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Luís de Almeida Braga, "Dom Jerónimo e o nobre serviço de mandar" (Escrito para servir de prefácio à primeira tradução portuguesa do livro de Jerónimo Osório: De Regis Institutione et Disciplina), In Espada ao Sol, 1969, pp. 21-47.
por Maria da Conceição Vaz Serra Pontes Cabrita ![]() Depois do fracasso da Restauração Monárquica no Norte, proclamada a 19 de Janeiro de 1919, António Sardinha exila-se em Espanha, entre Janeiro daquele ano e Maio de 1921. O País vizinho, durante os quase dois anos e meio de exílio, quer seja pela influência, pela reciprocidade de pontos de vista ou pelo simples convívio com, entre outros Juan Vásquez de Mella y Fanjul, com o Marquês de Figueroa, Juan Bautista Armada y Losada, Gabriel Maura Gamazo, Duque de Maura e Conde de la Mortera, Ramiro de Maeztu, Fernando Gallego de Chaves Calleja, Marquês de Quintanar ou Juan de Contreras y López de Ayala, Marquês de Lozoya, ou até, simplesmente pela sua sensibilidade, Espanha revela-se e penetra no seu espírito de uma forma tão profunda que, em carta para sua mulher, Ana Júlia Nunes da Silva, escrita pouco tempo antes de regressar a Portugal e tendo já a confirmação da sua amnistia confessa: «Vai comigo, uma lição amarga de tanta pena, o carinho acolhedor deste vizinho admirável que eu irei ver todas as tardes […], porque não posso nem quero ser ingrato ao país que me acolheu e em que a minha inteligência adquiriu a sua plena maturação.».[1] Na verdade, o seu projecto de «aliança-peninsular»[2] ganha expansão e será um labor constante nos seus anos de exílio e até ao final da sua curta existência, concretizando-se de forma mais unitária, digamos assim, na sua obra A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades (1924) no entanto, este plano de política internacional que António Sardinha propõe, recordemos, remonta a 1915 como alternativa à União Ibérica e correlatas doutrinas iberistas combatidas nas Conferências da Liga Naval, permanecendo sempre presente visto que, para o ensaísta, «Portugal, ligado à Espanha pela mesma finalidade exterior, recupera novamente, o senso adormecido da sua antiga vocação mundial.».[3] As páginas que compõem À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares editadas postumamente em 1943, nas quais expõe o seu conceito de «Hispanismo», constituem um contributo para aquela obra de síntese que surgirá um mês e pouco antes da sua morte, cujo embrião foi uma conferência proferida em Abril de 1921 na Unión Ibero-Americana, em Madrid, a convite do Marquês de Figueroa,[4] havendo por isso, uma reincidência de temas, de formas de exposição, de argumentação, ainda que por vezes possam surgir de maneira mais alargada e, até, de redacção. A obra A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades conheceu três edições em Portugal[5]: A primeira, surge em 1924, a segunda, em 1930, ambas pela Livraria Civilização e a terceira, de 1972, vem a lume como edição da mulher do autor, Ana Júlia Nunes da Silva. As duas primeiras edições têm a particularidade de serem ilustradas. Quando a obra é dada à estampa, em 1924, abre com um prefácio de Gabriel Maura Gámazo, Duque de Maura e Conde de la Mortera,[6] grande amigo de António Sardinha que chegou a auxiliá-lo no exílio, concedendo-lhe a sua protecção para o ensaísta se poder deslocar a Badajoz durante uma das presidências de Governo, exercida por seu Pai, António Maura.[7] No seu prefácio, o Conde de la Mortera enaltece, em termos gerais, a obra do pensador de Monforte mas sobretudo, chama a atenção do leitor para «La Alianza peninsular, nuncio venturoso del fecundisimo concierto entre todas las gentes hispánicas de Europa y América, no será jamás posible mientras no haya arraigado en las entrañas de la raza un altisimo ideal, sufocador de prevenciones y suspicacias, del recuerdo de recíprocos agravios e injusticias, de la incomprensión mutua, del legitimo orgullo y la mezquina vanidad; es decir, mientras lo que nos junte no valga y pese más que lo que nos separa.».[8] Este prefácio acompanha as três edições da obra, sendo que, a terceira edição congrega, para além de uma «Nota prévia» da autoria de Mário Saraiva,[9] os prólogos que integraram as duas edições que a obra teve em Espanha. Traduzida pelo Marqués de Quintanar, grande amigo de António Sardinha,[10] que conviveu em Coimbra com Eugénio de Castro, em Lisboa com Hipólito Raposo, Alberto de Monsaraz, Pequito Rebelo, Afonso Lopes Vieira e Martinho Nobre de Melo[11] confessa-se, em 1932, influenciado pelo ensaísta de Monforte a tal ponto que desejou divulgar a sua obra em Espanha - «De mi amistad fraternal con Antonio Sardinha, había recibido yo las primeras nociones de estas disciplinas autoritarias y antidemocráticas, hacía cerca de doce años e invariablemente, al ponerme en contacto con los integralistas retoñaba en mí el deseo de iniciar su obra en España.».[12] La Alianza Peninsular - Antecedentes y posibilidades, na sua primeira edição, é dada à estampa pela Junta de Propaganda Patriótica y Ciudadana, em 1930, com prólogo de Ramiro de Maeztu[13] que, para além de evocar a obra do autor de Glossário dos Tempos, realça «La publicación en libro castellano de La Alianza Peninsular va a servir para que empiece a erguirse, entre los pueblos de nuestra habla, una figura que antes de mucho tiempo se alzara en el horizonte del espíritu como uno de los grandes profetas de la Hispanidad.».[14]Este membro da Geração de 98 espanhola, é igualmente evocado no artigo de 1922, «Portugal, Tierra Gensor!», incluído na colectânea À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, no qual António Sardinha, exprime a sua admiração e anuência pela obra La crisis del Humanismo (1919), na qual descortina a ineficácia do individualismo[15] e tece algumas considerações sobre uma conferência que Ramiro de Maeztu proferiu sobre Portugal e o Lirismo no sentido de uma complementaridade dual, para sempre existente com Castela, pertencendo-lhe a ela o «espírito dramático».[16] Do lirismo português vê, o articulista de Monforte, despontar o Sebastianismo, de Castela o Quixotismo, «nascido do alto sentido patético da existência, que é o segredo em Castela das suas catedrais, dos seus pintores e dos seus heróis.».[17] «Sebastianismo e Quixotismo» é também o título de um artigo que compõe A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, que António Sardinha pensava num futuro alterar quanto à forma, «na expressão aliterada, tresandando a "saudosismo" e a Teixeira de Pascoaes.»,[18] no qual reforça a ideia do espírito lírico português, fruto do meio, do localismo, do bucolismo, que concebe como uma característica inata, gerador de «O Desejado» e da saudade, enquanto que Castela, é a epopeia, canta os seus heróis, não que não tenha lirismo na sua índole mas a épica, a gesta de cavalaria, os seus valores, que a figura tocante de «D. Quijote» representa suplanta, ali, o carácter amorável da lírica.[19] Seja como for e, embora António Sardinha insista, uma vez mais, são dois aspectos que individualizam mas que não separam, antes se completam.[20] É interessante pela coincidência de pontos de vista que Ramiro de Maeztu exprime quando esteve cerca de um mês em Portugal, entre o final de 1921 e o limiar do ano seguinte, espaço de tempo que aproveitou para ler Os Lusíadas e Antero de Quental e que em Janeiro de 1922 em carta que escreve a António Sardinha refere: «Cada vez estoy más persuadido de que es cierta mi adivinación de que la integridad del alma, para un peninsular, consiste en completar la tradición cultural de Castilla con la de Portugal, sin olvidar los elementos esenciales que aportamos al espíritu otros peninsulares que, como los vascongados, no habiamos influído hasta ahora esencialmente en la cultura, salvo en el caso accidental, de Loyola. Que en lo politico vaya cada uno de nuestros países por donde quiera, pero en el espiritual hay una unidad que es salvadora para todos. Nosotros nos morimos sin el lirismo portugués y ustedes se deshacen sin nuestro realismo.».[21] A segunda edição espanhola vem a lume em 1939, publicada pela «Acción Española», abrindo com prólogo do Marquês de Quintanar que percorrendo o trabalho de António Sardinha, a História de Espanha e de Portugal, no seu momento presente, expõe que «Las razones de la "alianza peninsular," los motivos todos pueden surgir de este gran tema central, están agotados en la presente obra capital de António Sardinha. Para su cultura de historiador, para su inspiración de poeta, para su fragante patriotismo y su tierno amor a España, no puede haber secreto sin descubrir, ni hecho cuyas consecuencias deje sin explorar con la máxima eficacia. Así, la Historia, la Gran Historia de nuestra Península, que es como decir el índice de la Cultura de Occidente, recibe la consagración cordial e intelectual del primer portugués de la época moderna.».[22] La Alianza Peninsular - Antecedentes e Posibilidades não foi a única obra de António Sardinha publicada em Espanha. Mesmo antes da sua primeira edição no País vizinho, são traduzidos pelo jurista, escritor e político valenciano, Juan Beneyto Pérez, dois ensaios: «O génio peninsular» e «1640», ambos de 1922, publicados inicialmente nas páginas de Nação Portuguesa e posteriormente incluídos na colectânea, À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares.