Acção Realista
Acção Realista (1924-1926)
Publicou-se do nº 1, de 22 de Maio de 1924 ao nº 32, de Outubro de 1926. Ernesto Gonçalves (1896-1982), foi o redactor principal / director desta revista quinzenal, órgão oficial da Acção Realista Portuguesa (ARP), desde o início de 1924 até ao final de 1925. A Acção Realista surgiu como uma revista de monárquicos dissidentes do Integralismo Lusitano (IL) que não seguiram a sua quebra de obediência a D. Manuel II, em Outubro de 1919. Alfredo Pimenta, apesar de não ter pertencido ao Integralismo Lusitano, foi um dos principais impulsionadores da organização dessa dissidência e desta revista como órgão da ARP.
Em 1926, o órgão oficial da ARP passou a ser A Voz Nacional, sob a direcção de Luís Chaves, alterando a revista Acção Realista a sua periodicidade e grafismo: passou a mensal e a apresentar na capa um desenho menos estilizado e modernista, incluindo o Corpo (Pelicano no ninho, alimentando as crias com o seu próprio sangue) e a Alma (Pola lei e pola grei) da divisa de D. João II, adoptada pelo Integralismo Lusitano desde 1914. Sob a nova designação de "revista de cultura nacionalista", João Ameal surgiu como "director interino". Em 15 de Abril de 1926, viria surgir a Acção Realista - diário da tarde - Órgão da Acção Realista Portuguesa, sob a direcção de João Ameal e Luís Chaves, tendo como editor D. Pedro Escórcio da Câmara.
* * *
A personalidade cimeira da Acção Realista Portuguesa foi sempre Alfredo Pimenta (1882-1950). Embora tenha colaborado na Nação Portuguesa, revista de lançamento do Integralismo Lusitano enquanto movimento de ideias, a sua conversão ao ideário monárquico só ocorrerá em 1915. Vindo do anarquismo, após o anúncio da sua conversão, manterá sempre distância ou independência face ao Integralismo até que, por fim, em As Bases da Monarquia Futura, apresentadas em conferência proferida em 27 de Maio de 1923, vem a retomar no essencial o programa do Integralismo Lusitano lançado em 1914: monarquia orgânica, tradicionalista, anti-parlamentar.
A Acção Realista Portuguesa, surgida em 1924, foi uma metamorfose de uma Acção Tradicionalista Portuguesa que Alfredo Pimenta criou em 1921 e extinguiu em 1922. Importa esclarecer as circunstâncias e o conteúdo programático desse primeiro ensaio da Acção Realista, antes de, em Maio de 1923, vir a acolher os princípios programáticos do Integralismo.
No plano das ideias políticas em Portugal, o Integralismo Lusitano foi uma novidade e um significativo polo de atracção para as juventudes monárquicas das academias. Declararam obediência a D. Manuel II, mas contestavam o parlamentarismo dos regimes oligárquicos assentes numa representação por intermédio de partidos político-ideológicos. Preferiam uma representação nacional feita através de uma delegação directa dos municípios. Na perspectiva dos integralistas, a Instituição Real derrubada em 1910 encimava um corpo político estranho à Nação e, em sua substituição, a República mais não fizera do que afastar o Rei e mudar o rótulo na mesma droga. Entre os monárquicos que não "adesivaram" à República, e se mantiveram fieis a D. Manuel II, houve uma generosa vaga de adesões ao Integralismo.
Após a falhada tentativa da Monarquia no Norte e em Monsanto (Lisboa), em 1919, a Junta Central do IL enviou a Inglaterra uma delegação para conferenciar com D. Manuel II. Nas entrevistas em Londres, o rei deposto disse-lhes que se iria manter fiel à ordem política da Monarquia da Carta e recomendou-lhes que se deixassem de revoluções e que combatessem a República por via eleitoral. Os integralistas não aceitaram essa posição de D. Manuel e, afirmando colocar os interesses da nação acima da pessoa do Rei, desligaram-se da sua obediência. Ficou imediatamente aberto um espaço no campo manuelista para a criação de uma organização que, de alguma forma, mantivesse um ideário tradicionalista. E não tardou muito para que esse espaço fosse ocupado: em 25 de Julho de 1921, surgiu então a referida Acção Tradicionalista Portuguesa (ATP), com Alfredo Pimenta, Caetano Beirão, Ramires dos Reis, Luís Chaves e Mateus de Oliveira Monteiro.
