António Sardinha (1887-1925), Glossário dos Tempos, Porto, Edições GAMA, 1942
PODER PESSOAL E PODER ABSOLUTO
... a doutrina do Dr. Francisco Vaz de Gouveia (...) Era o direito público que, dimanado da sociologia tomista, informava a construção filosófica da nossa Monarquia. Consignado pela texto falso de Almacave, viera a influir nos Estados de 1641 e o tratadista (...) pertencia a uma fileira de autores notabilíssimos que, à roda da Feliz Aclamação, se revelaram com saber e com consciência. É a êles que nós vamos pedir as razões seculares da nossa Monarquia que, para se autorizar com as formas intelectuais, não carece em nada dos exotismos que a cada hora se nos alvitram num decalque passivo de quantas alíneas se inserem nos programas da Action Française. Em João Pinto Ribeiro já se desfiam com transparência os fundamentos municipalistas da nossa Realeza...
(...)
O Estado é um órgão, a sociedade, um organismo. A sociedade é anterior, o Estado surge apenas como um elemento de duração e continuïdade, rematando a jornada ascendente de outros núcleos já de natureza hierárquica. A interpenetração dos vários egoísmos sociais num acordo perpétuo de tendências e finalidade, é que assinala o conteúdo exacto do Estado. É o Estado que deve servir a sociedade, não é a sociedade que deve servir o Estado.
É pertença do nosso velho direito público o património de idéias que o Integralismo defende. Não foram importadas como as aquisições constitucionalistas, que são traduções mal limadas das ideologias perplexas dum Benjamin Constant - dêsse Benjamin Constant que se estadeava em busto nas Constituintes de 22, ó querida Liberdade, que bastante te anojaste quando o feu Mr. Jaurès tomou cadeira entre os comparsas da outra - da novíssima de 1911!
«...Não pode ser útil a uma nação aquela forma de govêrno, que não tiver a maior conformidade com o seu carácter, educação, e antigos usos, e será sumamente arriscada, e quási sempre impraticável a tentativa de a introduzir, e de querer reduzir a um costume geral os costumes particulares das nações...» ( cit. Carta de lei de 4 de Junho de 1824)
Pastor não mercenário, eis como em côrtes os lavradores do Reino trataram o Rei duma vez. Não se daria em forma mais ingénua e mais incisiva a teoria do egoísmo privado do dinasta ao serviço da utilidade geral dos Povos! Que claro que olhava um nosso praxista, ao escrever que, enquanto o sistema representativo se achara nos bosques (alusão às assembleias primitivas dos germanos e celtas), a Monarquia não se achou,- estava connosco na casa paterna!
"Poder pessoal e poder absoluto", Julho de 1914
... a doutrina do Dr. Francisco Vaz de Gouveia (...) Era o direito público que, dimanado da sociologia tomista, informava a construção filosófica da nossa Monarquia. Consignado pela texto falso de Almacave, viera a influir nos Estados de 1641 e o tratadista (...) pertencia a uma fileira de autores notabilíssimos que, à roda da Feliz Aclamação, se revelaram com saber e com consciência. É a êles que nós vamos pedir as razões seculares da nossa Monarquia que, para se autorizar com as formas intelectuais, não carece em nada dos exotismos que a cada hora se nos alvitram num decalque passivo de quantas alíneas se inserem nos programas da Action Française. Em João Pinto Ribeiro já se desfiam com transparência os fundamentos municipalistas da nossa Realeza...
(...)
O Estado é um órgão, a sociedade, um organismo. A sociedade é anterior, o Estado surge apenas como um elemento de duração e continuïdade, rematando a jornada ascendente de outros núcleos já de natureza hierárquica. A interpenetração dos vários egoísmos sociais num acordo perpétuo de tendências e finalidade, é que assinala o conteúdo exacto do Estado. É o Estado que deve servir a sociedade, não é a sociedade que deve servir o Estado.
É pertença do nosso velho direito público o património de idéias que o Integralismo defende. Não foram importadas como as aquisições constitucionalistas, que são traduções mal limadas das ideologias perplexas dum Benjamin Constant - dêsse Benjamin Constant que se estadeava em busto nas Constituintes de 22, ó querida Liberdade, que bastante te anojaste quando o feu Mr. Jaurès tomou cadeira entre os comparsas da outra - da novíssima de 1911!
