Posição de António Sardinha
Luís de Almeida Braga
"Há entre os textos governamentais [do "Estado Novo", 1933-1974] e os dos doutrinadores integralistas uma diferença essencial, que convém acentuar: e é que as ideias, sendo na origem as mesmas, passavam agora a ser experimentadas dentro de instituições que fundamentalmente lhes são contrárias"
[...]
"Teimosamente os velhos preconceitos, como as ervas daninhas, em incessante renovo se mantinham."
[...]
"Oh! a floresta escura das contradições, onde mal entra o luar das ideias desinteressadas!"
[Luís de Almeida Braga, Posição de António Sardinha, Lisboa, Edições GAMA, 1943, pp. 35-36, 38-39.]
[...]
"Teimosamente os velhos preconceitos, como as ervas daninhas, em incessante renovo se mantinham."
[...]
"Oh! a floresta escura das contradições, onde mal entra o luar das ideias desinteressadas!"
[Luís de Almeida Braga, Posição de António Sardinha, Lisboa, Edições GAMA, 1943, pp. 35-36, 38-39.]
Le Jardin de Bérénice (Paris, Perrin, 1891)
... entre nós, até na sua própria vila natal, fingindo honrá-lo, aparece ainda quem procure desviar as novas gerações do caminho claro onde cruzariam com António Sardinha...
[...]
Com ele sofremos a dor sem nome de incompreendidos, quando revelávamos as raízes mais escondidas do nosso nacionalismo; com ele andámos por desoladas terras de exílio, para melhor merecermos o nome de portugueses: com ele nos abrasámos em todos os fogos da esperança, e sobre a hóstia e o cálice nos ajuramentámos, prometendo a vida pela vida da Pátria!
Como deixaremos calar a sua voz, desvirtuar o seu ensino?
Ó gente nova, escutai-o!
À vossa inquietação dará remédio: entusiasmo às vossas almas, se o desfalecimento as toma. Ele não deixará que a tristeza vos adormente e quebre, porque a há-de fornar, lusitanamente, em vivificadora fonte de poesia. e dos vossos instintos, subordinando-os à Razão, há-de extrair a flor dos vossos sentimentos.
Contra a injustiça, ensinar-vos-á a revolta; o desprezo, contra a estupidez; contra o que é efémero, ele vos mostrará a graça do que é eterno; e para a insatisfação doutrinária vos oferece, na lição opulenta dos seus livros, a certeza política.
Explicando a Pátria, à Pátria abre as possibilidades da regeneração definitiva.
(pp. 12-13)
[...]
Com ele sofremos a dor sem nome de incompreendidos, quando revelávamos as raízes mais escondidas do nosso nacionalismo; com ele andámos por desoladas terras de exílio, para melhor merecermos o nome de portugueses: com ele nos abrasámos em todos os fogos da esperança, e sobre a hóstia e o cálice nos ajuramentámos, prometendo a vida pela vida da Pátria!
Como deixaremos calar a sua voz, desvirtuar o seu ensino?
Ó gente nova, escutai-o!
À vossa inquietação dará remédio: entusiasmo às vossas almas, se o desfalecimento as toma. Ele não deixará que a tristeza vos adormente e quebre, porque a há-de fornar, lusitanamente, em vivificadora fonte de poesia. e dos vossos instintos, subordinando-os à Razão, há-de extrair a flor dos vossos sentimentos.
Contra a injustiça, ensinar-vos-á a revolta; o desprezo, contra a estupidez; contra o que é efémero, ele vos mostrará a graça do que é eterno; e para a insatisfação doutrinária vos oferece, na lição opulenta dos seus livros, a certeza política.
Explicando a Pátria, à Pátria abre as possibilidades da regeneração definitiva.
(pp. 12-13)
O Cesarismo é a negação da Monarquia. Pela sua íntima colaboração com as forças morais, económicas e territoriais — os lares, as oficinas e os municípios — a Monarquia repele tudo quanto seja abuso de centralização administrativa, bem sabendo que esse é o trilho por onde se chega ao enfraquecimento da vontade política.
O Estado apodera-se dos corações e das almas. Tudo quer absorver o Estado. Levando a toda a parte a vigilância e a influência, em todos os sentidos desenvolve a sua autoridade e constrói abrigos para a sua administração. A vida perde a graça que a animava na variedade do seu conjunto e não há estímulo que lhe afervore o amor. Com precisão mecânica, a vida é apenas fria regra administrativa. E a nação surge transformada em vasta caserna, onde as mais insignificantes acções são dirigidas de longe e do alto. Ditadura de César ou ditadura do Proletariado são afinal as duas faces, bem pouco diferentes, do mesmo estadismo tirânico e desumano.
A ordem não é um homem, a ordem é um princípio.
(pp. 18-19)
O Estado apodera-se dos corações e das almas. Tudo quer absorver o Estado. Levando a toda a parte a vigilância e a influência, em todos os sentidos desenvolve a sua autoridade e constrói abrigos para a sua administração. A vida perde a graça que a animava na variedade do seu conjunto e não há estímulo que lhe afervore o amor. Com precisão mecânica, a vida é apenas fria regra administrativa. E a nação surge transformada em vasta caserna, onde as mais insignificantes acções são dirigidas de longe e do alto. Ditadura de César ou ditadura do Proletariado são afinal as duas faces, bem pouco diferentes, do mesmo estadismo tirânico e desumano.
A ordem não é um homem, a ordem é um princípio.
