Carta de Madrid
José Pequito Rebelo
[José Pequito Rebelo (1893-1983) "aconselha" Miguel Primo de Rivera a "guardar o poder na sua mão".
Para além de chamar a atenção para a crise da ditadura de Miguel Primo de Rivera, que se estava a começar a desenhar em Espanha, Pequito Rebelo revela também o que, do seu ponto de vista, se passava em Itália ao aprovar-se o seu novo Estatuto político: a "nova Constituição fascista, não é um sucedâneo ou revogação da ditadura, mas sim a sua continuação e consolidação", "aparecendo a Dinastia como que reforçada por uma dinastia secundária, no género da hereditariedade sociocrática de Comte ou do sistema da sucessão da Igreja Católica"
Pequito Rebelo parece estar ainda optimista quanto ao exemplo e à marcha do Fascismo italiano, quase que sugerindo ser esse o exemplo a seguir em Espanha pelo ditador Miguel Primo de Rivera: manter a ditadura, isto é, manter "guardado o poder na sua mão", que foi o que Mussolini fez através da nova Constituição.
O optimismo de Pequito Rebelo, melhor diríamos realismo, a respeito do Fascismo reflecte de algum modo o cheiro da tinta ainda fresca do Tratado de Latrão entre o Vaticano e o Estado Fascista (11 de Fevereiro de 1929), que viera solucionar a "questão romana".
Em breve, Pequito Rebelo começará a revelar dúvidas e inquietações, e depois mesmo o seu desapontamento, com o caminho seguido por Mussolini (Fascismo e Catolicismo in Política, Lisboa, Julho e Agosto de 1929).
Mussolini vinha do jacabonismo republicano e socialista, só vindo a revelar, em 1931, a sua verdadeira face estatista e totalitária, ao proibir as associações católicas de jovens. O fascismo foi então condenado pelo papa Pio XI como uma "estatolatria pagã".
Seguiu-se a demarcação dos integralistas, a mais notável das quais foi protagonizada por Francisco Rolão Preto (1893-1977), denunciando o fascismo de forma muito expressiva, em Janeiro de 1933, como um "totalitarismo divinizador do Estado cesarista".
Entre 1922 e 1931, o Fascismo tinha representado uma vigorosa expressão do que se entendia como uma "revolução nacionalista", de carácter anti-oligárquica (anti-parlamentar) e anti-comunista (anti-bolchevique), alastrando na Europa.
Para além de chamar a atenção para a crise da ditadura de Miguel Primo de Rivera, que se estava a começar a desenhar em Espanha, Pequito Rebelo revela também o que, do seu ponto de vista, se passava em Itália ao aprovar-se o seu novo Estatuto político: a "nova Constituição fascista, não é um sucedâneo ou revogação da ditadura, mas sim a sua continuação e consolidação", "aparecendo a Dinastia como que reforçada por uma dinastia secundária, no género da hereditariedade sociocrática de Comte ou do sistema da sucessão da Igreja Católica"
Pequito Rebelo parece estar ainda optimista quanto ao exemplo e à marcha do Fascismo italiano, quase que sugerindo ser esse o exemplo a seguir em Espanha pelo ditador Miguel Primo de Rivera: manter a ditadura, isto é, manter "guardado o poder na sua mão", que foi o que Mussolini fez através da nova Constituição.
O optimismo de Pequito Rebelo, melhor diríamos realismo, a respeito do Fascismo reflecte de algum modo o cheiro da tinta ainda fresca do Tratado de Latrão entre o Vaticano e o Estado Fascista (11 de Fevereiro de 1929), que viera solucionar a "questão romana".
Em breve, Pequito Rebelo começará a revelar dúvidas e inquietações, e depois mesmo o seu desapontamento, com o caminho seguido por Mussolini (Fascismo e Catolicismo in Política, Lisboa, Julho e Agosto de 1929).
Mussolini vinha do jacabonismo republicano e socialista, só vindo a revelar, em 1931, a sua verdadeira face estatista e totalitária, ao proibir as associações católicas de jovens. O fascismo foi então condenado pelo papa Pio XI como uma "estatolatria pagã".
Seguiu-se a demarcação dos integralistas, a mais notável das quais foi protagonizada por Francisco Rolão Preto (1893-1977), denunciando o fascismo de forma muito expressiva, em Janeiro de 1933, como um "totalitarismo divinizador do Estado cesarista".