«...Não pode ser útil a uma nação aquela forma de govêrno, que não tiver a maior conformidade com o seu carácter, educação, e antigos usos, e será sumamente arriscada, e quási sempre impraticável a tentativa de a introduzir, e de querer reduzir a um costume geral os costumes particulares das nações...» ( cit. Carta de lei de 4 de Junho de 1824)
Pastor não mercenário, eis como em côrtes os lavradores do Reino trataram o Rei duma vez. Não se daria em forma mais ingénua e mais incisiva a teoria do egoísmo privado do dinasta ao serviço da utilidade geral dos Povos! Que claro que olhava um nosso praxista, ao escrever que, enquanto o sistema representativo se achara nos bosques (alusão às assembleias primitivas dos germanos e celtas), a Monarquia não se achou,- estava connosco na casa paterna!
"Poder pessoal e poder absoluto", Julho de 1914
Refs bibliográficas portuguesas:
1642 - João Pinto Ribeiro - Usurpação, retenção & restauração de Portugal
1644 - Francisco Velasco de Gouveia - Justa Aclamação
1822 - José Acúrcio das Neves - Cartas de hum português aos seus concidadãos (1822_-_acúrcio_das_neves_-__cartas_de_um_português.pdf)
1858 - Luz Soriano - Utopias desmascadaras do sistema liberal em Portugal (1858_-_luz_soriano_-_utopias_desmascaradas_do_sistema_liberal_em_portugal.pdf): «o parlamento, devendo ser o fiscal da bôlsa do povo, é o que pela sua parte está sempre pronto para sancionar todos os desvarios financeiros dos ministros, aditando-lhes até outros de novo. A natural conseqüência de tudo isto, prossegue em outra passagem, é ser a nação vitima expiatória das espoliações, e vexames, que os diferentes partidos lhe têm querido fazer por motivos de interêsse, e capricho particular, ou seja dos ministros, ou dos deputados, sem ao menos lhe ser dado apelar para o poder da coroa, como nos antigos tempos»
Refs bibliográficas estrangeiras:
1914 - Edouard Berth, Les méfaits des intellectuels. ("Aí se proclama a virtude mantenedora da Realeza como o único meio de se viabilizar a liberdade, pela inserção de cada valor colectivo nos quadros que por índole e destino lhe hajam de caber. É a destrinça das funções específicas do Estado, localizando-se no terreno legítimo pela custódia da Terra e pelo decôro da Pátria")
1642 - João Pinto Ribeiro - Usurpação, retenção & restauração de Portugal
1644 - Francisco Velasco de Gouveia - Justa Aclamação
1822 - José Acúrcio das Neves - Cartas de hum português aos seus concidadãos (1822_-_acúrcio_das_neves_-__cartas_de_um_português.pdf)
1858 - Luz Soriano - Utopias desmascadaras do sistema liberal em Portugal (1858_-_luz_soriano_-_utopias_desmascaradas_do_sistema_liberal_em_portugal.pdf): «o parlamento, devendo ser o fiscal da bôlsa do povo, é o que pela sua parte está sempre pronto para sancionar todos os desvarios financeiros dos ministros, aditando-lhes até outros de novo. A natural conseqüência de tudo isto, prossegue em outra passagem, é ser a nação vitima expiatória das espoliações, e vexames, que os diferentes partidos lhe têm querido fazer por motivos de interêsse, e capricho particular, ou seja dos ministros, ou dos deputados, sem ao menos lhe ser dado apelar para o poder da coroa, como nos antigos tempos»
Refs bibliográficas estrangeiras:
1914 - Edouard Berth, Les méfaits des intellectuels. ("Aí se proclama a virtude mantenedora da Realeza como o único meio de se viabilizar a liberdade, pela inserção de cada valor colectivo nos quadros que por índole e destino lhe hajam de caber. É a destrinça das funções específicas do Estado, localizando-se no terreno legítimo pela custódia da Terra e pelo decôro da Pátria")
É de incertezas o momento que corre? É que Deus apaga quando quer construir, - já dizia da Revolução, Joseph de Maistre. Talvez que nas derrotas sobre derrotas em que parecemos ir a pique, Deus esteja apagando para construir connosco alguma coisa de mais sólido e de melhor.
Tenhamos fé. Não é Portugal um reino de milagre, segundo Garrett, nosso mestre? Se o é, porque não havemos de acreditar no milagre de Ourique?
In "O testamento de Garrett"
Tenhamos fé. Não é Portugal um reino de milagre, segundo Garrett, nosso mestre? Se o é, porque não havemos de acreditar no milagre de Ourique?
In "O testamento de Garrett"