Rolão Preto, "Crónica Social", A Nação Portuguesa, 2ª série, nº 1, Julho de 1922, pp. 33-35.
(Texto assinado por Rolão Preto em 10 de Junho de 1922)
Na verdade, a hora que passa é de uma tal complexidade em aspectos sociais, abrange uma tão vasta simultaneidade de movimentos, de pensamento e de acção contrários ou paralelos, que a sua discriminação demanda uma atenção e trabalho bem difíceis de conseguir.
Este texto de abertura da "Crónica Social", na 2ª série da revista Nação Portuguesa, revela a esperança de Rolão Preto numa vaga de revoluções nacionalistas despontando na Europa e que poderia vir a ser universal.
Aborda os contextos italiano e francês.
No caso italiano, segundo Rolão Preto: "a organização cooperativista e sindical do Fascio é francamente integralista. A forma neo-mediévica da interpretação do pensamento corporativo é largamente seguida pelos chefes do sindicalismo nacional Facista".
Estaria Rolão Preto equivocado? Não estava!... Em 1922, os sindicalistas italianos que estavam integrados no Fascio tinham, na verdade, um pensamento sindicalista neo-medievalista muito semelhante ao do Integralismo Lusitano.
Engano ou equívoco será pensar-se que esse sindicalismo neo-medieval triunfou no Estado Fascista. O que veio a triunfar foi um pseudo-sindicalismo - um sindicalismo subordinado e integrado no Estado, em obediência à doutrina fascista do Estado totalitário de Benito Mussolini (1932).
Em 1922, em Itália, havia então uma luta complexa mas em torno de dois polos principais: as organizações e acções dos socialistas de tendência bolchevique, sob influência da Rússia soviética (III Internacional), em oposição às várias correntes nacionalistas, tanto sindicalistas (próximas dos integralistas lusitanos) como socialistas (com programas políticos mais centrados em soluções estatistas). Nessa altura, os Nacionalistas e os Facistas (como se escrevia então) estavam de "mãos dadas" no combate ao bolchevismo, e estavam a obter triunfos.
Rolão Preto traça aqui com rigor um retrato de Mussolini até aquela data - Junho de 1922 - definindo-o como um "batalhador do socialismo unificado italiano", lembrando que este defendera a participação da Itália na guerra ao lado dos Aliados, contra os Impérios Centrais, o que lhe valeu ser expulso do Avanti, órgão oficioso do socialismo italiano. Vale acrescentar que esse seu alinhamento, lhe trouxe simpatias e apoios da Grã-Bretanha e dos EUA. Churchill, por exemplo, não foi parco nos elogios a Mussolini, que esteve junto das potencias atlânticas ocidentais bem para além da conjuntura da guerra, até bem perto de 1935, quando a Itália invadiu a Abissínia. O livro My Autobiography (1928) de Benito Mussolini, foi sugerido e em grande medida concretizado com o apoio do ex-embaixador dos EUA em Itália, Richard Washburn Child, impresso em Nova Iorque, pela Charles Scribner's Sons. Em 1928, o Estado Fascista tinha uma singularidade institucional bem definida, que servirá de inspiração a Oliveira Salazar - regime de partido único e corporativismo de Estado. No prefácio desse livro, Child escreveu que Mussolini tinha uma grandeza sem igual no seu tempo, por ter construído um novo Estado sobre um novo conceito de Estado. Naquele livro, não surgiu claramente definida a natureza ou o conceito essencial desse novo Estado, mas Mussolini viria a defini-lo, sem hesitação, em 1932, como um Estado totalitário.
Voltando a 1922, Rolão Preto coloca em paralelo as situações italiana e francesa, com os trabalhadores perdendo fé na "bandeira vermelha" (símbolo dos socialismos mais estatista ou comunista).
"Das três internacionais em que se dividem agora as forças sindicalistas e comunistas nenhuma tem hoje a força e o prestígio revolucionário para servir de centro polarizador às grandes massas proletárias."
Para Rolão Preto, alinhado com Georges Valois, estava a nascer uma revolução nacionalista de amplitude universal: "Não é a França, não é a Itália, não é a Germânia - a revolução é mais vasta.", referindo-se às suas palavras no 9º congresso da Action française.
O fecho do artigo é muito esclarecedor acerca do que Rolão Preto entendia por "revoluções nacionais" na Europa: "Nacionalismo integral clama Maurras! Integralismo Lusitano clamamos nós..."
As diferentes tradições nacionais iriam na verdade comandar as respectivas revoluções em cada um dos países. Na década seguinte, tornar-se-iam bem claros os contrastes entre os nacionalismos italiano, germânico, francês e português. O grande sentido dos ensinamentos de Charles Maurras, escrevia Rolão Preto, apontava para a existência de diferentes tradições nacionais.
