Os fundadores da Seara Nova, em 15 de Outubro de 1921:
Aquilino Ribeiro
Augusto Casimiro
Azeredo Perdigão
Câmara Reys
Faria de Vasconcelos
Ferreira de Macedo
Francisco António Correia
Jaime Cortesão
Raul Brandão
Raul Proença
Aquilino Ribeiro
Augusto Casimiro
Azeredo Perdigão
Câmara Reys
Faria de Vasconcelos
Ferreira de Macedo
Francisco António Correia
Jaime Cortesão
Raul Brandão
Raul Proença
O estabelecimento do Estado Novo representou uma derrota do Integralismo Lusitano e um triunfo da Seara Nova, vingando o modelo político-constitucional dos Seareiros.
Em 1923, esse projecto fora rejeitado pelos integralistas quando foi tentada a colaboração dos dois grupos na revista Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos. Ao tentar aproximar integralistas e seareiros, António Sérgio disse que eram ambos "anti-conservadores", mas não deixando de distinguir os dois projectos político-constitucionais: "(...) uns e outros são radicais; uns e outros regionalistas; uns e outros defendem a criação de uma assembleia representativa das classes e categorias sociais e intelectuais (com a diferença de que os primeiros [integralistas] só desejam esse e os segundos [seareiros] a combinam com um parlamento político); uns e outros atacam a plutocracia da sociedade portuguesa; uns e outros querem uma educação primária trabalhista e regional, etc."
Em 1926, afastado o projecto integralista de uma representação das classes e categorias sociais e intelectuais, através dos municípios, com a prisão e deportação do general Gomes da Costa para os Açores, Raul Proença voltou a colocar publicamente o projecto seareiro: "Há que criar, ao lado da Assembleia Política, órgão da vontade nacional, a Assembleia Técnica, representante das competências especializadas (poderíamos também chamar-lhes Assembleia consultiva a esta e Deliberativa àquela)" (A Ditadura Militar, 1926, p. 67).
Foi o projecto adotado pela Salazarquia triunfante, em 1933, onde vem a predominar o pensamento político seareiro.
Em 1923, esse projecto fora rejeitado pelos integralistas quando foi tentada a colaboração dos dois grupos na revista Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos. Ao tentar aproximar integralistas e seareiros, António Sérgio disse que eram ambos "anti-conservadores", mas não deixando de distinguir os dois projectos político-constitucionais: "(...) uns e outros são radicais; uns e outros regionalistas; uns e outros defendem a criação de uma assembleia representativa das classes e categorias sociais e intelectuais (com a diferença de que os primeiros [integralistas] só desejam esse e os segundos [seareiros] a combinam com um parlamento político); uns e outros atacam a plutocracia da sociedade portuguesa; uns e outros querem uma educação primária trabalhista e regional, etc."
Em 1926, afastado o projecto integralista de uma representação das classes e categorias sociais e intelectuais, através dos municípios, com a prisão e deportação do general Gomes da Costa para os Açores, Raul Proença voltou a colocar publicamente o projecto seareiro: "Há que criar, ao lado da Assembleia Política, órgão da vontade nacional, a Assembleia Técnica, representante das competências especializadas (poderíamos também chamar-lhes Assembleia consultiva a esta e Deliberativa àquela)" (A Ditadura Militar, 1926, p. 67).
Foi o projecto adotado pela Salazarquia triunfante, em 1933, onde vem a predominar o pensamento político seareiro.
* * * * *
Em 30 de Janeiro de 2024, podia ler-se na Introdução à página na internet da Seara Nova:
"O primeiro número da Seara Nova foi publicado no dia 15 de Outubro de 1921, numa época conturbada, em que pontuavam enormes desigualdades sociais, consideráveis atrasos económicos, interesses inconfessáveis das clientelas e de oligarquias plutocráticas, baixo nível cultural da população, ausência de valores e de preocupações éticas nas camadas dominantes, regime político de mentira e incompetência, alastramento da corrupção entre os detentores dos poderes e privilégios escandalosos destes últimos."
Na data da publicação do primeiro número da revista Seara Nova, esta caracterização da situação político-social poderia ser subscrita pelos homens do Integralismo Lusitano, não sendo surpreendente que, perto de dois anos depois, estes tenham juntado esforços na revista Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos. Em entrevista ao Diário de Lisboa, António Sérgio explicou o motivo: "integralistas e seareiros são anti-conservadores".
