Acção Realista
Acção Realista (1924-1926)
Publicou-se do nº 1, de 22 de Maio de 1924 ao nº 32, de Outubro de 1926.
A Acção Realista surgiu como uma revista de monárquicos dissidentes do Integralismo Lusitano que, como Caetano Beirão, não seguiram a quebra de obediência a D. Manuel II, em Outubro de 1919. Alfredo Pimenta, apesar de não ter pertencido ao Integralismo Lusitano, foi um dos principais organizadores / impulsionadores dessa dissidência.
Ernesto Gonçalves (1896-1982), foi o redactor principal / director desta revista quinzenal, órgão oficial da Acção Realista Portuguesa (ARP), desde o início de 1924 até ao final de 1925.
Em 1926, o órgão oficial da ARP passou a ser A Voz Nacional, sob a direcção de Luís Chaves, alterando a revista Acção Realista a sua periodicidade e grafismo: passou a mensal e a apresentar na capa um desenho menos estilizado e modernista, incluindo o Corpo (Pelicano no ninho, alimentando as crias com o seu próprio sangue) e a Alma (Pola lei e pola grei) da divisa de D. João II, adoptada pelo Integralismo Lusitano desde 1914. João Ameal surgiu como o “director interino", sob a nova designação de "revista de cultura nacionalista".
A personalidade cimeira da ARP era Alfredo Pimenta. Não se filiara no Integralismo Lusitano, mas convertera-se ao ideário monárquico através do programa integralista de uma monarquia orgânica, tradicionalista, anti-parlamentar como o que melhor podia servir Portugal numa futura monarquia. Em Outubro de 1919, o Integralismo Lusitano anunciara o seu afastamento da obediência a D. Manuel II, vindo a reconhecer no ano seguinte o herdeiro legitimista, D. Duarte Nuno de Bragança. Através do Pacto de Paris, em 1922, D. Manuel II reconhecera D. Duarte Nuno como seu sucessor, no caso de morrer sem descendência. Missão da ARP de Alfredo Pimenta: manter os integralistas, filiados ou não, em obediência a D. Manuel II e conquistar os restantes monárquicos e o rei deposto para o programa do Integralismo Lusitano (IL).
Desde o início, a revista continha uma página com as "Publicações aconselhadas", onde se incluíam, além dos textos monárquicos de Alfredo Pimenta, vários títulos de autores de referência do IL (Marquês de Penalva, Fortunato de São Boaventura, Visconde de Santarém, Costa Lobo, Gama Barros, Alexandre Herculano, entre outros) e, com a excepção das obras de António Sardinha, todas as que tinham sido publicadas até à data pelos restantes membros da sua Junta Central (Xavier Cordeiro, Hipólito Raposo, Luís de Almeida Braga, António Sardinha, Alberto Monsaraz, Pequito Rebelo, Rolão Preto).
Apesar da divergência entre a ARP e o IL em torno da questão dinástica, e da aversão que Alfredo Pimenta nutria por António Sardinha, a ligação entre os dois agrupamentos foi sendo mantida através de personalidades como Fernando Campos, entre outros. Após a morte de António Sardinha (10 de Janeiro de 1925), a Acção Realista publicou um fascículo duplo em sua homenagem - o número de Março, 4-5 (17-18) - acolhendo dois integralistas nas suas páginas: Simeão Pinto de Mesquita e Francisco Rolão Preto.
Simeão Pinto de Mesquita, em "Ao Princípio era o Verbo" - era o título do último livro de ensaios de Sardinha, esgotado em poucas semanas, mas ausente da referida lista de "publicações aconselhadas" - forneceu-lhes um texto breve, mas esclarecedor, a respeito do pensamento de António Sardinha, e de como este se distinguia dos mais recentes modernismos ordeiros e autoritários, salientando "o seu insistente repúdio da filosofia da acção tão em voga nos países nórdicos". Era uma demarcação, um explícito separar de águas.
Em "A lição da sua morte", Rolão Preto deu-lhes uma emocionada reacção à partida daquele que, entre os integralistas, "mais trabalhava na recolha dos sólidos materiais da reconstrução nacional", terminando em apelo: "ao trabalho e em frente, para que a morte nos não leve com a consciência ferida dos remorsos sem absolvição da nossa apatia criminosa".
A ARP não irá desistir da imitação e da aproximação ao IL e, em Novembro (25-26), a interdição de António Sardinha era mesmo quebrada ao publicar-se o seu texto de homenagem a "Gama Barros". De Francisco Rolão Preto, foi também publicado um artigo com apontamentos da conferência que realizara no Palácio Murça a convite da Acção Realista Portuguesa - Política Social da Monarquia Orgânica.
