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Mais longe ainda!

António Sardinha

Gritam as "direitas", - gritam as "esquerdas". "Esquerdas" e "direitas" urge que desapareçam, porque são filhas do individualismo solto da Revolução [Francesa], - e a Revolução é a morte da alma centenária dos povos e a geradora da monstruosidade plutocrática dos tempos modernos, perante a qual, e esquecidas as regras divinas da Justiça, é quase de legítima defesa a monstruosidade bolchevista.

​-
António Sardinha

RESUMO
António Sardinha faz aqui um balanço do percurso da revista “Nação Portuguesa” ao encerrar a sua segunda série, refletindo sobre o contexto político e social de Portugal e da Europa no início do século XX. O autor destaca o sentimento de crise e decadência que atravessa o país, agravado pela influência das ideias da Revolução Francesa e pela instabilidade política, mas também aponta sinais de esperança e renovação.
Sardinha define o Integralismo Lusitano como uma doutrina de regeneração nacional, defendendo o regresso à tradição como o caminho para restaurar a dignidade e o destino histórico de Portugal. Ele vê na muito recente ascensão de Mussolini em Itália e de Primo de Rivera em Espanha exemplos de liderança forte e de reação contra a decadência liberal e revolucionária, sugerindo que Portugal deveria seguir um caminho semelhante, 
mas com uma doutrina mais orgânica e enraizada nas tradições portuguesas.
Sardinha critica tanto as “direitas” quanto as “esquerdas”, acusando-as de serem herdeiras do individualismo revolucionário e de estarem afastadas dos verdadeiros interesses nacionais. Defende que a solução para Portugal não passa pelo retorno a modelos ultrapassados, mas sim por uma renovação profunda baseada na tradição, na ordem e na justiça social, rejeitando tanto o liberalismo burguês quanto o marxismo.
Sardinha termina com uma nota de esperança e de missão: acredita que, apesar das dificuldades e da corrupção do presente, há uma semente de renascimento nacional e espiritual que está a germinar. Exorta os seus companheiros a não desanimarem e a continuarem a lutar por um Portugal autêntico,
fiel à sua vocação histórica e cristã, indo “mais longe, muito mais longe ainda” na busca desse ideal.



​MAIS LONGE AINDA!
 
Encerra-se com este número a segunda série da nossa revista. Não nos fica mal, por isso, quedar-nos um momento a olhar o caminho andado, buscando assim, se realmente avançamos, alento para novas empresas. É de escuridão e de perplexidade a hora presente. Mas quando da vergonha política e moral do Pacto de Paris a Nação Portuguesa ressurgia para a existência, devemos concordar que o horizonte se mostrava mais carregado, mais carregada se mostrava a treva funda em que marchávamos. Com a serenidade de uma fé que nem um só minuto desfaleceu, nesse instante de deserção e abandono tornámos a fazer o protesto de servirmos firmemente a Portugal – e só a Portugal! –, restituído pelas disciplinas fiéis da Tradição à trajetória do seu admirável destino histórico. Saíramos então de uma batalha em que tudo parecera perdido, menos a honra, de mãos dadas com a sinceridade. Perante a capitulação inesperada dos depositários da herança vencida pela intervenção estrangeira sobre a colina de Évora-Monte, dir-se-ia que apenas nos restava, ou capitular também, ou retirar-nos da liça, emudecendo para sempre. Louvores a Deus – não emudecemos, nem capitulámos! Cheios da força invencível do Espírito, à lei do Espírito nos recolhemos, seguros de que por ela seríamos premiados e encorajados. E ao reaparecer a Nação Portuguesa – símbolo perfeito de um regresso às origens de onde tudo procede – não duvidámos em confessar bem alto que talvez a Portugal estivesse reservada a sorte incomparável de se restaurar para a sua antiga glória, inaugurando, à face da Europa assombrada, o adivinhado e já entrevisto maximalismo do mundo ocidental.

Não nos faltavam, na verdade, razões para assim o acreditarmos, atendendo a que Portugal possuía no Integralismo uma doutrina completa de reação. Depois, exatamente, porque no nosso pobre país tudo se subvertera e aluíra, desde a sociedade ao Estado, é que existia campo largo para uma realização heróica que marcaria o advento da Ordem-Nova. «Quando Deus apaga, é que Ele quer construir» – proclamava Joseph de Maistre. E na sua miséria desesperante, mas, sem dúvida, merecedora ainda da sua obliterada dignidade de nação apostólica, não justificaria Portugal as palavras profundas do grande doutor da Contra-Revolução? Ai de nós, iniciadores e criadores em tantos feitos supremos, Portugal desertaria, não por ele, ao chamamento que o Senhor por certo lhe reservava, como graça concedida ao seu sacrifício de um século nas aras execrandas dos falsos deuses da Revolução! Desertaria por culpa dos seus Chefes, divorciados por completo dos deveres da sua alta hierarquia, desertaria pela demissão voluntária de uma árvore dinástica que em ambos os seus ramos a si mesma se excluía do interesse nacional, base da verdadeira legitimidade!

