Palavras Claras
Francisco Rolão Preto
Integralismo e integralismos
Integralismo é um conjunto de doutrinas políticas, sociais, económicas capazes de criar e manter o meio duma restauração integral da nação portuguesa. É, em política, o triunfo das condições determinadas pelo empirismo construtor e pelo espírito nacional; é socialmente a formula dum devenir activo e permanente das forças históricas da nação, equilibradas pela função Real, orientadas pelas regras claras que inspiraram a sua criação e as suas justas liberdades; é enfim, sob o ponto de vista económico, a consagração dum dinamismo criador que resulta do jogo livre dos interesses da Produção dentro do quadro histórico do bem público.
Por isso o integralismo é a nação que acorda e toma corpo na sua marcha de oito séculos para se erguer à altura do seu ânimo de grande nação europeia e latina.
Pode o conceito de Ressurgimento nacional sofrer mutilações no seu plano geral e harmónico: perante as exigências apriorísticas de alguns, diante do vão receio daqueles a quem os preconceitos embotam a fina, a viril ponta da Inteligência? Por outras palavras, pode o Integralismo sem contradizer a sua essência de total verdade política repartir-se em dispersões momentâneas do seu pensamento com a mira de realizações parciais e adaptado-se a circunstâncias particulares?
Loucos todos aqueles que se contentam em supor que a semi-verdade é suficiente para contentar a lógica ineludível das realidades. Através da sua ilusão ou da sua manobra não se divisa ainda a perda certa a que correm os que se fiam nas adaptações comedidas do meio termo, mas o tempo costuma ser duma crueldade inexorável no cuidado que põe em desfazer os belos castelos de areia erguidos...em pobre chão de areia.
O Integralismo e as Ditaduras - É da pura essência do integralismo considerar que não há liberdade contra a nação. Diante da majestade eterna da nação a soberania do indivíduo toma o aspecto secundário que se representa por um factor de natureza efémera e transitória.
As Ditaduras são pois um meio de servir a nação. Morta a era absurda das constituições liberal-democratas por contrária ao sentido em que se equacionam nos tempos modernos os problemas nacionais, as Ditaduras aparecem como instrumento natural do Estado Moderno e como tais se impõem. E, aqui a razão porque desde a Ditadura doirada da Wallstreet - às férreas Ditaduras chinesas, passando pelas mais ou menos expressas Ditaduras europeias, o mundo pode hoje considerar-se a caminho da sua libertação das velhas formulas de anarquia e de morte - as formulas do velho e absurdo parlamentarismo.
Considerar porém as Ditaduras justas e necessárias, e, mesmo; considera-las legitimas em certos casos não quer dizer de nenhuma maneira que elas têm em sua natureza o princípio bastante a todos os males que as provocam. Seria absurdo querer dar fóros de definitivo àquilo que na sua própria essência é limitado e transitório. Todavia a Ditadura, exactamente, porque é urna consagração e um reforço vivo da autoridade posta ao serviço da nação assume perante ela responsabilidades cuja grandeza dificilmente se pode fixar, a não ser pelos seus resultados através da história. A Ditadura branda de João Franco, tão liberal e formalista afinal que o próprio chefe afirma dela não haver Ditadura mas sim Ditadores, essa Ditadura complacente e arrependida que a si própria se nega e contradiz, trazia no ventre desde a primeira hora a Revolução e a morte do Rei D. Carlos.
As consequências da Ditadura debonnaire de Primo de Rivera está-as sofrendo a nossa irmã Espanha. De tal forma a ordem se não compadece com as transigências que lhe procure impôr a desordem, que, não se nos afigura exagero supor preferível à ordem atraiçoada a desordem sem mistura...
As condições de uma Ditadura - É um ponto de história hoje assegurado que João Franco assentava a sua Ditadura numa esperança que se alimentava da boa fé do Ditador. Esperança de que os portugueses chegassem a ver na sua total claridade todas as boas intenções do Franquismo, boa fé na lealdade da força em que se apoiavam naturalmente as Ditaduras. Chegou depois a hora trágica do regicídio... e como já antes quando se tentou julgar os revolucionários de 28 de Janeiro tinha chegado a hora do desengano. e não encontrando homens como Vasconcelos Porto à sua roda juízes militares de confiança capazes de exercer a justiça necessária. Quer isto dizer, que, a primeira condição da Ditadura é confessar-se Ditadura. Quer isto ainda dizer que tem razão um Mussolini quando põe o seu primeiro cuidado em substituir as velhas engrenagens do Estado liberal de Nitti e de Facta por seguras e vigorosas camisas negras...
A Ditadura que é Ditadura e que assim o confessa e se afirma, é também necessariamente Nacional. Perante ela não há diversidade de credos nem antagonismo de ideias: há bons e maus servidores do interesse nacional - competentes ou inuteis, honrados ou quadrilheiros, homens bons ou canalhas.
Dentro deste critério cabe ao serviço do país um republicano em regime monárquico ou um monárquico em regime republicano.