(pp. 18-19)
E se [ António Sardinha ] vê levantar-se entre os escombros da guerra a figura lendária de Carlos de Áustria, o seu entusiasmo desborda, e exclama: "há na Europa um Rei!" (De Vita et Moribus, 1931, pp. 111-114) . Então explicaria: "Nós não somos patriotas por sermos monárquicos. Somos monárquicos por sermos patriotas. Pondo a nacionalidade como razão e fim de nós próprios, concluímos na necessidade do Rei como elemento orgânico do seu prestígio e da sua existência. ("Alva da Páscoa", in Na Feira dos Mitos, 1926)
Firmada assim a sua fé, cumpria-lhe defini-la. E escreve: "Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regime que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a única garantia eficaz de liberdade, — mas da liberdade orgânica, irmã gémea da competência, da hierarquia e da autoridade" (A Prol do Comum..., 1934, 170-171).
Firmada assim a sua fé, cumpria-lhe defini-la. E escreve: "Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regime que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a única garantia eficaz de liberdade, — mas da liberdade orgânica, irmã gémea da competência, da hierarquia e da autoridade" (A Prol do Comum..., 1934, 170-171).
Podíamos agora partir com ele, os que regressávamos do primeiro exílio [1910-1914], para a guerra sem quartel aos mitos em plena exaltação da soberania popular, do liberalismo corruptor e da enganosa democracia.
O verbo tornava-se acção por milagre da espada de Gomes da Costa. [28 de Maio de 1926]
Já Luís Araquistain se deixou enredar na mesma teia de aparências...
Em suma: pretende-se construir o Estado social e corporativo em estreita correspondência com a constituição natural da sociedade. ....
O ensino oficial adoptou a mesma versão... [...] A. Martins Afonso
Marcelo Caetano ... Fezas Vital ... Costa Leite (Lumbrales)
Há, porém, entre os textos governamentais e o dos doutrinados integralistas uma diferença essencial, que convém acentuar: e é que as ideias, sendo na origem as mesmas, passavam agora a ser experimentadas dentro de instituições que fundamentalmente lhes são contrárias.
Há, porém, entre os textos governamentais e o dos doutrinados integralistas uma diferença essencial, que convém acentuar: e é que as ideias, sendo na origem as mesmas, passavam agora a ser experimentadas dentro de instituições que fundamentalmente lhes são contrárias.
Mário Pais de Sousa ... Quirino de Jesus... Carneiro Pacheco
Oliveira Salazar, falando ao representante do jornal londrino Daily Telegraph: "Nós somos anti-parlamentaristas, anti-democratas, anti-liberais" ... ("Um notável documento político. Declarações do sr. Presidente do Conselho a um jornalista inglês", Diário de Noticias, 5 de Agosto de 1936.)
Teimosamente os velhos preconceitos, como as ervas daninhas, em incessante renovo se mantinham.
O relatório do Decreto nº 20.342, de 24 de Setembro de 1931... uma "Constituição que é mais intensamente democrática do que a imposta por qualquer das constituições que até hoje nos tem regido". Tem este decreto as assinaturas de António Óscar de Fragoso Carmona, Domingos Augusto Alves da Costa Oliveira, António Lopes Mateus, José de Almeida Eusébio, António de Oliveira Salazar, Luís António de Magalhães Correia, Fernando Augusto Branco, João Antunes Guimarães, Armindo Rodrigues Monteiro, Gustavo Cordeiro Ramos, Henrique Linhares de Lima.
Comentário final de Luís de Almeida Braga: "Oh! a floresta escura das contradições, onde mal entra o luar das ideias desinteressadas!" (p. 39)
Reconhecendo a todos a inteligência e os conhecimentos precisos para eleger o Chefe do Estado, que há-de decidir os mais árduos problemas da vida colectiva, a todos será negada competência para escolher o presidente da sua Câmara Municipal!
Eis-nos caídos assim em uma daquelas muitas ficções de que a Democracia é formada. (p. 41)
Eis-nos caídos assim em uma daquelas muitas ficções de que a Democracia é formada. (p. 41)
Para o poder se considerar democrático, é à sua origem que havemos de ir buscar as leis que o definem. Se o poder vem do número, se tem por fonte a eleição, esse poder será democrático. De acordo com a História antiga e moderna, os melhores tratadistas políticos ensinam que a Democracia toma variadas aparências: tanto exercita directamente o poder no tumulto dos comícios populares, como o delega num conselho, num congresso, ou o entrega a um homem, que umas vezes empunha a espada de fogo de Bonaparte e outras soturnamente compõe e se acomoda nas duras pregas da toga romana. Em qualquer caso é sempre a frágua ardente onde melhor caldeiam as algemas da tirania. (p. 42-43)
L'Avenir de l'Inteligence
O homem vive de realidades, e a democracia só lhe oferece mitos, ideias abstratas, nuvens... (p. 45)
M. Pestana Reis, Princípios de Direito Corporativo, in Cadernos Corporativos, Lisboa, 1933, tomo II, p. 108.
M. Pestana Reis, Princípios de Direito Corporativo, in Cadernos Corporativos, Lisboa, 1933, tomo II, p. 108.
«Oliveira Martins avait détruit les fondements historiques de la monarchie sans que celle-ci en ait le moindrement conscience; les intégralistes, au moyen d'une offensive doctrinaire, ont détruit l'essence du régime républicain sans que l'Etat républicain s'en rendit compte» (Artur Ribeiro Lopes, Histoire de la République Portugaise, Paris, Les OEuvres Françaises, 1939, p. 230)
"Oliveira Martins tinha destruído os fundamentos históricos da monarquia sem que esta tivesse a mínima consciência disso; os integralistas, através de uma ofensiva doutrinária, destruíram a essência do regime republicano sem que o Estado republicano se apercebesse disso." (p. 46)
"Oliveira Martins tinha destruído os fundamentos históricos da monarquia sem que esta tivesse a mínima consciência disso; os integralistas, através de uma ofensiva doutrinária, destruíram a essência do regime republicano sem que o Estado republicano se apercebesse disso." (p. 46)
Entre tão contrários movimentos, René Richard perdia a rumo. E, por sua vez, desorientado, deixava cair da pena o comentário fabuloso: «Salazar est républicain, mais il adonné à son pays une organisation monarchique, sans roi" [ "Salazar é republicano, mas deu ao seu país uma organização monárquica, sem rei".] Le Nouvel État Portugais ou le triomphe de Salazar, in Je Suis Partout, nº 222, 23 Fevrier, 1933.)
