1926 - Leão Ramos Ascensão - Fascismo, anti-fascismo e monarquia hereditária (notícia)
Nas páginas da Nação Portuguesa, a respeito da actividades da Junta Escolar Integralista de Coimbra, é noticiada a conferência de Leão Ramos Ascensão, “Fascismo, anti-fascismo e monarquia hereditária”, retomando-se a notícia dada por Augusto Morna, na Época, em 21 de Abril de 1926.
Leão Ramos Ascensão terá apoiado, sob reserva, a "Cruzada Nun'Álvares", isto é, na condição de estabelecer uma ditadura transitória, que seja a preparação, o prólogo, de uma Monarquia dos Municípios e das Corporações. Identifica a origem da "Cruzada" no exemplo do fascismo, por sua vez proveniente do republicanismo, um fenómeno político de "tão vincadas raízes italianas." A "Cruzada" poderia, no entanto, apesar de tudo, ser um instrumento para se alcançar a desejada monarquia tradicionalista, anti-parlamentar. É significativo que Ascensão terá acrescentado a componente "católica" à definição original do Integralismo Lusitano - "monarquia tradicional, orgânica, antiparlamentar" (negritos acrescentados):
Através das Revistas e dos Jornais
EM COIMBRA
Não esmorece a J. E. de Coimbra no seu trabalho de propaganda da boa doutrina. Eis o que, a propósito, escrevia na Época de 21 de Abril em carta de Coimbra o seu redactor, nosso prezado amigo e distinto jornalista, Dr. Augusto Morna:
“A Junta Escolar Integralista da Universidade de Coimbra, que este ano tem demonstrado uma bela actividade combativa, continua, dentro da sua posição de luta, a dar sinais de vigorosa vitalidade.
Na sua pequenina sala, mantida a custo de sacrifícios dignos de nota durante um ano inteiro de propaganda activa, têm-se lido conferências, feito discursos, encarado questões actuais através do prisma nacionalista, que estabelecem um contraste frisante com a abulia modorrenta dos “pintainhos de Rousseau”. Desde o Dr. Hipólito Raposo e Dr. Rolão Preto, dois dos mais grados lidadores da Reconquista, até aos mais humildes e desconhecidos escolares, que começam despertando para a vida das realidades sociais, iluminados pelos princípios depuradores do Integralismo, todos têm vindo dizer ali as fortes razões pelos quais o seu nacionalismo de princípio logicamente se realiza num monarquismo de conclusão.
Ainda ontem nova conferência se realizou na sala da Junta Escolar. Conferente Leão Ramos Ascensão, secretário da Junta, terceiranista de direito. Espírito naturalmente combativo, a sua palestra teve um carácter de impressionante actualidade, sob o tema de “Fascismo, anti-fascismo e monarquia hereditária”.
Depois de fazer uma breve exposição do que fora o carácter primitivamente republicano do fascismo, a sua aceitação, depois, do facto monárquico, Leão Ascensão tratou das repercussões nos vários países europeus das doutrinas ditatoriais da Itália rinovata.
Mereceu-lhe especial análise o delírio nervoso do Sr. Raul Proença, que vê no fascismo a segunda edição, correcta e aumentada dos terrores da inquisição.
S. Ex.ª do alto das colunas doutorais da Seara Nova, pontificando para o gentio espantado, clama contra o canibalismo bárbaro dos rapazes fascistas: homens queimados vivos, presos submetidos a trato de polé, horripilantes maquinações contra a Liberdade e a Bondade Humana. Um “engano” do Sr. Raul Proença: o Sr. Amendola, coitado, vítima das sevícias dos fascistas, segundo a pena de oiro do articulista seareiro, declara à hora da morte que não teria ela consequência dos maus tratos dos seus adversários, e pede que esse caso não seja explorado como o do socialista Mateotti.
Passa em seguida o conferente a falar na Cruzada Nun’Álvares, pela qual confessa a mais franca simpatia. Mas a Cruzada não conclui. Não lhe dá a garantia de uma estabilidade governativa inadiável. E pouco a pouco, argumentando com vigorosa lógica, Leão Ascensão proclama a solução única, a garantia firme de uma nova ordem social: a monarquia anti-parlamentar, tradicionalista, católica, de que o fascismo português, se português se pode chamar a um fenómeno político de tão vincadas raízes italianas, não pode ser senão o prólogo organizador. E ai dele, se assim não for! Porque a ditadura é sempre um meio transitório de preparação, alguma coisa tem de sair do seu trabalho gestador. Voltaremos então à anarquia individualista em que nos debatemos? Só a Monarquia Integral, dos Municípios e das Corporações pode dar à Nação a paz que condicione todo o progresso”.
Todos os que na N. P. trabalham abraçam em Leão Ramos Ascensão, uma das mais brilhantes certezas do nosso movimento.
(Nação Portuguesa, 3.ª Série, n.º 11, 1926, pp. CCXXXVIII-IX.)
