Rolão Preto: Nós proclamamos "Tudo pelo Homem, nada contra o Homem"
- Foram os senhores acusados de estatistas e, até de fascistas.
- As nossas intenções foram desvirtuadas pelas aparências. Como todos os partidos revolucionários, não podendo como na Inglaterra fazer a revolução nas urnas, seguimos o método em voga e com as possibilidades legais de então, para a conquista do Estado: formação em coluna e um signo de aliança para a batalha [(a Cruz de Cristo) ] — pouco importa que a camisa de combate fosse encarnada, como nos comunistas, ou de ganga azul, como a dos trabalhadores portugueses, que era a nossa. / No parque Eduardo VII [18 de Fevereiro de 1933] foi definida logo de começo a nossa atitude «para além da democracia, do fascismo e do comunismo» no sentido de resgate da pessoa humana. Nunca fomos estatistas, pois éramos sindicalistas. Proclamamos um Poder forte para garantia das liberdades, acentuando que Nação e Estado não eram um fimmas um meio de servir o homem — nunca o motivo do seu esmagamento.
Ao contrário da forma decalcada do fascismo «tudo pela Nação nada contra a Nação», nós proclamamos «tudo pelo homem nada contra o homem». No livro Justiça! [1936], que aliás foi proibido de circular, resumi todas as ideias do nosso credo de personalistas e comunitários. A pessoa humana reflecte-se, reforça-se, enraíza-se na Comunidade para com mais segurança poder ser livre.
* * *
Entrevista de Rolão Preto ao Diário de Lisboa, 19 de Outubro de 1945:
O sr. Dr. Rolão Preto é um temperamento ardoroso e combativo. A sua aparição no tablado político, há anos, foi assinalada por um movimento que, por um instante, aglutinou muitas inquietações e anseios. Tendo prestado o seu concurso ao Governo e constituído, em certo processo, um dos seus mais aguerridos núcleos de colaboração, esse movimento, em certa altura, cindiu-se e a falange que acompanhava pessoalmente o dr. Rolão Preto passou a considerar-se em oposição. A carta que o «Diário de Lisboa» há dias publicou veio repor em actualidade o nome do dr. Rolão Preto, a quem quisemos ouvir, neste debate em que se procura iluminar os caminhos que se oferecem à vida do país.
- Porque discordaram e discordam do actual Governo?
- Nós, nacionais-revolucionários, sindicalistas e homens livres que em 1933 marcamos uma posição de nítida discordância política do Poder, proclamávamos então como proclamamos hoje a necessidade de integrar no Estado as forças populares. Para isso governar não podia ser impor, mas sim fazer aceitar, conseguir a colaboração de todos os que trabalham, através duma mística revolucionária da conquista das liberdades contra as prepotências da riqueza e da sua posição.
- As liberdades?
- Claro! As liberdades económicas como base das liberdades políticas. Gritamos primeiro de que ninguém o imperativo do económico-social hoje triunfante na Europa. Sem a conquista do pão e da justiça social essencial, as liberdades políticas seriam vãs ou uma mistificação.
- E como obter essa conquista?
- Pela revolução nacional dos trabalhadores, que era por outros métodos, o que se tentou pela decisão eleitoral na Inglaterra do trabalhismo de hoje. Já lá vão 10 anos...
- E o governo como as encarou?
- Como revolução que aceitava a minha fórmula «É preciso que os muito ricos sejam menos ricos, para que os muito pobres sejam menos pobres». Nós não aceitamos hoje o statu-quocapitalista e burguês em que os fortes esmagam livremente os mais fracos. Preconizamos, pois, uma orgânica econômico-social que, marcando deveres, assegure os direitos sociais dos portugueses.
- Não concordaram então com o Corporativismo?
- Não podíamos aceita-lo nas bases em que foi posto e daí data mesmo a acuidade da nossa discordância do Poder. Nós queríamos como queremos hoje que os trabalhadores se organizem livremente nos seus sindicatos que de formação em formação iam até à indicação dos seus representantes no Poder. Queríamos e queremos a nacionalização progressiva das grandes indústrias de interesse público, a nacionalização da Banca, a resolução do problema do crédito, a assistência na invalidez e na doença, a reforma para todos os trabalhadores, o ensino e a justiça gratuita, a abolição do imposto sucessório de pais para filhos, queremos, em resumo, tudo o que possa assegurar a desproletarização das massas, erguendo os trabalhadores ao nível das classes médias e defesa destes como base da nacionalidade.
- E o Governo?
- O Governo considerou-nos «perigosos» indesejáveis... e confiou a situação à chamada «União Nacional», formação de moderados, vindos de todos os partidos, burgueses sem alma nem nenhuma fé nos imperativos nacionais e revolucionários do nosso tempo — gente «sensata» a quem apenas interessava a segurança da sua posição pessoal e as suas vantagens.
