O Integralismo Lusitano para além das etiquetas
Sob este inspirado título - As Raízes Profundas Não Gelam?... - convidou-me Riccardo Marchi para, num texto breve, indicar as fontes inspiradoras do Integralismo Lusitano, o impacto que este teve no seu tempo, e o legado deixado às gerações posteriores. Confessando-lhe o meu desagrado por se continuar a classificar o Integralismo Lusitano nas "direitas" - categoria partidocrática que os integralistas rejeitavam aplicar a si próprios e ao seu pensamento político - acabei por aceitar o convite e respondi-lhe o melhor que podia e sabia, com este "Integralismo Lusitano para além das etiquetas". Ao reler hoje este texto, tantos anos depois, não posso deixar de lhe reiterar o meu agradecimento pelo convite. Valeu bem a pena. Apesar do esforço dos integralistas não surgir numa antologia das tentativas de renovação portuguesa no século XX, creio que eles se poderiam rever na súmula que aí ficou.
Como aqui se recorda, aos integralistas lusitanos se ficaram a dever as duas mais importantes tentativas de regeneração democrática da República, através do municipalismo e de uma livre representação sindical, sucessivamente travadas pelas oligarquias instaladas: na frustada "República Nova", derrubada com o assassínio do presidente Sidónio Pais; e no projecto constitucional apresentado em Junho de 1926 pelo general Gomes da Costa, pouco depois preso e deportado para os Açores. No chamado "Estado Novo", acabaria por triunfar o projecto constitucional do grupo da "Seara Nova", no quadro de um fascismo catedrático chefiado por Oliveira Salazar - com um único partido legal e forte repressão das oposições, sem liberdades cívicas, com sindicatos e corporações manietadas pelo governo. A Salazarquia dominou o Estado durante mais de quatro décadas, conduzindo Portugal e os novos países de língua portuguesa em África para uma tragédia sem paralelo na sua história multisecular.
O esforço de renovação integralista não conduziu à Restauração de Portugal - com uma representação de base municipal e a Instituição Real na chefia do Estado - , continuando hoje o Estado sob o domínio das oligarquias, agora em regime de pluralismo partidista, mas aí ficou o seu gesto honrado de protesto e uma lição a estudar pelas gerações vindouras.
12.12.2023 - J. M. Q.
José Manuel Quintas, "Capítulo V - O Integralismo Lusitano para além das etiquetas", in Riccardo Marchi (Coordenação), As Raízes Profundas Não Gelam?... - Ideias e Percursos das Direitas Portuguesas, Alfragide: Texto Editores, 2014, pp. 167-195.
Como aqui se recorda, aos integralistas lusitanos se ficaram a dever as duas mais importantes tentativas de regeneração democrática da República, através do municipalismo e de uma livre representação sindical, sucessivamente travadas pelas oligarquias instaladas: na frustada "República Nova", derrubada com o assassínio do presidente Sidónio Pais; e no projecto constitucional apresentado em Junho de 1926 pelo general Gomes da Costa, pouco depois preso e deportado para os Açores. No chamado "Estado Novo", acabaria por triunfar o projecto constitucional do grupo da "Seara Nova", no quadro de um fascismo catedrático chefiado por Oliveira Salazar - com um único partido legal e forte repressão das oposições, sem liberdades cívicas, com sindicatos e corporações manietadas pelo governo. A Salazarquia dominou o Estado durante mais de quatro décadas, conduzindo Portugal e os novos países de língua portuguesa em África para uma tragédia sem paralelo na sua história multisecular.
O esforço de renovação integralista não conduziu à Restauração de Portugal - com uma representação de base municipal e a Instituição Real na chefia do Estado - , continuando hoje o Estado sob o domínio das oligarquias, agora em regime de pluralismo partidista, mas aí ficou o seu gesto honrado de protesto e uma lição a estudar pelas gerações vindouras.
12.12.2023 - J. M. Q.
José Manuel Quintas, "Capítulo V - O Integralismo Lusitano para além das etiquetas", in Riccardo Marchi (Coordenação), As Raízes Profundas Não Gelam?... - Ideias e Percursos das Direitas Portuguesas, Alfragide: Texto Editores, 2014, pp. 167-195.