Para além do Integralismo
José Pequito Rebelo
O Integralismo só pode viver com a condição de se ultrapassar. O nacionalismo, só por si, é uma ideia morta. Todo o nosso esforço, limitado à proclamação do interesse nacional e, partindo desta premissa, desenvolvido na dedução de todo um lógico sistema, brilhará com a luz da verdade, mas essa luz não será calor nem vida.
O nacionalismo acaba na nação? Nesse caso, morre. E como pode acabar e morrer o Integralismo, se este nome etimologicamente significa uma tendência para o que é completo e perfeito, uma aspiração universal, uma vontade intransigente de grandeza e duração?
Não basta dizer: Tudo o que é nacional é nosso.
É preciso acrescentar: Tudo o que é humano é nosso.
Impõe-se finalmente concluir: É nosso tudo o que é divino.
Já Valois trouxera inesperadamente para a sua economia a sentença bíblica: Procura primeiro o reino dos Céus e a sua justiça e tudo o mais te será dado por acréscimo. Numa dedução de altíssima filosofia, num raciocínio ascensional em que palpita a intuição do génio, este mestre demonstra que não se vence sem um método, que o método de nada serve sem uma doutrina, que esta doutrina precisa de ser de ordem geral e não de qualquer ordem geral, mas daquela ordem mais geral e primária, que se liga ao conceito universal de Deus.
Viver, por este princípio, identifica-se com crer e crer é, essencialmente, a adesão da personalidade ao Deus verdadeiro.
A falta de vida religiosa tira às ideias o seu prestígio, embota a razão, arruína a ordem, gera a guerra de todos contra todos e asfixia a família e a oficina, porque tira ao homem a única razão de trabalhar e o seu sentido espiritualista ao preceito: Crescei e multiplicai-vos.
Para viver é preciso ter uma religião, ao menos uma religião falsa. As religiões falsas, que provam a verdadeira, são formas de vida, enérgica, ampla, embora falsa. O bolchevismo só vive e tem os seus triunfos, porque é, não uma revolta de estômagos, mas uma religião satânica nas consciências.
Para que o integralismo triunfe é preciso que ele seja em certa maneira um movimento religioso, uma cruzada, não só nacional, mas humana, não só humana, mas religiosa. Na política portuguesa fizemos a inovação de um método de combate (a audácia, o espírito de sacrifício, o espírito de organização), mas o método, embora novo, não nos bastava, nem valia em si próprio, mas sim inspirado por uma doutrina (a soberania do Interesse Nacional, a apologia da Monarquia, a condenação da Democracia).
Como não somos nós, mas a nação, o verdadeiro agente do movimento integralista, deve concluir-se que o ideal puramente nacionalista do Integralismo peca por falta de universalidade. E assim devemos procurar uma doutrina que exceda e ao mesmo tempo realize o Integralismo, porque só essa doutrina pode dar-nos vida, vitória e salvação. Esta doutrina é a da Cruzada.
Demos à nossa campanha um escopo mais alto do que o de por em ordem a pequena casa lusitana para nela vivermos com honra e proveito; consideremo-nos antes os soldados de uma guerra mais vasta em que defendemos a própria humanidade contra a barbárie democrática e o próprio Deus contra o orgulho satânico da Revolução.
Acreditamos numa vocação apostólica de Portugal. As qualidades e a unidade da raça, a homogeneidade do território, a nossa condição de nação pequena, o ruralismo fundamental, sem grandes massas proletárias e portanto sem outro bolchevismo além do que os políticos fomentam, o que não exclui riqueza porque a temos nas colónias, o próprio martírio colectivo que vamos sofrendo em reparação de culpas antigas, o valiosíssimo património intelectual que representa a doutrina nacionalista, finalmente a lembrança sempre viva das glórias da nossa História - são causas múltiplas de acreditar que Portugal, uma vez reorganizado nas suas instituições, daria à Europa um modelo vivo da nova ordem, que à Europa seria a solução dos seus sangrentos problemas.
Pela Espanha e nos vastos horizontes que uma política peninsular nos proporcionaria, o contágio deste exemplo certamente se estenderia muito ao largo pelo mundo latino e teríamos um maximalismo reaccionário ocidental, que será puramente essa restauração da cristandade cuja esperança Valois me dizia ter, falando em nome da alma comum que de Roma ambos tínhamos recebido, ele o mestre, o genial renovador da Economia, eu o humilde soldado, unidos, porém, na mesma aspiração, não já da glória de Portugal ou da França, mas sim da ressurreição do homem em Cristo, das nações livres e irmãs na cristandade.
