1916 - Primeiro Manifesto da Junta Central do Integralismo Lusitano
O primeiro manifesto da Junta Central do Integralismo Lusitano tinha o seguinte teor:
PORTUGUESES!
A Junta Central do Integralismo Lusitano julga necessário, nesta hora de perigo colectivo, definir a sua atitude política, justificando-a perante a opinião pública monárquica, isto é, perante o País.
É um momento gravíssimo o que estamos vivendo, dos mais graves porventura que oito séculos de História Pátria têm presenciado. Nenhum português pode alegar o direito de calar as suas ideias, num comodismo anti-patriótico e degradante.
Acha-se talvez em jogo a própria existência da nacionalidade. É indispensável que, no fim desta guerra, caso mercê de Deus não vença o estrangeiro do exterior, o estrangeiro do interior não possa também vencer. O curso poderoso e fecundo da tradição nacional deve quanto antes restabelecer-se em toda a sua amplitude passada, para que as energias ocultas da Raça, latentes há muitos anos, consigam de novo germinar. Queiram ouvir-nos os portugueses de boa vontade e a Pátria não morrerá. A aliança inglesa foi obra da nossa velha Monarquia, diremos mesmo, foi uma das suas obras primaciais, o factor máximo que, durante tantos séculos de Independência, permitiu ao grande orgulho português de povo livre afirmar sempre, em face do reino vizinho, a sua heróica rebeldia. Não negamos que em diversas épocas da História tivessemos tido elementos próprios de defesa ante a expansão tentacular do génio castelhano. Toda a política diplomática dos Reis de Portugal durante setecentos anos de continuidade governativa, resumiu-se em encontrar fora da Pátria (já que a Pátria era tão exígua de limites), o necessário ponto de apoio para essa estranha resistência colectiva que força alguma consegue quebrar e cujo valor a Espanha, mais do que as outras nações, pela dura experiência pessoal, considera invencível. As expedições a Arzila e a Ceuta, o domínio do Oriente, a tentativa malograda de Alcácer e por fim o império colonial brasileiro foram várias fases dessa hábil e sensata diplomacia dos Monarcas Portugueses que nunca esqueceram, por acto algum de pública governança, que o coração da Pátria lhes batia dentro do peito. Mas entre as mais notáveis épocas do passado tivemos alguns crepúsculos de glória, alguns instantes de hesitação na conquista do triunfo, em que a nossa boa estrela, brilhando menos, quasi deixou de alumiar-nos o caminho. Foi em tais momentos de reconhecida mas nunca confessada fraqueza, que três dinastias de soberanos, de D. João I - o mais sensato - a D. Carlos - o mais ilustre - foram procurar sempre na terra inglesa onde apoiar a lança dos seus maiores.
Assim pensa também o Senhor Dom Manuel II, incarnação viva da Pátria, supremo árbitro dos interesses nacionais, pedindo-nos o sacrifício, nas aflitivas circunstâncias presentes, de estarmos ao lado do governo da república e de lhe prestarmos todo os nosso apoio, patriótico e desinteressado. É na verdade um sacrifício enorme o de se oferecerem serviços de qualquer natureza a individualidades políticas que tanto e por tantas formas nos têm ofendido.
Mas Quem pode mandar, mandou, e Quem pode mandar, convençamo-nos bem, conhece melhor do que nós a situação internacional do País. Vê melhor do que ninguém através da apertada rede da diplomacia britânica, achando-se dia a dia em contacto com o soberano inglês e com o alto governo da nação aliada, que sempre lhe dispensaram as maiores provas de consideração política e de inegável estima pessoal.
Hoje, na nossa aliança com a Inglaterra, obra da nossa antiga monarquia, representando-nos oficialmente os dirigentes do regime actual e tudo o que não fosse auxiliá-los com abnegação e lealdade, na hora do perigo comum, poderia parecer aos olhos dos governantes britânicos, uma quebra dos velhos pactos de união por parte de quem os fez.
E sendo assim, tidos como anglófobos os realistas portugueses, só a república, fiel mantenedora duma orientação diplomática que tão violentamente combateu, poderia vir a lucrar com ela, no dia próximo ou longínquo da Conferência da Paz. A aliança inglesa, torna-se urgente relembrá-lo, não é com o regime vigente, é com a Nação Portuguesa; mas, para que lhe aproveitemos todos os frutos, será preciso que a Nação Portuguesa, monárquica na sua quasi totalidade, só por um espontâneo sentimento de ódio contra a república, não dê à Inglaterra a impressão do que não existe nem poderia nunca ter existido: qualquer tendência mais ou menos hostil à tradicional política dos nossos antepassados. Desta forma o entendeu o Senhor Dom Manuel II, pedindo às crenças partidárias de todos os realistas, em nome das superiores conveniências da Pátria, o custoso mas indispensável gesto de esquecerem temporariamente agravos antigos que não conseguem apagar-se e de sufocaram, enquanto dure a guerra, as suas legitimas queixas e os seus justissimos ressentimentos. Agora, mais do que nunca, é necessário ser-se conscientemente monárquico e não apenas por um cego impulso, aliás tão natural e explicável, anti-republicano. E o principio basilar da Monarquia, da verdadeira Monarquia, tal como deve ser compreendida, é o respeito dogmático em matéria de diplomacia e negócios externos à vontade infalível do Soberano.
