Brevíssimas Notas por José Aníbal Marinho Gomes António de Oliveira Salazar nunca permitiu que os monárquicos alcançassem o poder, anulando dessa e de outras formas, a importância política de D. Duarte Nuno. Luís de Almeida Braga e José Hipólito Raposo criticaram o regime autoritário de Salazar, chamando-lhe "salazarquia", enquanto Rolão Preto afirmava que "o Estado Novo foi a ruína da Nação".
Em 1930, Hipólito Raposo, recusa colaborar com a União Nacional e diz que os monárquicos deviam fazer o mesmo, opondo-se de forma directa à institucionalização do "Estado Novo". Ao publicar “Amar e Servir”, em 1940, denunciou de uma forma muito dura a Salazarquia, desferindo um severo ataque a Salazar, o que lhe valeu a demissão de todos os cargos públicos e a sua imediata deportação para os Açores. É a partir dos anos 40 do século passado que a oposição monárquica a Salazar começa a manifestar-se de forma mais organizada. No acto eleitoral de 18 de Novembro de 1945, José Pequito Rebelo vê recusada a lista de que fazia parte por Portalegre, porque os candidatos não tinham declarado que aceitavam os princípios fundamentais da ordem estabelecida. Nas eleições de 13 de Novembro de 1949, Rolão Preto candidata-se por Vila Real e Pequito Rebelo, de novo, por Portalegre, numas eleições para as quais se presumia que este último seria vencedor. No entanto, o acto eleitoral foi interrompido pelo presidente da Câmara de Elvas, Mário Cidrães, que se dirigiu à mesa eleitoral e ao mandatário da lista informando-os que, por decisão superior, o acto eleitoral não podia continuar. No mesmo ano, Luís de Almeida Braga e Vieira de Almeida são expulsos da Causa Monárquica em consequência do seus combates ao Estado Novo. Esse organismo monárquico não queria então afrontar o regime, vivendo na ilusão de que a monarquia viria a ser restaurada. Após a morte do Presidente Óscar Carmona, ocorrida em 18 de Abril de 1951, alguns monárquicos como Mário de Figueiredo e Cancela de Abreu propuseram a restauração da monarquia, mas Salazar, Albino dos Reis e Marcello Caetano opuseram-se. Aliás, este último, no III Congresso da União Nacional, que se realizou em Novembro desse ano em Coimbra, considera de menor importância a questão do regime, afirmando que ao ser levantada podia criar indesejáveis divisões entre os Portugueses. Nesse ano de 1951, Rolão Preto apoiou a candidatura presidencial oposicionista de Quintão Meireles. No mês de Outubro de 1957, antes das eleições legislativas de 4 de Novembro, um grupo de monárquicos, do qual faziam parte, entre outros, Gonçalo Ribeiro Telles (um dos fundadores do Movimento dos Monárquicos Independentes (MMI), ao qual também se junta Luís de Almeida Braga), Francisco de Sousa Tavares, João Vaz de Serra e Moura e Henrique Barrilaro Ruas, publica um manifesto onde contestam qualquer forma de ditadura, que consideram ser inconstitucional e defendem a democracia como uma das soluções para resolver os problemas de Portugal. No ano de 1958 a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República conta com o apoio destacado de Rolão Preto, Fernando de Morais Sarmento Honrado, Luís de Almeida Braga, sobressaindo-se este último, como causídico na defesa de Henrique Galvão, após o assalto ao Paquete «Santa Maria». Entretanto começam a verificar-se divisões internas no Movimento dos Monárquicos Independentes e Ribeiro Telles, com alguns monárquicos, entre os quais Francisco de Sousa Tavares e João Camossa, funda o Movimento dos Monárquicos Populares (MMP). Muitos monárquicos (Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco de Sousa Tavares, João Camossa, etc.) estiveram implicados na chamada “Revolta da Sé” que foi uma tentativa de golpe militar e civil verificada na noite de 11 para 12 de Março de 1959 que a PIDE consegue desmantelar e onde são feitos prisioneiros uma série de oficiais de patente