Gama Barros
António Sardinha
Texto inicialmente publicado em A Monarquia, foi reproduzido na revista da Acção Realista Portuguesa, de Alfredo Pimenta (1882-1950), após a morte de António Sardinha em 10 de Janeiro de 1925, quando aquele agrupamento monárquico procurava fazer uma aproximação ao Integralismo Lusitano e, de alguma forma, corrigir a injustiça de não terem sido incluídas as suas várias obras na lista das publicações aconselhadas, onde figuravam os seus pares integralistas. A revista Acção Realista tinha adoptado as obras de todos os fundadores do Integralismo, mas com a excepção das obras de António Sardinha.
Henrique da Gama Barros falecera em 29 de Agosto de 1925, e a Acção Realista associava-se agora a uma dupla homenagem, a Gama Barros e a António Sardinha.
Gama Barros formara-se em Direito na Universidade de Coimbra, fora subdelegado do procurador-régio de Lisboa tendo, em 1860, publicado o seu primeiro livro: Reportório Administrativo. Mais tarde, sendo Secretário Geral do Governo Civil de Lisboa, escreveu a monumental História da administração pública em Portugal nos séculos XII a XV, onde expõe de forma exaustiva as instituições político-administrativas portuguesas desde a fundação da monarquia até ao fim do reinado de D. João II. O seu grande mérito foi reconhecido pela Academia das Ciências de Lisboa (a que António Sardinha se refere no início do texto), pelo Instituto de Coimbra e pela Real Academia de História de Madrid.
António Sardinha coloca Henrique da Gama Barros na linha dos mais importantes cronistas e historiadores portugueses: Fernão Lopes, Damião de Góis, João de Barros, Diogo do Couto, António Brandão (da Monarquia Lusitana), Alexandre Herculano, o esquecido Alberto Sampaio ("das formidáveis monografias sobre as origens da nacionalidade portuguesa") e Costa Lobo. O elo de ligação de Gama Barros com a historiografia mais antiga foi estabelecida por intermédio de António Caetano do Amaral, António Ribeiro dos Santos e João Pedro Ribeiro.
É aqui referido o mérito e o valor de Alexandre Herculano, sobretudo nos Opúsculos, onde verdadeiramente ressuscitou "o espírito e a dinâmica dos municípios afonsinos", mas não esquece o seu sectarismo na História da Inquisição. A Gama Barros "pertence a glória de ter naturalizado definitivamente entre nós os processos objectivos da história", surgindo assim, em contraste com Herculano, como que um historiador sem mancha, com a serenidade de um Fustel de Coulanges. Se "Portugal é ainda lá fora considerado europeu", tal se devia ao "incansável e iluminado esforço" de Gama Barros.
A perspectiva de António Sardinha pode resumir-se nestas palavras: "Gama Barros ensinou-nos a descobrir, contra os subjectivismos negativistas das gerações precedentes, a unidade íntima da pátria." Foi pelo exaustivo "exame directo das fontes" que ele se afirmou e sobressaiu.
A obra de Henrique da Gama Barros, constitui, na perspectiva de António Sardinha, o mais importante contributo historiográfico para a "grande seara de esperança" em que ele e os seus pares integralistas trabalhavam.
António Sardinha acreditava que Portugal não morreria.
J. M. Q.
18.12.2023
Henrique da Gama Barros falecera em 29 de Agosto de 1925, e a Acção Realista associava-se agora a uma dupla homenagem, a Gama Barros e a António Sardinha.
Gama Barros formara-se em Direito na Universidade de Coimbra, fora subdelegado do procurador-régio de Lisboa tendo, em 1860, publicado o seu primeiro livro: Reportório Administrativo. Mais tarde, sendo Secretário Geral do Governo Civil de Lisboa, escreveu a monumental História da administração pública em Portugal nos séculos XII a XV, onde expõe de forma exaustiva as instituições político-administrativas portuguesas desde a fundação da monarquia até ao fim do reinado de D. João II. O seu grande mérito foi reconhecido pela Academia das Ciências de Lisboa (a que António Sardinha se refere no início do texto), pelo Instituto de Coimbra e pela Real Academia de História de Madrid.
António Sardinha coloca Henrique da Gama Barros na linha dos mais importantes cronistas e historiadores portugueses: Fernão Lopes, Damião de Góis, João de Barros, Diogo do Couto, António Brandão (da Monarquia Lusitana), Alexandre Herculano, o esquecido Alberto Sampaio ("das formidáveis monografias sobre as origens da nacionalidade portuguesa") e Costa Lobo. O elo de ligação de Gama Barros com a historiografia mais antiga foi estabelecida por intermédio de António Caetano do Amaral, António Ribeiro dos Santos e João Pedro Ribeiro.
É aqui referido o mérito e o valor de Alexandre Herculano, sobretudo nos Opúsculos, onde verdadeiramente ressuscitou "o espírito e a dinâmica dos municípios afonsinos", mas não esquece o seu sectarismo na História da Inquisição. A Gama Barros "pertence a glória de ter naturalizado definitivamente entre nós os processos objectivos da história", surgindo assim, em contraste com Herculano, como que um historiador sem mancha, com a serenidade de um Fustel de Coulanges. Se "Portugal é ainda lá fora considerado europeu", tal se devia ao "incansável e iluminado esforço" de Gama Barros.
A perspectiva de António Sardinha pode resumir-se nestas palavras: "Gama Barros ensinou-nos a descobrir, contra os subjectivismos negativistas das gerações precedentes, a unidade íntima da pátria." Foi pelo exaustivo "exame directo das fontes" que ele se afirmou e sobressaiu.
A obra de Henrique da Gama Barros, constitui, na perspectiva de António Sardinha, o mais importante contributo historiográfico para a "grande seara de esperança" em que ele e os seus pares integralistas trabalhavam.
António Sardinha acreditava que Portugal não morreria.
J. M. Q.
18.12.2023