[23] Sob o título La Cuestión Peninsular, aqueles dois ensaios conhecem em Espanha, duas edições: A primeira, em 1927, pensamos que editada pelo próprio Juan Beneyto também autor do prólogo, a quem a Viúva do autor exprimiu o seu agradecimento e as suas preocupações a nível nacional[24] e, uma segunda edição, por Cerón y Librería Cervantes, em 1940, com prólogo do Marquês de Lozoya[25] que louva a obra de António Sardinha sobretudo nessa visão de unidade cultural entre Portugal e Espanha que, na sua opinião, «constituye el fondo de su obra poética y politica que fué, ciertamente, mejor comprendida en Portugal que en España.».[26] A Juan de Contreras y López de Ayala dedica António Sardinha um artigo a propósito da publicação de Poemas Castellanos (1920), no qual recorda, também, Sonetos Espirituales (1918) e se, a propósito dos primeiros, exprime a evocação da história na emoção do poeta da sua Segóvia admirada,[27] nos quais divisa uma «nobre intenção castelhanista»[28] e uma «lusitaníssima saudade»,[29] que lhe despertam um nostálgico paralelismo entre a aridez do campo castelhano e a melancólica planura dos campos despidos do seu Alentejo natal,[30] em Sonetos Espirituales, o poeta de Monforte vislumbra «uma alma aberta às supremas inquietações do Divino»[31]sentindo-se devedor, pelo tom imbuído de saudade que descortina nos poemas do Marquês de Lozoya, pela emoção que lhe despertam, como um bálsamo para a sua sensibilidade, na solidão do exílio.[32] Em Junho de 1925, falecido já António Sardinha, presta-lhe tributo Juan de Contreras nas páginas da Nação Portuguesa relembrando os tempos em que se conheceram na sua cidade de Segóvia, elucidando-nos sobre alguns traços do carácter do pensador alentejano que pretendia descobrir Castela, que se revelou fiel e grato a esta amizade dos seus tempos de expatriado, que se prolongou por correspondência e intercâmbio de obras, sobretudo poéticas, evocadora da sua perseverança em prosseguir essa missão em prol do hispanismo que, ao que parece, Lozoya não correspondeu com a diligência necessária pelo que António Sardinha não se revelou indiferente na dedicatória inscrita no volume A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades que lhe ofereceu: «Ao querido Marquês de Lozoya; estas páginas dum hispanista que não encontra eco em Espanha.»[33]o que, talvez não se tivesse verificado pois, através da sua leitura, Juan de Contreras confessa-nos que fez daquele ideal um propósito de vida, que tanto seduzia o ensaísta de Monforte.[34] Vê Lozoya, no autor de À Sombra dos Pórticos, mais um historiador que um poeta, um historiador que se apresentava aos olhos do crítico de arte e literato espanhol, pelas páginas da Nação Portuguesa, pela sua colectânea de ensaios, Ao Princípio era o Verbo, como que um rectificador da História, que encarava como uma arte, que a reescreve deixando transparecer o seu espírito lírico mas ao mesmo tempo combativo e ardente enquanto, na poesia revela, em sua opinião, um desalento e enfado próprios de um esforço despendido que não corresponde ao realizado nos seus versos denunciadores de um franciscanismo que se manifesta pelo seu amor às coisas simples nas quais vê revelar-se o Criador.[35] Com Na Corte da Saudade - Sonetos de Toledo, entrevê Juan de Contreras, que os seus poemas «dieron a Toledo, y aun a toda a Castilla, tan fuerte y segura de si misma, un nuevo valor: el de la dulce añoranza de glorias pasadas y amores muertos»[36] que a irmanam a Portugal. Elucidativa deste esforço em prol da «Amizade Peninsular»,[37] da campanha integralista do projecto «Aliança Peninsular», foi a reunião que o Marquês de Quintanar promoveu e ofereceu a alguns exilados portugueses, no Hotel Ritz em Madrid, que reuniu alguns nomes de destaque do meio literário madrileno, que ficou registada numa fotografia publicada no jornal La Tribuna[38] e que A Monarquia reproduzirá a 3 de Agosto de 1920 (nesta edição, a fotografia de grupo, na entrada): O volume A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades é dedicado «À memória daqueles soldados espanhóis que, regando com seu sangue anónimo as penhas de Marrocos, souberam dar vida num século sem esperança a toda a grandeza histórica da Península.».[40] De facto, a guerra do Rif, para António Sardinha é uma questão preocupante ao encará-la como uma guerra de civilização, de definição de fronteiras pelo espaço de uma hegemonia hispanista, como que uma Cruzada não apenas considerada no seu aspecto religioso mas também contra uma mentalidade e organização protagonizada pela França, cujo receio seria a asfixia da Península entre a França europeia e as suas possessões no Norte de África.[41] Tem esta obra em prol do hispanismo como núcleo embrionário a conferência que o seu autor proferiu, em 1921 na Unión Ibero-Americana como já fizemos referência.[42] Nela, António Sardinha busca aquilo que nos proporcionou uma união com o País vizinho, aquilo que nos une desde a História, a Arte e as Letras, onde a questão do bilinguismo-literário tem como referente D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, apesar de uma marcante individualidade que reconhece a cada País peninsular que não separa mas complementa.[43]Enaltecendo o que considera a política de cooperação da dinastia de Avis, que se baseava sobretudo nas alianças matrimoniais, presta homenagem às personalidades femininas da História de Portugal que foram protagonistas desta forma de coligação e que facilitaram de alguma maneira, com a sua presença ou com a sua influência, a relação entre as duas Nações, bem como àquelas, do Reino vizinho, que o ensaísta considerou mais marcantes e que talvez, nos surjam mais diluídas na terceira edição da obra do que na primeira e segunda edições uma vez que figuram nas ilustrações que as compõem.[44] Reconhecendo que quando veio para o exílio «trazia contra Espanha todos os preconceitos da minha inteligência e da minha sensibilidade»[45] seria pelo estudo da história e sobretudo pelo contacto directo com o País vizinho que, António Sardinha, revê algumas das noções enunciadas nas conferências da Liga Naval a partir do pressuposto do que descortina enquanto uniformidade de origem e de objectivos.[46] Será a «Hispânia»[47] dos textos clássicos que inspirará o enunciar de dois conceitos aparentemente antagónicos - união e dualidade - das duas Nações peninsulares.[48] A ideia de Raça será agora encarada não no seu sentido étnico mas no seu significado espiritual, de um mesmo património cultural, civilizacional[49] que extravasou fronteiras que «criou nacionalidades»,[50] que difundindo o Cristianismo, na sua função histórica e social, dilatou o Império, aqui encarado como um Império espiritual, do qual o génio peninsular, que exibe como principal determinante a vocação apostólica, é origem,[51] que simultaneamente, confere ao nacionalismo português uma dimensão universal no que define como uma propensão missionária ingénita de Portugal[52] na sua «vocação marítima»[53]atribuindo a Castela[54] uma «vocação terrestre»[55] numa alusão ao domínio do Mediterrâneo e da Europa Central,[56] que, um dia, se expandiu com a descoberta do Continente americano que subsequentemente entre as duas Nações, nessa criação do mare nostrum atlântico, lhes concedeu essa dimensão de «pan-Hispanismo»[57] que, no seu momento presente e no seu entender, era necessário restaurar como salvação da civilização ocidental mediante o princípio cristão, seu componente determinante e implícito.[58] Como justificação e concretização deste ideal, António Sardinha, chama a atenção para a diferença entre unitarismo, sinónimo de união política e, unidade, esta de ordem espiritual, cultural, sentimental que, apoiada na diversidade confere riqueza à Península,[59] atendendo que e, ao longo da História, existiu um perigo de absorção mútua,[60] urgindo a aproximação e o entendimento entre os dois Países com base numa plataforma comum apoiada numa abertura de espírito que clarifique o que une e o que divide na convicção de uma dualidade que se completa.[61] Se a aproximação com o Brasil é apresentada como condição para o futuro de Portugal que deverá organizar-se e fortalecer-se, a aliança com a Espanha tornar-se-á, assim, mais estreita numa identificação de um passado comum além fronteiras e, do qual a Festa da Raça é expressão, não podendo, por isso, Portugal ficar excluído dessa manifestação do internacionalismo hispânico.[62] Dando-nos como exemplo o tradicionalista Vásquez de Mella, que apontava para a necessidade de uma aliança entre os dois Países, benéfica para Espanha por necessidade de política externa e para Portugal como forma de recuperação da sua influência no mundo enquanto Nação atlântica[63] sendo, por isso, o caminho preconizado, o Continente americano, deveriam ser lançadas as bases para a constituição de uma «sociedade das nações hispânicas»[64] sob a qual, Portugal, como Nação independente e, restaurado pela Monarquia e pelo Catolicismo, em harmonia com a monárquica e católica Espanha, pudesse constituir uma Península para os autóctones longe da ingerência estrangeira formando como que um bloco invencível, um baluarte que poderia prevenir a queda do Ocidente.[65] Recomenda-nos, então Sardinha que olhemos para Camões enquanto «definidor da consciência hispânica»[66] que em Os Lusíadas, no Canto I, (est. 31) e no Canto III, (ests.17 e 18)[67] condensa o «verdadeiro pensamento do hispanismo».