Ele acha-se por interesse próprio, por esse egoísmo que representa a indiscutível superioridade da Realeza, identificado sempre com o Interesse Nacional, com as mais altas aspirações do País. A solidez futura dum trono em Portugal está dependente, sem dúvida alguma, da sólida autonomia da Nação. Sem uma Pátria livre, não poderemos ter uma livre Monarquia. Dom Manuel II que é hoje, na tumultuosa vida contemporanea, como que a projecção da alma histórica da Raça, vela pelos nossos destinos colectivos. Confiemos nele, portanto. Na forma de proceder mostrou-se liberto de quaisquer deletérias influencias de ordem constitucional: afirmou só por si uma ideia, só por si tomou uma responsabilidade. Temos apenas que aplaudi-lo, nós respeitadores da hierarquia social em cujo alto vértice ele se encontra pela Graça de Deus.
Se há mais tempo houvessem procedido assim os Reis de Portugal, não nos achariamos decerto na apagada e vil tristeza dos nossos dias.
O Integralismo Lusitano, por tudo quanto fica exposto, fiel aos seus princípios de disciplina política e absoluto respeito pela suprema dignidade da função régia, sem a qual não há vida social possível, nem ordem pública que dure, resolve acatar inteiramente as instruções d’O Mais Alto Representante da Nação. Entretanto, espera que o governo da república, atendendo as reclamações instantes da consciência nacional, abra as fronteiras da Pátria a todos os exilados por motivos políticos ou religiosos, que têm, como os outros portugueses, o indiscutível direito de servir o seu país.
A JUNTA CENTRAL[1]
[1] "Integralismo Lusitano", A Nação Portuguesa, Abril de 1916. Forma feitas várias reedições deste primeiro Manifesto da Junta Central do Integralismo Lusitano, in A Questão Dinástica - Documentos para a História mandados coligir e publicar pela Junta Central do Integralismo Lusitano, Lisboa, Agosto de 1921, pp. 17-18, n. 3; Leão Ramos Ascensão, Integralismo Lusitano, Porto, 1943, pp. 179-184; José Manuel A. Quintas, Filhos de Ramires, Lisboa, 1997, pp. 245-247.
PORTUGUESES!
A Junta Central do Integralismo Lusitano julga necessário, nesta hora de perigo colectivo, definir a sua atitude política, justificando-a perante a opinião pública monárquica, isto é, perante o País.
É um momento gravíssimo o que estamos vivendo, dos mais graves porventura que oito séculos de História Pátria têm presenciado. Nenhum português pode alegar o direito de calar as suas ideias, num comodismo anti-patriótico e degradante.
Acha-se talvez em jogo a própria existência da nacionalidade. É indispensável que, no fim desta guerra, caso mercê de Deus não vença o estrangeiro do exterior, o estrangeiro do interior não possa também vencer. O curso poderoso e fecundo da tradição nacional deve quanto antes restabelecer-se em toda a sua amplitude passada, para que as energias ocultas da Raça, latentes há muitos anos, consigam de novo germinar. Queiram ouvir-nos os portugueses de boa vontade e a Pátria não morrerá. A aliança inglesa foi obra da nossa velha Monarquia, diremos mesmo, foi uma das suas obras primaciais, o factor máximo que, durante tantos séculos de Independência, permitiu ao grande orgulho português de povo livre afirmar sempre, em face do reino vizinho, a sua heróica rebeldia. Não negamos que em diversas épocas da História tivessemos tido elementos próprios de defesa ante a expansão tentacular do génio castelhano. Toda a política diplomática dos Reis de Portugal durante setecentos anos de continuidade governativa, resumiu-se em encontrar fora da Pátria (já que a Pátria era tão exígua de limites), o necessário ponto de apoio para essa estranha resistência colectiva que força alguma consegue quebrar e cujo valor a Espanha, mais do que as outras nações, pela dura experiência pessoal, considera invencível. As expedições a Arzila e a Ceuta, o domínio do Oriente, a tentativa malograda de Alcácer e por fim o império colonial brasileiro foram várias fases dessa hábil e sensata diplomacia dos Monarcas Portugueses que nunca esqueceram, por acto algum de pública governança, que o coração da Pátria lhes batia dentro do peito. Mas entre as mais notáveis épocas do passado tivemos alguns crepúsculos de glória, alguns instantes de hesitação na conquista do triunfo, em que a nossa boa estrela, brilhando menos, quasi deixou de alumiar-nos o caminho. Foi em tais momentos de reconhecida mas nunca confessada fraqueza, que três dinastias de soberanos, de D. João I - o mais sensato - a D. Carlos - o mais ilustre - foram procurar sempre na terra inglesa onde apoiar a lança dos seus maiores.