Coube à Itália romper a jornada sonhada por nós para Portugal. E tão depressa os loureiros romanos acolheram na sua sombra patrícia os legionários audazes do Fascio, toda a sagrada terra latina se agitou, como que fecundada por um vento novo. «Giovinezza! Giovinezza! Primavera di bellezza!» Sacudindo o seu marasmo centenário, o Ocidente acordava para as sugestões exaltadoras do futuro, desmentindo aqueles que lá dos nevoeiros densos da Germânia, por boca de Oswald Spengler e do conde de Keyserling, anunciavam a fatalidade da sua decadência. A febre nacionalista, escachoando como uma força bárbara, acordou por sobre o Mediterrâneo o cantar extinto das sereias. Bem cedo a Cruz a batizou, à epopeia recém-nascida, em que já se coalham, com acentos de bronze e oiro, as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende, mas a cuja sedução ninguém, com raça nas veias e com Cristo na alma, poderá, em verdade, resistir! O que nós quiséramos para Portugal, pôde Mussolini empreendê-lo. Empreendê-lo, não como doutrina, mas como uma soberba e convincente demonstração pelo facto de que o Ocidente não morreu e de que na sua volta às virtudes clássicas do Poder reside o segredo do seu inevitável ressurgimento.

Retardada no andamento regular da sua aparição, a nossa revista, ao encerrar-se a segunda série, reconforta-se, para maiores caminhadas, com a vitória de Mussolini. Enche-nos essa vitória de animadoras certezas, tanto mais que na vizinha Espanha um ditador se levanta também e com gentil bravura liberta a Realeza dos vergonhosos compromissos partidários que a diminuíam e manietavam. Quando enfileiramos com tão chamejante entusiasmo em torno da ideia de um Chefe, escusado é declarar que não nos subordinamos à simples imposição materialista de qualquer pretoriano, mordido de cesarite aguda. Saudamos no Chefe – ou seja Rei, ou Ditador – o realizador necessário das aspirações de resgate já tão abertas na alma dos povos ocidentais, despertados, enfim, de um pesadelo trágico de cem anos. Deste modo, civil um, o outro militar, Primo de Rivera é bem irmão de Mussolini na mesma ânsia nobre que o impulsiona e conduz. Falta-lhe, como a Mussolini falta, o sentido orgânico de uma doutrina. Mas não falta a ambos um instinto apurado de arquiteto – e vê-los-emos depressa ocupar no agradecimento dos seus concidadãos o lugar que na Bíblia ocupam os antigos fundadores de Cidades.

Verifica-se consoladoramente que, entrada em plena decomposição a ideologia política e social de 89, duas das nações mais diretamente atacadas pela sua avariose mortal se decidem a uma cura enérgica, que não só aproveitará a elas, porque o mal da Revolução é universal e universal será igualmente o contraveneno que o destruir. Descida das meditações isoladas de um grupo reduzido de pensadores, a Era que desponta ensina-nos que já ingressaram no âmbito das verdades imediatas e diárias aquelas máximas e aquelas conclusões até há bem pouco ofuscadas pela superstição inqualificável da Democracia. Se a Conferência da Paz, com os Lloyd George, os Wilson e os Clemenceau, representou o triunfo aparente de um arcaísmo que em pouco mais de um século ia subvertendo a Europa, ergamos as mãos ao Céu em sinal de gratidão, porque Deus não permitiu que as leis da vida continuassem transgredindo-se e que os povos, atirados para um suicídio coletivo, não arrepiassem a tempo na rampa inglória por onde rolavam. E se mais demoradamente olharmos a agitação enigmática que, simultaneamente, esfarrapa e unifica a contraditória Alemanha dos nossos dias, no predomínio que de hora para hora a Baviera vai tomando sobre a marcha tão obscura da Imperial-República, podemos contemplar com fundamentada esperança o renascer do fundo católico das velhas pátrias europeias, que o vento da Reforma revolveu criminosamente, para que depois a Revolução passasse mais à vontade.