[68] Tornava-se ainda necessário, desmistificar «a lenda negra» de Espanha, de sujeição e reclusão,[69] «Bipartida no aspecto trágico e no aspecto burlesco, essa "lenda negra" que à Espanha picaresca das pandeiretas e dos toureiros alia a Espanha sinistra dos Autos-de-Fé e dos Filipes.»,[70] que considera uma infâmia do século XVIII e, principalmente, de origem francesa,[71] reabilitar a figura de Filipe II, em particular e em termos gerais o domínio filipino enquanto Monarquia dual através de uma sucessão legítima[72] que todavia, facilmente se desfez quando irromperam aspirações centralizadoras e as consequentes limitações e extinção de direitos e garantias,[73] ter em conta a restauração da «alma portuguesa»[74] que ocorre num severo século XVII que é necessário regenerar no qual o mito sebástico ganha alento e se manifesta como expressão do espírito português num século austero mas que, na opinião de António Sardinha, produziu alguns dos percursores das doutrinas nacionalistas.[75] Recordando que o Integralismo Lusitano pretende um retorno ao «Hispanismo» que se viveu no século XV, nessa partilha do mundo, o ensaísta chama a atenção para os laços especiais que unem Portugal aos Extremeños na enorme empresa marítima,[76] para a união das duas Nações nas Guerras Peninsulares,[77] para a importância do regresso à Filosofia do Ser, muito particularmente à distinção que S. Tomás de Aquino opera entre «pessoa» e «indivíduo», determinadora de uma maneira de levar avante uma forma de hegemonia no mundo,[78] a «Ordem-Nova» - o apego «à supremacia criadora do Espírito»[79] - que ao «Hispano» confere um super-nacionalismo, que no seu momento presente, considerava necessário retomar reabilitando e evocando um passado colonizador onde a vocação apostólica tem a primazia, não ignorando o paralelismo de uma barbárie fruto da condição humana, atribuindo a decadência que vislumbrava no seu tempo à ruptura com o ideal cristão.[80] Assim, pondo de lado erros e ressentimentos, António Sardinha propõe um abraço de reconciliação no qual «O Encoberto, corporizado no milagre sempre vivo de Restauração, é o Encoberto do Quinto-Império pacífico de Espanha e Portugal, fundadores de nacionalidades, pioneiros da única civilização possível.».[81] Dos anos passados no exílio recolhera António Sardinha novas perspectivas, o seu forte sentido religioso robusteceu-se a sua sensibilidade agudizou-se e, se o ideal integralista se centrou na reformulação plena de Portugal agora adquiriu de uma forma mais profunda uma feição que lhe podemos chamar universal determinadora de um modelo de civilização. Foi um ideal que perseguiu até ao fim dos seus dias no retiro da Quinta do Bispo, em Elvas. Bibliografia BLEIBERG, German, Diccionário de Historia de España, Madrid, Alianza Editorial, 1979. CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas, Lisboa, Círculo de Leitores, 1980. DESVIGNES, Ana Isabel de Sousa Sardinha, António Sardinha (1887-1925): Um intelectual no século, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2006. LÓPEZ, José Garcia, Historia de la Literatura Española, Barcelona, Vicens Vives, 1997 (20ª. edição). QUINTAS, José Manuel Alves, Filhos de Ramires. As origens do Integralismo Lusitano, Lisboa, Nova Ática, 2004. SARAIVA, Mário, Às Portas da Cidade, Lisboa, Edição do Autor, 1976. SARDINHA, António Maria de Sousa, Durante a Fogueira - Páginas da Guerra, Lisboa, Livraria Universal, 1927. Idem, La Cuestión Peninsular, Cádiz, Cerón y Librería Cervantes, 1940, (2ª edición). Idem, Glossário dos Tempos, Lisboa, Edições Gama, 1942. Idem, À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, Lisboa, Edições Gama, 1943. Idem, A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, Lisboa, Edição de Ana Júlia Nunes da Silva Sardinha, 1972 (3ª edição). Revistas e periódicos A Cidade, Revista Cultural de Portalegre, nº 2-Especial (Nova Série), Julho/Dezembro 1988. Academia (Publicaciones Periódicas): Boletín de la Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, nº 77 (2º semestre), 1993. Acción Española, Madrid, nº 10, 1.5.1932, Tomo II. Nação Portuguesa - Revista de cultura nacionalista, nº 7-8 (3ª série), 1925. Nação Portuguesa - Revista de cultura nacionalista, nº 3, Setembro, 1928, Tomo I (série V). [1]* Professora da Universidad de Extremadura (Espanha). Mestre em Filologia Portuguesa e doutoranda da mesma Universidade. 1 «Carta de António Sardinha para Ana Júlia Nunes da Silva, s/d, com carimbo de chegada a Elvas a 14.4.1921», citada por Ana Isabel Simões de Sousa Sardinha Desvignes, António Sardinha (1887-1925): Um intelectual no século, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2006, pp. 244, 245 na p. 245. [2] A propósito da «Aliança-peninsular», veja-se também Joaquim Veríssimo Serrão, «O poeta António Sardinha na "Corte da Saudade"», in A Cidade, Revista Cultural de Portalegre, nº 2-Especial (Nova Série), Julho/Dezembro 1988, pp. 123-140 nas pp. 127, 128, 135-138; Ana Isabel Simões de Sousa Sardinha Desvignes, António Sardinha (1887-1925): Um intelectual no século, cit., pp. 238-243. [3] António Sardinha, «O nosso futuro», in Durante a Fogueira - Páginas da Guerra, Lisboa, Livraria Universal, 1927, pp. 119-130 na p. 128 citado por Ana Isabel Simões de Sousa Sardinha Desvignes, António Sardinha (1887-1925): Um intelectual no século, cit., p. 238. [4] António Sardinha, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, Lisboa, Edição de Ana Júlia Nunes da Silva Sardinha, 1972 (3ª edição), pp. LXIX-CXXVI na p. CVIII. [5] Nas referências a efectuar, utilizaremos a terceira edição. [6] Gabriel Maura Gámazo (1879-1963) foi político e historiador espanhol, membro do partido Liberal-Conservador, deputado nas Cortes por Calatayud, representou o seu País na Conferência de Paz em Haya em 1907 e na Conferência Naval de Londres em 1908 sendo senador vitalício em 1919. Durante a Ditadura de Primo de Rivera exerceu a oposição quando compreendeu que a Assembleia Nacional não se converteria em Cortes. Foi ainda Ministro do Trabalho no último Gabinete de Afonso XIII. No início da Guerra Civil exilou-se de Espanha regressando apenas em 1953. Foi membro da Real Academia de la Historia e da Real Academia Española. Cfr. Germán Bleiberg, «Gamazo, Gabriel Maura», in Diccionario de Historia de España, Madrid, Alianza Editorial, 1979, vol. II, p. 968. [7] António Sardinha, «A minha adesão à República», in Glossário dos Tempos, Lisboa, Edições Gama, 1942, pp. 251-286 na p. 256. [8] Gabriel Maura Gamazo, «Prólogo, Junio, 1924», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades, cit. pp. XVII-XXV nas pp. XXIV-XXV. [9] Mário António Caldas de Mello Saraiva (1910-1998), médico, que para além de ter exercido a sua profissão dedicou-se à escrita sobretudo em matéria de filosofia política colaborando em vários jornais e revistas. Acompanhou as organizações monárquicas desde os seus tempos escolares exercendo nelas vários cargos directivos, tendo sido presidente da Junta Distrital de Lisboa da Causa Monárquica e membro da sua Comissão Doutrinária. Foi fundador do movimento Renovação Portuguesa e da Biblioteca do Pensamento Político. Da sua obra destacamos: Claro Dilema (1944); Os Pilares da Democracia (1949); Coordenadas do Poder Real (1961); Razões Reais (1970); A Verdade e a Mentira (1971); Homens e Mulheres (1975) e Às Portas da Cidade (1976); Outra Democracia (1983); Impressões e Memória (1998). Cfr. Mário Saraiva, Às Portas da Cidade, Lisboa, Edição do Autor, 1976, s/p; José Manuel Alves Quintas, Filhos de Ramires. As origens do Integralismo Lusitano, Lisboa, Nova Ática, 2004, pp. 12, 15-17. [10] Fernando Gallego de Chaves Calleja (1889-1974), Marquês de Quintanar e Conde de Santibañez del Rio Cfr.«Homenaje a nuestro Director», Acción Española, Madrid, nº 10, 1.5.1932, Tomo II, pp. 410-423; Ramiro de Maeztu, «Prologo de la primera edición española, 1930)», in António Sardinha, A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades, cit. pp. LX-LXVII na p. LXVI; António Sardinha, La Alianza Peninsular - Antecedentes y Posibilidades, (Traducción de Marqués de Quintanar), Madrid, Junta de Propaganda Patriótica y Ciudadana, 1930 (1ª edición). [11] «Homenaje a nuestro Director», Acción Española, Madrid, nº 10, 1.5.1932, tomo II, pp. 410-423 na p. 420. [12] Ibidem. [13] Ramiro de Maeztu Whitney (1874-1936), membro da chamada Geração de 98 tal como Miguel de Unamuno, Pío Baroja, Antonio Machado ou José Martinez Ruiz, «Azorín», presenciou em Cuba a derrota da esquadra espanhola com a qual e com o desastre militar de Cavite, Espanha perdeu as suas últimas colónias ultramarinas. Ao regressar a Espanha, Ramiro de Maeztu alia-se ao grupo de escritores que pugnavam pela regeneração de Espanha e trava amizade com «Azorín» e Baroja. Nesta época, o autor de La crisis del humanismo (1919), mostra-se partidário da europeização de Espanha. Entretanto, parte para Londres onde é correspondente de vários jornais espanhóis começando aqui uma mudança de orientação no seu pensamento. Durante a Ditadura, é nomeado Embaixador na Argentina e ao regressar, a grandeza de Espanha não se firmava já na sua europeização mas antes na fidelidade às suas tradições. Preside à Acción Española e torna-se membro da Real Academia de Ciencias Morales. Em Outubro de 1936 é morto pelos revolucionários. Cfr. José García López, Historia de la Literatura Española, Barcelona, Vicens Vives, 1997, (20ª edição) p. 622. [14] Ramiro de Maeztu, «Prologo de la primera edición española, 1930)», in António Sardinha, A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades, cit. pp. LX-LXVII na p. LXII. [15] António Sardinha, «Portugal, Tierra Gensor!, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, Lisboa, Edições Gama, 1943, pp. 113-128 nas pp. 115, 116. [16] Ibidem, p. 117. [17] Ibidem. [18] António Sardinha, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular –Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI na p. CIX. [19] Idem, «Sebastianismo e Quixotismo», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 87-111 nas pp. 90-93. [20] Ibidem, p. 