«Todos sentem que a ordem entre nós é provisória, que não passa de um interinato, que é bem precário o título em que se fundamenta e legitima» (António Sardinha, "No Parlamento", in Na Feira dos Mitos, Lisboa, Livraria Universal, 1926, p. 268).
Na sua manifestação primeira, nacionalismo é sentimento e é instinto. Significa amor. Vive da ternura, do encanto da ferra e da graça dos trabalhos em que por ela os dias se consomem. E pode ser arrebatamento bárbaro, cavalgada louca, desesperada e fatal, se o gosto da soberba nos invade para não dar limites à feroz aspiração de domínio. Ganha o nacionalismo as serenas perspectivas de doutrina criadora de almas voadas ao bem comum se as disciplinas tradicionalistas, contendo-o e completando-o, lhe transmitem a essência de tudo quanto o Passado elaborou. De anárquico e contraditório que tantas vezes se mostra, o nacionalismo tornar-se-á útil e fecundo. Onde o nacionalismo se aparta da tradição, aí se perde no alvoroço das improvisações pedantes. Método positivo de acção e de governo, o tradicionalismo trás ao nacionalismo o lógico remate. Essa foi a síntese do INTEGRALISMO LUSITANO. (pp. 53-54)
"Nacionalista por princípio e monárquico por conclusão" [António Sardinha, in Durante a Fogueira, 1927, p. 133.]
A Monarquia é a Restauração da Inteligência [1920] - proclamou Rolão Preto na fachada de um livro implacável.
A República é um fenómeno anti-nacional no seu espírito e nas suas origens, nas suas manifestações e na sua acção, nas suas consequências e nos seus resultados. Nasceu à beira do Sena dos devaneios sentimentalistas de um saltimbanco de Genebra, absurdo e genial, cínico e sombrio, e a soldadesca napoleónica a trouxe na mochila para as lojas maçónicas de Lisboa. (p. 55)
Enredado na teia espessa das ideias equívocas, das doutrinas incompletas, dos sentimentos inconscientes, e já esquecido de que fora ele quem chamara a si a fama de haver riscado as linhas fundamentais para o discurso que em 30 de Julho de 1930 cristalizou absorventes anseios de transformação política, Quirino de Jesus anotava atarantado: «¿Que se vê já hoje quando se olha, mesmo em Portugal, para certas regulamentações da agricultura, da indústria e do comércio, às vezes pedidas, e ainda mais largamente pelas classes? A reflexão descobre nelas vícios e males de um socialismo de Estado, mau em si mesmo, tendente para um certo comunismo». [*] Outros não eram os receios de António Sardinha. No propósito de desviar Portugal do perigo da adopção de estranhas formas de reinar, o nosso insigne tradicionário constantemente aporfiava: "Só a Monarquia, restituída à sua verdadeira essência, pode restaurar as velhas liberdades municipais e corporativas." (pp. 57-58)
[*] Quirino Avelino de Jesus, Nacionalismo Português, Porto, Empresa Industrial Gráfica do Porto, 1932, p. 77. Explicação para o ensino confuso de Quirino Avelino de Jesus deu-a o sr. Câmara Reys ao revelar que esse fundador do Estado Novo assistira à elaboração do programa de salvação pública lançado pela Seara Nova (Câmara Reys, As questões morais e sociais na literatura, VI - Raúl Proença, Lisboa, Seara Nova, 1943, p. 178).
[*] Quirino Avelino de Jesus, Nacionalismo Português, Porto, Empresa Industrial Gráfica do Porto, 1932, p. 77. Explicação para o ensino confuso de Quirino Avelino de Jesus deu-a o sr. Câmara Reys ao revelar que esse fundador do Estado Novo assistira à elaboração do programa de salvação pública lançado pela Seara Nova (Câmara Reys, As questões morais e sociais na literatura, VI - Raúl Proença, Lisboa, Seara Nova, 1943, p. 178).
"Sem localismo, não há nacionalismo, nem cidadãos: não passamos de simples administrados pelo partido que usufruir o poder" (António Sardinha, À sombra dos Pórticos, Lisboa, Ferin, 1927, p. 187)
"Órgão da vida local, inteiramente extinta, mas que é preciso ressuscitar para que haja vida nacional consciente e intensa, o Município deve ser restaurado nos termos em que vicejaria hoje o velho e tradicional município mediévico, se o seu desenvolvimento não tivesse sido estrangulado por factores de sobejo conhecidos." (António Sardinha, À sombra dos Pórticos, Lisboa, Ferin, 1927, p. 307)
"Órgão da vida local, inteiramente extinta, mas que é preciso ressuscitar para que haja vida nacional consciente e intensa, o Município deve ser restaurado nos termos em que vicejaria hoje o velho e tradicional município mediévico, se o seu desenvolvimento não tivesse sido estrangulado por factores de sobejo conhecidos." (António Sardinha, À sombra dos Pórticos, Lisboa, Ferin, 1927, p. 307)
A baça uniformidade administrativa apagou os contornos, diluiu as cores das diversas municipalidades. A todos os homens foi imposta a mesma lei, como se todos eles sentissem à mesma hora as mesmas faltas e os exaltassem as mesmas aspirações. Basta a dureza da terra ou a sua benignidade, que o sol queime como brasa ou entre nuvens alumie como candeia, que se prendam os pés a agreste monte ou corram ligeiros por macio vale, que o vento passe como baforada de fornalha, enfurecido e negro, ou do pálido céu, monotonamente, o lamentoso carpir da chuva se prolongue e tombe, para a alma sentir inclinações diferentes, para que gostos diversos nela despertem ou nela amorteçam.