No primeiro editorial da Seara Nova, em 15 de Outubro de 1921, dois aspectos saltavam à vista, em perfeito acordo com os integralistas: a democracia vigente era uma mentira e o regime republicano revelava-se um evidente e tumultuoso fracasso.
Ao contrário dos integralistas, porém, os seareiros queriam dar uma segunda oportunidade à República, não escondendo que havia alternativas que muito os preocupavam: "retroceder até aos últimos dias de Setembro de 1910, como querem os monárquicos tradicionais, ou ainda mais para além, como querem os monárquicos tradicionalistas". Sem subterfúgios, os seareiros diziam querer retroceder, voltar atrás para uma restauração da República ou, em linguagem mais atinente aos sujeitos, uma refundação: "devemos regressar ao 5 de Outubro" (...) para "fundar as condições da verdadeira democracia, sem as quais a República não passará do regime de baixa mentira e indigna plutocracia que tem sido até hoje."
A Seara Nova dizia enfileirar "na extrema-esquerda da República"; era "radical, sem ser jacobina". O Integralismo era anti-oligárquico e não enfileirava nos posicionamentos de "esquerdas" ou "direitas" da partidocracia.
Um outro traço de distinção entre os integralistas e, pelo menos alguns seareiros, como Aquilino Ribeiro e Raúl Proença, estava numa contrastante tese da decadência portuguesa.
Para os integralistas, a decadência de Portugal tinha uma raiz espiritual e política, detectável na subida ao poder de elites contrárias ao Catolicismo de Trento. O despotismo iluminado do Marquês de Pombal, por intermédio do qual se difundira a "filosofia das Luzes" e a teoria protestante do "direito divino dos reis", fora o período em que verdadeiramente se revelara a derrota do pensamento político que, em 1640, ainda inspirara e garantira a independência de Portugal. No século XVIII, seguindo as tendências políticas da Europa continental, o absolutismo régio tinha afinal dado guarida a políticos que, governando sem a consulta das Cortes, tinham quebrado as liberdades e autonomias municipais, instalando um estatismo autoritário e oligárquico, de que os portugueses não mais foram capazes de se libertar.
Para os seareiros Aquilino Ribeiro e Raúl Proença, a decadência portuguesa não tinha sido o resultado de um desvio espiritual e político provocado por governantes estrangeirados, tinha bem mais uma profunda "causa psíquica e fisiológica". Durante séculos, tanto pela reconquista cristã como pela expansão ultramarina, ter-se-iam realizado "conúbios aviltantes", cruzamentos com "raças inferiores", conduzindo a uma "degradação étnica" dos portugueses, que seria indispensável e urgente corrigir através de uma "Política da Raça". A degradação étnica dos portugueses seria, segundo Proença, visível no sul e interior do território do continente, pelo maior influxo do "Moiro", do "Berbere" e do "Negro". Na sua perspectiva, era prioritário "melhorar a raça, cultivá-la, torná-la mais pura, mais sadia, mais forte - insuflar-lhe resistência, coragem, dureza, alegria". Seria essa "a peça mestra das nossas reformas e a condição prévia de todas elas. (...) Temos de procurar, pois, na Eugenia, a defesa da Raça, instaurando uma verdadeira Política Fisiológica (a mais importante de todas); defendendo o Português de maiores abastardamentos, fazendo assim todo o possível para uma regressão ao tipo original" (A Ditadura Militar, p. 65). Os bons exemplos para que se apontava ficavam para além dos Pirinéus - eram anglo-saxónicos e germânicos.
Aos integralistas repugnava essa perspectiva dos seareiros. Na ontologia portuguesa, os integralistas colocam uma muito positiva condição ou vocação pluri-racial ou multi-étnica, capaz mesmo de ajudar a estabelecer a paz e a harmonia entre as diversas nações e etnias do globo terrestre. A espiritualidade dos integralistas é matricialmente católica e, como tal, universalista, recusando diferenciações de raças ou etnias no Ser português. Rejeitavam inclusive a designação de "colónias" que veio a ser atribuída aos territórios ultramarinos no Acto Colonial (1930). Onde estivesse hasteada a bandeira de Portugal, havia portugueses. As únicas distinções que poderiam ter algum significado para os integralistas, seguiam na linha de Trindade Coelho quando este dizia que, em Portugal, coexistia uma massa de bronze com uma elite de lama.