110. [21] «Carta de Ramiro de Maeztu para António Sardinha, Monte Estoril, 22.1.1922», Biblioteca Universitária João Paulo II, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa. [22] Marquês de Quintanar, «Prologo de la segunda edición española, 1939», in António Sardinha, A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. XXVII-LVI na p. XXXIV. [23] António Sardinha, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141-170; Idem, «1640, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 247-289. [24] Juan Beneyto Pérez, «Introducción», in António Sardinha, La Cuestión Peninsular, Cádiz, Cerón y Librería Cervantes, 1940, (2ª edición), pp. 9-11 na p. 9. [25] Juan de Contreras y López de Ayala (Segovia, 1893-1978), Marqués de Lozoya, historiador, crítico de arte e literato, foi professor de História de Arte nas Universidades de Valencia, Madrid e Navarra. Ao longo da sua vida desempenhou vários cargos relevantes no mundo da arte. Cfr. José Luís Morales y Marín, Juan Domínguez Sanchez y Fuencisla Rueda Rodríguez, «Centenário del Excmo. Sr. Marqués de Lozoya», in Academia (Publicaciones Periódicas): Boletín de la Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, nº 77 (2º semestre), 1993, pp. 9-34 nas pp. 27-34. [26] Marqués de Lozoya, «Prologo», in António Sardinha, La Cuestión Peninsular, cit., pp. 5-8 na p. 7. [27] António Sardinha, «Poemas Castellanos», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 55-71 na p. 60. [28] Ibidem, p. 58. [29] Ibidem, p. 60. [30] Ibidem. [31] Ibidem, p. 63. [32] Ibidem, p. 70. [33] Marquês de Lozoya, «À memória de António Sardinha - Notas sobre a obra de António Sardinha, 1925», in Nação Portuguesa - Revista de cultura nacionalista, nº 3, Setembro, 1928, Tomo I (série V), pp. 181-188 na p. 183. [34] Ibidem, p. 184. [35] Ibidem, pp. 185-187. [36] Ibidem, p. 187. [37] Idem, «Apêndice - Amizade Peninsular, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 283-289. [38] Ibidem, p. 286. [39] Cfr. António Ventura e Raul Ladeira, «Para uma Fotobiografia de António Sardinha», in A Cidade, Revista Cultural de Portalegre, nº 2-Especial (Nova Série), Julho/Dezembro 1988, fotografia nº 52; Ana Isabel Simões de Sousa Sardinha Desvignes, António Sardinha (1887-1925): Um intelectual no século, cit., fotografia nº 29. [40] António Sardinha, «Dedicatória», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., s/p. [41] Cfr. António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 nas pp. 234-238; Idem, «Errata necessária», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 167-185 na p. 185; Idem, «Se ainda é tempo!», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 297-320 nas pp. 301, 302, 306, 313, 320. [42] António Sardinha, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI na p. CVIII. [43] Idem, «A Unidade Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 nas pp. 4-6 [44] Nas ilustrações que integram a primeira e a segunda edições da obra figuram: D. Joana de Áustria, Mãe de D. Sebastião, D. Mariana Vitória de Bourbon, Mulher de D. José; D. Carlota Joaquina de Bourbon, Mulher de D. João VI Cfr. António Sardinha, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI na p. CXXIV; Idem, «A Unidade Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 na p. 7. [45] António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 na p. 3. [46] Ibidem, pp. 3, 9. [47] É para o autor, a «Madre-Hispânia», que para além do seu conceito, é ainda o título de um ensaio inacabado, por morte do ensaísta, que constitui a redacção do discurso que proferiu em Badajoz, em 1924, no dia 12 de Outubro, dia da Fiesta de la Raza, a partir de 1958 Día de la Hispanidad e hoje, desde 1987, Día Nacional de España. Nesta comemoração, estiveram presentes Eugénio de Castro e alguns dos seus familiares nomeadamente a sua filha, Mafalda, que foi rainha dos Jogos Florais, que integraram a celebração, e, contaram com a colaboração de escritores portugueses dos quais, António Sardinha foi «mantenedor» pela parte de Portugal. Cfr. «Nota dos editores», in António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 245; «Cartas nº 26 a 30 de Eugénio de Castro para António Sardinha»,Arquivo da Universidade de Coimbra; «Das Ideias, das almas & dos factos - A Festa da Raça», in Nação Portuguesa - Revista de cultura nacionalista, nº 7-8 (3ª série), 1925, pp. CXLVI-CLII na p. CL. [48] Cfr. António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 nas pp. 12, 13; Idem, «O Pan-Hispanismo, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 171-178 nas pp. 174, 175; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 nas pp. 188, 189; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI na p. LXXIII; Idem, «A Unidade-Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 na p. 23; Idem, «Genealogia duma Idéa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 49-64 na p. 51; Idem, «Sebastianismo e Quixotismo», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 87-111 na p. 110. [49] Cfr. António Sardinha, «Prólogo, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. XIII-XVIII nas pp. XIII, XIV; Idem, «Portugueses e Espanhóis, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 103-111 na p. 103; Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 na p. 143; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 187. [50] Cfr. António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 na p. 9; Idem, «A Festa da Raça, 1921», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 73-80 na p. 76; Idem, «Hispanismo e Latinidade, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 89-102 na p. 97; Idem, «Portugal Restaurado, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 129-140 na p. 132; Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141-170 na p. 150; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 225; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXXII, C; Idem, «A Unidade-Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 na p. 4; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 nas pp. 202, 204; idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 nas pp. 211, 232; Idem, «Cabeça de Europa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 237-267 na p. 256. [51] Cfr. António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 na p. 13; Idem, «Portugal Restaurado, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 129-140 na p. 132; Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 nas pp. 150, 169; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possililidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXIV, LXXV; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 nas pp. 203, 204; Idem, «Mare nostrum», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 321-352 na p. 330. [52] Cfr. António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 na p. 12; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXX, LXXV, XCIX, C, CIV-CVI, CXIX, CXXII. [53] António Sardinha, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141-170 na p. 154. [54] António Sardinha, por vezes, relativamente ao facto histórico prefere utilizar o apelativo «castelhano» a «espanhol» pois considera este como «uma criação política recente, não excedendo talvez no conceito geral dos Estados europeus mais que duzentos e tantos anos.», bem como lhe atribui um conceito nacionalista quando contraposto a «hispânico», de Hispânia, conotado com o espaço geográfico. Cfr. Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 na p. 144; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 193; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 na p. 196; Idem, «Mare nostrum», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 321-352 na p. 325. [55] António Sardinha, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 na p. 154. [56] António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 191. [57] Cfr. Idem, «Hispanismo e Latinidade, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 89-102 na p. 101; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 193; Idem, «O Pan-Hispanismo, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 171-178 nas pp. 176, 177; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. CVII, CXXI, CXXII; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 na p. 204; Idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 nas pp. 211, 232, 233; Idem, «Cabeça de Europa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 237-267 na p. 254; Idem, «Mare nostrum», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 321-352 na p. 350. [58] Cfr. António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 225; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXI, XCIV, CXIX, CXXVI; Idem, «Mare nostrum», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 321-352 na p. 330. [59] Cfr. António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 nas pp. 188, 189, 192, 193; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXIV, C, CVIII, CXXIII, CXXV; Idem, «Cabeça de Europa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 237-267 na p. 267; Idem, «Genealogia duma Idéa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 49-64 nas pp. 51, 52, 63, 64. [60] Cfr. António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 na p. 7; Idem, «1640, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 247-289 na p. 266; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXIII, LXXVI, CXIII, CXXI; Idem, «Genealogia duma Idéa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 49-64 na p. 57; Idem, «O lenço da Verónica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 113-128 nas pp. 