Sentido Cristão do Império Lusíada
Plínio Salgado
Diante do messianismo contemporâneo, tão grande e indefinido como aquele que na Judéia do primeiro século terminou em hecatombe, o fenômeno social do messianismo lusíada constitui uma revelação de superioridade psicológica baseada nas mais vivas realidades do império.
Que era afinal o reino do Encoberto? Era o Reino Missionário, o dilatador do Império para a dilatação da Fé. O Reino pela expansão da religião católica, de que o Bispo de Roma é o Chefe visível. O Reino suficientemente forte pela adesão livre dos súditos e, portanto, capaz de garantir liberdades pessoais segundo as leis de Deus e as legitimas aspirações humanas. O Reino dos nobres ideais de salvação dos homens e universal redenção.
Trata-se, portanto, de um messianismo de idéias claras e definidas, não só na mentalidade das classes cultas, como no coração das massas populares. E ainda quando manifesto em imagens poematicas do mais puro lirismo e nas representações fantasiosas dos recontos e das canções, evidencia os traços de seguro realismo social advindo de consciências nascidas das fontes eternas do Evangelho.
O Rei sonhado é súdito do Grande Rei, do Rei dos Reis. O Rei imaginado é província do Grande Reino, ou Reino dos Reinos. Ainda quando construindo o conjunto magnífico do Império, é este uma pequena parte do Universo, o Império do Infinito, por cujo equilíbrio e harmonia Deus assiste, Deus vela, Deus trabalha.
É ainda, sob outro aspecto, e o mais importante no caso, uma parte da comunhão espiritual, do Corpo Místico de Cristo, chamado também a Igreja, e da qual dimanam as regras preciosas das ações morais e o segredo maravilhoso do governo das consciências.
O sebastianismo como lenda ou como instrumento aliciador na Restauração, foi um acidente histórico, uma fisionomia passageira da aspiração permanente de um povo.
Passada a crise sentimental provocada pelo fenômeno político, a aspiração retomou o seu curso e continuou como condição de existência e perpetuidade da grei. Tornou-se vigília ininterrupta, de geração em geração, sustentando o culto das tradições, renovando as esperanças num futuro cuja base são as próprias virtudes religiosas da Raça.
Essa vigília salvou a Nação Portuguesa da dissolução cujos mortíferos germes se disseminaram pela obra de uma literatura e de uma política desenraizadas e sem consonância com os verdadeiros ritmos do coração nacional. Salvou a Nação porque introduziu periodicamente personalidades e grupos intelectuais da maior lucidez e descortino, que serviram de guias aos portugueses de boa vontade nas horas criticas de desanimo, ceticismo ou desordem mental.
Ainda, pois, que hoje, no meio lusíada, repercutam os refrães de um messianismo de novo estilo, sede e fome delirantes do desconhecido, febre de destruição que constitui (conforme as palavras de S. Santidade o Papa Pio XII na sua alocução ao Sacro Colégio no recente Natal) “um louco afã de novidade, que muitas vezes não tem razão de ser no seu objeto nem nobreza nos seus motivos”; ainda, pois, que no meio lusíada repercutam as palavras da insensatez que se quer fazer universal, tendes vós portugueses, a defender-vos delas, aquilo que vos foi dado por demência e hoje vos vale como razão com que arrastar um mundo desarrozoado: o anseio pelo Reino que o vosso herói sonhou, isto é, o Reino de Cristo, Senhor Nosso.
As almas andam dominadas por uma agitação que não tem paralelo em nenhuma das mais graves crises da Historia: agitação em que o Bem o Mal se confundem, de estranha maneira, para criar e para destruir, para ordenar e para transtornar. Acrescente-se a tal agitação uma espécie de ódio a todo o passado, um louco afã de novidade, que muitas vezes não tem razão de ser no seu objeto nem nobreza nos seus motivos, mas em que não raro, faltam a clareza e a precisão na seleção dos meios, indo-se até ao imprudente otimismo de se esperar dessa novidade bem mais do que ela pode dar.
Quem quer que seja avisado na interpretação dos sinais dos tempos presentes, em ler no fundo dos corações dos homens, se apercebera bem de como a inquietação que invadiu a psicologia das multidões devido à guerra e às desgraças que a tem acompanhado, domina hoje o mundo numa febre de renovação que arrasta à ação de diversas maneiras.
Será que esta ação seguira curso torrencial e arrebatara todas pontes de ligação entre o passado e o presente? Irrompera como torrente impetuosa, arrastando todas as barreiras que se opõe à injustiça e à imoralidade?