intermédia, que contavam com o apoio de algumas figuras de topo da hierarquia militar e alguns civis, entre os quais o Padre João Perestrelo de Vasconcelos, pároco da Sé Patriarcal de Lisboa, local, onde os revoltosos se reuniram, sendo, no total, detidas cerca de três dezenas de pessoas. Ainda em 1959, Francisco de Sousa Tavares, Gonçalo Ribeiro Telles, Sophia de Mello Breyner Andersen entre outros enviam uma carta ao Presidente do Conselho, Salazar, na qual denunciam os métodos da PIDE. No dia 12 de Novembro de 1961 há as primeiras eleições após o início da Guerra no Ultramar Africano, e a oposição monárquica à “salazarquia” apresenta uma lista por Lisboa, que não foi aceite pelo regime, e, da qual faziam parte, nomes como Fernando Alberto da Silva Amado; Francisco José de Sousa Tavares; Mário Pessoa da Costa; José Paulo de Almeida Monteiro; Fernando Torres Carneiro Vaz Pinto; Francisco António da Silveira de Vasconcellos e Sousa (Castelo Melhor); Gonçalo Pereira Ribeiro Teles; João Carlos Camossa de Saldanha; António Moutinho Rubio; Maria Ofélia Mafalda de Melo de Portugal da Silveira; Rodrigo da Costa Félix; Manuel Ramos Ferreira e, que reuniu à sua volta um grande número de apoiantes. Alguns monárquicos são co-autores do “Manifesto dos 101 Católicos” de 4 de Outubro de 1965, documento de activistas católicos contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Católica à política do Governo de Salazar, entre os quais se destacam Francisco de Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen, Gonçalo Ribeiro Telles, Fernando de Morais Sarmento Honrado. Em 1969 surge a Comissão Eleitoral Monárquica (CEM), que apresenta uma lista própria para concorrer ao acto eleitoral de 26 de Outubro pelo círculo de Lisboa, eleições estas que não passaram de uma farsa promovida pelo regime. Pugnavam pelo sufrágio directo e pela participação na vida política do país, que se aproximava do «descalabro moral e económico» e repudiavam a repressão policial, perpetrada pela PIDE, que se devia limitar às suas “naturais atribuições”. Defendem a extinção da censura, o direito de associação num sindicalismo livre e o direito à greve, uma justa repartição do rendimento bem como a criação de um Serviço Nacional de Saúde, defendido por Mário Saraiva. Pugnam também a existência de partidos políticos que, para Rolão Preto, são “os mais vigorosos órgãos da Liberdade política, segurança das liberdades essenciais”. No campo da educação são favoráveis ao alargamento da escolaridade obrigatória e à autonomia das universidades. Henrique Barrilaro Ruas foi o principal rosto público da CEM, da qual faziam também parte Francisco de Barcelos Rolão Preto; Luís Paulo Manuel de Menezes de Mello Vaz de São Payo; Fernando de Moraes Sarmento Honrado; Francisco Lopes Roseira; Joaquim Toscano de Sampaio; Maria Luiza da Conceição de Almeida Manoel de Vilhena; Fernando Teixeira Viana; Manuel Jorge de Magalhães e Silva; Abílio Leopoldo Motta-Ferreira; Fernando Costa Quintais; António Albano Pardete da Fonseca e que contou com muitos apoiantes. A CEM relacionou-se com outros grupos oposicionistas, que também integravam monárquicos, como a Comissão Democrática Eleitoral (CDE), a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), que incluía personalidades monárquicas como Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Luís Nunes (um dos fundadores do partido socialista), entre outros. Gonçalo Ribeiro Telles foi convidado por Henriques Ruas para integrar a lista da CEM, mas pelo facto de já ter aceite fazer parte da lista da CEUD, declina o convite, afirmando, no entanto, que se a CEM chegasse a votos, o MMP aderiria a uma Convergência Monárquica, independentemente do seu resultado das mesmas, o que veio a acontecer após as eleições. Os jornais Diário de Lisboa e Capital, contrariamente a outros, nunca silenciaram a voz da