Gazeta do Lima, 1918-1919
Gazeta do Lima: Órgão do Integralismo Lusitano no Alto Minho
(14-03-1918 a 09-01-1919); 40 jornais; papel.
Periódico de Viana do Castelo, publicado às quintas-feiras, normalmente com 4 páginas. O seu primeiro número surgiu em 14 de Março de 1918 sob a direção e edição de João de E. da Rocha Páris. Esta publicação mantém-se até ao número 41, em 9 de Janeiro de 1919. A redação e administração da Gazeta do Lima ficava provisoriamente na Rua da Picota, 22, 2º andar. Composto e impresso na Typ. Commercial em Viana do Castelo. A partir do número 20 “fixa a sua redação e administração na rua de S. Sebastião, n.º 21 e, do n.º 28 (26 Set. 1918) em diante, passa a ter como redator principal, José Luís da Silva Dias, e, como editor, José Pereira d’Araújo Biscaia Viana.
Responsabilidade: dir. e ed. João da Rocha Páris (1918); redactor principal José Luís da Silva Dias (1918-1919); ed. José Pereira d’Araújo Biscaia Viana (1918-1919); Adm. José C. de Palhares Vianna
Publicação: Viana do Castelo: Typ. Commercial
Periodicidade: Semanal
João de Espregueira da Rocha Páris nasceu em 18 de Novembro de 1885, em Viana do Castelo, tendo falecido em 9 de Julho de 1947, também em Viana do Castelo. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
O apontamento biográfico do Parlamento diz-nos que Rocha Páris foi "proprietário, lavrador e jornalista". Foi também político, como deputado nas III e IV Legislaturas do Parlamento.
Na III Legislatura, (1942-1945) foi eleito no Circulo Nacional na lista do único partido legal no regime: a União Nacional; na IV Legislatura (1945-1949), foi eleito pelo círculo de Viana do Castelo (foram entretanto criado os círculos distritais, mas mantendo-se a regra da eleição da totalidade dos deputados da lista mais votada; o Estado Novo, através do seu Partido Único, teve sempre o pleno dos deputados na Câmara dos Deputados).
A nota biográfica do Parlamento diz ainda o seguinte: "Monárquico. Exila-se em 1911, participando nas incursões de Paiva Couceiro e nas de 1919." Em 1911, houve incursões monárquicas levando os seus combatentes ao exílio, em 1919, porém, a monarquia foi proclamada por militares e civis em revolta, tanto em Lisboa (Monsanto) como no Porto. Derrotados, os monárquicos envolvidos saíram para o exílio; para os reincidentes, como Paiva Couceiro e Almeida Braga, por exemplo, foi uma saída para um segundo exílio. Mas a nota biográfica acrescenta ainda que Rocha Páris "regressa a Portugal depois do 28 de Maio, sendo um dos grande adeptos da situação política daí decorrente".
Não oferece dúvida o seu apoio ao Estado Novo (1933-1974), tendo sido Presidente da Comissão Distrital de Viana do Castelo da União Nacional, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Governador Civil e Deputado.
O Embaixador João Alberto Bacelar da Rocha Páris, nascido em 19 de abril de 1945, em Viana do Castelo, forneceu um breve mas interessante testemunho (in Memória Oral da Diplomacia, entrevista realizada ao Embaixador João da Rocha Páris por Pedro Aires Oliveira, a 15 de julho e 6 de agosto de 2015; https://memoriaoraldiplomacia.mne.gov.pt/pt/entrevistas/joao-rocha-paris) acerca do pai, que não chegou a conhecer:
"O meu pai era monárquico e foi detido quando a monarquia foi substituída por um regime republicano. Ele era um bocado mais velho do que a minha mãe quando se casaram. Ainda solteiro, esteve exilado até à lei de amnistia do Dr. Salazar, e nessa altura voltou a Portugal. Depois foi deputado, Presidente da Câmara de Viana do Castelo, era licenciado em Direito. Também terá exercido alguma diplomacia, lá em Viana, mas não teve qualquer contacto com a carreira. Um primo meu afastado foi Ministro de Portugal em Bruxelas ainda nos tempos da monarquia. Devo dizer que não cheguei a conhecer o meu pai, porque ele faleceu quando eu tinha dois anos de idade, e muito menos esse primo afastado e bastante mais velho do que ele." (negrito acrescentado)
Tendo o director da Gazeta do Lima (em 1918 e início de 1919), sido detido após a implantação da República (1910), e estando ainda solteiro aquando do seu exílio, a referida amnistia não pode ter sido a "do Dr. Salazar", que só entrou para o Governo em 1928 e só se tornou Presidente do Conselho de Ministros em 1930.
