Porque voltámos
...
"Patria para sempre passada, memória quasi perdida!" Pois para que não o seja é que nós voltámos ao mais alto exercício do nosso dever de portuguêses, que não é senão o de promover entre nós uma restauração da Inteligencia. Dum e outro lado da trincheira em que Portugal se corta de cima a baixo, pululam, numa inconsciência torpe de arraial, os mesmos bonecos, os mesmos postiços, cuja genealogia Eça de Queiroz nos traçou na sua obra cheia da mais elevada intenção demolidora (A.S., referia-se a |O Crime do Padre Amaro|). Portugal morre, porque, tal como uma tribu revolta de berberes, deixou secar as raizes que o prendem á alma eterna da história. Cabe-nos a nós por isso, - minoria que por acaso nos julguem - , reconstruir, antes de mais nada, a fisionomia moral da Nacionalidade, indo beber ao patrimonio das gerações transactas os estímulos sagrados que nos abrirão, de par em par, as portas misteriosas do Futuro.
Assim se define o nosso nacionalismo, que não é nacionalismo somente, porque o tempera, como regra filosófica, o mais rasgado e mais genuino tradicionalismo. (...)
Se o nacionalismo é (...) na vida dos povos um necessário e imprescindível elemento de renovação, como que o plasma originário e criador, só se torna contudo, duradoiro e fecundo, quando depurado pelas disciplinas sociais e intelectuais do tradicionalismo. Consiste, por seu turno, o tradicionalismo no reconhecimento e na pratica dum sistema de principios e instituições acreditados pela experiência e em que se condensa o fructo duma longa observação na arte de governar e ser governado. Do consorcio dos dois factores, - nacionalismo e tradicionalismo -, resulta pois a norma de conduta que a sciencia sociológica proclama hoje como a unica eficaz, depois das aventuras ruinosas a que as ideologias tentadoras da Revolução arrastaram o Estado e a Sociedade." (p. 3)
(...)
A colheita adivinha-se como numa ceara magnifica. Adivinha-se na aspiração larga de restituirmos á nacionalidade a sua alma adormecida, porque uma nacionalidade é sobretudo uma alma, um valor espiritual, um genio; e, integrando-a em si mesma, leva-la depois a participar da marcha do mundo por mercê da função civilizadora de que a tornarmos capaz.
Todo esse universo de problemas se abriga assim dentro do nosso viático. E porque reflectimos em nós a tragédia imensa do nosso tempo, não nos podemos esquivar ás interrogações angustiosas da hora presente. Se em política nos declaramos pela Monarquia, é conveniente sempre acentuar que nos declaramos pela Monarquia-social, regimen que, repelindo como absurdo o sistema actual do Estado, apela para a sindicalização dos interesses e das profissões, como a unica garantia eficaz de liberdade, - mas de liberdade orgânica, irmã gemea da competência, da hierarquia e da autoridade. (p. 4)
(...)
O rebaixamento da cultura comum é aterrador, como consequencia do industrialismo que se apossou da sociedade metalizada pelo frenesim crescente dos homens dos Bancos e da sua execranda ditadura, hoje desgraçadamente mundial. Esse industrialismo, legitimo rebento da Revolução-Francêsa, começando logo por destruir a dignidade das profissões pela extinção atribiliaria dos grémios, atinge agora o ponto agudo dos seus excessos pondo em risco de morte o prestigio e a independencia do pensamento humano. Outro tanto acontece com a barbaria que se levanta na Russia e cuja tropelada se percebe já nas encruzilhadas da Historia, como se fosse o avanço da cavalgada bíblica de Gog e Magog... (p. 4)
(...)
Abramos os Lusiadas e ali prescutaremos, como em nenhuma parte, a vocação apostólica, que anima, qual seiva mística, o corpo moral da patria bem amada. Talvez que uma secreta voz nos grite que a Portugal o Senhor reserve, pela paixão e morte que está padecendo, a missão sacratissima de restaurador da Christandade desfeita. (...)
Confessemos, pois, o Espirito e pelo Espirito restauremos a Inteligencia, humanizando-a pela Açao. "Ao principio era o Verbo, e o Verbo se fez Carne e habitou entre nós".