(In A Monarquia, n.º 1096, de 7 de Janeiro de 1922)
O nacionalismo acaba na nação? Nesse caso, morre. E como pode acabar e morrer o Integralismo, se este nome etimologicamente significa uma tendência para o que é completo e perfeito, uma aspiração universal, uma vontade intransigente de grandeza e duração?
Não basta dizer: Tudo o que é nacional é nosso.
É preciso acrescentar: Tudo o que é humano é nosso.
Impõe-se finalmente concluir: É nosso tudo o que é divino.
Já Valois trouxera inesperadamente para a sua economia a sentença bíblica: Procura primeiro o reino dos Céus e a sua justiça e tudo o mais te será dado por acréscimo. Numa dedução de altíssima filosofia, num raciocínio ascensional em que palpita a intuição do génio, este mestre demonstra que não se vence sem um método, que o método de nada serve sem uma doutrina, que esta doutrina precisa de ser de ordem geral e não de qualquer ordem geral, mas daquela ordem mais geral e primária, que se liga ao conceito universal de Deus.
Viver, por este princípio, identifica-se com crer e crer é, essencialmente, a adesão da personalidade ao Deus verdadeiro.
A falta de vida religiosa tira às ideias o seu prestígio, embota a razão, arruína a ordem, gera a guerra de todos contra todos e asfixia a família e a oficina, porque tira ao homem a única razão de trabalhar e o seu sentido espiritualista ao preceito: Crescei e multiplicai-vos.
Para viver é preciso ter uma religião, ao menos uma religião falsa. As religiões falsas, que provam a verdadeira, são formas de vida, enérgica, ampla, embora falsa. O bolchevismo só vive e tem os seus triunfos, porque é, não uma revolta de estômagos, mas uma religião satânica nas consciências.
Para que o integralismo triunfe é preciso que ele seja em certa maneira um movimento religioso, uma cruzada, não só nacional, mas humana, não só humana, mas religiosa. Na política portuguesa fizemos a inovação de um método de combate (a audácia, o espírito de sacrifício, o espírito de organização), mas o método, embora novo, não nos bastava, nem valia em si próprio, mas sim inspirado por uma doutrina (a soberania do Interesse Nacional, a apologia da Monarquia, a condenação da Democracia).
Como não somos nós, mas a nação, o verdadeiro agente do movimento integralista, deve concluir-se que o ideal puramente nacionalista do Integralismo peca por falta de universalidade. E assim devemos procurar uma doutrina que exceda e ao mesmo tempo realize o Integralismo, porque só essa doutrina pode dar-nos vida, vitória e salvação. Esta doutrina é a da Cruzada.
Demos à nossa campanha um escopo mais alto do que o de por em ordem a pequena casa lusitana para nela vivermos com honra e proveito; consideremo-nos antes os soldados de uma guerra mais vasta em que defendemos a própria humanidade contra a barbárie democrática e o próprio Deus contra o orgulho satânico da Revolução.
Acreditamos numa vocação apostólica de Portugal. As qualidades e a unidade da raça, a homogeneidade do território, a nossa condição de nação pequena, o ruralismo fundamental, sem grandes massas proletárias e portanto sem outro bolchevismo além do que os políticos fomentam, o que não exclui riqueza porque a temos nas colónias, o próprio martírio colectivo que vamos sofrendo em reparação de culpas antigas, o valiosíssimo património intelectual que representa a doutrina nacionalista, finalmente a lembrança sempre viva das glórias da nossa História - são causas múltiplas de acreditar que Portugal, uma vez reorganizado nas suas instituições, daria à Europa um modelo vivo da nova ordem, que à Europa seria a solução dos seus sangrentos problemas.
Pela Espanha e nos vastos horizontes que uma política peninsular nos proporcionaria, o contágio deste exemplo certamente se estenderia muito ao largo pelo mundo latino e teríamos um maximalismo reaccionário ocidental, que será puramente essa restauração da cristandade cuja esperança Valois me dizia ter, falando em nome da alma comum que de Roma ambos tínhamos recebido, ele o mestre, o genial renovador da Economia, eu o humilde soldado, unidos, porém, na mesma aspiração, não já da glória de Portugal ou da França, mas sim da ressurreição do homem em Cristo, das nações livres e irmãs na cristandade.
(In A Monarquia, n.º 1096, de 7 de Janeiro de 1922)