Sidónio Pais teve o seu melhor apoio nos monárquicos. A inteligência clara da sua Ditadura viu bem que a solução dos problemas nacionais estava em equacioná-los dentro de factores portugueses. Primeiro do que ninguém ele viu que a única maneira de vencer a quadrilha dos partidos era organizar a frente única de todos os portugueses de boa vontade.
Mussolini que foi o vencedor do comunismo italiano não temeu em ir buscar aos seus antigos camaradas do «Avanti» os Turati e Modigliani e quantos servindo com competência podiam ser estremados homens de bem.
A Ditadura que é forte e nacional não teme nunca pelo seu futuro. As revoluções não são possíveis com o Fascismo porque Mussolini arrumando a casa a limpou primeiro!
Razões de Crêr - Em Portugal há actualmente duas formulas que jogam entre si a cartada decisiva. O Bom-Senso e a Vontade Heróica. Dentro da primeira arregimenta-se a cobardia cívica que leva aos bons empregos, à vida regalada, ao não te rales que justifica todos os abandonos e dá razão a todas as traficâncias políticas, sociais e económicas... O Bom-Senso está gordo, veste bem, tem os seus capitais no Banco de Inglaterra, frequenta a loja maçónica do seu Bairro e vai ao Domingo à missa, solene, bem disposto e tranquilo. Detestou o 18 de Abril e o 28 de Maio porque detesta revoluções. Serve-lhe agora a Ditadura até que venha o Reviralho.
O Bom-Senso estava com Castela contra D. João I e o Condestável; estava com o velho do Restelo contra a nossa vocação de povo marítimo; o bom-senso recebeu com alvoroço os Filipes e Junot... o seu patriotismo chora, é verdade, diante dos males da Pátria mas o seu clamor é discreto e sereno e só se revela dentro de sua casa, as portas trancadas e afastado o perigo dos esbirros...
Oh! então o bom-senso tem as suas horas heroicas de tremendo protesto em chinelas ou às mesas dos cafés, entre amigos seguros.
O Bom-Senso, é bem certo, não levaria o General Gomes da Costa a Braga fazer o 28 de Maio nem combateria pela nação no 7 de Fevereiro. Numa como noutra emergência estava ele porém preparando cuidadosamente a sua farda de ministro. Também êle agora decerto a vai preparando quando estuda e boateja as formulas caras ao seu comodismo e à sua pose - o Reviralho por um Governo de Transição.
A Nação vive porém pela sua alma heroica e sagrada. Em todas as grandes crises da sua história permaneceu felizmente sôbre a miséria de uns, a subserviência e a traição doutros, a vontade firme e inabalável daqueles que acima de sua comodidade, dos seus interesses, e das suas vaidades sabem colocar corajosamente o seu coração forte de portugueses.
Podemos crêr! a nação pode crêr nos seus destinos sagrados. A vontade heroica dos portugueses vencerá mais uma vez.
Rolão PRETO
["Palavras Claras - Integralismo e Integralismos", Política, nº 20, 31 de Março de 1931, pp. 1-4.]
Por isso o integralismo é a nação que acorda e toma corpo na sua marcha de oito séculos para se erguer à altura do seu ânimo de grande nação europeia e latina.
Pode o conceito de Ressurgimento nacional sofrer mutilações no seu plano geral e harmónico: perante as exigências apriorísticas de alguns, diante do vão receio daqueles a quem os preconceitos embotam a fina, a viril ponta da Inteligência? Por outras palavras, pode o Integralismo sem contradizer a sua essência de total verdade política repartir-se em dispersões momentâneas do seu pensamento com a mira de realizações parciais e adaptado-se a circunstâncias particulares?
Loucos todos aqueles que se contentam em supor que a semi-verdade é suficiente para contentar a lógica ineludível das realidades. Através da sua ilusão ou da sua manobra não se divisa ainda a perda certa a que correm os que se fiam nas adaptações comedidas do meio termo, mas o tempo costuma ser duma crueldade inexorável no cuidado que põe em desfazer os belos castelos de areia erguidos...em pobre chão de areia.
O Integralismo e as Ditaduras - É da pura essência do integralismo considerar que não há liberdade contra a nação. Diante da majestade eterna da nação a soberania do indivíduo toma o aspecto secundário que se representa por um factor de natureza efémera e transitória.
As Ditaduras são pois um meio de servir a nação. Morta a era absurda das constituições liberal-democratas por contrária ao sentido em que se equacionam nos tempos modernos os problemas nacionais, as Ditaduras aparecem como instrumento natural do Estado Moderno e como tais se impõem. E, aqui a razão porque desde a Ditadura doirada da Wallstreet - às férreas Ditaduras chinesas, passando pelas mais ou menos expressas Ditaduras europeias, o mundo pode hoje considerar-se a caminho da sua libertação das velhas formulas de anarquia e de morte - as formulas do velho e absurdo parlamentarismo.
