António Sérgio: "integralistas e seareiros são anti-conservadores"
Em Dezembro de 1923, António Sérgio foi entrevistado pelo Diário de Lisboa:
“Homens Livres ou a nova falange política – António Sérgio fala das ideias reformadoras comuns a todos os campos.”
António Sérgio, entrevistado pelo «Diário de Lisboa» a propósito do aparecimento do semanário «Homens Livres», de que é redactor principal e que é colaborado por muitas das primeiras figuras de destaque do nosso meio literário, crítico, político e artístico, forneceu-nos as seguintes declarações:
- Existe em Portugal um certo número de aspirações patrióticas e sociais comuns a homens seguidores das diferentes teorias políticas. Isolados, esses homens e esses grupos não conseguem difundir suficientemente as ideias reformadoras comuns, e influir nos actos das diferentes classes e instituições sociais.
- Naturalissimo portanto...
- ... que se pensasse em conseguir uma colaboração para o conseguimento das reformas que todos igualmente desejam.
- Daí, os «Homens Livres», não?
- Sim, daí resultou o pensamento donde nasceu a falange dos «Homens Livres» e a revista que é o seu órgão.
- Todos os credos políticos abraçados...
- Realmente há na revista republicanos e integralistas, monárquicos e libertários.
- E não bulham todos uns com os outros?
- Não – tratam-se como verdadeiros amigos.
- Como – porque milagre?
- Examinadas bem as coisas, na lógica das respectivas doutrinas há uma junção bem visível, embora o não pareça.
E António Sérgio, inteligentemente, explica:
- Na verdade, a grande linha de separação política, hoje em dia, não é aquela que nos reparte em monárquicos e republicanos; é sim, a que destingue os reformadores dos conservadores. Uns querem conservar o que aí vemos, e conservar-se no que aí vemos; outros querem purificar, regenerar e progredir.
- Mas os reformadores divergem de orientação conforme os respectivos campos políticos.
- Parecendo ser muito diversas, as doutrinas dos diferentes grupos reformadores são idênticas na maior parte das suas teses.
Façam abstracção, por exemplo da questão do rei e de algumas poucas ideias-sentimentos e verá que quase todas as teses concretas, de organização social, dos integralistas, se harmonizam perfeitamente com as do grupo Seara Nova.
- Uns e outros, pois...
- Uns e outros são anti-conservadores; uns e outros são radicais; uns e outros regionalistas; uns e outros defendem a criação de uma assembleia representativa das classes e categorias sociais e intelectuais (com a diferença de que os primeiros só desejam esse e os segundos a combinam com um parlamento político); uns e outros atacam a plutocracia da sociedade portuguesa; uns e outros querem uma educação primária trabalhista e regional, etc.
- Homens livres, portanto...
- ... é um certo órgão em que uns e outros, unindo os seus esforços, defenderão as ideias que pertencem a todos os grupos, ideias comuns, com exclusão daquelas em que divergem. Estas continuarão a ser tratadas nas revistas respectivas de cada grupo: na Seara Nova e na Nação Portuguesa.
- Quando sai o segundo número?
- Na próxima segunda-feira.
- Com a colaboração de quem?
- De Bettencourt Rodrigues, Celestino da Costa, Hipólito Raposo, António Sérgio, Augusto da Costa, Aquilino Ribeiro, Castelo Branco Chaves, Raul Brandão, e Câmara Reis
Ficou por aqui a entrevista. E aqui têm leitores, uma cordealidade – muito mais cordeal do que a que costuma arranjar o sr. dr. Bernardino Machado.”
O segundo número de "Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos" saiu na referida segunda-feira (onde se destaca o artigo "Almas Republicanas"), mas foi o último número daquela revista. Entre outras razões, porque o texto de Hipólito Raposo, que Sérgio ainda anunciava poucos dias antes, acabou por não passar na «censura interna» da revista. (...)
Mais tarde, será de novo por intermédio de António Sérgio que seareiros e integralistas voltam a conjugar esforços, como na campanha presidencial de Humberto Delgado, em 1958.