Alfredo Pimenta era o seu incontestável organizador e líder, mas surgiam ali personalidades até então identificadas com o Integralismo Lusitano, como Caetano Beirão, Luís Chaves, incluindo pouco depois também dirigentes de órgãos de informação como Alfredo de Freitas Branco, que no Funchal dirigia O Realista, ou João da Rocha Páris que, em Viana do Castelo, dirigia a Gazeta do Lima.
As dissidências no Integralismo tinham por base a afirmação de uma inequívoca fidelidade pessoal ao rei deposto. Entre o programa revolucionário da Junta Central do IL e o ex-rei D. Manuel II, os ex-integralistas da Acção Tradicionalista Portuguesa escolhiam a fidelidade à pessoa do Rei. Se rejeitavam as orientações da Junta Central, queriam porém continuar a ser identificados como "tradicionalistas" e, nalguns casos, mesmo manter a designação "integralista", colhendo os frutos de uma sementeira de ideias na qual tinham participado. Era esse o propósito de Luís Chaves ao lançar o "Núcleo Integralista D. Manuel II”. Alfredo Pimenta terá preferido uma designação que os afastasse claramente do Integralismo e os aproximasse mais da neo-clássica e para si mais atraente Action française.
O propósito da Acção Tradicionalista Portuguesa (ATP) foi explicado cinco meses depois, em dois números de um órgão com o mesmo nome: ATP, Lisboa, nº 1, 10 de Dezembro de 1921; Lisboa, nº 2, 30 de Dezembro de 1921: constituir uma "plataforma onde se podem encontrar todos os monárquicos anti-liberais". Em obediência a D. Manuel II, bem entendido.
O programa dessa Acção Tradicionalista Portuguesa distinguia-se do programa do Integralismo Lusitano sobretudo por fazer compromisso com os partidos ideológicos, prevendo que o poder legislativo da Monarquia a restaurar deveria ser constituído por duas Câmaras: Câmara dos Deputados (⅓ para os partidos ideológicos e ⅔ para os representantes das profissões) e a Câmara dos Pares (uma parte de nomeação régia e hereditária e outra de procuradores provinciais e representantes das corporações e do clero).
Nas entrevistas de Londres, um dos pontos de discórdia entre o rei deposto e os delegados da Junta Central, fora precisamente o da aceitação, ou não, de uma ordem política assente numa representação nacional feita por intermédio de partidos ideológicos. D. Manuel disse aos integralistas que só conhecia dois tipos de monarquia: a monarquia absoluta e a monarquia parlamentar. Os integralistas lembraram então a D. Manuel que havia um terceiro tipo de monarquia: a monarquia representativa, na qual a nação se representava através dos seus municípios, regiões, e classes sociais e profissionais. Os integralistas excluíam os partidos ideológicos de uma futura representação nacional, pelo que Alfredo Pimenta, indo ao encontro da posição defendida por D. Manuel, aceita, ainda que de forma mitigada, os partidos ideológicos e o seu parlamentarismo. Palavras de Alfredo Pimenta: "... os partidos políticos são um facto. Reconhecer os factos não é transigir com os factos mas integrar-se neles" ("Palavras claras", ATP, Lisboa, nº 1, 10 de Dezembro de 1921, pp. 11 e 12).
Em 17 de Abril de 1922, o acordo designado por “Pacto de Paris” veio de súbito alterar os termos da questão dinástica: D. Aldegundes de Bragança, tutora de D. Duarte Nuno, aceitou a legitimidade dinástica de D. Manuel II, enquanto Aires de Ornelas, em representação de D. Manuel II, deduziu por seu lado a aceitação de D. Duarte Nuno como herdeiro do trono, para o caso do rei deposto falecer sem filhos.
O Integralismo Lusitano passara para o campo legitimista. Em 4 de Maio de 1922, a Junta Central declara que não reconhece aquele Pacto, suspende a sua actividade de organização política, mas afirma "o seu propósito de continuar o combate à república". No dia seguinte, Alfredo Pimenta não esconde o seu júbilo, aceita os termos do Pacto, mas anuncia a dissolução da sua Acção Tradicionalista Portuguesa.