Os costumes locais, que obstinadamente se mantêm, são ainda a melhor prova da perdida liberdade municipal. Na antiga monarquia, cada município era regido por sua lei própria. A diversidade dessas leis correspondia à diversidade das liberdades, dos foros, das isenções. Quando Mouzinho da Silveira despedaçou os quadros tradicionais da nação, não foram arrasados apenas os privilégios da nobreza, mas também ficaram aniquilados os dos pequenos lares, os das oficinas humildes, os dos municípios orgulhosos das figuras heráldicas do seu brasão. Destruídos eles, destruídas ficaram as suas liberdades e foram impiedosamente entregues a um Estado sem coração e sem alma, que os iria esmagar sob o duro jugo igualitário e em nome da Liberdade escravizá-los. A uma pretensa liberdade, que não passa de pura abstracção, palavra vazia e estonteadora, sacrificaram-se as liberdades reais e úteis. O desejo de perfeita harmonia jurídica levou à uniformidade, que é, na opinião de certo comentador cauteloso da moderna Constituição portuguesa (*), um dos perigos mais graves que podem ameaçar a vida social, porque implica fatalmente a própria desagregação da sociedade. Só o Rei pode ser o federador dos diversos organismos de que a nação se compõe, só ele dá unidade à diversidade. (pp. 59-61)
Os costumes locais, que obstinadamente se mantêm, são ainda a melhor prova da perdida liberdade municipal. Na antiga monarquia, cada município era regido por sua lei própria. A diversidade dessas leis correspondia à diversidade das liberdades, dos foros, das isenções. Quando Mouzinho da Silveira despedaçou os quadros tradicionais da nação, não foram arrasados apenas os privilégios da nobreza, mas também ficaram aniquilados os dos pequenos lares, os das oficinas humildes, os dos municípios orgulhosos das figuras heráldicas do seu brasão. Destruídos eles, destruídas ficaram as suas liberdades e foram impiedosamente entregues a um Estado sem coração e sem alma, que os iria esmagar sob o duro jugo igualitário e em nome da Liberdade escravizá-los. A uma pretensa liberdade, que não passa de pura abstracção, palavra vazia e estonteadora, sacrificaram-se as liberdades reais e úteis. O desejo de perfeita harmonia jurídica levou à uniformidade, que é, na opinião de certo comentador cauteloso da moderna Constituição portuguesa (*), um dos perigos mais graves que podem ameaçar a vida social, porque implica fatalmente a própria desagregação da sociedade. Só o Rei pode ser o federador dos diversos organismos de que a nação se compõe, só ele dá unidade à diversidade. (pp. 59-61)
Sardinha convencera-se de que a mudança do regime só era possível e seria fecunda quando houvesse um escol de esclarecidas vontades capaz de impor à Nação os princípios salvadores, isto é, capaz de estender a todos os benefícios que nos espíritos seleccionados fivesse produzido a reforma intelectual e moral a que entregara a sua vida. (p. 71)
O nome de António Sardinha resplandece na história das ideias em Portugal sobretudo porque, tendo reivindicado a herança perdida de Faustino da Madre de Deus, de Gama e Castro, de Penalva, de José Agostinho de Macedo, de Ribeiro Saraiva, de França Galvão, de Santarém, de Alexandre Lobo, de Gouveia Pinto, de Acúrcio das Neves, de Fortunato de S. Boaventura, soube achar o antigo tesouro das justas verdades, que dele fizeram, no nosso tempo e na nossa terra, o mais forte e o mais fulgurante propugnador da Monarquia.
Oh! o horror de Sardinha pelo hibridismo das situações intermédias! A arte de agradar aos homens políticos não a aprendeu nunca. Em breves palavras Talleyrand a ensinara, e na verdade parece não haver nada mais fácil. Toda ela se resume nesta regra única, segundo a aproveitada leitura do perturbador fantasma de Maquiavel: «Se aquele de quem precisares ou a quem quiseres agradar o vires montado em mísero sendeiro, chagado e trôpego, dize-lhe: — que belo cavalo, meu senhor!› Depressa decoram a lição os sequazes da escola do epicurismo polífico. Não era para Sardinha o trêdo conselho. Acima de tudo, amava a verdade e a justiça. As suas convicções políticas, criadas à luz do estudo da História, eram profundas e arreigadas. Se nelas algum deslize se pudesse encontrar, ninguém lhes achará falta de sinceridade. Para as servir não temeu perigos nem evitou sacrifícios. A agradar com a lisonja, preferia ofender com a verdade. Por isso, firme na posse das imutáveis certezas, reclamava para si o direito de escrever e falar dos homens e das coisas públicas da sua ferra com aquela segura liberdade do soldado veterano de Diogo do Couto, que nem receava mal pelo que dissesse, nem esperava bem pelo que louvasse. E melhor o inimigo que repreende, que o amigo que lisonjeia. Quem encobre os êrros e os louva, prepara a perdição de quem é louvado.
A ALIANÇA PENINSULAR:
Dualidade de soberania na unidade dos comuns interesses políticos de expansão e defesa, poderia bem ser o resumo do seu pensamento. [...] Para Sardinha, hispanismo significava o regresso à concordância política e social de Quinhentos, que permitiu às duas monarquias peninsulares, criadoras e fundadoras de nações, afirmar ao Mundo, a universalidade do seu espírito.