- Daí em diante...
- Daí em diante não nos foi permitido que, pelo menos, oficialmente, pudéssemos impulsionar as nossas doutrinas.
- São muitos os que discordam?
- Fomos muitos e muitos mais somos hoje.
- Pode citar nomes?
- Por enquanto é cedo. De resto são bem conhecidos: militares dos mais bravos, professores entre os mais ilustres, advogados, engenheiros, estudantes, lavradores, comerciantes, industriais, e sobretudo o povo. O povo das oficinas e dos campos, todos os que anseiam por um sistema de ordem na justiça!
- Foram os senhores acusados de estatistas e, até de fascistas.
- As nossas intenções foram desvirtuadas pelas aparências. Como todos os partidos revolucionários, não podendo como na Inglaterra fazer a revolução nas urnas, seguimos o método em voga e com as possibilidades legais de então, para a conquista do Estado: formação em coluna e um signo de aliança para a batalha [ (a Cruz de Cristo) ] — pouco importa que a camisa de combate fosse encarnada, como nos comunistas, ou de ganga azul, como a dos trabalhadores portugueses, que era a nossa. / No parque Eduardo VII [18 de Fevereiro de 1933] foi definida logo de começo a nossa atitude «para além da democracia, do fascismo e do comunismo» no sentido de resgate da pessoa humana. Nunca fomos estatistas, pois éramos sindicalistas.Proclamamos um Poder forte para garantia das liberdades, acentuando que Nação e Estado não eram um fim mas um meio de servir o homem — nunca o motivo do seu esmagamento. / Ao contrário da forma decalcada do fascismo «tudo pela Nação nada contra a Nação», nós proclamamos «tudo pelo homem nada contra o homem». No livro Justiça! [1936], que aliás foi proibido de circular, resumi todas as ideias do nosso credo de personalistas e comunitários (ver Capítulo Política da Personalidade). A pessoa humana reflecte-se, reforça-se, enraíza-se na Comunidade para com mais segurança poder ser livre.
- O vosso partido não é então uma coisa fechada?
- Pelo contrário, proclamamos a necessidade duma aliança de todos os portugueses livres, isto é, mantendo-se cada um na sua posição ideológica mas convergindo todos livremente, no sentido de realizar um programa de justiça social e de resgate do Homem, a grande vitima do nosso tempo.
("O sr. Dr. Rolão Preto define e concretiza a sua posição política perante a situação actual", Diário de Lisboa, 19 de Outubro de 1945, pp. 1 e central; negritos acrescentados.)
- As nossas intenções foram desvirtuadas pelas aparências. Como todos os partidos revolucionários, não podendo como na Inglaterra fazer a revolução nas urnas, seguimos o método em voga e com as possibilidades legais de então, para a conquista do Estado: formação em coluna e um signo de aliança para a batalha [(a Cruz de Cristo) ] — pouco importa que a camisa de combate fosse encarnada, como nos comunistas, ou de ganga azul, como a dos trabalhadores portugueses, que era a nossa. / No parque Eduardo VII [18 de Fevereiro de 1933] foi definida logo de começo a nossa atitude «para além da democracia, do fascismo e do comunismo» no sentido de resgate da pessoa humana. Nunca fomos estatistas, pois éramos sindicalistas. Proclamamos um Poder forte para garantia das liberdades, acentuando que Nação e Estado não eram um fimmas um meio de servir o homem — nunca o motivo do seu esmagamento.
Ao contrário da forma decalcada do fascismo «tudo pela Nação nada contra a Nação», nós proclamamos «tudo pelo homem nada contra o homem». No livro Justiça! [1936], que aliás foi proibido de circular, resumi todas as ideias do nosso credo de personalistas e comunitários. A pessoa humana reflecte-se, reforça-se, enraíza-se na Comunidade para com mais segurança poder ser livre.
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Entrevista de Rolão Preto ao Diário de Lisboa, 19 de Outubro de 1945:
O sr. Dr. Rolão Preto é um temperamento ardoroso e combativo. A sua aparição no tablado político, há anos, foi assinalada por um movimento que, por um instante, aglutinou muitas inquietações e anseios. Tendo prestado o seu concurso ao Governo e constituído, em certo processo, um dos seus mais aguerridos núcleos de colaboração, esse movimento, em certa altura, cindiu-se e a falange que acompanhava pessoalmente o dr. Rolão Preto passou a considerar-se em oposição. A carta que o «Diário de Lisboa» há dias publicou veio repor em actualidade o nome do dr. Rolão Preto, a quem quisemos ouvir, neste debate em que se procura iluminar os caminhos que se oferecem à vida do país.
- Porque discordaram e discordam do actual Governo?