[7 de Junho de 2024, J. M. Q.]
Na verdade, a hora que passa é de uma tal complexidade em aspectos sociais, abrange uma tão vasta simultaneidade de movimentos, de pensamento e de acção contrários ou paralelos, que a sua discriminação demanda uma atenção e trabalho bem difíceis de conseguir.
Este texto de abertura da "Crónica Social", na 2ª série da revista Nação Portuguesa, revela a esperança de Rolão Preto numa vaga de revoluções nacionalistas despontando na Europa e que poderia vir a ser universal.
Aborda os contextos italiano e francês.
No caso italiano, segundo Rolão Preto: "a organização cooperativista e sindical do Fascio é francamente integralista. A forma neo-mediévica da interpretação do pensamento corporativo é largamente seguida pelos chefes do sindicalismo nacional Facista".
Estaria Rolão Preto equivocado? Não estava!... Em 1922, os sindicalistas italianos que estavam integrados no Fascio tinham, na verdade, um pensamento sindicalista neo-medievalista muito semelhante ao do Integralismo Lusitano.
Engano ou equívoco será pensar-se que esse sindicalismo neo-medieval triunfou no Estado Fascista. O que veio a triunfar foi um pseudo-sindicalismo - um sindicalismo subordinado e integrado no Estado, em obediência à doutrina fascista do Estado totalitário de Benito Mussolini (1932).
Em 1922, em Itália, havia então uma luta complexa mas em torno de dois polos principais: as organizações e acções dos socialistas de tendência bolchevique, sob influência da Rússia soviética (III Internacional), em oposição às várias correntes nacionalistas, tanto sindicalistas (próximas dos integralistas lusitanos) como socialistas (com programas políticos mais centrados em soluções estatistas). Nessa altura, os Nacionalistas e os Facistas (como se escrevia então) estavam de "mãos dadas" no combate ao bolchevismo, e estavam a obter triunfos.
Rolão Preto traça aqui com rigor um retrato de Mussolini até aquela data - Junho de 1922 - definindo-o como um "batalhador do socialismo unificado italiano", lembrando que este defendera a participação da Itália na guerra ao lado dos Aliados, contra os Impérios Centrais, o que lhe valeu ser expulso do Avanti, órgão oficioso do socialismo italiano. Vale acrescentar que esse seu alinhamento, lhe trouxe simpatias e apoios da Grã-Bretanha e dos EUA. Churchill, por exemplo, não foi parco nos elogios a Mussolini, que esteve junto das potencias atlânticas ocidentais bem para além da conjuntura da guerra, até bem perto de 1935, quando a Itália invadiu a Abissínia. O livro My Autobiography (1928) de Benito Mussolini, foi sugerido e em grande medida concretizado com o apoio do ex-embaixador dos EUA em Itália, Richard Washburn Child, impresso em Nova Iorque, pela Charles Scribner's Sons. Em 1928, o Estado Fascista tinha uma singularidade institucional bem definida, que servirá de inspiração a Oliveira Salazar - regime de partido único e corporativismo de Estado. No prefácio desse livro, Child escreveu que Mussolini tinha uma grandeza sem igual no seu tempo, por ter construído um novo Estado sobre um novo conceito de Estado. Naquele livro, não surgiu claramente definida a natureza ou o conceito essencial desse novo Estado, mas Mussolini viria a defini-lo, sem hesitação, em 1932, como um Estado totalitário.
Voltando a 1922, Rolão Preto coloca em paralelo as situações italiana e francesa, com os trabalhadores perdendo fé na "bandeira vermelha" (símbolo dos socialismos mais estatista ou comunista).
"Das três internacionais em que se dividem agora as forças sindicalistas e comunistas nenhuma tem hoje a força e o prestígio revolucionário para servir de centro polarizador às grandes massas proletárias."
Para Rolão Preto, alinhado com Georges Valois, estava a nascer uma revolução nacionalista de amplitude universal: "Não é a França, não é a Itália, não é a Germânia - a revolução é mais vasta.", referindo-se às suas palavras no 9º congresso da Action française.
O fecho do artigo é muito esclarecedor acerca do que Rolão Preto entendia por "revoluções nacionais" na Europa: "Nacionalismo integral clama Maurras! Integralismo Lusitano clamamos nós..."
As diferentes tradições nacionais iriam na verdade comandar as respectivas revoluções em cada um dos países. Na década seguinte, tornar-se-iam bem claros os contrastes entre os nacionalismos italiano, germânico, francês e português. O grande sentido dos ensinamentos de Charles Maurras, escrevia Rolão Preto, apontava para a existência de diferentes tradições nacionais.
[7 de Junho de 2024, J. M. Q.]