Dualidade de soberania na unidade dos comuns interesses políticos de expansão e defesa, poderia bem ser o resumo do seu pensamento. [...] Para Sardinha, hispanismo significava o regresso à concordância política e social de Quinhentos, que permitiu às duas monarquias peninsulares, criadoras e fundadoras de nações, afirmar ao Mundo, a universalidade do seu espírito.
... se de António Sardinha se deve dizer que foi o espelho mágico do pensamento dos rapazes que o aclamaram como guia e mestre; tem de afirmar-se que Hipólito Raposo é a sua consciência, — voz íntima que condena e castiga, vivo remorso de quantos se deixaram inebriar pelo aroma das rosas desfolhadas nos trasbordantes picheis ...
Sardinha foi o animador apaixonado e ardente; Hipólito Raposo o ordenador silencioso e calmo. A António Sardinha sobretudo o prendia a verdade intrínseca da doutrina; as suas consequências humanas foram sempre a suprema preocupação de Hipólito Raposo. Sardinha era um místico; Hipólito, um estóico. O que Sardinha dava à Poesia pura, confia Raposo à guarda austera da Razão.
Na funda aliança de temperamentos assim díspares, a que se juntaram para lhe imprimir possibilidades de interferência política as dedicações sem termo de Alberto Monsaraz e de Pequito Rebelo - vontade intemerata de acção e concentrada análise de tudo o que der vida à Vida —tem de procurar-se a causa primeira da força irradiante das ideias integralistas.
Com perfeita compreensão dos próprios limites, como Elísio de Carvalho, encantado pelo fulgor dos seus escritos, houvesse atribuído ao poeta excelso do ROUBO DE EUROPA, dando o mote aos modernos manuais escolares, a qualidade de «leader» primacial do Integralismo, logo Sardinha o rectifica e diz: Movimento de fé e de ideias, somos uma irmandade, - uma como que Távola Redonda, a que falta ... —¿porque não dizê-lo? — o Rey Artur. Supremacias pessoais não existem, por isso, entre nós. (Nação Portuguesa, 2ª série, 1922-1923, pp. 416-417.)
Sardinha foi o animador apaixonado e ardente; Hipólito Raposo o ordenador silencioso e calmo. A António Sardinha sobretudo o prendia a verdade intrínseca da doutrina; as suas consequências humanas foram sempre a suprema preocupação de Hipólito Raposo. Sardinha era um místico; Hipólito, um estóico. O que Sardinha dava à Poesia pura, confia Raposo à guarda austera da Razão.
Na funda aliança de temperamentos assim díspares, a que se juntaram para lhe imprimir possibilidades de interferência política as dedicações sem termo de Alberto Monsaraz e de Pequito Rebelo - vontade intemerata de acção e concentrada análise de tudo o que der vida à Vida —tem de procurar-se a causa primeira da força irradiante das ideias integralistas.
Com perfeita compreensão dos próprios limites, como Elísio de Carvalho, encantado pelo fulgor dos seus escritos, houvesse atribuído ao poeta excelso do ROUBO DE EUROPA, dando o mote aos modernos manuais escolares, a qualidade de «leader» primacial do Integralismo, logo Sardinha o rectifica e diz: Movimento de fé e de ideias, somos uma irmandade, - uma como que Távola Redonda, a que falta ... —¿porque não dizê-lo? — o Rey Artur. Supremacias pessoais não existem, por isso, entre nós. (Nação Portuguesa, 2ª série, 1922-1923, pp. 416-417.)
OS CINCO ERROS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
(pp. 90 - 96)
(pp. 90 - 96)
A origem do mal temos de a procurar naquele momento em que o individualismo se tornou a grande lei da sociedade, em que a mentira democrática invadiu as inteligências, em que o liberalismo criou a aristocracia da riqueza.
Rompeu-se então o equilíbrio entre os conceitos de Liberdade e de Autoridade. E as almas, endurecidas no mais degradante materialismo, encontraram-se mergulhadas em treva, como se estivessem mortas as estrelas no céu!
A crise que aflige o mundo é sobretudo ideológica e espiritual. Nasce de um erro doutrinário.
Poderá, talvez, parecer exagerada semelhante afirmação, porque sempre o erro tem corrompido o mundo e nunca o mundo se achou como agora em tão agudo transe de morte. Mas é que esse erro, chame-se-lhe Democracia, Socialismo, Anarco-sindicalismo, Comunismo - que não passam de cambiantes de uma só e mesma coisa - mais do que um simples erro, é a soma de todos os erros: do teológico, do filosófico, do social, do económico, do político. Abarca o homem em toda a sua integridade, em tadas as suas faculdades, em todas as suas formas de vida. Não é portanto de admirar que erro de tal natureza produza efeitos tão desesperadoramente inumanos como esses que despedaçaram a Espanha e trazem a Europa sob o jugo do fogo e da fome ...
E digo ser erro teológico porque nega a tendência nativa do homem para o mal e pretende instituir o regime de comunidade positiva de bens, de todo incompatível com aquela triste sina.
E é erro filosófico porque nega a existência das leis gerais da produção e as diversas categorias económicas, subordinando, pela sua concepção materialista da História, o que é mais nobre ao que é inferior.
E é erro social porque, de costas voltadas ao princípio genérico da sociabilidade como a natureza a ordena, proclama o dogma perverso da luta de classes.
E é erro económico porque dolosamente esconde a acção do capital na produção, e, dando só valor ao trabalho, assenta como consequência uma oposição, a que contra o sentido natural chama natural, entre os dois factores harmónicos da produção.
