Em Abril de 1915, António Sardinha abriu o ciclo de conferências sobre a Questão Ibérica com "O Território e a Raça". Em 1916, com a excepção da conferência de Alberto Monsaraz - Diplomacia Peninsular - as restantes conferências foram publicadas num único volume. O texto de apresentação surgiu datado em Outubro de 1915.
Seja a federação amigável nos termos em que a preconiza o político romântico Don Juán del Nido y Segalerva ou a simples anexação para nos salvar da ruína, no pensamento cruelmente irónico do professor Vicente Gay, toda a Espanha se deslumbra com a visão do Rei Afonso XIII, erguendo em triunfo a águia bicéfala, cujas asas cubram a velha Ibéria.
Segalerva no seu livro — La Unión Ibérica, a páginas 364: "Sobre esa Dinasta (de Bragança) pesa la responsabilidad do haber deshecho en tiempo de Felipe IV la obra de Don Felipe II, y si fuere restaurada renacerían con ella todos los obstáculos que desde 1640 vienen impidiendo la UNIÓN IBÉRICA. (...) La política sensata aconseja la más absoluta abstención y esperar el desenvolvimiento de la Republica portuguesa. Nosotros no debemos ayudar ni la Monarquia ni la República; pero en todo caso, más debemos ayudar la República que la Restauración monárquica.”
António Sardinha, O Território e a Raça (Conferência realizada na sala nobre da Liga Naval Portuguesa, em 7 de Abril de 1915), in A Questão Ibérica, Lisboa, Tipografia do Anuário Comercial, 1916, pp. 10-76.
... saltando por cima de um século inteiro de falsificações e embustes, eu aponto o internacionalismo maçónico como a causa mortal da nossa ruína. - António Sardinha
O IBERISMO
Manda em nós o estrangeiro do interior. É o estrangeiro do interior quem calúnia o nosso Passado e cobre de descrédito as suas gloriosas instituições, para que as raízes de Portugal se enfraqueçam e nós não sejamos dentro de breve senão um terreno raso para as experiências do internacionalismo maçónico.
(...)
Falseando o princípio católico de que toda a autoridade legítima vem de Deus, gera-se num sentido vicioso de investidura pessoal o absurdo direito divino dos dinastas, a quem os doutores reformados concedem até a prerrogativa da ordenação sacerdotal. (...) Os preceitos germânicos da posse tinham-se sobreposto aos ditames claros de S. Tomás. Os Reis reinam já por si, - pelo seu capricho absoluto, e não pelo direito da sociedade em se conservar.
(...)
[António Sardinha rejeita a doutrina protestante do direito divino dos reis e as suas consequências na ordem internacional]
Foi Port-Royal, foi a Enciclopédia, - é Jean-Jacques, é o Liberalismo. Pelo amor cerebral das ficções inventa a transcendência opressiva da Lei. A lei passa a determinar a sociedade, em vez de unicamente a exprimir. Surge daqui a paranóia parlamentar, tendo surgido antes, numa série de terminações em "ismo", dentro da religião, o Jansenismo, em política religiosa, o Regalismo, e no campo do direito publico, o Absolutismo. No fundo sempre o Indivíduo, sempre a opinião caprichosa, sempre o "livre-exame!" (...) Pombal (...) expulsa os jesuítas como terríveis republicanos, por eles defenderem as razões políticas de S. Tomás. (...) Na separação dos dois poderes - do poder temporal e do poder espiritual - é que descansa a mais sólida garantia da liberdade.
(...)
Não se ignoram as consequências dessa desastrada "regeneração" [com antecedente no Pombalismo, refere-se aqui à "regeneração" pretendida pelos "Liberais", depois de 1834]. Aplicado sem mais ensaios à nacionalidade portuguesa, o critério rectilíneo da Lei deu a a extirpação dos nossos velhos quadros institucionais. O instinto foraleiro da pátria foi negado pela montagem estrangulante do Estado burocrático. Demitiu-se o municipalismo próprio da Grey. Votaram-se ao extermínio as corporações de artes e ofícios com a sua expressiva Casa dos Vinte-e-Quatro por órgão e porta-voz. A base pluralista da representação repeliu-se por arcaica. As Cortes-Gearis tiveram-se como uma coisa gótica, como uma velharia caduca. O Indivíduo passou a ser, ao longo do agrupamento social, a célula originária de toda a actividade. O "livre-exame" fazia bom caminho entre nós. Faculta-lhe os progressos a hipertrofia romântica da sensibilidade. Servia-o na sombra o internacionalismo maçónico.