oposição monárquica. Nas acções de propaganda da CEM podia ler-se que: “O acto mais nobre de Um Povo Livre é escolher os seus representantes, escolher aqueles que serão, em cada dia, a sua própria voz”, bem como: “A Independência de Portugal passa pela liberdade dos Portugueses”. Os monárquicos dos vários quadrantes da oposição defendiam as liberdades públicas, a abolição da censura de forma a permitir a liberdade de expressão e a sua intervenção era feita, sobretudo, na revista Cidade Nova, e através do Centro Nacional de Cultura, fundado por um grupo de jovens monárquicos em 1945, entre os quais destaco Afonso Botelho, António Seabra e Gastão da Cunha Ferreira que foi o primeiro presidente. Do grupo inicial de monárquicos resta apenas Gonçalo Ribeiro Telles, sócio n.º 1 com 97 anos de idade. Em 30 de Abril de 1970, foi criada a Convergência Monárquica, que integrava o Movimento Popular Monárquico, de Gonçalo Ribeiro Teles, fundado em 1957, a Renovação Portuguesa, de Henrique Barrilaro Ruas, nascida em Maio de 1962, e uma facção da Liga Popular Monárquica, de João Vaz de Serra e Moura, instituída em 1964. Em virtude das posições públicas de oposição ao regime, manifestadas pelos seus dirigentes e no seguimento do manifesto da CEM, a Convergência Monárquica foi impedida de concorrer às eleições de 1973. A participação em actos eleitorais, abriu portas, após Abril de 1974, para que os monárquicos fizessem parte, por direito próprio, do sistema democrático português. A Convergência Monárquica, está na origem do Partido Popular Monárquico (PPM) criado em 23 de Maio de 1974. Após a revolução de Abril, nem todos os monárquicos aderiram ao PPM, integrando outros partidos como o CDS, PPD/PSD e PS. Para memória futura aqui fica uma lista de nomes*, ainda que incompleta, ordenada por ordem alfabética, de monárquicos que combateram a II República, integrando ou não listas oposicionistas candidatas a actos eleitorais antes de Abril de 1974: Abel da Cunha Abel Tavares de Almeida Abílio Leopoldo Motta-Ferreira (usava o pseudónimo de Fernando Sylvan) Adriano dos Santos Gonçalves Afonso José Matoso de Sousa Botelho Agnelo Galamba de Oliveira Agostinho Carlos Pignatelli de Sena Belo Ataíde Queiroz Agostinho da Silva Alberto de Monsaraz Alberto Moutinho Abranches Albino Neves da Costa Alexandre Martins Moniz de Bettencourt Alfredo Carreira da Cunha Alfredo Pinheiro de Freitas Álvaro da Graça Costa António Albano Pardete da Fonseca António Amadeu de Souza-Cardoso António Augusto Afonso António Crespo de Carvalho António de Assunção Sampaio António João Alves Luís Fernandes António José Borges Gonçalves de Carvalho António José de Seabra António Luís Maria Matoso de Sousa Botelho António Moutinho Rúbio António Pinto Ravara António Ressano Garcia Cardoso Moniz Artur Armando Camarate dos Santos Augusto Carlos Saldanha Augusto Cassiano de Andrade Barreto Augusto João Pereira de Castro Lopes Augusto Martins Ferreira do Amaral Augusto Salazar Antunes Augusto Vinhal Azevedo Cruz Carlos Alberto de Aguiar Vieira Gomes Carlos André de Morais Sarmento Pacheco do Canto e Castro Carlos Manuel Vieira de Almeida Álvares de Carvalho Carlos Valdez Pinto Vasconcelos Daniel Noronha Feio Delfim da Nóbrega Pinto Pizarro Domingos Manuel da Cunha Pignateli Sena Belo Ferraz de Carvalho Megre Ercília da Silva Ramos Fernando Alberto da Silva Amado Fernando Amaro Monteiro Fernando Bayolo Pacheco de Amorim Fernando da Costa Quintais Fernando de Moraes Sarmento Honrado Fernando Ferreira Pinto Fernando Pedro Teixeira Viana Fernando Torres Carneiro Vaz Pinto Fernão Vaz Pereira Forjaz Pacheco de Castro Francisco António da Silveira de Vasconcellos e Sousa Francisco de Barcelos Rolão Preto Francisco José Carneiro de Sousa Tavares Francisco Júdice Pragana Barata Feio Francisco Lopes Roseira Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro Francisco Vieira de Almeida Frederico Guilherme José Pereira de Sá Perry Vidal Gaspar José Cochofel de Campos Calejo Gastão Caraça da Cunha Ferreira Gonçalo Fevereiro Gonçalo Pereira Ribeiro Telles Guilherme Gomes Henriques Barbosa Henrique José Barrilaro Fernandes Ruas Henrique Mitchell de Paiva Couceiro Henrique Queirós Athayde Ilídio João de Almeida Santos Isabel Wolmar (Maria Isabel Marques Silva) Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima João Carlos Camossa Nunes de Saldanha João Carlos Vaz Serra de Moura João Crespo de Carvalho João José Melo Lapa João Manuel Bettencourt da Câmara João Marcos Pereira Perry Vidal João Paulo Almeida Monteiro João Pedro Maia Loureiro João Pinto Picão Caldeira João Seabra Joaquim Barata Navarro de Andrade Joaquim de Almeida Baltazar Joaquim L. Espírito Santo de Vasconcelos Joaquim Paulo Dias de Aguiar Joaquim Toscano de Sampaio Jorge Augusto de Melo Azevedo Jorge Manuel Pujol Figueiredo de Barros Jorge Portugal da Silveira José Adriano Pequito Rebelo José Bernardino Blanc de Portugal José Fernando Rivera Martins de Carvalho José Hipólito Vaz Raposo José Luís Crespo de Carvalho José Luís do Amaral Nunes José Manuel Le Cocq da Costa e Silva Neves da Costa José Mário Soares Dengucho José Paulo de Almeida Monteiro José Vaz Serra de Moura Júlio Rosa Leão Ramos Ascensão Luís Carlos de Lima de Almeida Braga Luís Carlos Fernando de Lemos da Câmara Leme Luís Filipe Ottolini Bebiano Coimbra Luís Leite Rio Luís Paulo Manuel de Menezes de Mello Vaz de São Payo Manuel Alberto Ferraz de Sousa Athayde Pavão Manuel de Carvalho Costa Manuel de Jesus Carvalho Manuel Jorge Fonseca de Magalhães e Silva Manuel José Cachopo Rebocho Manuel Mascarenhas Novais Ataíde Manuel Óscar de Freitas Bettencourt e Galvão Manuel Paulo Ribeiro de Castro Manuel Ramos Ferreira Marco António do Nascimento Monteiro de Oliveira Marcus Daniel Zicale Marcus de Noronha da Costa Maria Adelina Delacruz Vidal Maria Eliene Santana Maria Emília Chorão de Carvalho Barrilaro Ruas Maria Ester Pereira da Costa Pita Maria Joana Delacruz Vidal Braga Real Maria Luiza da Conceição de Almeida Manoel de Vilhena Maria Ofélia Mafalda de Melo de Portugal da Silveira Mário António Caldas de Melo Saraiva Mário Coelho Mário Emílio de Azevedo Mário Mendes Rosa Mário Pessoa da Costa Miguel Martins Leite Pereira de Melo Miguel Ramalho Ortigão Nabais e Silva Nuno Furtado de Mendonça Nuno Vaz Pinto Paulo da Costa Dordonnat Pedro Agostinho de Oliveira Pedro Alves Castanheiro Viana Pedro Manuel Guedes de Paiva Pessoa Pedro Manuel Marques Ferreira Pedro Rocha Marques Ferreira Quirino do Nascimento Mealha Rafael Castanheiro Freire Rodrigo Costa Félix Rodrigo Jorge de Moctezuma Seabra Pinto Leite Rui Ernesto Callaia da Cunha e Silva Rui Quartin Santos Segismundo Manuel Peres Ramires Pinto Sophia de Mello Breyner Andresen Victor Manuel Quintão Caldeira Wenceslau M. de Lima da Fonseca Araújo * Agradeço ao Amigo Dr. Augusto Ferreira do Amaral a inclusão de alguns nomes nesta lista, que foi elaborada a partir de diversas fontes tendo por base o Dossier da Comissão Eleitoral Monárquica - CEM (1973), Convergência Monárquica 1.º ano de acção (1971); Livros das colecções da “Biblioteca do Pensamento Político”, “Edições de Cultura Monárquica” e Edições Gama (Série A - Política e Clássicos do Pensamento Político Português); Boletins da Liga Popular Monárquica; Lista Monárquica Candidata às eleições de 12 de Novembro de 1961; “Nas Teias de Salazar, D. Duarte Nuno, entre a Esperança e a Desilusão” de Paulo Drumond Braga, arquivo pessoal, etc. Para a elaboração deste artigo, foram também consultados alguns números dos jornais Diário de Lisboa e Capital (mês de Outubro de 1969).
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AutoresEstudos Portugueses Histórico
Fevereiro 2021
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