E é, finalmente, erro político porque, desconhecendo a origem e os fins da autoridade, apregoa o livre govêrno de classes e reclama para o Proletariado a mais absoluta e violenta ditadura!
Êle aí está, a cair da árvore, o fruto envenenado dessa monstruosa semente. E na sombra ouço gritos de dor e vejo mãos que se estendem para o colher, porque de todo se perdeu o sentido católico da vida.
Está inquieto o mundo, porque o mundo sofre. ¿Mas dar-se-ão todos exacta conta do mal?
Parece-me que não; já vimos que não.
Tomados de pavor pelo avanço da caterva comunista, apressadamente surgiram para se abrigar à sombra útil das verdades tradicionais oficializadas muitos dos que ainda ontem parvolejavam chulas zombarias e com doutoral desdém amesquinhavam o esforço nacionalista de António Sardinha, porque — diziam, rufando o espectaculoso tambor das suas palavras —- a época era das democracias, para trás não se anda, e o sr. Doutor Afonso Costa extinguira o deficit e gozava de grande prestígio internacional!
Então - para dar dois exemplos típicos Nuno Álvares era doido varrido; Dom João IV um pobre covarde. E porque lhes ouço agora que o Condestável é a mais alta flor da cavalaria e da santidade, e os êxitos primeiros da Restauração sobretudo se devem à hábil prudência do Rei, não me agrada enxergar no lôdo as vantagens de tanta mudança...
Digamos só insistentemente que vem de longe a febre dos pecados que ameaçam subverter o mundo. O comunismo é um efeito, não é uma causa: é o remate lógico e normal do Libera-lismo, da Democracia, das falsas ideias igualitárias da Revolução Francesa de 89, de todos os vícios ideológicos que entre nós serviram para abalar os alicerces da Pátria.
Somos assim levados aos dois extremos dum dilema: ordem ou bolchevismo; mas ordem com tudo o que nela significa estabilidade, continuidade, independência.
Se no plano da criação social o marxismo carece de valor, o mais intenso valor o anima no plano da revolta. Incapaz de criar civilização, possui no entanto todos os elementos para a destruir.
Parasita ideológico do Liberalismo, o marxismo, deformando a História, teve contudo o mérito de chamar as atenções para os dados reais da História, para a lamentável impotência do pensamento burguês.
Na ditadura do proletariado existe uma ideia, absurda e mortífera, mas activa, que não basta exorcisar, se deveras a queremos vencer. Foi a Democracia que conduziu o mundo ao barbarismo actual, porque a Democracia é, fatalmente, a redução do homem ao seu tipo inferior. A Democracia — outra vez o repito — é a mãe do caos: nivela valores desiguais, nega os heróis, destrói os templos. O mais imundo materialismo a alimenta e propaga. Exaltando a ideia animal dos máximos regalos corpóreos, a Democracia rebaixou o trabalho à mesquinha aspiração de ganhar dinheiro, e desta sorte lhe tirou o seu carácter sagrado de comunhão do homem com as coisas. «Enriquecei, enriquecei! — gritava aos apaniguados o grande ministro da burguesia liberal.
Rompeu-se então o equilíbrio entre os conceitos de Liberdade e de Autoridade. E as almas, endurecidas no mais degradante materialismo, encontraram-se mergulhadas em treva, como se estivessem mortas as estrelas no céu!
A crise que aflige o mundo é sobretudo ideológica e espiritual. Nasce de um erro doutrinário.
Poderá, talvez, parecer exagerada semelhante afirmação, porque sempre o erro tem corrompido o mundo e nunca o mundo se achou como agora em tão agudo transe de morte. Mas é que esse erro, chame-se-lhe Democracia, Socialismo, Anarco-sindicalismo, Comunismo - que não passam de cambiantes de uma só e mesma coisa - mais do que um simples erro, é a soma de todos os erros: do teológico, do filosófico, do social, do económico, do político. Abarca o homem em toda a sua integridade, em tadas as suas faculdades, em todas as suas formas de vida. Não é portanto de admirar que erro de tal natureza produza efeitos tão desesperadoramente inumanos como esses que despedaçaram a Espanha e trazem a Europa sob o jugo do fogo e da fome ...
E digo ser erro teológico porque nega a tendência nativa do homem para o mal e pretende instituir o regime de comunidade positiva de bens, de todo incompatível com aquela triste sina.
E é erro filosófico porque nega a existência das leis gerais da produção e as diversas categorias económicas, subordinando, pela sua concepção materialista da História, o que é mais nobre ao que é inferior.
E é erro social porque, de costas voltadas ao princípio genérico da sociabilidade como a natureza a ordena, proclama o dogma perverso da luta de classes.
E é erro económico porque dolosamente esconde a acção do capital na produção, e, dando só valor ao trabalho, assenta como consequência uma oposição, a que contra o sentido natural chama natural, entre os dois factores harmónicos da produção.
E é, finalmente, erro político porque, desconhecendo a origem e os fins da autoridade, apregoa o livre govêrno de classes e reclama para o Proletariado a mais absoluta e violenta ditadura!
Êle aí está, a cair da árvore, o fruto envenenado dessa monstruosa semente. E na sombra ouço gritos de dor e vejo mãos que se estendem para o colher, porque de todo se perdeu o sentido católico da vida.
Está inquieto o mundo, porque o mundo sofre. ¿Mas dar-se-ão todos exacta conta do mal?
Parece-me que não; já vimos que não.
Tomados de pavor pelo avanço da caterva comunista, apressadamente surgiram para se abrigar à sombra útil das verdades tradicionais oficializadas muitos dos que ainda ontem parvolejavam chulas zombarias e com doutoral desdém amesquinhavam o esforço nacionalista de António Sardinha, porque — diziam, rufando o espectaculoso tambor das suas palavras —- a época era das democracias, para trás não se anda, e o sr. Doutor Afonso Costa extinguira o deficit e gozava de grande prestígio internacional!