(...)
[1851] O nosso suicídio revestia-se de linhas resignadas com o Iberismo, que, falida a experiência cartista, se apossou de certos eventos com predomínio nos círculos reputados por cultos. Portugal olvidara a integridade do seu "meio-vital".
[após resumir a sucessão de projectos iberistas:]
A fórmula de amanhã em política exterior há-de ser, sem dúvida, não união-ibérica, mas aliança-peninsular. Nós não teremos desse modo a vergonha de Olivença! Não terá a Espanha a ignomínia de Gibraltar!
- António Sardinha, O Território e a Raça.
(...)
Falseando o princípio católico de que toda a autoridade legítima vem de Deus, gera-se num sentido vicioso de investidura pessoal o absurdo direito divino dos dinastas, a quem os doutores reformados concedem até a prerrogativa da ordenação sacerdotal. (...) Os preceitos germânicos da posse tinham-se sobreposto aos ditames claros de S. Tomás. Os Reis reinam já por si, - pelo seu capricho absoluto, e não pelo direito da sociedade em se conservar.
(...)
[António Sardinha rejeita a doutrina protestante do direito divino dos reis e as suas consequências na ordem internacional]
Foi Port-Royal, foi a Enciclopédia, - é Jean-Jacques, é o Liberalismo. Pelo amor cerebral das ficções inventa a transcendência opressiva da Lei. A lei passa a determinar a sociedade, em vez de unicamente a exprimir. Surge daqui a paranóia parlamentar, tendo surgido antes, numa série de terminações em "ismo", dentro da religião, o Jansenismo, em política religiosa, o Regalismo, e no campo do direito publico, o Absolutismo. No fundo sempre o Indivíduo, sempre a opinião caprichosa, sempre o "livre-exame!" (...) Pombal (...) expulsa os jesuítas como terríveis republicanos, por eles defenderem as razões políticas de S. Tomás. (...) Na separação dos dois poderes - do poder temporal e do poder espiritual - é que descansa a mais sólida garantia da liberdade.
(...)
Não se ignoram as consequências dessa desastrada "regeneração" [com antecedente no Pombalismo, refere-se aqui à "regeneração" pretendida pelos "Liberais", depois de 1834]. Aplicado sem mais ensaios à nacionalidade portuguesa, o critério rectilíneo da Lei deu a a extirpação dos nossos velhos quadros institucionais. O instinto foraleiro da pátria foi negado pela montagem estrangulante do Estado burocrático. Demitiu-se o municipalismo próprio da Grey. Votaram-se ao extermínio as corporações de artes e ofícios com a sua expressiva Casa dos Vinte-e-Quatro por órgão e porta-voz. A base pluralista da representação repeliu-se por arcaica. As Cortes-Gearis tiveram-se como uma coisa gótica, como uma velharia caduca. O Indivíduo passou a ser, ao longo do agrupamento social, a célula originária de toda a actividade. O "livre-exame" fazia bom caminho entre nós. Faculta-lhe os progressos a hipertrofia romântica da sensibilidade. Servia-o na sombra o internacionalismo maçónico.
(...)
[1851] O nosso suicídio revestia-se de linhas resignadas com o Iberismo, que, falida a experiência cartista, se apossou de certos eventos com predomínio nos círculos reputados por cultos. Portugal olvidara a integridade do seu "meio-vital".
[após resumir a sucessão de projectos iberistas:]
A fórmula de amanhã em política exterior há-de ser, sem dúvida, não união-ibérica, mas aliança-peninsular. Nós não teremos desse modo a vergonha de Olivença! Não terá a Espanha a ignomínia de Gibraltar!
- António Sardinha, O Território e a Raça.
Manda em nós o estrangeiro do interior. É o estrangeiro do interior quem calúnia o nosso Passado e cobre de descrédito as suas gloriosas instituições, para que as raízes de Portugal se enfraqueçam e nós não sejamos dentro de breve senão um terreno raso para as experiências do internacionalismo maçónico.
Da Reforma nos veio a Razão-Pura. Da Reforma nos veio a Revolução-Francesa. (...)