E ninguém imagine que nos seduz a estulta miragem de um retorno ao que, em fraseologia parlamentar, se entende por «situação» ou «governo» das «direitas»! O que marca a ditadura legalizada de Mussolini marca também o aprumo ditatorial de Primo de Rivera: é a sua perfeita consciência de que o eixo das questões que avassalam na Europa a combalida carcaça do Estado se encontra nos conflitos do Trabalho e do Capital – na subjugação cada vez mais opressiva das atividades produtoras à tirania de um argentarismo crescente e sem escrúpulos. Porque os ilumina a clara mentalidade do Ocidente, nem Primo de Rivera nem Benito Mussolini se deixaram vencer pelo dogma marxista da «luta de classe». Mussolini, vindo dos arraiais socialistas, arvora em emblema de congregação o feixe simbólico dos litores – Primo de Rivera desembainha a espada e torna a Espanha toda numa vasta tenda de guerra. Porquê? Precisamente porque as Direitas, depositárias no seu burguesismo impenitente dos detritos petrificados do Liberalismo, se incapacitaram irremediavelmente para a solução, tanto humana como nacional, dos problemas que é imperioso resolver, a fim de que a civilização se salve e a lei do Espírito não sucumba na terra diante da lei ululante do Número.

O que caracteriza, pois, o movimento fascista é o que caracteriza o movimento militar espanhol. Não é um partido que sobe às esferas da governação pública, suscitado por exigências torvas de repressão. É antes, e unicamente, uma obra de reparação e de equilíbrio que se começa, um pouco cirurgicamente, é certo, usando-se de métodos adormecidos por uma longa época de sonâmbula e hipócrita legalidade. Gritam as «direitas» – gritam as «esquerdas». «Esquerdas» e «direitas» urge que desapareçam, porque são filhas do individualismo solto da Revolução – e a Revolução é a morte da alma centenária dos povos e a geradora da monstruosidade plutocrática dos tempos modernos, perante a qual, e esquecidas as regras divinas da Justiça, é quase de legítima defesa a monstruosidade bolchevista. De modo que Benito Mussolini e Primo de Rivera, reagindo cada um segundo as possibilidades e o temperamento dos seus respetivos países, confirmam experimentalmente a admirável atitude contrarrevolucionária assumida em França por Maurras e pelos seus companheiros – atitude que o Integralismo Lusitano, por seu turno, corporizou e definiu entre nós, quando em 1914 se lançava aos acasos da publicidade o primeiro número da Nação Portuguesa.

A lento e lento, os anos decorridos, se foram anos de pesadelo e tragédia, foram igualmente arrancadas emancipadoras para um futuro melhor e menos carregado. A Action française, desbastada pela Grande Guerra na flor mais escolhida dos seus adeptos, reverdeceu pujantemente como um tronco que o vendaval mutilasse, mas que a Primavera, acarinhando-o, veio enfeitar de fartos gomos desabrochantes. A sua influência é hoje tão intensa e tão sensível que Raymond Poincaré, Presidente do Conselho, se vê constantemente acusado, na imprensa e no parlamento, de lhe seguir a inspiração, de lhe escutar as indicações. A república em França monarquiza-se – não como um regime que evolui acidentalmente para outro, mas como uma transformação mais séria e mais eficaz, porque o que está em crise são todas as instituições forjadas pela fantasia dementada do romantismo político. De maneira que, em presença de tantos e tão expressivos acontecimentos, devemos concluir, como Jacques Maritain conclui no seu belo Antimoderne,que «sous le travail de ruine et de corruption dont nous sommes témoins, un œil attentif peut discerner des germinations précieuses. Pendant que se disloque la grande machine du monde – acentua o feliz renovador do Tomismo –, l’avenir s’élabore en quelques points d’élection... En vérité, malgré la boue et le sang dont elle regorge, l’époque actuelle est puissamment intéressante pour l’esprit, et elle annonce les plus beaux combats ».

E nós – e Portugal? Neste como que memento que nos achamos tracejando, ficou já bem assente como tudo em Portugal se dispunha para que nós retomássemos a nossa alta dignidade de nação apostólica. Essa seria a terceira vocação de Portugal – de Portugal conquistador e descobridor! –, a de inaugurar na Europa o maximalismo ocidental. Possuíamos uma doutrina e uma hoste de dedicações disciplinadas até ao sacrifício. Quando se historie nos seus detalhes mais ocultos o que foi o consulado de Sidónio Pais, saber-se-á que já então o grupo integralista se empenhava em lançar no nosso país o advento da Ordem-Nova. Tombou Sidónio Pais, assassinado pela cegueira republicana da sua mentalidade pouco aberta às solicitações da hora que avança. Os sucessos que a sua morte provocou – sucessos de confusão e de catástrofe! – demonstram-nos amplamente que, à fúria destruidora do jacobinismo, sobrepuja em Portugal a apatia ignóbil dos chamados «conservadores». A paixão do Integralismo atinge quase o seu ponto máximo, escarnecido por uns, mal-entendido por outros. Não viam em nós mais do que um embrião de partido, de um partido, formado contra a República, ao lado dos fariseus do Constitucionalismo! Apelámos debalde para o que, à nossa volta, houvesse ainda das qualidades ancestrais da raça. Só nos rodeava a ciganagem das «esquerdas», tripudiando sobre o corpo miserando da Pátria, de braço trocado com a cupidez sem escrúpulos das «direitas». Os «lucros de guerra» arvoraram-se em traços de união – numa como que «união-sagrada», em que se adorava a Belfegor e ao seu cortejo de divindades sórdidas!