127, 128; Idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 nas pp. 230, 231. [61] Cfr. António Sardinha, «A Festa da Raça, 1921», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 73-80 na p. 76; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 226; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXXV, LXXXVI, C, CVII, CVIII, CXII, CXVIII, CXXII, CXXIII; Idem, «A Unidade-Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 nas pp. 20, 23; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 nas pp. 207, 208; Idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 na p. 235; Idem, «Cabeça de Europa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 237-267 na p. 254. [62] Cfr. António Sardinha, «A descoberta de Espanha, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 1-13 na p. 11; Idem, «A Festa da Raça, 1921», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 73-80 nas pp. 75, 77; Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 na p. 143; Idem, «O Pan-Hispanismo, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 171-178 na p. 178; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXXV, LXXXVI, CVII. [63] António Sardinha, «Portugueses e Espanhóis, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 103-111 na p. 106. [64] Cfr. António Sardinha, «Portugueses e Espanhóis, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 103-111 na p. 107; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI na p. XCIV. [65] Cfr. António Sardinha, «Portugal Restaurado, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 129-140 nas pp. 137, 139; Idem, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 242; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. CVI, CVII, CXII, CXIV-CXVIII. [66] Cfr. António Sardinha, «Portugal, Tierra Gensor!, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 113-128 nas pp. 121, 127; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXI, LXXV, LXXXII, LXXXIII, XCVI, CXXV. [67] No Canto I, (est.31) e no Canto III na (ests. 17 e 18) Camões, ao referir «Espanha» atribui-lhe o sentido clássico que engloba toda a Península Ibérica e, é nesta acepção que António Sardinha o menciona e cita. Canto I (est. 31), «Ouvido tinha aos fados que viria / ~Ua gente fortíssima de Espanha / pelo mar alto, a qual sujeitaria / da Índia tudo quanto Dóris banha, / E com novas vitórias venceria / A fama antiga, ou sua ou fosse estranha. / Altamente lhe dói perder a glória, / de que Nisa celebra inda a memória.//». Canto III (est. 17), «Eis aqui se descobre a nobre Espanha, / Como cabeça ali de Europa toda, / Em cujo senhorio e glória estranha / Muitas voltas tem dado a fatal roda; / Mas nunca poderá com força ou manha / A fortuna inquieta pôr-lhe noda, / Que lha não tire o esforço e ousadia / De belicosos peitos que em si cria.//». (est. 18), «Com Tingintânia entesta, e ali parece / Que quer fechar o mar Mediterrâneo, / Onde o sabido estreito se enobrece / C'o extremo trabalho do Tebano. / Com nações diferentes se engrandece, / Cercadas com as ondas do Oceano, / Todas de tal nobreza e tal valor, / Que qualquer delas cuida que é melhor.//» Cfr. Luís de Camões, Os Lusíadas, Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, pp. 39, 107; António Sardinha, «A Festa da Raça, 1921», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 73-80 na p. 79; Idem, «Portugal, Tierra Gensor!, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 113-128 nas pp. 121, 127; Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141-170 nas pp. 144, 145. [68] António Sardinha, «Portugal, Tierra Gensor!, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 113-128 na p. 127; Idem, «A Unidade-Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 na p. 4; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 nas pp. 196-198; Idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 na p. 232, 235. [69] Cfr. Idem, «A Festa da Raça, 1921», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 73-80 na p. 78; Idem, «Portugueses e Espanhóis, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 103-111 na p. 107; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXIX; Idem, «Quinas de Portugal», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 149-166 na p. 154; Idem, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 nas pp. 192, 207, 208; Idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 nas pp. 211-216. [70] António Sardinha, «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 na p. 192. [71] Cfr. Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 nas pp. 150, 151; «A "lenda negra"», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 187-208 na p. 192. [72] Cfr. António Sardinha, «Portugueses e Espanhóis, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 103-111 nas pp. 109, 110; Idem, «Portugal, Tierra Gensor!, 1922», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 113-128 na p. 124; Idem, Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141- 170 na p. 160; Idem, «1640, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 247-289 nas pp. 258, 262, 267, 268, 275; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXIV, LXXVI-LXXXI, CV, CVI; Idem, «A Unidade-Hispânica», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 1-28 na p. 24; Idem, «O que nos divide», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 209-235 nas pp. 216-224, 226, 228. [73] Cfr. António Sardinha, «Portugal Restaurado, 1919», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 129-140 na p. 139; Idem, «O génio peninsular», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 141-170 nas pp. 157, 158; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXX, LXXXI, CXXIV; Idem, «O selo da raça», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 29-48 na p. 38. [74] Idem, «1640, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 247-289 na p. 277. [75] Ibidem, pp. 279, 280. [76] António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 nas pp. 181, 183, 186, 187. [77] Cfr. António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 195; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. CXIV, CXXIII; Idem, «Errata necessária», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 167-185 nas pp. 171, 172. [78] Cfr. António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 nas pp. 198, 199, 211, 232; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI nas pp. LXXV, LXXVI, XCVI. [79] António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 na p. 233. [80] Cfr. António Sardinha, «Madre-Hispânia», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 179-245 nas pp. 210, 221; Idem, «Assentando posições (conversa preliminar)», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e Possibilidades, cit., pp. LXIX-CXXVI na p. CIV; Idem, «Cabeça de Europa», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 237-267 na p. 254; Idem, «Estaremos decadentes?», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 269-295 nas pp. 277, 278; Idem, «Mare nostrum», in A Aliança Peninsular - Antecedentes e possibilidades, cit., pp. 321-352 na p. 350. [81] António Sardinha, «1640, 1920», in À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, cit., pp. 247-289 na p. 282. Maria da Conceição Pontes Cabrita, "Aliança Peninsular", Revista Militar, º 2496, Janeiro de 2010. Afonso Lopes Viera
Éclogas de Agora (2ª) de Afonso Lopes Viera (1º ed., Set-Out., Edição de Autor, 1935) que foram "retiradas da distribuição" pouco depois de publicadas. Entre parêntesis rectos seguem algumas anotações julgadas necessárias a uma melhor clarificação do seu conteúdo histórico. Interlocutores: Hipério [Hipólito Raposo] e Viviano [o Autor] Viviano Ó solidão, ditosa companhia se no-la enche a consciência alegre! Val-de-Lobos das almas que não vergam! Exílio, pátria dos honrados homens!... Quando emprego os meus olhos em tudo o que é passado louvo o alto destino que nos deixou de banda entre os festeiros das funções deste prado para ficarmos firmes e leais, alheios à festança de tanta vã mentira, de tanta dor do gado, inimigos de tantos maiorais!... Esse gado mesquinho defendemos tantos anos seguidos, levantando os cajados contra os lobos que assaltam os rebanhos, desde os lobos azuis [monárquicos liberais-constitucionais, que vieram a fornecer ao Estado Novo o grosso da sua componente de apoiantes monárquicos] (já muito desdentados) té os vermelhos lobos [comunistas] de perigosa goela! E agora novos lobos [corporativistas de Estado - Salazaristas] com fereza gelada devoram as ovelhas, assaltam a manada, mandando que nem brado ou voz se solte por que não se importunem tais orelhas!... Silêncio assim tão novo jamais pesou nos prados; os rebanhos arquejam sufocados, e nós, zagais do povo, já deixámos as frautas e as cantigas para apertar o punho dos cajados. Que razão tem, pastores, que nos tolham a voz? Quem poderá jamais justificá-lo? Se o que foi feito por amor de nós é bom, deixai-nos todos bendizê-lo, se é mau, devemos todos condená-lo!... Mordaças não convêm a lusas bocas; e senão vêde aqueles grandes zagais antigos, glórias desta ribeira, chamados Gil Vicente e Luís de Camões e padre António Vieira, que todos foram bravos, todos falaram rijo na Portuguesa Língua forte e clara ou no paço dos reis ou no divino Poema ou na defesa épica de escravos!... E nós, zagais que fomos os primeiros na luta destemida, havemos de ficar assim calados, mais medrosos que os gados, como ovelha que bala de perdida? E quem manda calar-nos? Esses que se abrigavam nas cabanas amigas ou nas tocas seguras quando se armavam cá no prado as brigas!... Hipério, amigo forte, peguemos outra