Reaccionário, - exactamente! Porque ser reaccionário é estar com a herança filosófica de Taine, é aceitar os melhores ditames de Comte, de Le Play e Renan, é receber de Fustel de Coulanges a lição imparcial da História que é História.
Falseando o princípio católico de que toda a autoridade legítima vem de Deus, gera-se num sentido vicioso de investidura pessoal o absurdo direito divino dos dinastas, a quem os doutores reformados concedem até a prerrogativa da ordenação sacerdotal. (...) Os preceitos germânicos da posse tinham-se sobreposto aos ditames claros de S. Tomás [de Aquino]. Os Reis reinam já por si, - pelo seu capricho absoluto, e não pelo direito da sociedade em se conservar.
Foi Port-Royal, foi a Enciclopédia, - é Jean-Jacques, é o Liberalismo. Pelo amor cerebral das ficções inventa a transcendência opressiva da Lei. A lei passa a determinar a sociedade, em vez de unicamente a exprimir. Surge daqui a paranóia parlamentar, tendo surgido antes, numa série de terminações em "ismo", dentro da religião, o Jansenismo, em política religiosa, o Regalismo, e no campo do direito publico, o Absolutismo. No fundo sempre o Indivíduo, sempre a opinião caprichosa, sempre o "livre-exame!" (...) Pombal (...) expulsa os jesuítas como terríveis republicanos, por eles defenderem as razões políticas de S. Tomás. (...) Na separação dos dois poderes - do poder temporal e do poder espiritual - é que descansa a mais sólida garantia da liberdade.
Não se ignoram as consequências dessa desastrada "regeneração". Aplicado sem mais ensaios à nacionalidade portuguesa, o critério rectilíneo da Lei deu a a extirpação dos nossos velhos quadros institucionais. O instinto foraleiro da pátria foi negado pela montagem estrangulante do Estado burocrático. Demitiu-se o municipalismo próprio da Grey. Votaram-se ao extermínio as corporações de artes e ofícios com a sua expressiva Casa dos Vinte-e-Quatro por órgão e porta-voz. A base pluralista da representação repeliu-se por arcaica. As Cortes-Gearis tiveram-se como uma coisa gótica, como uma velharia caduca. o Indivíduo passou a ser, ao longo do agrupamento social, a célula originária de toda a actividade. O "livre-exame" fazia bom caminho entre nós. Faculta-lhe os progressos a hipertrofia romântica da sensibilidade. Servia-o na sombra o internacionalismo maçónico.
II - O TERRITÓRIO
1915 - O Território e a Raça - Conferencia realizada na sala nobre da Liga Naval Portuguesa, em 7 de Abril de 1915, in A questão ibérica, Lisboa, 1916, pp. 10-76.
Relacionado
- 1893 - Eduardo Prado, A ilusão americana - [Esse livro teve singular destino: no Brasil foi proibido uma hora depois de posto à venda, isto é, proibido antes de lido; em Portugal, depois de composto na Imprensa Nacional, não pôde ser editado por ela.]
- 1915 - O Território e a Raça, Conferência realizada na Liga Naval Portuguesa, em 7 de Abril de 1915.
- 1922 - O Pan-hispanismo, Contemporânea, nº 2, Junho de 1922, pp. 49-51.
- 1922 - La Unidad Hispánica, in Unión Ibero-Americana, Julio y Agosto de 1922, pp. 67-73.
- 1924 - Madre-Hispânia
- 1924 - A Aliança Peninsular,
- 1930 - A Aliança Peninsular - Antecedentes & Possibilidades, 2ª edição, Prefácio de Gabriel Maura Gamazo, conde la Mortera, Porto, Livraria Civilização.
- 1930 - La Alianza Peninsular, Prólogo de Ramiro de Maeztu, tradução de marquês de Quintanar, conde de Santibañez del Río, Madrid, 1930;
- 1939 - La Alianza Peninsular, 2ª edição em espanhol, tradução e prólogo de marquês de Quintanar, prólogo da 1ª edição espanhola de Ramiro de Maeztu, e "Unidad y Dualismo Peninsular", estudio de José Pequito Rebelo, Segovia, El Adelantado, 1939.
- 1943 - À Lareira de Castela - Estudos Peninsulares, Lisboa.
- 1972 - Aliança Peninsular, 3ª edição, Lisboa, Biblioteca do Pensamento Político, com nota prévia de Mário Saraiva (4ª edição, Lisboa, 1974).