Ao percorrer as páginas desta revista, apesar da imitação, por vezes conseguida (o resumo do seu programa político reproduzia o programa integralista), podemos ainda assim deparar aqui e ali com conceitos e juízos contrários aos defendidos pelo Integralismo Lusitano. Em Alfredo Pimenta, não terá surgido nova oportunidade para emergir o pendor autoritário e hierocrático das teorias do poder régio que perfilhou ao manter-se em obediência a D. Manuel II, mas era flagrante o desalinho com o ideário do IL de alguns autores publicados, como José Osório de Oliveira ou Visconde de Porto da Cruz.
A defesa de uma monarquia tradicional - baseada numa representação orgânica, municipal e sindical - e a luta contra o Parlamentarismo (a representação por intermédio de partidos ideológicos), porém, estava alinhada com o IL. A mão de Fernando Campos era nisso evidente. Desde o primeiro número, o tema do "Parlamento" foi por ele lançado através de uma criteriosa recolha das aceradas críticas de autores como Frei Fortunato de São Boaventura, Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão. Em toada pedagógica, é de salientar a citação de José Pequito Rebelo - "A eleição, quanto mais larga é e mais se aproxima do sufrágio universal, tanto mais inútil para a selecção dos competentes: os incompetentes não podem escolher competentes". De Hipólito Raposo, foi escolhida uma citação resumindo bem o que se pretendia: "A moderna representação tem de ser integral, abranger todos os interesses, exprimir os direitos de quantos trabalham em qualquer ramo de produção ou actividade./ Aqui está em poucas palavras, o que nós pretendemos substituir e opor à mentira da representação política de agora; bastando este simples enunciado para demonstrar aos amigos do progresso que nós não queremos o regresso ao passado; muito ao contrário pedimos à experiência do que foi, as normas seguras do que deve ser." Fernando Campos continuou o tema através de "O ídolo de pau" e "Dois exemplos"; o conselheiro António Cabral, contribuiu com um testemunho em a "A burla das eleições"; Ernesto Gonçalves prosseguiu com "O parlamento e a Nação"; Bento Caldas com "Os partidos políticos", entre outros.
Publicou-se do nº 1, de 22 de Maio de 1924 ao nº 32, de Outubro de 1926.
A Acção Realista surgiu como uma revista de monárquicos dissidentes do Integralismo Lusitano que, como Caetano Beirão, não seguiram a quebra de obediência a D. Manuel II, em Outubro de 1919. Alfredo Pimenta, apesar de não ter pertencido ao Integralismo Lusitano, foi um dos principais organizadores / impulsionadores dessa dissidência.
Ernesto Gonçalves (1896-1982), foi o redactor principal / director desta revista quinzenal, órgão oficial da Acção Realista Portuguesa (ARP), desde o início de 1924 até ao final de 1925.
Em 1926, o órgão oficial da ARP passou a ser A Voz Nacional, sob a direcção de Luís Chaves, alterando a revista Acção Realista a sua periodicidade e grafismo: passou a mensal e a apresentar na capa um desenho menos estilizado e modernista, incluindo o Corpo (Pelicano no ninho, alimentando as crias com o seu próprio sangue) e a Alma (Pola lei e pola grei) da divisa de D. João II, adoptada pelo Integralismo Lusitano desde 1914. João Ameal surgiu como o “director interino", sob a nova designação de "revista de cultura nacionalista".
A personalidade cimeira da ARP era Alfredo Pimenta. Não se filiara no Integralismo Lusitano, mas convertera-se ao ideário monárquico através do programa integralista de uma monarquia orgânica, tradicionalista, anti-parlamentar como o que melhor podia servir Portugal numa futura monarquia. Em Outubro de 1919, o Integralismo Lusitano anunciara o seu afastamento da obediência a D. Manuel II, vindo a reconhecer no ano seguinte o herdeiro legitimista, D. Duarte Nuno de Bragança. Através do Pacto de Paris, em 1922, D. Manuel II reconhecera D. Duarte Nuno como seu sucessor, no caso de morrer sem descendência. Missão da ARP de Alfredo Pimenta: manter os integralistas, filiados ou não, em obediência a D. Manuel II e conquistar os restantes monárquicos e o rei deposto para o programa do Integralismo Lusitano (IL).
Desde o início, a revista continha uma página com as "Publicações aconselhadas", onde se incluíam, além dos textos monárquicos de Alfredo Pimenta, vários títulos de autores de referência do IL (Marquês de Penalva, Fortunato de São Boaventura, Visconde de Santarém, Costa Lobo, Gama Barros, Alexandre Herculano, entre outros) e, com a excepção das obras de António Sardinha, todas as que tinham sido publicadas até à data pelos restantes membros da sua Junta Central (Xavier Cordeiro, Hipólito Raposo, Luís de Almeida Braga, António Sardinha, Alberto Monsaraz, Pequito Rebelo, Rolão Preto).