Nem assim desanimámos! Recorre-se ao exilado de Londres, ao que ostentara nas suas mãos o cetro de Afonso Henriques. Cena molieresca a da nossa ida até ele! Não desistimos ainda.... Abre-se a questão dinástica, chovendo sobre nós as pedradas da calúnia e da má-fé. Pois a nossa crença não esmorece! Vem em seguida o Pacto de Paris, em que somos atraiçoados por uma Infanta de Portugal e se enterram com desprezo vexatório aqueles princípios que constituíam o melhor brasão da nossa inteligência. Foi a altura de reconhecermos desassombradamente que, por uma pertinácia cega, Portugal se condenava a expiações mais duras e mais prolongadas. Recolhidos ao castelo-interior da nossa doutrina, atirámos de novo a lume a Nação Portuguesa. Voltávamos ao começo. E agora que a sua segunda série se fecha, decerto que não é escusado este exame de consciência.

Afinal, não caminhámos debalde! Moralmente, o triunfo sorri-nos. Trabalhadores modestos da obra de salvação dolorosa que Deus impôs à Europa, testemunhámos intrepidamente, das linhas de fogo às estradas do exílio, a sinceridade e a elevação da cruzada a que nos votáramos plenamente. Hoje, se em Portugal a obstinação persiste como um ferrete de anátema, os exemplos da Itália e da Espanha abrem janelas no reduto fechado de onde combatemos e dão-nos, mais forte e mais consistente, a convicção do nosso destino superior. Por nós, Portugal não morrerá! Não por nós, caducos indivíduos de um momento, pó viajante que não demorará a juntar-se ao pó das gerações que transitaram! Mas pelo fermento que se agita nas nossas palavras, que se incendeia nos nossos corações e imprime às nossas artérias um «alerta» heroico e harmonioso. «Les hommes qui pour une part quelconque, coopèrent à la renaissance dont nous indiquions tout à l’heure quelques prodromes, sont vraiment les auxiliaires des forces divines, parce qu’ils préparent l’ordre futur, et déposent, dans un univers qui s’en va, les linéaments d’être et de santé ou la vie se réfugie, et qu’elle utilisera pour construire» – escreve Jacques Maritain, de olhos postos no seu país. Nisto consiste também o alento que nos dirige e mantém em quadrado firme, diante das investidas de uma sociedade que estrebucha e que não vale a pena salvar. Nada fazemos por nós nem para nós! Aceitamos gostosamente o chamamento com que Deus nos distinguiu, embora confessemos a nossa indignidade, batendo nos peitos, como o centurião dos Evangelhos.

E seja o nosso brado um só, ao fincarmos, com a série que termina da nossa revista, um novo marco nas andanças em que a vida se nos abrasa e consome, tal como uma labareda infatigável, crescendo sempre! Mais longe, muito mais longe ainda! Ninguém nos consegue subtrair à voz misteriosa que nos atira para além dos horizontes quotidianos e das contingências covardes da nossa carne perecedoira. Mais longe, muito mais longe ainda! A semente que a nossa juventude espalhou na limpidez cristianíssima da manhã por sobre a gleba caída em poder de infiéis – essa semente, aspergida, já lá vão dez anos, com o gesto lento, mas seguro, dos semeadores de Millet, frutifica, basta e vigorosa, debaixo da graça permanente do Céu. Não nos iludimos com a mentira convencional das aparências! É para nós de ciência certa que o Portugal bastardo em que nos debatemos tem de morrer inevitavelmente, para que o verdadeiro Portugal ressurja, sob o olhar benéfico do Senhor Deus dos Exércitos e das batalhas. Diga-se aqui, bem nitidamente, com o clangor das trombetas que derribaram os muros de Jericó: o que nos mata, o que nos abate, são as «direitas» – é o monarquismo tonto e exibicionista dos nossos salões, em que o Judeu governa, instalado tanto na Bolsa, como nas costelas heráldicas que blasonam dos Almeidas e dos Albuquerques terríveis. Contra as «direitas» – reflexo dos postiços que Eça de Queiroz cruamente dissecou nos seus romances, necessitamos de projetar, rodopiando por cima das nossas cabeças, o vergalho bruto dos demolidores. Aprendamos com a lição do Santo-Condestabre, unindo-se à arraia-miúda para lhe conferir direção e finalidade, no momento em que as «direitas do seu tempo» – consinta-se a expressão! – teimavam em amarrar Portugal a conceitos mortos, a posições já cadaverizadas!