Então - para dar dois exemplos típicos Nuno Álvares era doido varrido; Dom João IV um pobre covarde. E porque lhes ouço agora que o Condestável é a mais alta flor da cavalaria e da santidade, e os êxitos primeiros da Restauração sobretudo se devem à hábil prudência do Rei, não me agrada enxergar no lôdo as vantagens de tanta mudança...
Digamos só insistentemente que vem de longe a febre dos pecados que ameaçam subverter o mundo. O comunismo é um efeito, não é uma causa: é o remate lógico e normal do Libera-lismo, da Democracia, das falsas ideias igualitárias da Revolução Francesa de 89, de todos os vícios ideológicos que entre nós serviram para abalar os alicerces da Pátria.
Somos assim levados aos dois extremos dum dilema: ordem ou bolchevismo; mas ordem com tudo o que nela significa estabilidade, continuidade, independência.
Se no plano da criação social o marxismo carece de valor, o mais intenso valor o anima no plano da revolta. Incapaz de criar civilização, possui no entanto todos os elementos para a destruir.
Parasita ideológico do Liberalismo, o marxismo, deformando a História, teve contudo o mérito de chamar as atenções para os dados reais da História, para a lamentável impotência do pensamento burguês.
Na ditadura do proletariado existe uma ideia, absurda e mortífera, mas activa, que não basta exorcisar, se deveras a queremos vencer. Foi a Democracia que conduziu o mundo ao barbarismo actual, porque a Democracia é, fatalmente, a redução do homem ao seu tipo inferior. A Democracia — outra vez o repito — é a mãe do caos: nivela valores desiguais, nega os heróis, destrói os templos. O mais imundo materialismo a alimenta e propaga. Exaltando a ideia animal dos máximos regalos corpóreos, a Democracia rebaixou o trabalho à mesquinha aspiração de ganhar dinheiro, e desta sorte lhe tirou o seu carácter sagrado de comunhão do homem com as coisas. «Enriquecei, enriquecei! — gritava aos apaniguados o grande ministro da burguesia liberal.
O homem não vive só de pão. O pão é amargo se a flor do ideal o não tempera.
É o ideal a parte mais séria da realidade humana. Em vão se procurará defini-lo. Entrevê-se apenas por estreitas frinchas que dão para o infinito: o amor abnegado; a fé cristã; o sacrifício pelos interesses superiores da Pátria; a compreensão da vida no plano divino da virtude; tudo o que alheia o homem da própria individualidade, e o eleva, e o multiplica, e por uma contemplação pura, uma resolução heróica, uma aspiração excelsa o engrandece!
Sem um forte ideal a animá-lo, jamais Povo algum conseguiu realizar a unidade do seu ser. O ideal é o modo de conceber o ser e a sua razão de ser, — é o puro sentido da vida consciente, o que lhe dá merecimento e a individualiza.
A vida humana vale o que valer o seu ideal e o que valer a forma por que se procurou efectivá-lo. Sem ideal, nada de belo ou grande humanamente foi feito no mundo. A alma de um Povo é formada pelo ideal que o conduz.
São os Povos realidades humanas autónomas e diferentes da simples soma dos indivíduos que os compõem. Um Povo — a Grei, no entendimento da nossa antiga linguagem - é uma pessoa moral, com sua unidade própria e próprio destino, só à sua vontade confiado.
Não é a fatalidade ou o acaso que regula a vida dos Povos, — é Deus, mas respeitando no ordenamento da sua acção toda poderosa a liberdade que têm, como os indivíduos, de cumprir ou não a sua razão de ser, o seu ideal.
Um Povo sem ideal é um Povo sem alma, adormecido nas sombras do ataúde. Tudo o que é humano só existe e vale pela alma.
É o ideal a parte mais séria da realidade humana. Em vão se procurará defini-lo. Entrevê-se apenas por estreitas frinchas que dão para o infinito: o amor abnegado; a fé cristã; o sacrifício pelos interesses superiores da Pátria; a compreensão da vida no plano divino da virtude; tudo o que alheia o homem da própria individualidade, e o eleva, e o multiplica, e por uma contemplação pura, uma resolução heróica, uma aspiração excelsa o engrandece!
Sem um forte ideal a animá-lo, jamais Povo algum conseguiu realizar a unidade do seu ser. O ideal é o modo de conceber o ser e a sua razão de ser, — é o puro sentido da vida consciente, o que lhe dá merecimento e a individualiza.
A vida humana vale o que valer o seu ideal e o que valer a forma por que se procurou efectivá-lo. Sem ideal, nada de belo ou grande humanamente foi feito no mundo. A alma de um Povo é formada pelo ideal que o conduz.
São os Povos realidades humanas autónomas e diferentes da simples soma dos indivíduos que os compõem. Um Povo — a Grei, no entendimento da nossa antiga linguagem - é uma pessoa moral, com sua unidade própria e próprio destino, só à sua vontade confiado.
Não é a fatalidade ou o acaso que regula a vida dos Povos, — é Deus, mas respeitando no ordenamento da sua acção toda poderosa a liberdade que têm, como os indivíduos, de cumprir ou não a sua razão de ser, o seu ideal.
Um Povo sem ideal é um Povo sem alma, adormecido nas sombras do ataúde. Tudo o que é humano só existe e vale pela alma.
... o governo das nações passou a ser confiado ao Dinheiro.
A Pátria...
Não há ciência sem experiência, nem Pátria sem tradição.
... a Tradição é força activa que se desenvolve incessantemente. Tradição é continuidade do desenvolvimento, permanência na renovação, como Sardinha gostava de repetir.