Apesar da divergência entre a ARP e o IL em torno da questão dinástica, e da aversão que Alfredo Pimenta nutria por António Sardinha, a ligação entre os dois agrupamentos foi sendo mantida através de personalidades como Fernando Campos, entre outros. Após a morte de António Sardinha (10 de Janeiro de 1925), a Acção Realista publicou um fascículo duplo em sua homenagem - o número de Março, 4-5 (17-18) - acolhendo dois integralistas nas suas páginas: Simeão Pinto de Mesquita e Francisco Rolão Preto.
Simeão Pinto de Mesquita, em "Ao Princípio era o Verbo" - era o título do último livro de ensaios de Sardinha, esgotado em poucas semanas, mas ausente da referida lista de "publicações aconselhadas" - forneceu-lhes um texto breve, mas esclarecedor, a respeito do pensamento de António Sardinha, e de como este se distinguia dos mais recentes modernismos ordeiros e autoritários, salientando "o seu insistente repúdio da filosofia da acção tão em voga nos países nórdicos". Era uma demarcação, um explícito separar de águas.
Em "A lição da sua morte", Rolão Preto deu-lhes uma emocionada reacção à partida daquele que, entre os integralistas, "mais trabalhava na recolha dos sólidos materiais da reconstrução nacional", terminando em apelo: "ao trabalho e em frente, para que a morte nos não leve com a consciência ferida dos remorsos sem absolvição da nossa apatia criminosa".
A ARP não irá desistir da imitação e da aproximação ao IL e, em Novembro (25-26), a interdição de António Sardinha era mesmo quebrada ao publicar-se o seu texto de homenagem a "Gama Barros". De Francisco Rolão Preto, foi também publicado um artigo com apontamentos da conferência que realizara no Palácio Murça a convite da Acção Realista Portuguesa - Política Social da Monarquia Orgânica.
Ao percorrer as páginas desta revista, apesar da imitação, por vezes conseguida (o resumo do seu programa político reproduzia o programa integralista), podemos ainda assim deparar aqui e ali com conceitos e juízos contrários aos defendidos pelo Integralismo Lusitano. Em Alfredo Pimenta, não terá surgido nova oportunidade para emergir o pendor autoritário e hierocrático das teorias do poder régio que perfilhou ao manter-se em obediência a D. Manuel II, mas era flagrante o desalinho com o ideário do IL de alguns autores publicados, como José Osório de Oliveira ou Visconde de Porto da Cruz.
A defesa de uma monarquia tradicional - baseada numa representação orgânica, municipal e sindical - e a luta contra o Parlamentarismo (a representação por intermédio de partidos ideológicos), porém, estava alinhada com o IL. A mão de Fernando Campos era nisso evidente. Desde o primeiro número, o tema do "Parlamento" foi por ele lançado através de uma criteriosa recolha das aceradas críticas de autores como Frei Fortunato de São Boaventura, Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão. Em toada pedagógica, é de salientar a citação de José Pequito Rebelo - "A eleição, quanto mais larga é e mais se aproxima do sufrágio universal, tanto mais inútil para a selecção dos competentes: os incompetentes não podem escolher competentes". De Hipólito Raposo, foi escolhida uma citação resumindo bem o que se pretendia: "A moderna representação tem de ser integral, abranger todos os interesses, exprimir os direitos de quantos trabalham em qualquer ramo de produção ou actividade./ Aqui está em poucas palavras, o que nós pretendemos substituir e opor à mentira da representação política de agora; bastando este simples enunciado para demonstrar aos amigos do progresso que nós não queremos o regresso ao passado; muito ao contrário pedimos à experiência do que foi, as normas seguras do que deve ser." Fernando Campos continuou o tema através de "O ídolo de pau" e "Dois exemplos"; o conselheiro António Cabral, contribuiu com um testemunho em a "A burla das eleições"; Ernesto Gonçalves prosseguiu com "O parlamento e a Nação"; Bento Caldas com "Os partidos políticos", entre outros.

A aversão de Alfredo Pimenta por António Sardinha, membro da Junta Central do Integralismo Lusitano, está aqui bem patente pela ausência. Em 1925, António Sardinha tinha publicado, em volume separado: “O Valor da Raça - Introdução a uma campanha nacional” (1915) e “Ao Princípio Era o Verbo” (1924). Este último livro foi um grande sucesso, tendo esgotado nas livrarias em poucas semanas.