«Alguma coisa cheira a podre no reino da Dinamarca!» – monologava o personagem célebre de Shakespeare. Pois a podre cheira também tudo no antigo reino de Portugal! Assistimos entre nós a imprevistos e repugnantes espetáculos! Um rei no desterro, em manifesta falsificação do que representa o papel moralizador da Nobreza, concede títulos, como o Banco de Portugal fabrica notas, às mais inesperadas improvisações do carnet-mondain. Das nossas Universidades os catedráticos deslocam-se, num deplorável histrionismo, para serventuários dos financeiros que lhes alugam o nome e a pretensa categoria científica. Os padres desobedecem aos seus legítimos Pastores, para se matricularem nas fileiras do Constitucionalismo putrefacto, mas desgraçadamente insepulto. Chusmas e chusmas de insexualizados da literatura ressuscitam, como motivo de êxito estrondoso, uma Sodoma de cenografia imbecil, sem a hediondez majestosa da outra que ficou ardendo nos versículos brônzeos da Bíblia. E, atinando, por fim, com o segredo da sua consolidação, a República assenta à mesa, em que se está devorando a Riqueza-Nacional, conservadores e jacobinos, reconciliados nos bastidores das Companhias e dos Bancos sobre esse suculento festim de Trimalquião.

Tal é, ao declinar do Ano da Graça de 1923, a fisionomia horripilante de Portugal! Cianose infame que oculta o rosto venerando da Pátria, apliquemos-lhe como impreterível intervenção cirúrgica o radicalismo intemerato da nossa doutrina. Só Jacques Maritain formula concisamente o programa que nos cabe executar. «Il importe d’intégrer l’immense matériel de vie contenu dans le monde moderne, mais il convient de haïr le monde moderne pris dans ce qu’il regarde comme sa gloire propre et distinctive: l’indépendance à l’égard de Dieu. Nous haïssons donc l’iniquité révolutionnaire-bourgeoise qui enveloppe et vicie aujourd’hui la civilisation, comme nous haïssons l’iniquité révolutionnaire-prolétarienne qui veut l’anéantir. C’est pour Dieu, ce n’est pas pour la société moderne qui nous voulons travailler. S’il ne s’agissait que de défendre les coffres-forts du Comité des Forges, ou la République de la Maçonnerie, ou la Société des Nations, ou la culture laïque et kantienne... ou la religion qui ne croit pas, et qui n’aime pas, et qui rassure les gens riches, qui donc voudrait lever le petit doigt ?» Também nós não levantaríamos nem o dedo mínimo, se salvar Portugal fosse salvar o conúbio apertado de plutocratas e arrivistas em que para nós se resumem, à luz da perfeita justiça, as «esquerdas» e as «direitas»! Desdobrem-se as asas da nossa aspiração! Mais longe, muito mais longe ainda! E que a ânsia em que a alma se nos dilata não se deixe nunca sucumbir diante da vastidão incomensurável dos caminhos a percorrer!
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1923.
[ António Sardinha - “Mais longe ainda!” (1923) in “A Prol do Comum..." - Doutrina e História, Lisboa, Livraria Ferin, 1934, pp. 253-266 ]

António Sardinha perante o recente triunfo de Mussolini em Itália e de Miguel Primo de Rivera em Espanha (1923)
Neste texto de 1923 - "Mais longe ainda!" - António Sardinha considera que o triunfo de Benito Mussolini em Itália e de Miguel Primo de Rivera em Espanha, não sendo a vitória do "sentido orgânico de uma doutrina" - que faltava a ambos - era “uma soberba e convincente demonstração (...) de que o Ocidente não morreu...” (pp. 255-256).

Apesar da evidente satisfação, Sardinha deteta em Mussolini uma "febre nacionalista" com algo de enigmático - eram “as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende” - advertindo que a sua defesa da ideia de um Chefe, não devia ser entendido como uma subordinação à “simples imposição materialista de qualquer pretoriano, mordido de cesarite aguda”. Tendo em mente o passado jacobino de Mussolini, Sardinha denuncia-lhe a falta do “sentido orgânico de uma doutrina” - referindo-o por duas vezes e colocando a palavra “doutrina” em itálico. Naquele triunfo, Sardinha vê sobretudo uma prova de que a decadência do Ocidente latino, vaticinada pelos germânicos Oswald Spengler e conde de Keyserling, não se estava a materializar. 