Um ano volvido, em Maio de 1923, Alfredo Pimenta encerra o seu capítulo de contemporização com os partidos ideológicos e apresenta, em As Bases da Monarquia Futura, um programa semelhante ao dos integralistas. Ao lançar a Acção Realista Portuguesa, em 16 de Janeiro de 1924, Alfredo Pimenta assume uma nova missão: atrair os monárquicos manuelistas para o tradicionalismo e convencer o próprio rei deposto dos méritos de uma monarquia orgânica, tradicionalista, anti-parlamentar.
Desde o início, a revista Acção Realista continha uma página com as "Publicações aconselhadas", onde se incluíam, além dos textos monárquicos de Alfredo Pimenta, vários títulos de autores de referência do Integralismo (Marquês de Penalva, Fortunato de São Boaventura, Visconde de Santarém, Costa Lobo, Gama Barros, Alexandre Herculano, entre outros) e, com a excepção das obras de António Sardinha, todas as que tinham sido publicadas até à data pelos restantes membros da Junta Central do Integralismo Lusitano (Xavier Cordeiro, Hipólito Raposo, Luís de Almeida Braga, António Sardinha, Alberto Monsaraz, Pequito Rebelo, Rolão Preto). A Acção Realista Portuguesa, a avaliar pela literatura aconselhada, seria uma espécie de Integralismo Lusitano sem António Sardinha e sem a sua rejeição da "farmacopeia gaulesa" (expressão de Sardinha) da Action française.
Apesar da divergência entre a ARP e o IL em torno da questão dinástica, e da aversão que Alfredo Pimenta nutria por António Sardinha, a ligação entre os dois agrupamentos foi sendo mantida através de personalidades como Fernando Campos, entre outros.
A morte de António Sardinha, em 10 de Janeiro de 1925, foi um choque profundo para os Integralistas, mas veio a propiciar uma maior aproximação entre os dois agrupamentos tradicionalistas, vindo a Acção Realista a publicar pouco depois um fascículo duplo em sua homenagem - o número de Março, 4-5 (17-18) - acolhendo mesmo dois integralistas nas suas páginas: Simeão Pinto de Mesquita e Francisco Rolão Preto.
Simeão Pinto de Mesquita, em "Ao Princípio era o Verbo" - era o título do último livro de ensaios de Sardinha, esgotado em poucas semanas, mas ausente da referida lista de "publicações aconselhadas" na revista - forneceu-lhes um texto breve, mas esclarecedor, a respeito do pensamento de António Sardinha, e de como este se distinguia dos mais recentes modernismos ordeiros e autoritários, salientando "o seu insistente repúdio da filosofia da acção tão em voga nos países nórdicos". Era uma demarcação, um explícito separar de águas.
Em "A lição da sua morte", Rolão Preto deu-lhes uma emocionada reacção à partida daquele que, entre os integralistas, "mais trabalhava na recolha dos sólidos materiais da reconstrução nacional", terminando em apelo: "ao trabalho e em frente, para que a morte nos não leve com a consciência ferida dos remorsos sem absolvição da nossa apatia criminosa".
Para que não se avolumassem equívocos, Hipólito Raposo foi, no dia 23 de Março, à Liga Naval Portuguesa proferir uma conferencia sob o título Dois nacionalismos. L'Action française e o Integralismo Lusitano, onde analisa os aspectos divergentes dos nacionalismos francês e português, destacando as suas diferentes matrizes doutrinárias, de raiz neo-medieval no caso português e neo-clássica no caso francês.
A Acção Realista não irá porém desistir da aproximação ao Integralismo Lusitano - afinal, eles é que eram os mestres cujas obras aconselhavam - e, em Novembro (25-26), a interdição de António Sardinha era mesmo quebrada ao publicar-se o seu texto de homenagem a "Gama Barros". De Francisco Rolão Preto, foi também publicado um artigo com apontamentos da conferência que realizara no Palácio Murça a convite da Acção Realista Portuguesa - Política Social da Monarquia Orgânica.