Em 1918, e até ao início de 1919, não oferece dúvida que Rocha Páris esteve em Portugal, como director da Gazeta do Lima - Órgão do Integralismo Lusitano no Alto Minho, tendo por isso regressado com uma das amnistia anteriores, talvez as de 1914-1915, que trouxe de volta muitos dos exilados monárquicos, antes do golpe de Estado de Afonso Costa contra o governo do general Pimenta de Castro.
Terá Rocha Páris saído para um segundo exílio, em 1919? É possível. Na véspera, ele estava ainda ao lado dos combatentes integralistas pela monarquia, que vieram a ter um papel de revelo na proclamação da Monarquia no Norte e no Monsanto.
Mas, o que é que aconteceu com Rocha Páris, entre a Monarquia do Norte (1919) e o "28 de Maio" (1926)?
Em Novembro de 1922, por intermédio de uma carta datada em Viana, sabemos que pediu a Alfredo Pimenta colaboração para o semanário Foz do Lima. Isto é, nessa data, João da Rocha Páris estava em Portugal - ou porque voltara entretanto do exílio ou porque não chegara a sair - mas tinha já mudado de campo entre os monárquicos, alinhando então com Alfredo Pimenta.
Em Outubro de 1919, os integralistas lusitanos tinham anunciado a ruptura com D. Manuel II. O pedido de colaboração de Rocha Páris ao manuelista Alfredo Pimenta, em 1922, indica que a sua dissidência com o Integralismo Lusitano estava consumada, provavelmente motivada pelo acordo obtido entre Integralistas e Legitimistas no apoio a D. Duarte Nuno de Bragança. Os monárquicos que apoiaram e serviram no Estado Novo, como Rocha Páris, seguiram em regra uma linha de pensamento muito próxima de Alfredo Pimenta. Se Rocha Páris tivesse continuado no Integralismo Lusitano, esteio dos monárquicos directamente envolvidos, tanto na revolução do "28 de Maio", como no combate ao estabelecimento da Salazarquia, em 1934-1935, aí sim, estaria em condições de vir a ser "amnistiado por Salazar", em consequência das prisões e exílios que o próprio Salazar ordenou contra oposicionistas como Alberto Monsaraz e Francisco Rolão Preto.
Refs:
VIANA, Rui A. Faria; BARROSO, António José – Publicações Periódicas Vianenses. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo. 2009. ISBN 978-972-588-208-5. pp. 282-283.
OLIVEIRA, Pedro Aires, Projeto Memória Oral da Diplomacia Portuguesa, Associação dos Amigos do AHD/Instituto Diplomático/Instituto de História Contemporânea), 2015.