Para entender o teor da esperança dos integralistas no início dos anos 20, aqui expresso por António Sardinha, importa ler na íntegra este ensaio, sem minimizar ou truncar o seguinte excerto:
 
“Coube à Itália romper a jornada sonhada por nós para Portugal. E tão depressa os loureiros romanos acolheram na sua sombra patrícia os legionários audazes do Fascio, toda a sagrada terra latina "Giovinezza! Giovinezza! Primavera di belleza!" Sacudindo o seu marasmo centenário, o Ocidente acordava para as sugestões exaltadoras do futuro, desmentindo aqueles que lá dos nevoeiros densos da Germânia, por boca de Oswald Spengler e do conde de Keyserling, anunciavam a fatalidade da sua decadência. A febre nacionalista, escachoando como uma força bárbara, acordou por sobre o Mediterrâneo o cantar extinto das sereias. Bem cedo a Cruz a batizou, - à epopeia recém-nascida, em que já se coalham, com acentos de bronze e ouro, as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende, mas a cuja sedução ninguém, com raça nas veias e com Cristo na alma, poderá, em verdade, resistir!  O que nós quiséramos para Portugal, pôde Mussolini empreendê-lo. Empreendê-lo, não como doutrina, mas como uma soberba e convincente demonstração pelo facto de que o Ocidente não morreu e de que na sua volta às virtudes clássicas do Poder reside o segredo do seu inevitável ressurgimento.
Retardada no andamento regular da sua aparição, a nossa revista [Nação Portuguesa], ao encerrar-se a segunda série, reconforta-se, para maiores caminhadas, com a vitória de Mussolini. Enche-nos essa vitória de animadoras certezas, tanto mais que na vizinha Espanha um ditador se levanta também e com gentil bravura liberta a Realeza dos vergonhosos compromissos partidários que a diminuíam e manietavam. Quando enfileiramos com tão chamejante entusiasmo em torno da ideia de um Chefe, escusado é declarar que não nos subordinamos à simples imposição materialista de qualquer pretoriano, mordido de cesarite aguda. Saudamos no Chefe, ou seja, Rei, ou Ditador, o realizador necessário das aspirações de resgate já tão abertas na alma dos povos ocidentais, despertados enfim, dum pesadelo trágico de cem anos. Deste modo, civil um, o outro militar, [Miguel] Primo de Rivera é bem irmão de Mussolini na mesma ânsia que o impulsiona e conduz. Falta-lhe, como a Mussolini falta, o sentido orgânico de uma doutrina. Mas não falta a ambos um instinto apurado de arquitecto, - e vê-mo-los depressa ocupar no agradecimento dos seus concidadãos o lugar que na Bíblia ocupam os antigos fundadores de Cidades." (pp. 255-256)​

No ano anterior, em "A Ordem-Nova", António Sardinha identificara na Europa um confronto entre dois maximalismos: de um lado, no Oriente, a revolução bolchevique instalara o que um grupo de revolucionários profissionais designava por "ditadura do proletariado", reduzindo o homem a um simples "produtor" ao serviço do Estado; do outro lado, no Ocidente, os homens e os Estados estavam sob o domínio de oligarquias financeiras e industriais mas, após os triunfos de Mussolini em Itália e de Primo de Rivera em Espanha, parecia vir a ser possível realizar as "aspirações de resgate (...) abertas na alma dos povos ocidentais, despertados enfim, de um pesadelo trágico de cem anos."

Para Sardinha, o "resgate" significava sair dos quadros mentais e políticos triunfantes na Revolução Francesa de 1789, recuperando o papel social e político dos corpos sociais intermédios - freguesias, municípios, corporações e sindicatos -, libertando o Estado das oligarquias e recuperando a dignidade do trabalho através do "gremialismo, baptizado pela Igreja". Era esse o sentido da esperança que designou por "maximalismo cristianíssimo do mundo ocidental."

Sabemos hoje que o pesadelo continuou tomando a direção de uma nova guerra europeia e mundial. Ao escrever o prefácio de Ao Princípio era o Verbo, Sardinha pressentiu-o no apelo que dirigiu aos seus conterrâneos: “Urge que, na floresta espessa dos mitos e superstições dominantes, nos não abandonemos cegamente ao encanto bárbaro da aspiração nacionalista. Acentuamos "encanto bárbaro", porque, na sua ansia impetuosa há na aspiração nacionalista que desvaira a Europa uma força de agressividade primitiva, - um total olvido da harmonia que é imperioso restabelecer nas relações dos povos, como assento sólido da Cidade-de-Deus”. 