Assim pensa também o Senhor Dom Manuel II, incarnação viva da Pátria, supremo árbitro dos interesses nacionais, pedindo-nos o sacrifício, nas aflitivas circunstâncias presentes, de estarmos ao lado do governo da república e de lhe prestarmos todo os nosso apoio, patriótico e desinteressado. É na verdade um sacrifício enorme o de se oferecerem serviços de qualquer natureza a individualidades políticas que tanto e por tantas formas nos têm ofendido.
Mas Quem pode mandar, mandou, e Quem pode mandar, convençamo-nos bem, conhece melhor do que nós a situação internacional do País. Vê melhor do que ninguém através da apertada rede da diplomacia britânica, achando-se dia a dia em contacto com o soberano inglês e com o alto governo da nação aliada, que sempre lhe dispensaram as maiores provas de consideração política e de inegável estima pessoal.
Hoje, na nossa aliança com a Inglaterra, obra da nossa antiga monarquia, representando-nos oficialmente os dirigentes do regime actual e tudo o que não fosse auxiliá-los com abnegação e lealdade, na hora do perigo comum, poderia parecer aos olhos dos governantes britânicos, uma quebra dos velhos pactos de união por parte de quem os fez.
E sendo assim, tidos como anglófobos os realistas portugueses, só a república, fiel mantenedora duma orientação diplomática que tão violentamente combateu, poderia vir a lucrar com ela, no dia próximo ou longínquo da Conferência da Paz. A aliança inglesa, torna-se urgente relembrá-lo, não é com o regime vigente, é com a Nação Portuguesa; mas, para que lhe aproveitemos todos os frutos, será preciso que a Nação Portuguesa, monárquica na sua quasi totalidade, só por um espontâneo sentimento de ódio contra a república, não dê à Inglaterra a impressão do que não existe nem poderia nunca ter existido: qualquer tendência mais ou menos hostil à tradicional política dos nossos antepassados. Desta forma o entendeu o Senhor Dom Manuel II, pedindo às crenças partidárias de todos os realistas, em nome das superiores conveniências da Pátria, o custoso mas indispensável gesto de esquecerem temporariamente agravos antigos que não conseguem apagar-se e de sufocaram, enquanto dure a guerra, as suas legitimas queixas e os seus justissimos ressentimentos. Agora, mais do que nunca, é necessário ser-se conscientemente monárquico e não apenas por um cego impulso, aliás tão natural e explicável, anti-republicano. E o principio basilar da Monarquia, da verdadeira Monarquia, tal como deve ser compreendida, é o respeito dogmático em matéria de diplomacia e negócios externos à vontade infalível do Soberano.
Ele acha-se por interesse próprio, por esse egoísmo que representa a indiscutível superioridade da Realeza, identificado sempre com o Interesse Nacional, com as mais altas aspirações do País. A solidez futura dum trono em Portugal está dependente, sem dúvida alguma, da sólida autonomia da Nação. Sem uma Pátria livre, não poderemos ter uma livre Monarquia. Dom Manuel II que é hoje, na tumultuosa vida contemporanea, como que a projecção da alma histórica da Raça, vela pelos nossos destinos colectivos. Confiemos nele, portanto. Na forma de proceder mostrou-se liberto de quaisquer deletérias influencias de ordem constitucional: afirmou só por si uma ideia, só por si tomou uma responsabilidade. Temos apenas que aplaudi-lo, nós respeitadores da hierarquia social em cujo alto vértice ele se encontra pela Graça de Deus.
Se há mais tempo houvessem procedido assim os Reis de Portugal, não nos achariamos decerto na apagada e vil tristeza dos nossos dias.
O Integralismo Lusitano, por tudo quanto fica exposto, fiel aos seus princípios de disciplina política e absoluto respeito pela suprema dignidade da função régia, sem a qual não há vida social possível, nem ordem pública que dure, resolve acatar inteiramente as instruções d’O Mais Alto Representante da Nação. Entretanto, espera que o governo da república, atendendo as reclamações instantes da consciência nacional, abra as fronteiras da Pátria a todos os exilados por motivos políticos ou religiosos, que têm, como os outros portugueses, o indiscutível direito de servir o seu país.
A JUNTA CENTRAL[1]
[1] "Integralismo Lusitano", A Nação Portuguesa, Abril de 1916. Forma feitas várias reedições deste primeiro Manifesto da Junta Central do Integralismo Lusitano, in A Questão Dinástica - Documentos para a História mandados coligir e publicar pela Junta Central do Integralismo Lusitano, Lisboa, Agosto de 1921, pp. 17-18, n. 3; Leão Ramos Ascensão, Integralismo Lusitano, Porto, 1943, pp. 179-184; José Manuel A. Quintas, Filhos de Ramires, Lisboa, 1997, pp. 245-247.