Ao percorrer as páginas desta revista, apesar da imitação, por vezes conseguida (o resumo do seu programa político reproduzia o programa integralista), podemos ainda assim deparar aqui e ali com conceitos e juízos contrários aos defendidos pelo Integralismo Lusitano. Em Alfredo Pimenta, não terá surgido nova oportunidade para emergir o pendor autoritário das teorias do poder régio que perfilhou ao justificar a obediência a D. Manuel II, mas era flagrante o desalinho com o ideário do IL de alguns autores publicados, como José Osório de Oliveira ou o Visconde de Porto da Cruz, Alfredo Freitas Branco, por sinal um dissidente do Integralismo Lusitano que ali iniciava um sinuoso percurso político-ideológico vincadamente estrangeirado.
A defesa de uma monarquia tradicional - baseada numa representação orgânica, municipal e sindical - e a luta contra o Parlamentarismo (a representação por intermédio de partidos ideológicos), porém, estava alinhada com o IL. A mão de Fernando Campos era nisso evidente. Desde o primeiro número, o tema do "Parlamento" foi por ele lançado através de uma criteriosa recolha das aceradas críticas de autores como Frei Fortunato de São Boaventura, Antero de Quental, Oliveira Martins, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós. Em toada pedagógica, é de salientar a citação de José Pequito Rebelo - "A eleição, quanto mais larga é e mais se aproxima do sufrágio universal, tanto mais inútil para a selecção dos competentes: os incompetentes não podem escolher competentes". De Hipólito Raposo, foi escolhida uma citação resumindo bem o que se pretendia: "A moderna representação tem de ser integral, abranger todos os interesses, exprimir os direitos de quantos trabalham em qualquer ramo de produção ou actividade./ Aqui está em poucas palavras, o que nós pretendemos substituir e opor à mentira da representação política de agora; bastando este simples enunciado para demonstrar aos amigos do progresso que nós não queremos o regresso ao passado; muito ao contrário pedimos à experiência do que foi, as normas seguras do que deve ser."
Fernando Campos continuou o tema através de "O ídolo de pau" e "Dois exemplos"; o conselheiro António Cabral, contribuiu com um testemunho em a "A burla das eleições"; Ernesto Gonçalves prosseguiu com "O parlamento e a Nação"; Bento Caldas com "Os partidos políticos", entre outros.
Publicou-se do nº 1, de 22 de Maio de 1924 ao nº 32, de Outubro de 1926. Ernesto Gonçalves (1896-1982), foi o redactor principal / director desta revista quinzenal, órgão oficial da Acção Realista Portuguesa (ARP), desde o início de 1924 até ao final de 1925. A Acção Realista surgiu como uma revista de monárquicos dissidentes do Integralismo Lusitano (IL) que não seguiram a sua quebra de obediência a D. Manuel II, em Outubro de 1919. Alfredo Pimenta, apesar de não ter pertencido ao Integralismo Lusitano, foi um dos principais impulsionadores da organização dessa dissidência e desta revista como órgão da ARP.
Em 1926, o órgão oficial da ARP passou a ser A Voz Nacional, sob a direcção de Luís Chaves, alterando a revista Acção Realista a sua periodicidade e grafismo: passou a mensal e a apresentar na capa um desenho menos estilizado e modernista, incluindo o Corpo (Pelicano no ninho, alimentando as crias com o seu próprio sangue) e a Alma (Pola lei e pola grei) da divisa de D. João II, adoptada pelo Integralismo Lusitano desde 1914. Sob a nova designação de "revista de cultura nacionalista", João Ameal surgiu como "director interino". Em 15 de Abril de 1926, viria surgir a Acção Realista - diário da tarde - Órgão da Acção Realista Portuguesa, sob a direcção de João Ameal e Luís Chaves, tendo como editor D. Pedro Escórcio da Câmara.
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A personalidade cimeira da Acção Realista Portuguesa foi sempre Alfredo Pimenta (1882-1950). Embora tenha colaborado na Nação Portuguesa, revista de lançamento do Integralismo Lusitano enquanto movimento de ideias, a sua conversão ao ideário monárquico só ocorrerá em 1915. Vindo do anarquismo, após o anúncio da sua conversão, manterá sempre distância ou independência face ao Integralismo até que, por fim, em As Bases da Monarquia Futura, apresentadas em conferência proferida em 27 de Maio de 1923, vem a retomar no essencial o programa do Integralismo Lusitano lançado em 1914: monarquia orgânica, tradicionalista, anti-parlamentar.
