Francisco Rolão Preto in José Plácido Machado Barbosa, Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas com Rolão Preto, Porto, 1940.
As entrevistas foram conduzidas por José Barbosa. Rolão Preto não quis sair da sua "atitude de trégua política", motivada pela guerra civil de Espanha, mas passou em revista a breve história e o pensamento motivador do Movimento Nacional Sindicalista.
O Movimento Nacional Sindicalista.
"- O Movimento Nacional-Sindicalista surgiu das inquietações e anseios das gerações novas e em face da derrocada liberal-democrática, dos perigos de uma reacção estatista, demasiado evidentes no mundo dos nossos dias." (p. 19, negrito acrescentado)
Nos anos 30, a derrocada liberal-democrática era evidente por toda a Europa - níveis escandalosos de corrupção num sistema político estruturalmente corrupto (partidocracia), forte inflação e desemprego, depauperamento das classes médias, etc., com as soluções Estatistas dispondo de um campo fértil para a sedução das massas. Através da violência revolucionária (comunismo) ou através do voto popular em eleições partidocráticas (fascismo e hitlerismo), o estatismo estava a seduzir e a avançar na Europa.
A solução sindicalista era a alternativa ao estatismo - "contra esse clima reagiu, naturalmente, o sentimento de dignidade humana, humilhada, das gerações novas, procurando a posição que garanta os direitos de homens livres." (p. 20)
O Integralismo Lusitano fora uma reacção contra os erros políticos da partidocracia. O Nacional-Sindicalismo era uma reacção contra as consequências económico-sociais dos erros da partidocracia.
- Nacional?
"- Nacional, porque é dentro das fronteiras da Nação Portuguesa que o sentimento Nacional-Sindicalista procura, em primeiro lugar, o resgate da pessoa humana". (p. 20)
...
"Para nós a Nação Portuguesa não é um fim em si mesmo, mas sim um meio que deve realizar as condições e as possibilidades especificamente portuguesas ao serviço da civilização." (p. 20)
... E porque é "Sindicalista" o Movimento?
- É sindicalista porque considera como unidade económico-social, o Sindicato.
(...)
Resumindo, pois, o Pensamento Nacional-Sindicalista é...
É personalista e comunitário. Personalista, pelos fins a atingir, comunitário, isto é, sindicalista, pelos meios de que se serve. O seu método resume-se nesta fórmula: realizar primeiro nas almas e depois nas leis. A sua divisa é a minha frase pronunciada pela primeira vez na "Liga 28 de Maio", no dia 28 de Maio de 1932: - É preciso que os muito ricos sejam menos ricos para que os muito pobres sejam menos pobres. (p. 27)
(...)
"O Integralismo Lusitano era anti-parlamentar, descentralizador, municipalista e corporativo. Visava libertar os cidadãos da tirania das oligarquias politicantes, restaurando as liberdades nacionais; preconizava um Estado forte que tivesse à cabeça o Rei, o Rei que estando por natureza acima dos partidos fosse o árbitro supremo para quem apelassem com segurança quantos sofressem perseguições e injustiças.
Personalista, o Movimento reclamava-se da História Nacional para mostrar o orgulho com que os portugueses sempre souberam falar a Reis e poderosos; realista, invocava as lições dessa mesma História para provar o valor criador e orientador da realeza posta ao serviço da Nação.
- Há muitos pontos de contacto entre o Integralismo Lusitano e o Nacional-Sindicalismo?
- O Nacional-Sindicalismo é na verdade o Integralismo Lusitano que se ultrapassa em todos os seus aspectos formais. É a Contra-Revolução que para além de si própria se torna Revolução. Assim, o Nacional-Sindicalismo é municipalista mas dá ao município o reforço do novo sentido Social-Económico; é descentralizador, mas especificamente orgânico é Sindicalista e cooperativista, antes de ser corporativista; é populista se bem que reconheça o valor das "élites" - Revolução só é eficaz quando tenha por si o povo.
(p. 39).
(...)
- A Aliança Inglesa é pois indispensável a Portugal. Estão todavia surgindo na Europa outros valores de grande importância.
A Itália por exemplo.
- Os erros que atiraram a Itália para um plano contrário à política inglesa é possível que venham "todos" a pagá-los tragicamente um dia.
(p. 54)
- O Doutor Salazar mantendo-se fiel à Aliança Inglesa tem portanto os aplausos de V. Exªa.
- Certamente. Não sou eu quem lhe negue justiça que mereça. (...)
(p. 56)
Ruralismo
Um país rural não é um país de agricultura industrial como é o caso do Canadá, por exemplo. Várias vezes tenho posto em evidência essa diferença, para que dela se tirem as claras consequências. Nos países de agricultura industrial o homem não vê na terra senão matéria de lucro e de especulação, como se ela fosse uma fábrica ou uma mina.
Nenhum sentimento doutra natureza entra nas intenções de quem lavra e colhe os produtos agrícolas em tal regime económico. As instalações dessa lavoura têm, a maior das vezes, cunho de provisórias. Quando a terra não produz o previsto ou as cotações se mostram contrárias, o lavrador não sente ali nada que o tolha de tomar outro caminho.
(…)
Nos países de puro ruralismo, como Portugal, o amor que nos liga à terra antepõe-se a todas as considerações de ordem material. O primeiro acto do nosso esforço na gleba é, quando ele se torna possível fixar-nos, construir a casa, que é como o prender das raízes ao solo eleito. Todos os sacrifícios, todos os desastres, todas as agonias, tudo será impotente em reduzir a nosss insaciável esperança.
Se for preciso, vai-se mesmo mourejar, seja onde for, para trazer com alvoroço e carinho ao canto a que se prende a nossa vida, o amparo de que necessita para a transformar e tornar fecunda.
Esse sentimento de extraordinária afeição pela terra, é uma das mais vivas facetas do temperamento português. (...)
(pp. 75-77)
Nem um Estado que nos obrigue a ir à missa, nem um Estado que nos prive de lá pôr os pés.
Pelo que respeita a leis sociais e económicas o marxismo está francamente ultrapassado e grande erro será opor à tirania fascista a tirania comunista. TODOS OS TRABALHADORES CONSCIENTES DEVEM, COMO JÁ DISSE, COMPREENDER QUE NÃO VALE A PENA SUBSTITUIR A TIRANIA DO CAPITALISMO FEITO PELO ESTADO, PELA TIRANIA DO ESTADO FEITO CAPITALISTA.
(p. 98-99, maiúsculas no original)
"- O Movimento Nacional-Sindicalista surgiu das inquietações e anseios das gerações novas e em face da derrocada liberal-democrática, dos perigos de uma reação estatista, demasiado evidentes no mundo dos nossos dias." (p. 19)
(reacção estatista: fascismo, hitlerismo, salazarismo / salazarquia, etc.)
(reacção estatista: fascismo, hitlerismo, salazarismo / salazarquia, etc.)
(continua...)