vez nestes cajados tão useiros ao jogo e de novo saiamos com bravura e ardil a pelejar co’os lobos que ajudámos a penetrar no fundo do redil!... Hipério Sim, Viviano amigo, Quando recordo os nossos companheiros, uns já mortos, os outros desterrados, minha alma se enternece e se faz triste. Quanto esforço que andámos dispendendo, quanta renúncia aos cómodos da vida! Quanta estúpida injúria recebida desses próprios que andámos defendendo. Lembra-me o alto Antonius [António Sardinha] que do jardim da raia, cidade forte e branca, com a pressa de quem pressente a morte tanta luz derramou por estes prados! Outro morreu primeiro, moço e de mente clara, Cordário [Adriano Xavier Cordeiro] era o seu nome; Brácaro [Luís de Almeida Braga], zagal fino que se apurou em Flandres, lá guarda solitário o seu rebanho; Monsário [Alberto Monsaraz] trespassado na peleja dos lobos, vive longe de nós, em terra alheia; Rebélio [José Pequito Rebelo] tão experto nos profundos segredos da lavoura, nunca foi por ninguém aproveitado; Lucius [Afonso Lucas] foi salteado e nos risos amargos se consola... Meu Deus, que triste sorte!... Todos no exílio, todos, ou na pátria ou na morte. Viviano E tu próprio estiveste preso em choupana agreste donde não pude defender-te quando maiorais, hoje lobos, ouviram minha fala que na ribeira Clara fui botando [Referência ao julgamento de Hipólito Raposo no Tribunal de Santa Clara, no qual Afonso Lopes Vieira foi seu advogado de defesa] Hipério E tu mesmo, que foste perseguido por furiosos zagais quando cantaste esse zagal sem nome [referência à prisão de Afonso Lopes Vieira, por motivo da publicação da sua poesia «Ao Soldado Desconhecido»] que nas brigas de além morreu perdido. Com efeito, os soldados - excelentes; capitães, onde estais? Certo é que sentimos o desterro a que a nova alcateia nos condena, a que repete em voz desentoada canções da nossa avena ! [Referência à tentativa de apropriação do legado político e cultural do «Integralismo Lusitano» (em especial o de António Sardinha] feita por alguns ex-integralistas, colaboradores de Salazar depois de 1929, Marcelo Caetano, Teotónio Pereira, entre outros] E são lobos tão pérfidos no assalto, tão matreiros, tão crus e tão gulosos, que nos parece já que os outros lobos em verdade eram menos perigosos!... Viviano Hipério, dizeis bem e eu mesmo o sinto; os inimigos de antes muitas vezes sendo brutais eram até corteses; os de hoje são peçonha em água benta. Mas os zagais mais moços moços na idade, n’alma engelhadinhos - que aprenderam connosco a tocar e dançar, a serem homens, quase todos estão daquela banda donde a nós nos monteiam. Ardente mocidade, é mais feia a traição na tua idade e horrendo que te comprem por traidora! Por isso eu canto alegre, sòzinho pelo prado: Ó solidão, formosa companhia se no-la enche o coração contente! Não há luxo maior que o ser-se honrado. Hipério E pensar que lá longe na estrangeira terra, nesse exílio que dura há tantos anos, vive aquele Pastor [O Rei, D. Duarte Nuno] que salvaria estes campos da morte e da ruína e dos lobos cruéis estas ovelhas!... Pastor mais luso e nosso outro se não conhece; tem puras qualidades que rebrilham entre as dos guardadores da honra e da mantença das lavouras. Ele é bravo e é pobre; a nossa Língua fala que um século vivido entre as alheias jamais fez esquecida; aprendeu na dureza e alta dignidade do pão do seu exílio a saber como os pobres são honrados quase só pelo serem, e como o ventre obeso dos tiranos do mando ou do dinheiro é cousa dura e feia. Se ele um dia viesse aos nossos lusos prados acabava-se a dança dos pastores que são hóspedes caros ou ligeiros da cabana onde em feno perfumado se repolteriam todos, monarcas da desordem ou da vil tirania. Oh! a danada dança, dança desordenada! Este espicaça o gado e açula os lobos; esse é honrado e tapa os negros crimes; aquele engorda e o gado está no fio; outros querem livrar-se e fugindo abandonam o rebanho... Rendeiros todos são, nenhum é dono. Pois como hão-de estimar a boa terra quando a trazem de renda e a fatigam? Um dia abalam - quem lhes faz as contas? E se acaso um bom velho de olhos azuis e de alma enamorada [Henrique de Paiva Couceiro] se dispõe a guardar o gado solto, os maus zagais do prado vão e pegam-lhe fogo! Quando virás um dia, pastor que sejas dono e não rendeiro, morador e não hóspede, bem apegado à terra, capaz de ter amor, leal, nunca onzeneiro, descendente daqueles que guardaram as queridas ovelhas sem jamais esfolá-las nem à fome matá-las nem à bruta tangê-las?... Viviano Amigo, que Pastor venha depressa à terra sua e nossa que com tanta mentira se esboroa e com tão crua fome desfalece; mas que sempre recorde que descende dos ínclitos Pastores que fizeram tão grande a nossa glória porque amavam a terra estimando-lhe a gente. Mas que nunca se esqueça de que provém do Mestre [O Mestre de Avis, Rei D. João I] e do Segundo Joane [Rei D. João II]. O primeiro que foi senão o povo coroado por chefe e revendo-se todo na sua própria imagem coroada? Ó Fernão Lopes, conta como os ventres ao sol lá em Aljubarrota pelejavam! - E Joane, «de fama sempiterna», destruiu, para bem desta lavoura, as moagens que a terra devoravam!... Que o Pastor que chamamos assim como eles seja: que respeite sem quebra as nossas liberdades, lembrando-se do verso que falando Da Lusitana antiga liberdade nos dá tamanha honra; que toda a usura açaime e o trabalho defenda; que ame a lavoura, donde um povo inteiro vive; que não chame às províncias do Além-mar colónias, o que já é perdê-las; [Alusão ao Acto Colonial e ao Colonialismo, a que os integralistas se opunham] que nunca ao pé consinta as cortesãs beatas, os duques descarados, os condes financeiros, a fim de que essa corte seja aquela corte de alto esplendor onde o chefe da Casa dos vinte e quatro ofícios penetre entre brandões que se acenderam para honras lhe dar de Embaixador!... Após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, o poeta parnasiano António Macedo Papança, conde de Monsaraz, saiu para o exílio em Paris. Era amigo de António Sardinha, condiscípulo de seu filho Alberto Monsaraz na Universidade de Coimbra. Sardinha era então ainda republicano. Em 30 de Dezembro de 1912, porém, era já bem clara a sua aproximação ao ideário monárquico. Em Monforte, António Sardinha escreve por carta ao conde de Monsaraz:
“... deixe que apertadamente o abrace pelo novo-ano seu amigo que nunca o esquece, sei o que será a amargura da expatriação, na minha alma a sinto, exilado que eu ando também neste país em que já ninguém se conhece, em que uma atmosfera de cinza e catástrofe nos abafa a todos. Pobre Pátria, a nossa, meu Amigo! E como me punge o remorso de haver dado a minha fé ao bando criminoso que nos leilôa! A mãos ambas bato no peito, clamando o meu envergonhado arrependimento. À bondade de V. Ex.cia tenho perdões que pedir. Surdo que eu fui às profecias com que a sua experiência tanto me quis prevenir! Possa ao menos o reconhecimento sincero da minha falha dignificar-me ainda o desaire da desilusão” António Sardinha Afonso Lopes Vieira
A maior revolução da História, em cujas ansiedades mergulhâmos sem cuidarmos religiosamente a todas as horas na responsabilidade e na glória de sermos, com seus iniciadores, a própria matéria da sua génese, tem sua maior razão na fatalidade mística que a arma, e que faz com que esta sociedade não queira ser salva. E não o quere, porque tem, ela mesma, a consciência da necessidade do seu fim. Ela sente que deve desaparecer, não já só para que se faça a errata (quanto maior que o volume) à obra danada de 89, mas para que o mundo se purifique e adquira novas possibilidades de Beleza. A sociedade morre dissolvendo-se na maior Dança macabra de que no mundo há memória, e ao pé do frenesi da qual as que os primitivos pintaram com esqueletos bailarins, não passam de brinco infantil. Mas nesta crise da Terra, as nossas verdades elevam-se com fé e certezas novas. É mesmo para que elas sejam cridas que a sociedade scéptica se vai, se quere ir, e outra capaz de crer a substitui. As profecias dos poetas, as suas sêdes do melhor, do mais justo, do mais belo, entraram enfim no ambiente propício às realizações. – Quando ? Mas se as profecias se estão já cumprindo, se a realidade das esperanças já se anunciou ! – O tempo que há-de passar antes que na face convulsa do mundo o rugoso espasmo se alise e da confusão dos tropéis desabroche a necessária harmonia ? Isso que importa ? Anos e anos são momentinhos na vida dêste homem e desta mulher que povoam o duro paraíso do orbe... Como agora, jamais foi fremente de místicas certezas a manhã de nevoeiro. Portugal, ritmando ao compasso do mundo a sua segura ascenção, entrou com êle nas realidades novas da vida universal. E, vindo da sua História, da sua Dor, das qualidades dormentes mas raras do seu Povo, Portugal pode e deve ser, outra vez ainda, herói e guia. Esta derradeira esperança, a mais alta e a mais certa, ilumina-se e cresce por cima de todo o lixo morto das coisas e das almas, e finalmente significa – a última encarnação do «Encoberto». ( Afonso Lopes Vieira, “A Última Encarnação do «Encoberto»” In Em Demanda do Graal. Portugal Brasil Sociedade Editora: Lisboa, 1922, pp. 323-325)
Brevíssimas Notas por José Aníbal Marinho Gomes António de Oliveira Salazar nunca permitiu que os monárquicos alcançassem o poder, anulando dessa e de outras formas, a importância política de D. Duarte Nuno. Luís de Almeida Braga e José Hipólito Raposo criticaram o regime autoritário de Salazar, chamando-lhe "salazarquia", enquanto Rolão Preto afirmava que "o Estado Novo foi a ruína da Nação".