A Acção Realista Portuguesa, surgida em 1924, foi uma metamorfose de uma Acção Tradicionalista Portuguesa que Alfredo Pimenta criou em 1921 e extinguiu em 1922. Importa esclarecer as circunstâncias e o conteúdo programático desse primeiro ensaio da Acção Realista, antes de, em Maio de 1923, vir a acolher os princípios programáticos do Integralismo.
No plano das ideias políticas em Portugal, o Integralismo Lusitano foi uma novidade e um significativo polo de atracção para as juventudes monárquicas das academias. Declararam obediência a D. Manuel II, mas contestavam o parlamentarismo dos regimes oligárquicos assentes numa representação por intermédio de partidos político-ideológicos. Preferiam uma representação nacional feita através de uma delegação directa dos municípios. Na perspectiva dos integralistas, a Instituição Real derrubada em 1910 encimava um corpo político estranho à Nação e, em sua substituição, a República mais não fizera do que afastar o Rei e mudar o rótulo na mesma droga. Entre os monárquicos que não "adesivaram" à República, e se mantiveram fieis a D. Manuel II, houve uma generosa vaga de adesões ao Integralismo.
Após a falhada tentativa da Monarquia no Norte e em Monsanto (Lisboa), em 1919, a Junta Central do IL enviou a Inglaterra uma delegação para conferenciar com D. Manuel II. Nas entrevistas em Londres, o rei deposto disse-lhes que se iria manter fiel à ordem política da Monarquia da Carta e recomendou-lhes que se deixassem de revoluções e que combatessem a República por via eleitoral. Os integralistas não aceitaram essa posição de D. Manuel e, afirmando colocar os interesses da nação acima da pessoa do Rei, desligaram-se da sua obediência. Ficou imediatamente aberto um espaço no campo manuelista para a criação de uma organização que, de alguma forma, mantivesse um ideário tradicionalista. E não tardou muito para que esse espaço fosse ocupado: em 25 de Julho de 1921, surgiu então a referida Acção Tradicionalista Portuguesa (ATP), com Alfredo Pimenta, Caetano Beirão, Ramires dos Reis, Luís Chaves e Mateus de Oliveira Monteiro.
Alfredo Pimenta era o seu incontestável organizador e líder, mas surgiam ali personalidades até então identificadas com o Integralismo Lusitano, como Caetano Beirão, Luís Chaves, incluindo pouco depois também dirigentes de órgãos de informação como Alfredo de Freitas Branco, que no Funchal dirigia O Realista, ou João da Rocha Páris que, em Viana do Castelo, dirigia a Gazeta do Lima.
As dissidências no Integralismo tinham por base a afirmação de uma inequívoca fidelidade pessoal ao rei deposto. Entre o programa revolucionário da Junta Central do IL e o ex-rei D. Manuel II, os ex-integralistas da Acção Tradicionalista Portuguesa escolhiam a fidelidade à pessoa do Rei. Se rejeitavam as orientações da Junta Central, queriam porém continuar a ser identificados como "tradicionalistas" e, nalguns casos, mesmo manter a designação "integralista", colhendo os frutos de uma sementeira de ideias na qual tinham participado. Era esse o propósito de Luís Chaves ao lançar o "Núcleo Integralista D. Manuel II”. Alfredo Pimenta terá preferido uma designação que os afastasse claramente do Integralismo e os aproximasse mais da neo-clássica e para si mais atraente Action française.
O propósito da Acção Tradicionalista Portuguesa (ATP) foi explicado cinco meses depois, em dois números de um órgão com o mesmo nome: ATP, Lisboa, nº 1, 10 de Dezembro de 1921; Lisboa, nº 2, 30 de Dezembro de 1921: constituir uma "plataforma onde se podem encontrar todos os monárquicos anti-liberais". Em obediência a D. Manuel II, bem entendido.
O programa dessa Acção Tradicionalista Portuguesa distinguia-se do programa do Integralismo Lusitano sobretudo por fazer compromisso com os partidos ideológicos, prevendo que o poder legislativo da Monarquia a restaurar deveria ser constituído por duas Câmaras: Câmara dos Deputados (⅓ para os partidos ideológicos e ⅔ para os representantes das profissões) e a Câmara dos Pares (uma parte de nomeação régia e hereditária e outra de procuradores provinciais e representantes das corporações e do clero).
