A tomada da Bastilha
António Sardinha
A Revolução-Francesa, rompendo com a formação secular da sociedade, procurou substitui-la por uma construção ideológica, tirada toda dos falsos subjectivismos de Jean-Jacques Rousseau. Jean-Jacques Rousseau, por seu turno, suíço de nascimento, calvinista de origem, representa o triunfo do criticismo protestante sobre o nosso claro entendimento de católicos e de romanos. O que o livre-exame é como fonte permanente de interpretação caprichosa e anárquica no domínio das coisas religiosas, assim foi no campo das relações politicas e morais o vento tumultuário da Revolução.
Por longos tempos a pretenderam deificar, como um acontecimento decisivo para o progresso felicidade das gerações futuras. Esqueceram-se por instantes as palavras fortes - as verdades duras de um Joseph de Maistre, de um Bonald, de um
[23-24]
Rivarol. Não estavam elas de acordo com um século, que enfaticamente se chamou das «luzes». Mas porque se harmonizavam com as luzes de todos os séculos, no seu convívio e no sabor másculo da sua acentuação encontram agora repouso as inquietações intelectuais daqueles em quem se não perdeu ainda o sentido superior da civilização a que pertencem.
Costuma celebrar-se o início da Revolução com a festa nacional da tomada da Bastilha. A Bastilha é considerada pelo sentimentalismo retórico dos historiadores românticos como o baluarte duma tirania que, afinal, não existiu nunca, a não ser na sua imaginação excitada. Para os que não se possam dar a longas meditações sobre a Revolução-Francesa, pensando vagarosamente os estudos formidáveis de Taine que julgaram a questão de uma maneira irremovível, a leitura de qualquer trabalho mais ligeiro e mais de síntese, - ou La Révolution, de Louis Madelin, ou La Révolution Française et la psychologie des révolutions, de Gustave Le Bon, lhes dará os elementos seguros de uma apreciação crítica indispensável como base para a aquisição de toda a cultura contra-revolucionária, que deseje ser sensata e sólida.
É, assim, uma lenda miserável a declamada miséria do povo às vésperas da Revolução. O reinado de Luís XVI, tanto debaixo do ponto de vista financeiro, como debaixo do ponto de vista militar e diplomático, significa até um notável esforço em favor da
[24-25]
Por longos tempos a pretenderam deificar, como um acontecimento decisivo para o progresso felicidade das gerações futuras. Esqueceram-se por instantes as palavras fortes - as verdades duras de um Joseph de Maistre, de um Bonald, de um
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Rivarol. Não estavam elas de acordo com um século, que enfaticamente se chamou das «luzes». Mas porque se harmonizavam com as luzes de todos os séculos, no seu convívio e no sabor másculo da sua acentuação encontram agora repouso as inquietações intelectuais daqueles em quem se não perdeu ainda o sentido superior da civilização a que pertencem.
Costuma celebrar-se o início da Revolução com a festa nacional da tomada da Bastilha. A Bastilha é considerada pelo sentimentalismo retórico dos historiadores românticos como o baluarte duma tirania que, afinal, não existiu nunca, a não ser na sua imaginação excitada. Para os que não se possam dar a longas meditações sobre a Revolução-Francesa, pensando vagarosamente os estudos formidáveis de Taine que julgaram a questão de uma maneira irremovível, a leitura de qualquer trabalho mais ligeiro e mais de síntese, - ou La Révolution, de Louis Madelin, ou La Révolution Française et la psychologie des révolutions, de Gustave Le Bon, lhes dará os elementos seguros de uma apreciação crítica indispensável como base para a aquisição de toda a cultura contra-revolucionária, que deseje ser sensata e sólida.
É, assim, uma lenda miserável a declamada miséria do povo às vésperas da Revolução. O reinado de Luís XVI, tanto debaixo do ponto de vista financeiro, como debaixo do ponto de vista militar e diplomático, significa até um notável esforço em favor da
[24-25]
António Sardinha, "A tomada da Bastilha", Ao Ritmo da Ampulheta - Crítica e Doutrina, Lisboa, Lvmen, 1925, pp. 23-29.
Revolução Francesa / Calvinismo / Jean-Jacques Rousseau, Ideologia, Joseph Marie, conde de Maistre ([Joseph de Maistre]1753-1821), Louis Gabriel Ambroise, Visconde de Bonald [Louis de Bonald] (1754-1840), Antoine de Rivarol (1753-1801), Gustave Le Bon (1841-1931), Hippolyte Adolphe Taine (1828-1893), Louis Emile Marie Madelin (1871-1956), Georges Jacques Danton (1759-1794), Maçonaria, Émile Faguet (1847-1916), Pierre-Joseph Proudhon (1809–1865), Comunas, Corporações, Sindicalismo versus Democracia [partidocracia], Georges Sorel (1847-1922).
Refs:
Hippolyte A. Taine, 1828-1893 - Les Origines de la France Contemporaine:
Gustave Le Bon - La Révolution Française e la Psychologie des Révolutions, Paris, 1912.
Revolução Francesa / Calvinismo / Jean-Jacques Rousseau, Ideologia, Joseph Marie, conde de Maistre ([Joseph de Maistre]1753-1821), Louis Gabriel Ambroise, Visconde de Bonald [Louis de Bonald] (1754-1840), Antoine de Rivarol (1753-1801), Gustave Le Bon (1841-1931), Hippolyte Adolphe Taine (1828-1893), Louis Emile Marie Madelin (1871-1956), Georges Jacques Danton (1759-1794), Maçonaria, Émile Faguet (1847-1916), Pierre-Joseph Proudhon (1809–1865), Comunas, Corporações, Sindicalismo versus Democracia [partidocracia], Georges Sorel (1847-1922).
Refs:
Hippolyte A. Taine, 1828-1893 - Les Origines de la France Contemporaine:
- L’Ancien Régime (1875).
- La Révolution: I – l’Anarchie (1878).
- La Révolution: II – La Conquête Jacobine (1881).
- La Révolution: III – Le Gouvernement Révolutionnaire (1883).
- Le Régime Moderne (1890–1893).
Gustave Le Bon - La Révolution Française e la Psychologie des Révolutions, Paris, 1912.