Tal é o preceito inspirado da nossa filosofia, resolvidos como nos achamos a não nos perder em banquetes estéreis de sofistas. Um outro encanto nos atrai, - e é o de realizarmos, com Portugal-Reconquistado, uma Christandade maior e mais bela. Para isso, - e o Épico no-lo profetiza em acentos sonoros como o bronze -,
Não faltarão christãos atrevimentos
Nesta pequena Casa Lusitana
(p. 5)
A Ordem-Nova
...no Memorandum apresentado ao IX Congresso do Partido Comunista (1920, 29 de março a 1 de abril, Trotzky declarava sem rodeios: “A liberdade do trabalho é própria da sociedade burguesa. Para execução das ordens correspondentes ao trabalho forçado, obrigatório para todos, sem distinção de sexo, deve ser empregada a força armada. Os operários deverão ser incorporados nas empresas, introduzindo-se nelas um regime severo, com aplicação de penas disciplinares. Unicamente as pessoas cheias de preconceitos burgueses se poderão insurgir contra um tal sistema”. (p. 6)
(...)
(...) o pensador e o sociólogo necessariamente verificarão no excessivo estadismo da experiência russa o fundo centralista e absorvente do Estado moderno, saído da Revolução Francesa e que, tão bem autopsiado por Taine, recebeu de Napoleão a expressão jurídica definitiva. A diferença consiste apenas em que essa noção de Estado computava até agora o indivíduo unicamente como “homem politico” – como “cidadão”, ao passo que a ditadura de Lenine o classifica apenas como “homem económico”, como simples “productor”.
Mas a compreensão exacta de quanto se desenrola na Russia não nos é possível, se não considerarmos o parentesco legítimo que liga o tipo de Estado, aproveitado por Lenine, ao tipo de Estado que Napoleão nos legou. A crise em que a Europa se debate é, sobretudo, onde se filia. Nascidas de uma concepção meramente doutrinaria da sociedade, com o crescente altear dos problemas contemporâneos, tão complexos e tão agudos nas suas múltiplas manifestações, as instituições políticas do nosso continente, não possuindo raízes na história, dificilmente acompanhariam as exigências cada vez mais clamorosas da realidade. Recolhem-se por fim os fructos da sementeira louca do 89! E na destruição dos organismos tradicionais , ou seja daqueles corpos que entre os indivíduos e o Estado tornavam outrora fácil e resistente a vida social, não era impossível prever que, victimas das oligarquias financeiras e parlamentaristas, os povos, arrastados pelo desenvolvimento dominador do industrialismo e do capitalismo, aos abusos execráveis da plutocracia, acordariam em peso para mais uma utopia – a utopia da ditadura do proletariado, em que afinal, acabarão por se sentir escravizados como nunca, - se tão grande desgraça houver de desabar por sobre o ocidente europeu! (p. 6-7)
(...)
(...) o pensador e o sociólogo necessariamente verificarão no excessivo estadismo da experiência russa o fundo centralista e absorvente do Estado moderno, saído da Revolução Francesa e que, tão bem autopsiado por Taine, recebeu de Napoleão a expressão jurídica definitiva. A diferença consiste apenas em que essa noção de Estado computava até agora o indivíduo unicamente como “homem politico” – como “cidadão”, ao passo que a ditadura de Lenine o classifica apenas como “homem económico”, como simples “productor”.
Mas a compreensão exacta de quanto se desenrola na Russia não nos é possível, se não considerarmos o parentesco legítimo que liga o tipo de Estado, aproveitado por Lenine, ao tipo de Estado que Napoleão nos legou. A crise em que a Europa se debate é, sobretudo, onde se filia. Nascidas de uma concepção meramente doutrinaria da sociedade, com o crescente altear dos problemas contemporâneos, tão complexos e tão agudos nas suas múltiplas manifestações, as instituições políticas do nosso continente, não possuindo raízes na história, dificilmente acompanhariam as exigências cada vez mais clamorosas da realidade. Recolhem-se por fim os fructos da sementeira louca do 89! E na destruição dos organismos tradicionais , ou seja daqueles corpos que entre os indivíduos e o Estado tornavam outrora fácil e resistente a vida social, não era impossível prever que, victimas das oligarquias financeiras e parlamentaristas, os povos, arrastados pelo desenvolvimento dominador do industrialismo e do capitalismo, aos abusos execráveis da plutocracia, acordariam em peso para mais uma utopia – a utopia da ditadura do proletariado, em que afinal, acabarão por se sentir escravizados como nunca, - se tão grande desgraça houver de desabar por sobre o ocidente europeu! (p. 6-7)