Por fim, um outro importante traço de distinção: enquanto os Integralistas se definiam como nacionalistas (do patriotismo era dever subir ao nacionalismo, para defesa da pátria em perigo) e universalistas; os Seareiros diziam combater "todas as formas de nacionalismo", aspirando à paz internacional pela união dos "espíritos de integral humanidade".
Desde o início, apesar da superficial e breve junção na revista Homens Livres, em proclamada luta conjunta contra as oligarquias financeiras e partidárias, os respectivos projectos eram irreconciliáveis no plano dos fundamentos históricos e filosóficos, deles resultando duas vias bem distintas: enquanto os Seareiros queriam manter-se com o passo acertado com uma certa Europa de além Pirinéus, os Integralistas pugnavam por um reaportuguesamento de Portugal.
[1 de Junho de 2024 - J.M.Q.]
"O primeiro número da Seara Nova foi publicado no dia 15 de Outubro de 1921, numa época conturbada, em que pontuavam enormes desigualdades sociais, consideráveis atrasos económicos, interesses inconfessáveis das clientelas e de oligarquias plutocráticas, baixo nível cultural da população, ausência de valores e de preocupações éticas nas camadas dominantes, regime político de mentira e incompetência, alastramento da corrupção entre os detentores dos poderes e privilégios escandalosos destes últimos."
Na data da publicação do primeiro número da revista Seara Nova, esta caracterização da situação político-social poderia ser subscrita pelos homens do Integralismo Lusitano, não sendo surpreendente que, perto de dois anos depois, estes tenham juntado esforços na revista Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos. Em entrevista ao Diário de Lisboa, António Sérgio explicou o motivo: "integralistas e seareiros são anti-conservadores".
No primeiro editorial da Seara Nova, em 15 de Outubro de 1921, dois aspectos saltavam à vista, em perfeito acordo com os integralistas: a democracia vigente era uma mentira e o regime republicano revelava-se um evidente e tumultuoso fracasso.
Ao contrário dos integralistas, porém, os seareiros queriam dar uma segunda oportunidade à República, não escondendo que havia alternativas que muito os preocupavam: "retroceder até aos últimos dias de Setembro de 1910, como querem os monárquicos tradicionais, ou ainda mais para além, como querem os monárquicos tradicionalistas". Sem subterfúgios, os seareiros diziam querer retroceder, voltar atrás para uma restauração da República ou, em linguagem mais atinente aos sujeitos, uma refundação: "devemos regressar ao 5 de Outubro" (...) para "fundar as condições da verdadeira democracia, sem as quais a República não passará do regime de baixa mentira e indigna plutocracia que tem sido até hoje."
A Seara Nova dizia enfileirar "na extrema-esquerda da República"; era "radical, sem ser jacobina". O Integralismo era anti-oligárquico e não enfileirava nos posicionamentos de "esquerdas" ou "direitas" da partidocracia.
Um outro traço de distinção entre os integralistas e, pelo menos alguns seareiros, como Aquilino Ribeiro e Raúl Proença, estava numa contrastante tese da decadência portuguesa.
Para os integralistas, a decadência de Portugal tinha uma raiz espiritual e política, detectável na subida ao poder de elites contrárias ao Catolicismo de Trento. O despotismo iluminado do Marquês de Pombal, por intermédio do qual se difundira a "filosofia das Luzes" e a teoria protestante do "direito divino dos reis", fora o período em que verdadeiramente se revelara a derrota do pensamento político que, em 1640, ainda inspirara e garantira a independência de Portugal. No século XVIII, seguindo as tendências políticas da Europa continental, o absolutismo régio tinha afinal dado guarida a políticos que, governando sem a consulta das Cortes, tinham quebrado as liberdades e autonomias municipais, instalando um estatismo autoritário e oligárquico, de que os portugueses não mais foram capazes de se libertar.