Em 1930, Hipólito Raposo, recusa colaborar com a União Nacional e diz que os monárquicos deviam fazer o mesmo, opondo-se de forma directa à institucionalização do "Estado Novo". Ao publicar “Amar e Servir”, em 1940, denunciou de uma forma muito dura a Salazarquia, desferindo um severo ataque a Salazar, o que lhe valeu a demissão de todos os cargos públicos e a sua imediata deportação para os Açores. É a partir dos anos 40 do século passado que a oposição monárquica a Salazar começa a manifestar-se de forma mais organizada. No acto eleitoral de 18 de Novembro de 1945, José Pequito Rebelo vê recusada a lista de que fazia parte por Portalegre, porque os candidatos não tinham declarado que aceitavam os princípios fundamentais da ordem estabelecida. Nas eleições de 13 de Novembro de 1949, Rolão Preto candidata-se por Vila Real e Pequito Rebelo, de novo, por Portalegre, numas eleições para as quais se presumia que este último seria vencedor. No entanto, o acto eleitoral foi interrompido pelo presidente da Câmara de Elvas, Mário Cidrães, que se dirigiu à mesa eleitoral e ao mandatário da lista informando-os que, por decisão superior, o acto eleitoral não podia continuar. No mesmo ano, Luís de Almeida Braga e Vieira de Almeida são expulsos da Causa Monárquica em consequência do seus combates ao Estado Novo. Esse organismo monárquico não queria então afrontar o regime, vivendo na ilusão de que a monarquia viria a ser restaurada. Após a morte do Presidente Óscar Carmona, ocorrida em 18 de Abril de 1951, alguns monárquicos como Mário de Figueiredo e Cancela de Abreu propuseram a restauração da monarquia, mas Salazar, Albino dos Reis e Marcello Caetano opuseram-se. Aliás, este último, no III Congresso da União Nacional, que se realizou em Novembro desse ano em Coimbra, considera de menor importância a questão do regime, afirmando que ao ser levantada podia criar indesejáveis divisões entre os Portugueses. Nesse ano de 1951, Rolão Preto apoiou a candidatura presidencial oposicionista de Quintão Meireles. No mês de Outubro de 1957, antes das eleições legislativas de 4 de Novembro, um grupo de monárquicos, do qual faziam parte, entre outros, Gonçalo Ribeiro Telles (um dos fundadores do Movimento dos Monárquicos Independentes (MMI), ao qual também se junta Luís de Almeida Braga), Francisco de Sousa Tavares, João Vaz de Serra e Moura e Henrique Barrilaro Ruas, publica um manifesto onde contestam qualquer forma de ditadura, que consideram ser inconstitucional e defendem a democracia como uma das soluções para resolver os problemas de Portugal. No ano de 1958 a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República conta com o apoio destacado de Rolão Preto, Fernando de Morais Sarmento Honrado, Luís de Almeida Braga, sobressaindo-se este último, como causídico na defesa de Henrique Galvão, após o assalto ao Paquete «Santa Maria». Entretanto começam a verificar-se divisões internas no Movimento dos Monárquicos Independentes e Ribeiro Telles, com alguns monárquicos, entre os quais Francisco de Sousa Tavares e João Camossa, funda o Movimento dos Monárquicos Populares (MMP). Muitos monárquicos (Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco de Sousa Tavares, João Camossa, etc.) estiveram implicados na chamada “Revolta da Sé” que foi uma tentativa de golpe militar e civil verificada na noite de 11 para 12 de Março de 1959 que a PIDE consegue desmantelar e onde são feitos prisioneiros uma série de oficiais de patente intermédia, que contavam com o apoio de algumas figuras de topo da hierarquia militar e alguns civis, entre os quais o Padre João Perestrelo de Vasconcelos, pároco da Sé Patriarcal de Lisboa, local, onde os revoltosos se reuniram, sendo, no total, detidas cerca de três dezenas de pessoas. Ainda em 1959, Francisco de Sousa Tavares, Gonçalo Ribeiro Telles, Sophia de Mello Breyner Andersen entre outros enviam uma carta ao Presidente do Conselho, Salazar, na qual denunciam os métodos da PIDE. No dia 12 de Novembro de 1961 há as primeiras eleições após o início da Guerra no Ultramar Africano, e a oposição monárquica à “salazarquia” apresenta uma lista por Lisboa, que não foi aceite pelo regime, e, da qual faziam parte, nomes como Fernando Alberto da Silva Amado; Francisco José de Sousa Tavares; Mário Pessoa da Costa; José Paulo de Almeida Monteiro; Fernando Torres Carneiro Vaz Pinto; Francisco António da Silveira de Vasconcellos e Sousa (Castelo Melhor); Gonçalo Pereira Ribeiro Teles; João Carlos Camossa de Saldanha; António Moutinho Rubio; Maria Ofélia Mafalda de Melo de Portugal da Silveira; Rodrigo da Costa Félix; Manuel Ramos Ferreira e, que reuniu à sua volta um grande número de apoiantes. Alguns monárquicos são co-autores do “Manifesto dos 101 Católicos” de 4 de Outubro de 1965, documento de activistas católicos contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Católica à política do Governo de Salazar, entre os quais se destacam Francisco de Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen, Gonçalo Ribeiro Telles, Fernando de Morais Sarmento Honrado. Em 1969 surge a Comissão Eleitoral Monárquica (CEM), que apresenta uma lista própria para concorrer ao acto eleitoral de 26 de Outubro pelo círculo de Lisboa, eleições estas que não passaram de uma farsa promovida pelo regime. Pugnavam pelo sufrágio directo e pela participação na vida política do país, que se aproximava do «descalabro moral e económico» e repudiavam a repressão policial, perpetrada pela PIDE, que se devia limitar às suas “naturais atribuições”. Defendem a extinção da censura, o direito de associação num sindicalismo livre e o direito à greve, uma justa repartição do rendimento bem como a criação de um Serviço Nacional de Saúde, defendido por Mário Saraiva. Pugnam também a existência de partidos políticos que, para Rolão Preto, são “os mais vigorosos órgãos da Liberdade política, segurança das liberdades essenciais”. No campo da educação são favoráveis ao alargamento da escolaridade obrigatória e à autonomia das universidades. Henrique Barrilaro Ruas foi o principal rosto público da CEM, da qual faziam também parte Francisco de Barcelos Rolão Preto; Luís Paulo Manuel de Menezes de Mello Vaz de São Payo; Fernando de Moraes Sarmento Honrado; Francisco Lopes Roseira; Joaquim Toscano de Sampaio; Maria Luiza da Conceição de Almeida Manoel de Vilhena; Fernando Teixeira Viana; Manuel Jorge de Magalhães e Silva; Abílio Leopoldo Motta-Ferreira; Fernando Costa Quintais; António Albano Pardete da Fonseca e que contou com muitos apoiantes. A CEM relacionou-se com outros grupos oposicionistas, que também integravam monárquicos, como a Comissão Democrática Eleitoral (CDE), a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), que incluía personalidades monárquicas como Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Luís Nunes (um dos fundadores do partido socialista), entre outros. Gonçalo Ribeiro Telles foi convidado por Henriques Ruas para integrar a lista da CEM, mas pelo facto de já ter aceite fazer parte da lista da CEUD, declina o convite, afirmando, no entanto, que se a CEM chegasse a votos, o MMP aderiria a uma Convergência Monárquica, independentemente do seu resultado das mesmas, o que veio a acontecer após as eleições. Os jornais Diário de Lisboa e Capital, contrariamente a outros, nunca silenciaram a voz da oposição monárquica. Nas acções de propaganda da CEM podia ler-se que: “O acto mais nobre de Um Povo Livre é escolher os seus representantes, escolher aqueles que serão, em cada dia, a sua própria voz”, bem como: “A Independência de Portugal passa pela liberdade dos Portugueses”. Os monárquicos dos vários quadrantes da oposição defendiam as liberdades públicas, a abolição da censura de forma a permitir a liberdade de expressão e a sua intervenção era feita, sobretudo, na revista Cidade Nova, e através do Centro Nacional de Cultura, fundado por um grupo de jovens monárquicos em 1945, entre os quais destaco Afonso Botelho, António Seabra e Gastão da Cunha Ferreira que foi o primeiro presidente. Do grupo inicial de monárquicos resta apenas Gonçalo Ribeiro Telles, sócio n.