Os integralistas tinham plena consciência das várias espécies de nacionalismo existentes na Europa, de como o nacionalismo português tinha raízes medievais, distantes das raízes neoclássicas do nacionalismo francês, incluindo o neo-monarquismo da Action française, e mais distante ainda dos nacionalismos pós-revolucionários italiano e alemão.

António Sardinha morreu em Janeiro de 1925, conhecendo apenas o primeiro fascismo - o da conquista do poder na luta contra o bolchevismo em Itália. Poucos meses depois da morte de Sardinha, Mussolini começou a decretar as leis excepcionais - as “Leggi fascistissime”, de 1925 e 1926 - a partir das quais começou a edificar o Estado Fascista, que vem a ser referendado triunfalmente em 1929. Seguiu-se a condenação do Fascismo pelo papa Pio XI na encíclica Non abbiamo bisogno em Junho de 1931. O Fascismo virá a ser definido como um Totalitarismo, em 1932, pelo próprio Mussolini.

O Integralismo Lusitano, com a sua matriz tradicionalista neomedieval, prosseguiu em defesa do referido "maximalismo cristianíssimo do mundo ocidental" que, no início dos anos 30, não podia deixar de vir a confrontar-se com os emergentes estatismos totalitários. Em Portugal, foi então que Oliveira Salazar hesitou e, depois de, em Julho de 1930, ter prometido ir contra a ficção da representação por intermédio de partidos políticos, adotou em 1932-33 o modelo constitucional do grupo da Seara Nova, aplicando-o segundo o modelo fascista do partido único e do corporativismo de Estado, proibindo a reacção anti-totalitária do Nacional-Sindicalismo e expulsando de Portugal os seus chefes integralistas Alberto de Monsaraz e Francisco Rolão Preto. A vaticinada "Salazarquia" - expressão de Hipólito Raposo - obteve pleno triunfo nas eleições de Dezembro 1934, ficando o caminho desimpedido para se estabelecer um novo regime oligárquico que se designou por Estado Novo (1933-74).

14.01.2025

​- J. M. Q.

O que nos mata, o que nos abate, são as "direitas" - é o monarquismo tonto e exibicionista dos nossos salões... Aprendamos com a lição do Santo Condestável, unindo-se à arraia-miúda para lhe conferir direcção e finalidade, no momento em que as "direitas" do seu tempo - consinta-se a expressão - teimavam em amarrar Portugal a conceitos mortos, a posições já cadaverizadas!
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- António Sardinha
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Perante a capitulação inesperada dos depositários da herança vencida pela intervenção estrangeira sobre a colina de Évora-Monte, dir-se-ia que apenas nos restava, ou capitular também, ou retirar-nos da liça, emudecendo para sempre. Louvores a Deus, não emudámos, nem capitulámos! (pp. 253-254)

[há aqui referência ao que poderia ser uma dupla capitulação: após a aceitação da derrota das forças portuguesas pelo rei D. Miguel,  perante a superior força militar da intervenção estrangeira na guerra civil que culminou em Évora Monte, em 1834, ter-se-ia dado uma segunda capitulação pelos depositários dessa herança no "Pacto de Paris", em 17 de Abril de 1922]
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"Quando Deus apaga, é que Ele quer construir", - proclamava Joseph de Maistre.
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“Coube à Itália romper a jornada sonhada por nós para Portugal. E tão depressa os loureiros romanos acolheram na sua sombra patrícia os legionários audazes do Fascio, toda a sagrada terra latina "Giovinezza! Giovinezza! Primavera di belleza!" Sacudindo o seu marasmo centenário, o Ocidente acordava para as sugestões exaltadoras do futuro, desmentindo aqueles que lá dos nevoeiros densos da Germânia, por boca de Oswald Spengler e do conde de Keyserling, anunciavam a fatalidade da sua decadência. A febre nacionalista, escachoando como uma força bárbara, acordou por sobre o Mediterrâneo o cantar extinto das sereias. Bem cedo a Cruz a batizou, - à epopeia recém-nascida, em que já se coalham, com acentos de bronze e ouro, as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende, mas a cuja sedução ninguém, com raça nas veias e com Cristo na alma, poderá, em verdade, resistir!  O que nós quiséramos para Portugal, pôde Mussolini empreendê-lo. Empreendê-lo, não como doutrina, mas como uma soberba e convincente demonstração pelo facto de que o Ocidente não morreu e de que na sua volta às virtudes clássicas do Poder reside o segredo do seu inevitável ressurgimento.
Retardada no andamento regular da sua aparição, a nossa revista [Nação Portuguesa], ao encerrar-se a segunda série, reconforta-se, para maiores caminhadas, com a vitória de Mussolini. Enche-nos essa vitória de animadoras certezas, tanto mais que na vizinha Espanha um ditador se levanta também e com gentil bravura liberta a Realeza dos vergonhosos compromissos partidários que a diminuíam e manietavam. Quando enfileiramos com tão chamejante entusiasmo em torno da ideia de um Chefe, escusado é declarar que não nos subordinamos à simples imposição materialista de qualquer pretoriano, mordido de cesarite aguda. Saudamos no Chefe, ou seja, Rei, ou Ditador, o realizador necessário das aspirações de resgate já tão abertas na alma dos povos ocidentais, despertados enfim, dum pesadelo trágico de cem anos. Deste modo, civil um, o outro militar, [Miguel] Primo de Rivera é bem irmão de Mussolini na mesma ânsia que o impulsiona e conduz. Falta-lhe, como a Mussolini falta, o sentido orgânico duma doutrina. Mas não falta a ambos um instinto apurado de arquitecto, - e vê-mo-los depressa ocupar no agradecimento dos seus concidadãos o lugar que na Bíblia ocupam os antigos fundadores de Cidades." 