- Nós, nacionais-revolucionários, sindicalistas e homens livres que em 1933 marcamos uma posição de nítida discordância política do Poder, proclamávamos então como proclamamos hoje a necessidade de integrar no Estado as forças populares. Para isso governar não podia ser impor, mas sim fazer aceitar, conseguir a colaboração de todos os que trabalham, através duma mística revolucionária da conquista das liberdades contra as prepotências da riqueza e da sua posição.
- As liberdades?
- Claro! As liberdades económicas como base das liberdades políticas. Gritamos primeiro de que ninguém o imperativo do económico-social hoje triunfante na Europa. Sem a conquista do pão e da justiça social essencial, as liberdades políticas seriam vãs ou uma mistificação.
- E como obter essa conquista?
- Pela revolução nacional dos trabalhadores, que era por outros métodos, o que se tentou pela decisão eleitoral na Inglaterra do trabalhismo de hoje. Já lá vão 10 anos...
- E o governo como as encarou?
- Como revolução que aceitava a minha fórmula «É preciso que os muito ricos sejam menos ricos, para que os muito pobres sejam menos pobres». Nós não aceitamos hoje o statu-quocapitalista e burguês em que os fortes esmagam livremente os mais fracos. Preconizamos, pois, uma orgânica econômico-social que, marcando deveres, assegure os direitos sociais dos portugueses.
- Não concordaram então com o Corporativismo?
- Não podíamos aceita-lo nas bases em que foi posto e daí data mesmo a acuidade da nossa discordância do Poder. Nós queríamos como queremos hoje que os trabalhadores se organizem livremente nos seus sindicatos que de formação em formação iam até à indicação dos seus representantes no Poder. Queríamos e queremos a nacionalização progressiva das grandes indústrias de interesse público, a nacionalização da Banca, a resolução do problema do crédito, a assistência na invalidez e na doença, a reforma para todos os trabalhadores, o ensino e a justiça gratuita, a abolição do imposto sucessório de pais para filhos, queremos, em resumo, tudo o que possa assegurar a desproletarização das massas, erguendo os trabalhadores ao nível das classes médias e defesa destes como base da nacionalidade.
- E o Governo?
- O Governo considerou-nos «perigosos» indesejáveis... e confiou a situação à chamada «União Nacional», formação de moderados, vindos de todos os partidos, burgueses sem alma nem nenhuma fé nos imperativos nacionais e revolucionários do nosso tempo — gente «sensata» a quem apenas interessava a segurança da sua posição pessoal e as suas vantagens.
- Daí em diante...
- Daí em diante não nos foi permitido que, pelo menos, oficialmente, pudéssemos impulsionar as nossas doutrinas.
- São muitos os que discordam?
- Fomos muitos e muitos mais somos hoje.
- Pode citar nomes?
- Por enquanto é cedo. De resto são bem conhecidos: militares dos mais bravos, professores entre os mais ilustres, advogados, engenheiros, estudantes, lavradores, comerciantes, industriais, e sobretudo o povo. O povo das oficinas e dos campos, todos os que anseiam por um sistema de ordem na justiça!
- Foram os senhores acusados de estatistas e, até de fascistas.
- As nossas intenções foram desvirtuadas pelas aparências. Como todos os partidos revolucionários, não podendo como na Inglaterra fazer a revolução nas urnas, seguimos o método em voga e com as possibilidades legais de então, para a conquista do Estado: formação em coluna e um signo de aliança para a batalha [ (a Cruz de Cristo) ] — pouco importa que a camisa de combate fosse encarnada, como nos comunistas, ou de ganga azul, como a dos trabalhadores portugueses, que era a nossa. / No parque Eduardo VII [18 de Fevereiro de 1933] foi definida logo de começo a nossa atitude «para além da democracia, do fascismo e do comunismo» no sentido de resgate da pessoa humana. Nunca fomos estatistas, pois éramos sindicalistas.Proclamamos um Poder forte para garantia das liberdades, acentuando que Nação e Estado não eram um fim mas um meio de servir o homem — nunca o motivo do seu esmagamento. / Ao contrário da forma decalcada do fascismo «tudo pela Nação nada contra a Nação», nós proclamamos «tudo pelo homem nada contra o homem». No livro Justiça! [1936], que aliás foi proibido de circular, resumi todas as ideias do nosso credo de personalistas e comunitários (ver Capítulo Política da Personalidade). A pessoa humana reflecte-se, reforça-se, enraíza-se na Comunidade para com mais segurança poder ser livre.
- O vosso partido não é então uma coisa fechada?
- Pelo contrário, proclamamos a necessidade duma aliança de todos os portugueses livres, isto é, mantendo-se cada um na sua posição ideológica mas convergindo todos livremente, no sentido de realizar um programa de justiça social e de resgate do Homem, a grande vitima do nosso tempo.
("O sr. Dr. Rolão Preto define e concretiza a sua posição política perante a situação actual", Diário de Lisboa, 19 de Outubro de 1945, pp. 1 e central; negritos acrescentados.)