Para os seareiros Aquilino Ribeiro e Raúl Proença, a decadência portuguesa não tinha sido o resultado de um desvio espiritual e político provocado por governantes estrangeirados, tinha bem mais uma profunda "causa psíquica e fisiológica". Durante séculos, tanto pela reconquista cristã como pela expansão ultramarina, ter-se-iam realizado "conúbios aviltantes", cruzamentos com "raças inferiores", conduzindo a uma "degradação étnica" dos portugueses, que seria indispensável e urgente corrigir através de uma "Política da Raça". A degradação étnica dos portugueses seria, segundo Proença, visível no sul e interior do território do continente, pelo maior influxo do "Moiro", do "Berbere" e do "Negro". Na sua perspectiva, era prioritário "melhorar a raça, cultivá-la, torná-la mais pura, mais sadia, mais forte - insuflar-lhe resistência, coragem, dureza, alegria". Seria essa "a peça mestra das nossas reformas e a condição prévia de todas elas. (...) Temos de procurar, pois, na Eugenia, a defesa da Raça, instaurando uma verdadeira Política Fisiológica (a mais importante de todas); defendendo o Português de maiores abastardamentos, fazendo assim todo o possível para uma regressão ao tipo original" (A Ditadura Militar, p. 65). Os bons exemplos para que se apontava ficavam para além dos Pirinéus - eram anglo-saxónicos e germânicos.
Aos integralistas repugnava essa perspectiva dos seareiros. Na ontologia portuguesa, os integralistas colocam uma muito positiva condição ou vocação pluri-racial ou multi-étnica, capaz mesmo de ajudar a estabelecer a paz e a harmonia entre as diversas nações e etnias do globo terrestre. A espiritualidade dos integralistas é matricialmente católica e, como tal, universalista, recusando diferenciações de raças ou etnias no Ser português. Rejeitavam inclusive a designação de "colónias" que veio a ser atribuída aos territórios ultramarinos no Acto Colonial (1930). Onde estivesse hasteada a bandeira de Portugal, havia portugueses. As únicas distinções que poderiam ter algum significado para os integralistas, seguiam na linha de Trindade Coelho quando este dizia que, em Portugal, coexistia uma massa de bronze com uma elite de lama.
Por fim, um outro importante traço de distinção: enquanto os Integralistas se definiam como nacionalistas (do patriotismo era dever subir ao nacionalismo, para defesa da pátria em perigo) e universalistas; os Seareiros diziam combater "todas as formas de nacionalismo", aspirando à paz internacional pela união dos "espíritos de integral humanidade".
Desde o início, apesar da superficial e breve junção na revista Homens Livres, em proclamada luta conjunta contra as oligarquias financeiras e partidárias, os respectivos projectos eram irreconciliáveis no plano dos fundamentos históricos e filosóficos, deles resultando duas vias bem distintas: enquanto os Seareiros queriam manter-se com o passo acertado com uma certa Europa de além Pirinéus, os Integralistas pugnavam por um reaportuguesamento de Portugal.
[1 de Junho de 2024 - J.M.Q.]
Racismo e Eugenia; refs:
- Aquilino Ribeiro, "Em torno do problema da raça", Homens Livres, nº 1, 1 de Dezembro de 1923, p. 14
- Raul Proença, Panfletos - I - A Ditadura Militar, Lisboa, 1926. (Este panfleto teve continuação em Ainda a ditadura militar - demonstração scientífica da nocividade das ditaduras militares, e algumas amabilidades sobrecelentes, Lisboa, 1927)
CRONOLOGIA
1921
1921-12 a 1922-02 - Acerca do Integralismo Lusitano (Polémica entre Raul Proença e Alberto de Monsaraz)
1923
Março. Eis como a Seara Nova falava do período da "normalidade constitucional": "Continuar a vida do Estado e do país como até agora seria marchar depressa para a bancarrota, para a carestia insustentável, para a miséria extrema, para as convulsões mais graves, sendo impossível que Portugal saia deste abismo com a plenitude do seu domínio e soberania".
António Sérgio - Recensão-crítica da 2ª série da revista "Nação Portuguesa" na Seara Nova.
Dezembro. Aquilino Ribeiro, "Em torno do problema da raça", Homens Livres, nº 1, 1 de Dezembro de 1923, p. 14
1921
1921-12 a 1922-02 - Acerca do Integralismo Lusitano (Polémica entre Raul Proença e Alberto de Monsaraz)
1923
Março. Eis como a Seara Nova falava do período da "normalidade constitucional": "Continuar a vida do Estado e do país como até agora seria marchar depressa para a bancarrota, para a carestia insustentável, para a miséria extrema, para as convulsões mais graves, sendo impossível que Portugal saia deste abismo com a plenitude do seu domínio e soberania".