Nas entrevistas de Londres, um dos pontos de discórdia entre o rei deposto e os delegados da Junta Central, fora precisamente o da aceitação, ou não, de uma ordem política assente numa representação nacional feita por intermédio de partidos ideológicos. D. Manuel disse aos integralistas que só conhecia dois tipos de monarquia: a monarquia absoluta e a monarquia parlamentar. Os integralistas lembraram então a D. Manuel que havia um terceiro tipo de monarquia: a monarquia representativa, na qual a nação se representava através dos seus municípios, regiões, e classes sociais e profissionais. Os integralistas excluíam os partidos ideológicos de uma futura representação nacional, pelo que Alfredo Pimenta, indo ao encontro da posição defendida por D. Manuel, aceita, ainda que de forma mitigada, os partidos ideológicos e o seu parlamentarismo. Palavras de Alfredo Pimenta: "... os partidos políticos são um facto. Reconhecer os factos não é transigir com os factos mas integrar-se neles" ("Palavras claras", ATP, Lisboa, nº 1, 10 de Dezembro de 1921, pp. 11 e 12).
Em 17 de Abril de 1922, o acordo designado por “Pacto de Paris” veio de súbito alterar os termos da questão dinástica: D. Aldegundes de Bragança, tutora de D. Duarte Nuno, aceitou a legitimidade dinástica de D. Manuel II, enquanto Aires de Ornelas, em representação de D. Manuel II, deduziu por seu lado a aceitação de D. Duarte Nuno como herdeiro do trono, para o caso do rei deposto falecer sem filhos.
O Integralismo Lusitano passara para o campo legitimista. Em 4 de Maio de 1922, a Junta Central declara que não reconhece aquele Pacto, suspende a sua actividade de organização política, mas afirma "o seu propósito de continuar o combate à república". No dia seguinte, Alfredo Pimenta não esconde o seu júbilo, aceita os termos do Pacto, mas anuncia a dissolução da sua Acção Tradicionalista Portuguesa.
Um ano volvido, em Maio de 1923, Alfredo Pimenta encerra o seu capítulo de contemporização com os partidos ideológicos e apresenta, em As Bases da Monarquia Futura, um programa semelhante ao dos integralistas. Ao lançar a Acção Realista Portuguesa, em 16 de Janeiro de 1924, Alfredo Pimenta assume uma nova missão: atrair os monárquicos manuelistas para o tradicionalismo e convencer o próprio rei deposto dos méritos de uma monarquia orgânica, tradicionalista, anti-parlamentar.
Desde o início, a revista Acção Realista continha uma página com as "Publicações aconselhadas", onde se incluíam, além dos textos monárquicos de Alfredo Pimenta, vários títulos de autores de referência do Integralismo (Marquês de Penalva, Fortunato de São Boaventura, Visconde de Santarém, Costa Lobo, Gama Barros, Alexandre Herculano, entre outros) e, com a excepção das obras de António Sardinha, todas as que tinham sido publicadas até à data pelos restantes membros da Junta Central do Integralismo Lusitano (Xavier Cordeiro, Hipólito Raposo, Luís de Almeida Braga, António Sardinha, Alberto Monsaraz, Pequito Rebelo, Rolão Preto). A Acção Realista Portuguesa, a avaliar pela literatura aconselhada, seria uma espécie de Integralismo Lusitano sem António Sardinha e sem a sua rejeição da "farmacopeia gaulesa" (expressão de Sardinha) da Action française.
Apesar da divergência entre a ARP e o IL em torno da questão dinástica, e da aversão que Alfredo Pimenta nutria por António Sardinha, a ligação entre os dois agrupamentos foi sendo mantida através de personalidades como Fernando Campos, entre outros.
A morte de António Sardinha, em 10 de Janeiro de 1925, foi um choque profundo para os Integralistas, mas veio a propiciar uma maior aproximação entre os dois agrupamentos tradicionalistas, vindo a Acção Realista a publicar pouco depois um fascículo duplo em sua homenagem - o número de Março, 4-5 (17-18) - acolhendo mesmo dois integralistas nas suas páginas: Simeão Pinto de Mesquita e Francisco Rolão Preto.