(pp. 255-256; negritos acrescentados)
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E ninguém imagine que nos seduz a estulta miragem de um retorno ao que, em fraseologia parlamentar, se entende por "situação" ou "governo" das "direitas"! O que marca a ditadura legalizada de Mussolini marca também o aprumo ditatorial de [Miguel] Primo de Rivera: - é a sua perfeita consciência de que o eixo das questões que avassalam na Europa a combalida carcassa do Estado se encontra nos conflitos do Trabalho e do Capital, - na subjugação cada vez mais opressiva das actividades produtoras à tirania dum argentarismo crescente e sem escrúpulos.
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O que caracteriza, pois, o movimento fascista é o que caracteriza o movimento militar espanhol. Não é um partido que sobe às esferas da governação pública, suscitado por exigências torvas de repressão. É antes, e unicamente, uma obra de reparação e equilíbrio que se começa, um pouco cirurgicamente, é certo, usando-se de métodos adormecidos por uma longa época de sonâmbula e hipócrita legalidade. Gritam as "direitas", - gritam as "esquerdas". "Esquerdas" e "direitas" urge que desapareçam, porque são filhas do individualismo solto da Revolução [Francesa], - e a Revolução é a morte da alma centenária dos povos e a geradora da monstruosidade plutocrática dos tempos modernos, perante a qual, e esquecidas as regras divinas da Justiça, é quase de legítima defesa a monstruosidade bolchevista. (pp. 258-259)
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Recolhidos ao castelo-interior da nossa doutrina, atirámos de novo a lume a Nação Portuguesa. Voltámos ao começo. E agora que a sua segunda série se fecha, decerto que não é escusado este exame de consciência.
...os exemplos da Itália e da Espanha abrem janelas no reduto fechado donde combatemos e dão-nos, mais forte e mais consistente, a convicção do nosso destino superior. Por nós, Portugal não morrerá! Não por nós, - caducos indivíduos de um momento, pó viajante que não demorará a juntar-se ao pó das gerações que transitaram! Mas pelo fermento que se agita nas nossas palavras, que se incendeia nos nossos corações e imprime às nossas artérias um "alerta" heróico e harmonioso.
(pp. 262-263)
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- O que nos mata, o que nos abate, são as "direitas" - é o monarquismo tonto e exibicionista dos nossos salões... Aprendamos com a lição do Santo Condestável, unindo-se à arraia-miúda para lhe conferir direcção e finalidade, no momento em que as "direitas" do seu tempo - consinta-se a expressão - teimavam em amarrar Portugal a conceitos mortos, a posições já cadaverizadas! (p. 264)
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E, atinando, por fim, com o segredo da sua consolidação, a República assenta à mesa, em que se está devorando a Riqueza Nacional, conservadores e jacobinos, reconciliados nos bastidores das Companhias e dos Bancos sobre esse suculento festim de Trimalcião.
... nós não levantaríamos nem o dedo mínimo, se salvar Portugal fosse salvar o conúbio apertado de plutocratas e arrivistas em que para nós se resumem, à luz da perfeita justiça, as "esquerdas" e as "direitas"!

(p. 265-266)
​​...nós não levantaríamos nem o dedo mínimo, se salvar Portugal fosse salvar o conúbio apertado de plutocratas e arrivistas em que para nós se resumem, à luz da perfeita justiça, as "esquerdas" e as "direitas"!

​​- António Sardinha (1887-1925) - 
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