Considerar porém as Ditaduras justas e necessárias, e, mesmo; considera-las legitimas em certos casos não quer dizer de nenhuma maneira que elas têm em sua natureza o princípio bastante a todos os males que as provocam. Seria absurdo querer dar fóros de definitivo àquilo que na sua própria essência é limitado e transitório. Todavia a Ditadura, exactamente, porque é urna consagração e um reforço vivo da autoridade posta ao serviço da nação assume perante ela responsabilidades cuja grandeza dificilmente se pode fixar, a não ser pelos seus resultados através da história. A Ditadura branda de João Franco, tão liberal e formalista afinal que o próprio chefe afirma dela não haver Ditadura mas sim Ditadores, essa Ditadura complacente e arrependida que a si própria se nega e contradiz, trazia no ventre desde a primeira hora a Revolução e a morte do Rei D. Carlos.
As consequências da Ditadura debonnaire de Primo de Rivera está-as sofrendo a nossa irmã Espanha. De tal forma a ordem se não compadece com as transigências que lhe procure impôr a desordem, que, não se nos afigura exagero supor preferível à ordem atraiçoada a desordem sem mistura...
As condições de uma Ditadura - É um ponto de história hoje assegurado que João Franco assentava a sua Ditadura numa esperança que se alimentava da boa fé do Ditador. Esperança de que os portugueses chegassem a ver na sua total claridade todas as boas intenções do Franquismo, boa fé na lealdade da força em que se apoiavam naturalmente as Ditaduras. Chegou depois a hora trágica do regicídio... e como já antes quando se tentou julgar os revolucionários de 28 de Janeiro tinha chegado a hora do desengano. e não encontrando homens como Vasconcelos Porto à sua roda juízes militares de confiança capazes de exercer a justiça necessária. Quer isto dizer, que, a primeira condição da Ditadura é confessar-se Ditadura. Quer isto ainda dizer que tem razão um Mussolini quando põe o seu primeiro cuidado em substituir as velhas engrenagens do Estado liberal de Nitti e de Facta por seguras e vigorosas camisas negras...
A Ditadura que é Ditadura e que assim o confessa e se afirma, é também necessariamente Nacional. Perante ela não há diversidade de credos nem antagonismo de ideias: há bons e maus servidores do interesse nacional - competentes ou inuteis, honrados ou quadrilheiros, homens bons ou canalhas.
Dentro deste critério cabe ao serviço do país um republicano em regime monárquico ou um monárquico em regime republicano.
Sidónio Pais teve o seu melhor apoio nos monárquicos. A inteligência clara da sua Ditadura viu bem que a solução dos problemas nacionais estava em equacioná-los dentro de factores portugueses. Primeiro do que ninguém ele viu que a única maneira de vencer a quadrilha dos partidos era organizar a frente única de todos os portugueses de boa vontade.
Mussolini que foi o vencedor do comunismo italiano não temeu em ir buscar aos seus antigos camaradas do «Avanti» os Turati e Modigliani e quantos servindo com competência podiam ser estremados homens de bem.
A Ditadura que é forte e nacional não teme nunca pelo seu futuro. As revoluções não são possíveis com o Fascismo porque Mussolini arrumando a casa a limpou primeiro!
Razões de Crêr - Em Portugal há actualmente duas formulas que jogam entre si a cartada decisiva. O Bom-Senso e a Vontade Heróica. Dentro da primeira arregimenta-se a cobardia cívica que leva aos bons empregos, à vida regalada, ao não te rales que justifica todos os abandonos e dá razão a todas as traficâncias políticas, sociais e económicas... O Bom-Senso está gordo, veste bem, tem os seus capitais no Banco de Inglaterra, frequenta a loja maçónica do seu Bairro e vai ao Domingo à missa, solene, bem disposto e tranquilo. Detestou o 18 de Abril e o 28 de Maio porque detesta revoluções. Serve-lhe agora a Ditadura até que venha o Reviralho.
O Bom-Senso estava com Castela contra D. João I e o Condestável; estava com o velho do Restelo contra a nossa vocação de povo marítimo; o bom-senso recebeu com alvoroço os Filipes e Junot... o seu patriotismo chora, é verdade, diante dos males da Pátria mas o seu clamor é discreto e sereno e só se revela dentro de sua casa, as portas trancadas e afastado o perigo dos esbirros...
Oh! então o bom-senso tem as suas horas heroicas de tremendo protesto em chinelas ou às mesas dos cafés, entre amigos seguros.
O Bom-Senso, é bem certo, não levaria o General Gomes da Costa a Braga fazer o 28 de Maio nem combateria pela nação no 7 de Fevereiro. Numa como noutra emergência estava ele porém preparando cuidadosamente a sua farda de ministro. Também êle agora decerto a vai preparando quando estuda e boateja as formulas caras ao seu comodismo e à sua pose - o Reviralho por um Governo de Transição.
A Nação vive porém pela sua alma heroica e sagrada. Em todas as grandes crises da sua história permaneceu felizmente sôbre a miséria de uns, a subserviência e a traição doutros, a vontade firme e inabalável daqueles que acima de sua comodidade, dos seus interesses, e das suas vaidades sabem colocar corajosamente o seu coração forte de portugueses.
Podemos crêr! a nação pode crêr nos seus destinos sagrados. A vontade heroica dos portugueses vencerá mais uma vez.
Rolão PRETO
["Palavras Claras - Integralismo e Integralismos", Política, nº 20, 31 de Março de 1931, pp. 1-4.]