Gazeta do Lima, Ano 1, nº 1, 14 de Março de 1918
R.P. (Rocha Páris), "Viana, 14 de Março" - Rocha Paris, o director do semanário, assina o seu primeiro editorial, identificando a causa do mal de que Portugal padece nas "doutrinas individualistas filhas da nefasta revolução francesa", que "reveste no aspecto político a denominação de democracia". Desde 1820, os portugueses têm sofrido todas as violências com que "os maçons portugueses, verdadeiros estrangeiros do interior, guiando-se pelos figurinos individualistas dos bárbaros de 1789 se propuseram destruir tudo o que representava a virtude da tradição" (p. 1)
Alfredo de Freitas Branco, "Pátria e República" - A. F. B. faz um resumo dos últimos quase oito anos de República, salientando que começaram "por coartar as liberdades de crenças religiosas e políticas, expulsando as ordens monásticas, fecharam as Igrejas, prenderam, ameaçaram, perseguiram e assassinaram quantos não aceitavam o novo estado de coisas" ... Depois, "chegou a fome" mas eles "enchiam-se de ouro". Os operários foram reprimidos: -"respondeu-lhes a democracia com o fogo e com a clausura" , e foi assim que chegou o general Pimenta de Castro "animado de boas intenções e de bons desejos". Mas, após o general Pimenta de Castro, "a democracia voltou mais ébria, mais tirânica e cínica". Por fim, em referência ao Sidonismo : "a jornada do parque Eduardo VII veio trazer o lenitivo a tanta dor". A hidra democrática terá caído, mas não morreu.
"A vitória da ideia integralista" - Celebrava-se um ano após o lançamento do jornal A Monarquia e foi realizado um banquete de comemoração no sábado anterior, presidido pelo conselheiro Aires de Ornelas, representando D. Manuel II; à sua direita sentou-se o Alferes Luís de Portugal da Fonseca e Melo (regressado da guerra, onde foi gravemente ferido em combate), seguindo-se os conselheiros Jaime Forjaz de Serpa Pimentel e Fernando de Sousa. À esquerda, sentou-se Adriano Xavier Cordeiro , 1880-1919 (presidente da Junta Central do IL), Rui Ulrich e Alberto Monsaraz, 1889-1959 (ambos da JC do IL). O banquete reuniu mais de 100 pessoas, com muitos militares presentes. Discursaram Xavier Cordeiro, Alberto Monsaraz, António Sardinha, 1887-1925, Luís de Almeida Braga, 1886-1970, Hipólito Raposo, 1885-1953, Padre Vacondena, Armando da Silva, Satúrio Pires, Rui Ulrich, João José de Melo Lapa, José d'Almeida Eusébio, Joaquim de Almeida Braga, Francisco Rolão Preto, 1893-1977, Alfredo de Freitas Branco e Artur de Campos Figueira. João de Azevedo Coutinho e Afonso Lopes Vieira, 1878-1946, enviaram telegramas de saudação, assim como a Delegação Municipal de Viana e a Junta Escolar Integralista de Viana.
"Integralismo Lusitano" e "Reunião Monárquica" - Seguindo instruções de D. Manuel II, dada a situação de guerra, o "partido monárquico" continuava a abster-se da sua reivindicação política fundamental: a monarquia. Ao aproximarem-se as eleições presidencial e legislativa, os monárquicos reuniram no passado domingo aprovando uma moção apresentada por D. Luís de Castro, segundo a qual os monárquicos deveriam 1) cooperar com o governo; 2) auxiliar as autoridades na manutenção da ordem publica e na resolução dos problemas sociais, económicos e administrativos; 3) dar liberdade de voto aos monárquicos na eleição presidencial; 4) contribuir para a maioria governamental nas eleições legislativas. A Junta Central do Integralismo Lusitano, por intermédio de Xavier Cordeiro, apresentou uma moção manifestando a sua discordância quanto à "liberdade de voto na eleição presidencial" (3º), defendendo que os monárquicos se deviam abster de pronunciar sobre tal assunto. (p. 4). Além de Xavier Cordeiro, foram subscritores dessa moção: António Teles de Vasconcelos, António Sardinha, Francisco Preto Cruz, Rocha Martins, António Horta Osório, António Fontes, Luís de Almeida Braga, Armando da Silva, Hipólito Raposo, Pedro Doria Nazareth, António Pereira de Sousa.