Entre 1922 e 1931, o Fascismo tinha representado uma vigorosa expressão do que se entendia como uma "revolução nacionalista", de carácter anti-oligárquica (anti-parlamentar) e anti-comunista (anti-bolchevique), alastrando na Europa.
"A obra de [Miguel] Primo de Rivera é acusada de ter contribuído para o desenvolvimento da força socialista em Espanha, por via das suas muito avançadas experiências sociais. Cabe aqui uma referência especial à obra do ministro do trabalho, sr. Aunós Pérez, à célebre organização do trabalho por meio dos Comités paritários, de operários e patrões." (pp. 3-4)
[Eduardo Aunós Pérez (Lérida, 8 de Setembro de 1894 - Lausanne, 25 de Setembro de 1967), foi um político e advogado espanhol. Militante da Lliga Regionalista catalã, foi secretário de Francisco Cambó e deputado às Cortes em 1916 e 1921. Durante a ditadura de Miguel Primo de Rivera foi Ministro do Trabalho, Comércio e Indústria. Exilou-se em França durante a Segunda República espanhola, juntando-se aos sublevados quando começou a guerra civil (1936-1939). Veio a ocupar diversos cargos políticos e diplomáticos durante o regime franquista, sendo ministro da Justiça entre 1943 e 1945]
... Verdadeiramente parece ter sido esta política um dos erros da ditadura espanhola: em primeiro lugar, o seu espírito, embora se reclame de tradicionalismo corporativista, é no fundo uma tendência para mostrar que a ditadura é mais democrática do que o antigo regime, tendência, pois, embora indirectamente, demagógica; o seu mecanismo e forma é horizontal e marxista, sobre a concepção das classes económicas, agrupando, embora num intuito de paz, os elementos da produção em formações que passam a ser, por assim dizer oficialmente antagonistas, em zonas onde haveria talvez naturalmente a noção da unidade do interesse corporativo, ou, perdida ela, seria o mais urgente mister restabelece-la; excessiva generalização a todo o corpo económico espanhol de uma organização, que em muitas partes não é pedida por apreciáveis reivindicações de interesses e em quase todas não encontra elementos pessoais de realização para a sua técnica complicada; sua inadequação essencial à agricultura, cujas regras sindicais nunca poderão ser as mesmas da indústria. Felizmente a arbitragem do Estado evitará os maiores desastres no funcionamento desta organização e a força da ditadura facilmente poderá renunciar à experiência desde o momento em que se abra clara falência; sempre a vantagem dos regimes fortes que sobrevivem facilmente aos seus próprios erros.
Do lado conservador, morto Vasquez de Mella, não aparece muito visivelmente a afirmação de uma doutrina integralmente nacionalista, que poderia ser de grande auxílio espiritual à ditadura. Não encontro em Espanha uma só corrente doutrinária que seja integralmente anti-parlamentarista. (p. 4)
Ref bibliográfica
- José Pemartin, Los valores historicos en la Dictadura española, (Junta de propaganda patriótica y ciudadana, 1929 - 696 páginas).
- “Nuestra actitud. Lo que piensa y defiende El Sol”, El Sol, 23 de Março de 1929. Terá sido no quadro da ditadura, o momento de apresentação do "programa do liberalismo espanhol". El Sol negava que Espanha e Monarquia fossem co-substanciais, afirmando-se neutral face à alternativa monarquia/republica. Esse texto, sem assinatura, foi atribuido a Urgoiti. Segundo Pequito Rebelo, a defesa do liberalismo político consistia então, além da formal liberdade de expressão, sobretudo na defesa da engrenagem parlamentar: "um parlamento que faz as leis e dá as indicações para a constituição do gabinete, vindo a ser punido com a dissolução se comete o excesso de em certo espaço de tempo deitar abaixo três governos ". El Sol era "de um formalismo retumbantemente oco e vazio" (...) "como que a ressurreição do Conselheiro Acácio, naturalizado espanhol".
- "Ante el porvenir politico", El Debate, 26 de Abril de 1929, p. 1.
- Daily Mail, 15 de Abril de 1929.
"Carta de Madrid - A ditadura espanhola e a sua crise actual" in Política, Lisboa, 20 de Maio de 1929.