António Sérgio - Recensão-crítica da 2ª série da revista "Nação Portuguesa" na Seara Nova.
Dezembro. Aquilino Ribeiro, "Em torno do problema da raça", Homens Livres, nº 1, 1 de Dezembro de 1923, p. 14
1926
1927
No fecho da revista Ordem Nova (nº 12, Fevereiro de 1927, p. 392) pode ler-se a respeito do encerramento do Instituto de António Sardinha pelo Governador Civil de Lisboa:
"INSTITUTO DE ANTÓNIO SARDINHA
Não se sabe porquê o snr. Governador Civil de Lisboa encerrou o Instituto de António Sardinha.
Não se sabe porquê S. Ex.a ainda não aprovou os Estatutos que lhe foram entregues.
Não se sabe porquê, S. Ex.a mantém a ordem de encerramento, tendo já aberto as Juventudes Monárquicas Conservadoras e outros centros políticos e não tendo fechado nunca a Seara Nova.
Que mistério move o sr. Governador Civil?
Que má vontade existe nas esferas governamentais desta Ditadura falida?
Ordem Nova protesta indignadamente contra o encerramento do Instituto de António Sardinha e contra o regime de excepção a que os nacionalistas estão submetidos"
1929-1931
Ao surgir a revista Política - Órgão da Junta Escolar de Lisboa do Integralismo Lusitano, em 15 de Abril de 1929, sob o título "A Maçonaria em Acção", escreviam os jovens integralistas:
"Lavra por esse país um notável recrudescimento da actividade Maçónica. Fieis aos nossos princípios e tendo a consciência do nosso dever, daqui a denunciamos claramente, chamando para tal a atenção de todos os bons portugueses. Os partidos, consubstanciadas na famigerada Liga de Paris, e a Maçonaria, sua progenitora e fiel aliada, mudaram de táctica.
Vendo a impossibilidade de derrubarem a Ditadura pelas armas (7 de Fevereiro e 19 de Junho), ou pela difamação (campanhas dos papelinhos clandestinos e de Bernardino Machado e António Sérgio nas imprensas argentina, francesa, suíça e alemã), ou ainda pelo recurso à intervenção estrangeira (ida às Legações e carta de António Sérgio ao Presidente do Conselho da Sociedade das Nações) tentarão agora vencê-la na sombra pela infiltração nas esferas oficiais."
Viera a Revolução Militar do "28 de Maio", o "14 de Junho" (o general Gomes da Costa apresenta um projecto constitucional prevendo a representação da República por delegação directa dos municípios), o "9 de Julho" (Gomes da Costa é preso e deportado para os Açores), o 7 de Fevereiro, o 19 de Junho, etc., culminando na eleição do general Óscar Carmona como presidente da República, em 25 de Março de 1928, para se dar início ao que se designou por Ditadura Nacional - antecâmara de um novo regime a instituir tendo por base a "legitimidade nacional" do presidente da República.
Nesse Abril de 1929, os jovens integralistas mostravam-se atentos ao "órgão profano da Maçonaria" - o Actualidades -, e não lhes tinha passado despercebida a "reviravolta de O Século", interrogando: "Mas a reviravolta de O Século? Como a explicarão o judeu Amzalak e muito em especial o Sr. Carlos de Oliveira?". Havia sinais de mudança, a que se juntava ainda o reacender da "questão clerical" com "uma veemência inusitada e um desprezo criminoso pelos verdadeiros e superiores interesses do país."
À Seara Nova não passou despercebida a nova revista dos "jovens integralistas de Lisboa". No seu número 159, de 2 de Maio, dedicam-lhes a sua primeira página, começando por reagir ao texto de Leão Ramos Ascensão acerca da "Traição de Gomes Freire", terminando por os interpelar a pretexto dos recentes "Acordos de Latrão" entre o Vaticano e a Itália de Mussolini.