Como se queixava o grande Fustel de Coulanges, de quem António Sardinha recolheu a iluminada lição, os que ensinam a maldizer o Passado implicitamente nos incitam a odiar-mo-nos uns aos outros.
Se o Presente nos pertence, nós o temos do Passado. E só bem compreenderemos a coesão das idades quando sentirmos que o que somos e o que possuímos o devemos ao Futuro.
Os povos vivem da sua Tradição; e quando perdem, com a memória e o respeito dela, a sua continuidade histórica, entram no caminho onde emboscada os espera a Morte!
Os povos vivem da sua Tradição; e quando perdem, com a memória e o respeito dela, a sua continuidade histórica, entram no caminho onde emboscada os espera a Morte!
Já cansados, enfadados de tanto parolar, dir-me-eis - cuido ouvir dizer algum de vós: — Poesia da Tradição, poesia...
E eu respondo: — deixai-me viver — vivei, Rapazes! — nessa dourada estrela da poesia, que iluminou e deslumbrou António Sardinha, longe dos baixos estímulos interesseiros, de mesquinhos utilitarismos, lutando abnegadamente, entusiasticamente, sob o comando da Razão e do Sentimento, pela graça viva da Inteligência, pela espiritualidade da cultura!
É a poesia o mel subtil das coisas. Só ela confere a tudo o que existe seu autêntico sentido espiritual. Misturando-se aos nossos actos mais simples e aos nossos sentimentos mais delicados, torna belo o que seria grosseiro e duradouro o que seria efémero. Dela brotam continuadamente as fontes sagradas da beleza, da alegria e da esperança!
A poesia é a vida no que nela há de nobre simplicidade e quotidiana grandeza. Pelo som da alma dos poetas melhor se aferem os verdadeiros valores humanos. É pela poesia que os corações generosos atingem as verdades indispensáveis. Raison et bon sens ne sufisent pas, confessava Renan prosternado nos luminosos degraus da Acrópole.
E eu respondo: — deixai-me viver — vivei, Rapazes! — nessa dourada estrela da poesia, que iluminou e deslumbrou António Sardinha, longe dos baixos estímulos interesseiros, de mesquinhos utilitarismos, lutando abnegadamente, entusiasticamente, sob o comando da Razão e do Sentimento, pela graça viva da Inteligência, pela espiritualidade da cultura!
É a poesia o mel subtil das coisas. Só ela confere a tudo o que existe seu autêntico sentido espiritual. Misturando-se aos nossos actos mais simples e aos nossos sentimentos mais delicados, torna belo o que seria grosseiro e duradouro o que seria efémero. Dela brotam continuadamente as fontes sagradas da beleza, da alegria e da esperança!
A poesia é a vida no que nela há de nobre simplicidade e quotidiana grandeza. Pelo som da alma dos poetas melhor se aferem os verdadeiros valores humanos. É pela poesia que os corações generosos atingem as verdades indispensáveis. Raison et bon sens ne sufisent pas, confessava Renan prosternado nos luminosos degraus da Acrópole.
São estéreis os trabalhos do espírito quando o amor os não fecunda.
- Alemanha - 23
- Almacave, Santa Maria de - 25, 26
- Artur Ribeiro Lopes - 46
- França - 23
- Carlos de Áustria - 24
- Carlos I, rei de Portugal - 46
- Carneiro Pacheco - 37 ("Anti-liberal o Estado Novo? Não.")
- Charles Chesnelong, Salazar, Paris, Editions Baudinière, 1939; p. 65 ( cit. p. 32); p. 147 (cit. p. 125).
- Constituição do Estado Novo - 30
- Monarquia-social - 24 (Citando A. S.: "Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regime que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a única garantia eficaz da liberdade, - mas da liberdade orgânica, irmã gémea da competência, da hierarquia e da autoridade."; A Prol do Comum, 1934, pp. 170-171.)
- Cabral de Moncada - 29
- Cesarismo, Estatismo - 18-19
- Charles Maurras - 16
- Chaves, combates pela monarquia - 14
- Costa Leite (Lumbrales) - 34
- Democracia - 27 (enganosa democracia)
- Fidelino de Figueiredo - 28
- França - 23
- Hereditariedade - p. 22
- Honoré de Balzac - 21 (ref. a epígrafe, em O Valor da Raça, etc.), 25 (o embarcamento de Carlos X)
- Liberalismo - 27 (liberalismo corruptor)
- Luís Araquistain - 29
- Mário Pais de Sousa - 36 ("A República será democrática e representativa. A Constituição, fundamentalmente nacionalista, opondo-se à falsa teoria do integralismo, estabelece direitos e deveres dos cidadãos")
- Maurice Barrès (1862-1923), Mes Cahiers, 14 vols., 1896-1923 - 11
- Maurice Barrès, Le Jardin de Bénérice, 1891.- 11
- Maurice Muret (1870-1954) - 16, 17 (Sardinha emenda Muret: Ao princípio era o Verbo, 1924, pp. 139-140; LAB: só a Monarquia "concilia a unidade com a liberdade, a concentração com a descentralização")
- Monarquia-social - 24 (Citando A. S.: "Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regime que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a única garantia eficaz da liberdade, - mas da liberdade orgânica, irmã gémea da competência, da hierarquia e da autoridade."; A Prol do Comum, 1934, pp. 170-171.)
- Mousinho de Albuquerque - 20
- Napoleão - 19, 20 (Ah! si j'étais mon petit-fils!)
- Pierre-Antoine Berryer (1790-1868) - 19, 20
- Portugalia, revista - 14
- Príncipe D. Luís - 20
- Quirino de Jesus - 36
- Salazar - 30
- Suíça - 23
- Teófilo Braga, - 14