim económico com os fins mais elevados e humanos, achou-se assim modificada na época da Renascença pela economia individualista do capital, estreitamente utilitária.
Desorganizadas as instituições sociais da Idade-Média, o operariado perdeu a sua dignidade de homem, para se converter num simples instrumento da produção.
A civilização antiga encerrava-se no culto da forma; a civilização fundada pela Renascença exaltava a força: em Portugal, contudo, nunca se esqueceu que a verdadeira civilização, porque tem caracter religioso, eleva e glorifica o espírito. “ “Christianus sum, non Ciceroniamus”, - proclamava André de Résende ao ditar a lei do humanismo português.
Portugal não se deixou enlear pelo duro e frio racionalismo do Norte, nem o cativou o elegante paganismo da Itália; soube conservar, nessa agitada hora, um sereno equilíbrio, como se não acha em parte alguma para lá dos montes.
Ali, o orgulho da inteligência agrava a doçura dos limites da Pátria; na banda de cá, universalismo e nacionalismo entrelaçava-se harmoniosamente. Uma curiosidade ecuménica abrasava o sangue português para mais afervorar nele o sentimento patriótico. E Damião de Góis, Pedro Margalho, os Gouveias, Jerónimo Osório, espalhavam pelo mundo fora pregão do ninho amado.
Na posse da plena realidade histórica, os nossos humanistas viam e sentiam a Pátria. (pp. 355-356)
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Demais, nenhum homem célebre nas letras ou nas ciências foi queimado em Portugal. Essa honra pertenceu a Calvino, que em Genebra, em 1553, torrou Miguel Serveto, só porque interpretava a seu talante os livros sagrados. (p. 361)
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Em época dita de tanta intolerância merece bem notar-se o brando proceder da Inquisição portuguesa para com os Humanistas.
É ainda verdade que o poeta Baltazar Estaço, cónego penitenciário na Sé de Viseu, também esteve algum tempo encarcerado, mas ele próprio se encarregou de confessar a justiça que lhe era feita. Dizendo que não tinha culpas, foi contando aos inquisidores, com suprema candura, que padecia muito da enfermidade da frieza, e então, como confortativo para a combater, costumava, quando estava na cama, acomodar a seu lado alguma donzela bem parecida. Foi assim, lembrava-se agora, que dormiu com Joana de Amaral, Isabel Mendes e Ana Soares; que Luísa de Almeida e Isabel Fernandes se deitaram com ele, entre os lencois, só pelo espaço de meia hora, cada uma de sua banda; que Beatriz do Rego e Francisca João, e Eufémia, e Maria João, quando passavam para a Sé, ao lusco-fusco da manhãzinha, entravam em casa do friorento e se despiam caridosamente para o aquentar.
Para tanto frio não era o fogo mau remédio. Mas o transido Cónego explicou que aquilo acontecera com todo o resguardo da pureza das generosas moças, sem palavras de amor nem animo libidinoso. E o Tribunal aceitou a fácil desculpa. A sentença foi lida em 5 de abril de 1620, e a 29 de Outubro do ano seguinte o poeta era mandado soltar... (pp. 362-363)
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Durante perto de dois séculos, desde o ano de 1536, em que foi estabelecido o Santo Ofício em Portugal, até 1732, a Inquisição portuguesa condenou à morte 1.032 pessoas – bruxas, feiticeiros, bígamos, sodomitas, judaizantes, impostores, clérigos de imorais costumes. E em França, no decorrer de 10 meses, de 16 de Outubro de 1793 a 27 de Julho do ano imediato, o Tribunal revolucionário mandou à guilhotina, somente em Paris, 2.580 pessoas, contando entre elas um poeta de tão eloquente e delicado lirismo como André Chénier, e um sábio de tanto poder criador, tão fino sentido de adivinhação, como Lavoisier. (p. 363)