R.P. (Rocha Páris), "Viana, 14 de Março" - Rocha Paris, o director do semanário, assina o seu primeiro editorial, identificando a causa do mal de que Portugal padece nas "doutrinas individualistas filhas da nefasta revolução francesa", que "reveste no aspecto político a denominação de democracia". Desde 1820, os portugueses têm sofrido todas as violências com que "os maçons portugueses, verdadeiros estrangeiros do interior, guiando-se pelos figurinos individualistas dos bárbaros de 1789 se propuseram destruir tudo o que representava a virtude da tradição" (p. 1)
Alfredo de Freitas Branco, "Pátria e República" - A. F. B. faz um resumo dos últimos quase oito anos de República, salientando que começaram "por coartar as liberdades de crenças religiosas e políticas, expulsando as ordens monásticas, fecharam as Igrejas, prenderam, ameaçaram, perseguiram e assassinaram quantos não aceitavam o novo estado de coisas" ... Depois, "chegou a fome" mas eles "enchiam-se de ouro". Os operários foram reprimidos: -"respondeu-lhes a democracia com o fogo e com a clausura" , e foi assim que chegou o general Pimenta de Castro "animado de boas intenções e de bons desejos". Mas, após o general Pimenta de Castro, "a democracia voltou mais ébria, mais tirânica e cínica". Por fim, em referência ao Sidonismo : "a jornada do parque Eduardo VII veio trazer o lenitivo a tanta dor". A hidra democrática terá caído, mas não morreu.
"A vitória da ideia integralista" - Celebrava-se um ano após o lançamento do jornal A Monarquia e foi realizado um banquete de comemoração no sábado anterior, presidido pelo conselheiro Aires de Ornelas, representando D. Manuel II; à sua direita sentou-se o Alferes Luís de Portugal da Fonseca e Melo (regressado da guerra, onde foi gravemente ferido em combate), seguindo-se os conselheiros Jaime Forjaz de Serpa Pimentel e Fernando de Sousa. À esquerda, sentou-se Adriano Xavier Cordeiro , 1880-1919 (presidente da Junta Central do IL), Rui Ulrich e Alberto Monsaraz, 1889-1959 (ambos da JC do IL). O banquete reuniu mais de 100 pessoas, com muitos militares presentes. Discursaram Xavier Cordeiro, Alberto Monsaraz, António Sardinha, 1887-1925, Luís de Almeida Braga, 1886-1970, Hipólito Raposo, 1885-1953, Padre Vacondena, Armando da Silva, Satúrio Pires, Rui Ulrich, João José de Melo Lapa, José d'Almeida Eusébio, Joaquim de Almeida Braga, Francisco Rolão Preto, 1893-1977, Alfredo de Freitas Branco e Artur de Campos Figueira. João de Azevedo Coutinho e Afonso Lopes Vieira, 1878-1946, enviaram telegramas de saudação, assim como a Delegação Municipal de Viana e a Junta Escolar Integralista de Viana.
"Integralismo Lusitano" e "Reunião Monárquica" - Seguindo instruções de D. Manuel II, dada a situação de guerra, o "partido monárquico" continuava a abster-se da sua reivindicação política fundamental: a monarquia. Ao aproximarem-se as eleições presidencial e legislativa, os monárquicos reuniram no passado domingo aprovando uma moção apresentada por D. Luís de Castro, segundo a qual os monárquicos deveriam 1) cooperar com o governo; 2) auxiliar as autoridades na manutenção da ordem publica e na resolução dos problemas sociais, económicos e administrativos; 3) dar liberdade de voto aos monárquicos na eleição presidencial; 4) contribuir para a maioria governamental nas eleições legislativas. A Junta Central do Integralismo Lusitano, por intermédio de Xavier Cordeiro, apresentou uma moção manifestando a sua discordância quanto à "liberdade de voto na eleição presidencial" (3º), defendendo que os monárquicos se deviam abster de pronunciar sobre tal assunto. (p. 4). Além de Xavier Cordeiro, foram subscritores dessa moção: António Teles de Vasconcelos, António Sardinha, Francisco Preto Cruz, Rocha Martins, António Horta Osório, António Fontes, Luís de Almeida Braga, Armando da Silva, Hipólito Raposo, Pedro Doria Nazareth, António Pereira de Sousa.
1918_03_14_gazeta_do_lima.pdf |
Gazeta do Lima, Ano 1, nº 2, 21 de Março de 1918
1918_03_21_gazeta_do_lima.pdf |