“Homens Livres ou a nova falange política – António Sérgio fala das ideias reformadoras comuns a todos os campos.”
António Sérgio, entrevistado pelo «Diário de Lisboa» a propósito do aparecimento do semanário «Homens Livres», de que é redactor principal e que é colaborado por muitas das primeiras figuras de destaque do nosso meio literário, crítico, político e artístico, forneceu-nos as seguintes declarações:
- Existe em Portugal um certo número de aspirações patrióticas e sociais comuns a homens seguidores das diferentes teorias políticas. Isolados, esses homens e esses grupos não conseguem difundir suficientemente as ideias reformadoras comuns, e influir nos actos das diferentes classes e instituições sociais.
- Naturalissimo portanto...
- ... que se pensasse em conseguir uma colaboração para o conseguimento das reformas que todos igualmente desejam.
- Daí, os «Homens Livres», não?
- Sim, daí resultou o pensamento donde nasceu a falange dos «Homens Livres» e a revista que é o seu órgão.
- Todos os credos políticos abraçados...
- Realmente há na revista republicanos e integralistas, monárquicos e libertários.
- E não bulham todos uns com os outros?
- Não – tratam-se como verdadeiros amigos.
- Como – porque milagre?
- Examinadas bem as coisas, na lógica das respectivas doutrinas há uma junção bem visível, embora o não pareça.
E António Sérgio, inteligentemente, explica:
- Na verdade, a grande linha de separação política, hoje em dia, não é aquela que nos reparte em monárquicos e republicanos; é sim, a que destingue os reformadores dos conservadores. Uns querem conservar o que aí vemos, e conservar-se no que aí vemos; outros querem purificar, regenerar e progredir.
- Mas os reformadores divergem de orientação conforme os respectivos campos políticos.
- Parecendo ser muito diversas, as doutrinas dos diferentes grupos reformadores são idênticas na maior parte das suas teses.
Façam abstracção, por exemplo da questão do rei e de algumas poucas ideias-sentimentos e verá que quase todas as teses concretas, de organização social, dos integralistas, se harmonizam perfeitamente com as do grupo Seara Nova.
- Uns e outros, pois...
- Uns e outros são anti-conservadores; uns e outros são radicais; uns e outros regionalistas; uns e outros defendem a criação de uma assembleia representativa das classes e categorias sociais e intelectuais (com a diferença de que os primeiros só desejam esse e os segundos a combinam com um parlamento político); uns e outros atacam a plutocracia da sociedade portuguesa; uns e outros querem uma educação primária trabalhista e regional, etc.
- Homens livres, portanto...
- ... é um certo órgão em que uns e outros, unindo os seus esforços, defenderão as ideias que pertencem a todos os grupos, ideias comuns, com exclusão daquelas em que divergem. Estas continuarão a ser tratadas nas revistas respectivas de cada grupo: na Seara Nova e na Nação Portuguesa.
- Quando sai o segundo número?
- Na próxima segunda-feira.
- Com a colaboração de quem?
- De Bettencourt Rodrigues, Celestino da Costa, Hipólito Raposo, António Sérgio, Augusto da Costa, Aquilino Ribeiro, Castelo Branco Chaves, Raul Brandão, e Câmara Reis
Ficou por aqui a entrevista. E aqui têm leitores, uma cordealidade – muito mais cordeal do que a que costuma arranjar o sr. dr. Bernardino Machado.”
O segundo número de "Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos" saiu na referida segunda-feira (onde se destaca o artigo "Almas Republicanas"), mas foi o último número daquela revista. Entre outras razões, porque o texto de Hipólito Raposo, que Sérgio ainda anunciava poucos dias antes, acabou por não passar na «censura interna» da revista. (...)
Mais tarde, será de novo por intermédio de António Sérgio que seareiros e integralistas voltam a conjugar esforços, como na campanha presidencial de Humberto Delgado, em 1958.