Simeão Pinto de Mesquita, em "Ao Princípio era o Verbo" - era o título do último livro de ensaios de Sardinha, esgotado em poucas semanas, mas ausente da referida lista de "publicações aconselhadas" na revista - forneceu-lhes um texto breve, mas esclarecedor, a respeito do pensamento de António Sardinha, e de como este se distinguia dos mais recentes modernismos ordeiros e autoritários, salientando "o seu insistente repúdio da filosofia da acção tão em voga nos países nórdicos". Era uma demarcação, um explícito separar de águas.
Em "A lição da sua morte", Rolão Preto deu-lhes uma emocionada reacção à partida daquele que, entre os integralistas, "mais trabalhava na recolha dos sólidos materiais da reconstrução nacional", terminando em apelo: "ao trabalho e em frente, para que a morte nos não leve com a consciência ferida dos remorsos sem absolvição da nossa apatia criminosa".
Para que não se avolumassem equívocos, Hipólito Raposo foi, no dia 23 de Março, à Liga Naval Portuguesa proferir uma conferencia sob o título Dois nacionalismos. L'Action française e o Integralismo Lusitano, onde analisa os aspectos divergentes dos nacionalismos francês e português, destacando as suas diferentes matrizes doutrinárias, de raiz neo-medieval no caso português e neo-clássica no caso francês.
A Acção Realista não irá porém desistir da aproximação ao Integralismo Lusitano - afinal, eles é que eram os mestres cujas obras aconselhavam - e, em Novembro (25-26), a interdição de António Sardinha era mesmo quebrada ao publicar-se o seu texto de homenagem a "Gama Barros". De Francisco Rolão Preto, foi também publicado um artigo com apontamentos da conferência que realizara no Palácio Murça a convite da Acção Realista Portuguesa - Política Social da Monarquia Orgânica.
Ao percorrer as páginas desta revista, apesar da imitação, por vezes conseguida (o resumo do seu programa político reproduzia o programa integralista), podemos ainda assim deparar aqui e ali com conceitos e juízos contrários aos defendidos pelo Integralismo Lusitano. Em Alfredo Pimenta, não terá surgido nova oportunidade para emergir o pendor autoritário das teorias do poder régio que perfilhou ao justificar a obediência a D. Manuel II, mas era flagrante o desalinho com o ideário do IL de alguns autores publicados, como José Osório de Oliveira ou o Visconde de Porto da Cruz, Alfredo Freitas Branco, por sinal um dissidente do Integralismo Lusitano que ali iniciava um sinuoso percurso político-ideológico vincadamente estrangeirado.
A defesa de uma monarquia tradicional - baseada numa representação orgânica, municipal e sindical - e a luta contra o Parlamentarismo (a representação por intermédio de partidos ideológicos), porém, estava alinhada com o IL. A mão de Fernando Campos era nisso evidente. Desde o primeiro número, o tema do "Parlamento" foi por ele lançado através de uma criteriosa recolha das aceradas críticas de autores como Frei Fortunato de São Boaventura, Antero de Quental, Oliveira Martins, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós. Em toada pedagógica, é de salientar a citação de José Pequito Rebelo - "A eleição, quanto mais larga é e mais se aproxima do sufrágio universal, tanto mais inútil para a selecção dos competentes: os incompetentes não podem escolher competentes". De Hipólito Raposo, foi escolhida uma citação resumindo bem o que se pretendia: "A moderna representação tem de ser integral, abranger todos os interesses, exprimir os direitos de quantos trabalham em qualquer ramo de produção ou actividade./ Aqui está em poucas palavras, o que nós pretendemos substituir e opor à mentira da representação política de agora; bastando este simples enunciado para demonstrar aos amigos do progresso que nós não queremos o regresso ao passado; muito ao contrário pedimos à experiência do que foi, as normas seguras do que deve ser."
Fernando Campos continuou o tema através de "O ídolo de pau" e "Dois exemplos"; o conselheiro António Cabral, contribuiu com um testemunho em a "A burla das eleições"; Ernesto Gonçalves prosseguiu com "O parlamento e a Nação"; Bento Caldas com "Os partidos políticos", entre outros.
A aversão de Alfredo Pimenta por António Sardinha, membro da Junta Central do Integralismo Lusitano, está aqui bem patente pela ausência. Em 1925, António Sardinha tinha publicado, em volume separado: “O Valor da Raça - Introdução a uma campanha nacional” (1915) e “Ao Princípio Era o Verbo” (1924). Este último livro foi um grande sucesso, tendo esgotado nas livrarias em poucas semanas.