(trecho da alocução do Santo Padre Pio XII, Novidades, 31 de Dezembro de 1944)
(In Plínio Salgado, O Rei dos Reis, Obras completas, Editora das Américas, 2 edição, pp. 303-306)
Diante do messianismo contemporâneo, tão grande e indefinido como aquele que na Judéia do primeiro século terminou em hecatombe, o fenômeno social do messianismo lusíada constitui uma revelação de superioridade psicológica baseada nas mais vivas realidades do império.
Que era afinal o reino do Encoberto? Era o Reino Missionário, o dilatador do Império para a dilatação da Fé. O Reino pela expansão da religião católica, de que o Bispo de Roma é o Chefe visível. O Reino suficientemente forte pela adesão livre dos súditos e, portanto, capaz de garantir liberdades pessoais segundo as leis de Deus e as legitimas aspirações humanas. O Reino dos nobres ideais de salvação dos homens e universal redenção.
Trata-se, portanto, de um messianismo de idéias claras e definidas, não só na mentalidade das classes cultas, como no coração das massas populares. E ainda quando manifesto em imagens poematicas do mais puro lirismo e nas representações fantasiosas dos recontos e das canções, evidencia os traços de seguro realismo social advindo de consciências nascidas das fontes eternas do Evangelho.
O Rei sonhado é súdito do Grande Rei, do Rei dos Reis. O Rei imaginado é província do Grande Reino, ou Reino dos Reinos. Ainda quando construindo o conjunto magnífico do Império, é este uma pequena parte do Universo, o Império do Infinito, por cujo equilíbrio e harmonia Deus assiste, Deus vela, Deus trabalha.
É ainda, sob outro aspecto, e o mais importante no caso, uma parte da comunhão espiritual, do Corpo Místico de Cristo, chamado também a Igreja, e da qual dimanam as regras preciosas das ações morais e o segredo maravilhoso do governo das consciências.
O sebastianismo como lenda ou como instrumento aliciador na Restauração, foi um acidente histórico, uma fisionomia passageira da aspiração permanente de um povo.
Passada a crise sentimental provocada pelo fenômeno político, a aspiração retomou o seu curso e continuou como condição de existência e perpetuidade da grei. Tornou-se vigília ininterrupta, de geração em geração, sustentando o culto das tradições, renovando as esperanças num futuro cuja base são as próprias virtudes religiosas da Raça.
Essa vigília salvou a Nação Portuguesa da dissolução cujos mortíferos germes se disseminaram pela obra de uma literatura e de uma política desenraizadas e sem consonância com os verdadeiros ritmos do coração nacional. Salvou a Nação porque introduziu periodicamente personalidades e grupos intelectuais da maior lucidez e descortino, que serviram de guias aos portugueses de boa vontade nas horas criticas de desanimo, ceticismo ou desordem mental.
Ainda, pois, que hoje, no meio lusíada, repercutam os refrães de um messianismo de novo estilo, sede e fome delirantes do desconhecido, febre de destruição que constitui (conforme as palavras de S. Santidade o Papa Pio XII na sua alocução ao Sacro Colégio no recente Natal) “um louco afã de novidade, que muitas vezes não tem razão de ser no seu objeto nem nobreza nos seus motivos”; ainda, pois, que no meio lusíada repercutam as palavras da insensatez que se quer fazer universal, tendes vós portugueses, a defender-vos delas, aquilo que vos foi dado por demência e hoje vos vale como razão com que arrastar um mundo desarrozoado: o anseio pelo Reino que o vosso herói sonhou, isto é, o Reino de Cristo, Senhor Nosso.
As almas andam dominadas por uma agitação que não tem paralelo em nenhuma das mais graves crises da Historia: agitação em que o Bem o Mal se confundem, de estranha maneira, para criar e para destruir, para ordenar e para transtornar. Acrescente-se a tal agitação uma espécie de ódio a todo o passado, um louco afã de novidade, que muitas vezes não tem razão de ser no seu objeto nem nobreza nos seus motivos, mas em que não raro, faltam a clareza e a precisão na seleção dos meios, indo-se até ao imprudente otimismo de se esperar dessa novidade bem mais do que ela pode dar.
Quem quer que seja avisado na interpretação dos sinais dos tempos presentes, em ler no fundo dos corações dos homens, se apercebera bem de como a inquietação que invadiu a psicologia das multidões devido à guerra e às desgraças que a tem acompanhado, domina hoje o mundo numa febre de renovação que arrasta à ação de diversas maneiras.
Será que esta ação seguira curso torrencial e arrebatara todas pontes de ligação entre o passado e o presente? Irrompera como torrente impetuosa, arrastando todas as barreiras que se opõe à injustiça e à imoralidade?
(trecho da alocução do Santo Padre Pio XII, Novidades, 31 de Dezembro de 1944)
(In Plínio Salgado, O Rei dos Reis, Obras completas, Editora das Américas, 2 edição, pp. 303-306)