Ref. Leão Ramos Ascensão, O Fascismo, o Anti-fascismo e a Monarquia Hereditária, Coimbra, Imprensa Académica, 1926.
Leão Ramos Ascensão terá apoiado, sob reserva, a "Cruzada Nun'Álvares", isto é, na condição de estabelecer uma ditadura transitória, que seja a preparação, o prólogo, de uma Monarquia dos Municípios e das Corporações. Identifica a origem da "Cruzada" no exemplo do fascismo, por sua vez proveniente do republicanismo, um fenómeno político de "tão vincadas raízes italianas." A "Cruzada" poderia, no entanto, apesar de tudo, ser um instrumento para se alcançar a desejada monarquia tradicionalista, anti-parlamentar. É significativo que Ascensão terá acrescentado a componente "católica" à definição original do Integralismo Lusitano - "monarquia tradicional, orgânica, antiparlamentar" (negritos acrescentados):
Através das Revistas e dos Jornais
EM COIMBRA
Não esmorece a J. E. de Coimbra no seu trabalho de propaganda da boa doutrina. Eis o que, a propósito, escrevia na Época de 21 de Abril em carta de Coimbra o seu redactor, nosso prezado amigo e distinto jornalista, Dr. Augusto Morna:
“A Junta Escolar Integralista da Universidade de Coimbra, que este ano tem demonstrado uma bela actividade combativa, continua, dentro da sua posição de luta, a dar sinais de vigorosa vitalidade.
Na sua pequenina sala, mantida a custo de sacrifícios dignos de nota durante um ano inteiro de propaganda activa, têm-se lido conferências, feito discursos, encarado questões actuais através do prisma nacionalista, que estabelecem um contraste frisante com a abulia modorrenta dos “pintainhos de Rousseau”. Desde o Dr. Hipólito Raposo e Dr. Rolão Preto, dois dos mais grados lidadores da Reconquista, até aos mais humildes e desconhecidos escolares, que começam despertando para a vida das realidades sociais, iluminados pelos princípios depuradores do Integralismo, todos têm vindo dizer ali as fortes razões pelos quais o seu nacionalismo de princípio logicamente se realiza num monarquismo de conclusão.
Ainda ontem nova conferência se realizou na sala da Junta Escolar. Conferente Leão Ramos Ascensão, secretário da Junta, terceiranista de direito. Espírito naturalmente combativo, a sua palestra teve um carácter de impressionante actualidade, sob o tema de “Fascismo, anti-fascismo e monarquia hereditária”.
Depois de fazer uma breve exposição do que fora o carácter primitivamente republicano do fascismo, a sua aceitação, depois, do facto monárquico, Leão Ascensão tratou das repercussões nos vários países europeus das doutrinas ditatoriais da Itália rinovata.
Mereceu-lhe especial análise o delírio nervoso do Sr. Raul Proença, que vê no fascismo a segunda edição, correcta e aumentada dos terrores da inquisição.
S. Ex.ª do alto das colunas doutorais da Seara Nova, pontificando para o gentio espantado, clama contra o canibalismo bárbaro dos rapazes fascistas: homens queimados vivos, presos submetidos a trato de polé, horripilantes maquinações contra a Liberdade e a Bondade Humana. Um “engano” do Sr. Raul Proença: o Sr. Amendola, coitado, vítima das sevícias dos fascistas, segundo a pena de oiro do articulista seareiro, declara à hora da morte que não teria ela consequência dos maus tratos dos seus adversários, e pede que esse caso não seja explorado como o do socialista Mateotti.
Passa em seguida o conferente a falar na Cruzada Nun’Álvares, pela qual confessa a mais franca simpatia. Mas a Cruzada não conclui. Não lhe dá a garantia de uma estabilidade governativa inadiável. E pouco a pouco, argumentando com vigorosa lógica, Leão Ascensão proclama a solução única, a garantia firme de uma nova ordem social: a monarquia anti-parlamentar, tradicionalista, católica, de que o fascismo português, se português se pode chamar a um fenómeno político de tão vincadas raízes italianas, não pode ser senão o prólogo organizador. E ai dele, se assim não for! Porque a ditadura é sempre um meio transitório de preparação, alguma coisa tem de sair do seu trabalho gestador. Voltaremos então à anarquia individualista em que nos debatemos? Só a Monarquia Integral, dos Municípios e das Corporações pode dar à Nação a paz que condicione todo o progresso”.
Todos os que na N. P. trabalham abraçam em Leão Ramos Ascensão, uma das mais brilhantes certezas do nosso movimento.
(Nação Portuguesa, 3.ª Série, n.º 11, 1926, pp. CCXXXVIII-IX.)
Ref. Leão Ramos Ascensão, O Fascismo, o Anti-fascismo e a Monarquia Hereditária, Coimbra, Imprensa Académica, 1926.