º 1 com 97 anos de idade. Em 30 de Abril de 1970, foi criada a Convergência Monárquica, que integrava o Movimento Popular Monárquico, de Gonçalo Ribeiro Teles, fundado em 1957, a Renovação Portuguesa, de Henrique Barrilaro Ruas, nascida em Maio de 1962, e uma facção da Liga Popular Monárquica, de João Vaz de Serra e Moura, instituída em 1964. Em virtude das posições públicas de oposição ao regime, manifestadas pelos seus dirigentes e no seguimento do manifesto da CEM, a Convergência Monárquica foi impedida de concorrer às eleições de 1973. A participação em actos eleitorais, abriu portas, após Abril de 1974, para que os monárquicos fizessem parte, por direito próprio, do sistema democrático português. A Convergência Monárquica, está na origem do Partido Popular Monárquico (PPM) criado em 23 de Maio de 1974. Após a revolução de Abril, nem todos os monárquicos aderiram ao PPM, integrando outros partidos como o CDS, PPD/PSD e PS. Para memória futura aqui fica uma lista de nomes*, ainda que incompleta, ordenada por ordem alfabética, de monárquicos que combateram a II República, integrando ou não listas oposicionistas candidatas a actos eleitorais antes de Abril de 1974: Abel da Cunha Abel Tavares de Almeida Abílio Leopoldo Motta-Ferreira (usava o pseudónimo de Fernando Sylvan) Adriano dos Santos Gonçalves Afonso José Matoso de Sousa Botelho Agnelo Galamba de Oliveira Agostinho Carlos Pignatelli de Sena Belo Ataíde Queiroz Agostinho da Silva Alberto de Monsaraz Alberto Moutinho Abranches Albino Neves da Costa Alexandre Martins Moniz de Bettencourt Alfredo Carreira da Cunha Alfredo Pinheiro de Freitas Álvaro da Graça Costa António Albano Pardete da Fonseca António Amadeu de Souza-Cardoso António Augusto Afonso António Crespo de Carvalho António de Assunção Sampaio António João Alves Luís Fernandes António José Borges Gonçalves de Carvalho António José de Seabra António Luís Maria Matoso de Sousa Botelho António Moutinho Rúbio António Pinto Ravara António Ressano Garcia Cardoso Moniz Artur Armando Camarate dos Santos Augusto Carlos Saldanha Augusto Cassiano de Andrade Barreto Augusto João Pereira de Castro Lopes Augusto Martins Ferreira do Amaral Augusto Salazar Antunes Augusto Vinhal Azevedo Cruz Carlos Alberto de Aguiar Vieira Gomes Carlos André de Morais Sarmento Pacheco do Canto e Castro Carlos Manuel Vieira de Almeida Álvares de Carvalho Carlos Valdez Pinto Vasconcelos Daniel Noronha Feio Delfim da Nóbrega Pinto Pizarro Domingos Manuel da Cunha Pignateli Sena Belo Ferraz de Carvalho Megre Ercília da Silva Ramos Fernando Alberto da Silva Amado Fernando Amaro Monteiro Fernando Bayolo Pacheco de Amorim Fernando da Costa Quintais Fernando de Moraes Sarmento Honrado Fernando Ferreira Pinto Fernando Pedro Teixeira Viana Fernando Torres Carneiro Vaz Pinto Fernão Vaz Pereira Forjaz Pacheco de Castro Francisco António da Silveira de Vasconcellos e Sousa Francisco de Barcelos Rolão Preto Francisco José Carneiro de Sousa Tavares Francisco Júdice Pragana Barata Feio Francisco Lopes Roseira Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro Francisco Vieira de Almeida Frederico Guilherme José Pereira de Sá Perry Vidal Gaspar José Cochofel de Campos Calejo Gastão Caraça da Cunha Ferreira Gonçalo Fevereiro Gonçalo Pereira Ribeiro Telles Guilherme Gomes Henriques Barbosa Henrique José Barrilaro Fernandes Ruas Henrique Mitchell de Paiva Couceiro Henrique Queirós Athayde Ilídio João de Almeida Santos Isabel Wolmar (Maria Isabel Marques Silva) Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima João Carlos Camossa Nunes de Saldanha João Carlos Vaz Serra de Moura João Crespo de Carvalho João José Melo Lapa João Manuel Bettencourt da Câmara João Marcos Pereira Perry Vidal João Paulo Almeida Monteiro João Pedro Maia Loureiro João Pinto Picão Caldeira João Seabra Joaquim Barata Navarro de Andrade Joaquim de Almeida Baltazar Joaquim L. Espírito Santo de Vasconcelos Joaquim Paulo Dias de Aguiar Joaquim Toscano de Sampaio Jorge Augusto de Melo Azevedo Jorge Manuel Pujol Figueiredo de Barros Jorge Portugal da Silveira José Adriano Pequito Rebelo José Bernardino Blanc de Portugal José Fernando Rivera Martins de Carvalho José Hipólito Vaz Raposo José Luís Crespo de Carvalho José Luís do Amaral Nunes José Manuel Le Cocq da Costa e Silva Neves da Costa José Mário Soares Dengucho José Paulo de Almeida Monteiro José Vaz Serra de Moura Júlio Rosa Leão Ramos Ascensão Luís Carlos de Lima de Almeida Braga Luís Carlos Fernando de Lemos da Câmara Leme Luís Filipe Ottolini Bebiano Coimbra Luís Leite Rio Luís Paulo Manuel de Menezes de Mello Vaz de São Payo Manuel Alberto Ferraz de Sousa Athayde Pavão Manuel de Carvalho Costa Manuel de Jesus Carvalho Manuel Jorge Fonseca de Magalhães e Silva Manuel José Cachopo Rebocho Manuel Mascarenhas Novais Ataíde Manuel Óscar de Freitas Bettencourt e Galvão Manuel Paulo Ribeiro de Castro Manuel Ramos Ferreira Marco António do Nascimento Monteiro de Oliveira Marcus Daniel Zicale Marcus de Noronha da Costa Maria Adelina Delacruz Vidal Maria Eliene Santana Maria Emília Chorão de Carvalho Barrilaro Ruas Maria Ester Pereira da Costa Pita Maria Joana Delacruz Vidal Braga Real Maria Luiza da Conceição de Almeida Manoel de Vilhena Maria Ofélia Mafalda de Melo de Portugal da Silveira Mário António Caldas de Melo Saraiva Mário Coelho Mário Emílio de Azevedo Mário Mendes Rosa Mário Pessoa da Costa Miguel Martins Leite Pereira de Melo Miguel Ramalho Ortigão Nabais e Silva Nuno Furtado de Mendonça Nuno Vaz Pinto Paulo da Costa Dordonnat Pedro Agostinho de Oliveira Pedro Alves Castanheiro Viana Pedro Manuel Guedes de Paiva Pessoa Pedro Manuel Marques Ferreira Pedro Rocha Marques Ferreira Quirino do Nascimento Mealha Rafael Castanheiro Freire Rodrigo Costa Félix Rodrigo Jorge de Moctezuma Seabra Pinto Leite Rui Ernesto Callaia da Cunha e Silva Rui Quartin Santos Segismundo Manuel Peres Ramires Pinto Sophia de Mello Breyner Andresen Victor Manuel Quintão Caldeira Wenceslau M. de Lima da Fonseca Araújo * Agradeço ao Amigo Dr. Augusto Ferreira do Amaral a inclusão de alguns nomes nesta lista, que foi elaborada a partir de diversas fontes tendo por base o Dossier da Comissão Eleitoral Monárquica - CEM (1973), Convergência Monárquica 1.º ano de acção (1971); Livros das colecções da “Biblioteca do Pensamento Político”, “Edições de Cultura Monárquica” e Edições Gama (Série A - Política e Clássicos do Pensamento Político Português); Boletins da Liga Popular Monárquica; Lista Monárquica Candidata às eleições de 12 de Novembro de 1961; “Nas Teias de Salazar, D. Duarte Nuno, entre a Esperança e a Desilusão” de Paulo Drumond Braga, arquivo pessoal, etc. Para a elaboração deste artigo, foram também consultados alguns números dos jornais Diário de Lisboa e Capital (mês de Outubro de 1969). "Não queremos outra liberdade senão a liberdade portuguesa. Mas também não queremos outro Portugal senão o Portugal dos homens livres. E é ao procurar a práxis desta teoria que aclamamos o Rei" - Henrique Barrilaro Ruas, 1971
Foi com este inspirado título - A liberdade portuguesa - que a Real Associação de Lisboa, sob a presidência de João Lancastre e Távora, procedeu ao lançamento de uma antologia de textos dispersos de Henrique Barrilaro Ruas (1921-2003), Mestre do Integralismo Lusitano e um dos mais destacados pensadores políticos do século XX português. No volume A liberdade e o Rei (1971), Henrique Barrilaro Ruas reunira algumas das suas mais importantes intervenções no domínio do pensamento político, da doutrina e acção. Este livro, organizado por Vasco Rosa, reune sobretudo escritos esparsos que o autor deixara pelo caminho, mas acrescentando outros, espalhados por aqui e por ali, durante as décadas seguintes (1971-1995). No prefácio, Nuno Miguel Guedes dá testemunho do efeito que em si produziu o magisterium do Autor. |
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Fevereiro 2021
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