Durante o ano de 1929, a denúncia da Maçonaria como anti-portuguesa e anti-católica esteve bem presente nas páginas da revista Política. Além do texto de Ramos Ascensão, Ruy d' Almargem publicou um extenso artigo intitulado "A Anti-Nação"(Política, números 2, 4, 6, 8, de 1929). O aniversário da encíclica HUMANUM GENUS não foi esquecido: "No passado dia 20 de Abril passou o 45º aniversário da publicação do "Humanum Genus", notabilíssima encíclica do saudoso e imortal pontífice Leão XIII, sobre a franco-maçonaria. Se todos os católico lhe tivessem seguido os luminosos ensinamentos, quantos males e provações se teriam evitado! Escrita para ontem e escrita para hoje, quanto mais o tempo sobre ela passa, mais se confirma e realça o fulgor das verdades que encerra."
Para os jovens integralistas da revista Política, os Acordos de Latrão representavam uma clara derrota da Maçonaria:
"Os engulhos que a solução da Questão Romana causou aos nossos livres-pensadeiros ainda persistem.
E compreende-se.
Com a queda do poder temporal dos Papas em 1870, a Maçonaria julgou ter aniquilado a Igreja para sempre. Cinquenta e nove anos depois, apesar do predomínio maçónico, das leis laicas, da perseguição à Igreja, o renascimento católico é visível, o prestigio internacional do Papado é maior do que nunca e a força espiritual por ele representada é reconhecida pela própria Itália.
Era de mais! Por isso se amesquinha o acordo de Latrão que nos dois aspectos de tratado internacional e de concordata representa para a Igreja um grande triunfo, sem que a Itália de Mussolini possa considerar-se derrotada.
A restauração do Estado Pontifício, numa área pequena ou grande, pois o que mais interessa é o aspecto jurídico da questão, que a Lei das Garantias tinha postergado, era a reivindicação permanente dos Pontifíces Romanos. Alcançou-se essa reivindicação. O Papa, na cidade do Vaticano, é soberano, possuindo todos os elementos da soberania: poder organizado, território e população.
Há, finalmente, a Concordata que concede à Igreja direitos de que ela não goza em qualquer outro país.
Mas Mussolini, que não é católico e sacrifica ainda ao espírito cesarista romano, falou e, apesar da sua inteligência usou duma linguagem bastante desagradável para os católicos, embora reconhecendo o enorme valor social do Cristianismo. O preconceito estatista levado ao exagero não lhe permite vêr sempre as coisas com clareza.
Reconhecendo, porém, que se tinha excedido, Mussolini, num novo discurso, rectificou algumas afirmações do primeiro discurso.
(...)
... os factos ineludíveis são estes: está constituído o Estado do Vaticano, cuja área pouco importa para quem, com a soberania territorial, apenas quer ter assegurada a independência espiritual; com a Concordata, apesar do agnosticismo de Mussolini, a religião católica foi reconhecida como religião oficial do reino de Itália, o casamento católico dispensa o casamento civil, a instrução religiosa volta às escolas, e a acção católica é rodeada de todas as facilidades.
Estes é que são os factos.
E há mais ainda: o velho Estado democrático e maçónico cai em ruínas e Cristo reina de novo nas almas. Isto na pátria de Cavour e Garibaldi!
Onde o espírito maçónico não reina, com as suas intrigas e discórdias, facilmente e com lealdade se resolvem os problemas." (Política, nº 4, p. 17)
Nos números seguintes da revista, José Pequito Rebelo, sob o título "Fascismo e Catolicismo" (Política, nº 5 e nº 6, Julho e Agosto de 1929), dá um panorama das suas aspirações usando invariavelmente o pretérito nos tempos verbais, adivinhando-se o subjuntivo na terminante questão: "Como respondeu o discurso de Mussolini, discurso interpretativo da Conciliação, em que se marcam as directivas da política religiosa do fascismo, a estas generosas aspirações de um nacionalismo que creio poder qualificar de nacionalismo cristão?"
O integralista Pequito Rebelo mostrou-se ainda esperançoso, mas não ingénuo face aos ziguezagues de Mussolini ou às ironias dos Seareiros. Em 1931, os factos vieram responder às interrogações e dúvidas de 1929. Perante a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o Papa Pio XI, através da encíclica Non abbiamo bisogno (Nós Não Precisamos, 29 de Junho de 1931) condenou o Fascismo.
A condenação do Fascismo pelos integralistas, em especial a de Francisco Rolão Preto, foi tão explicita quanto a do Papa - o Papa referira-se à "estatolatria pagã" do fascismo; Rolão Preto referiu-se ao "totalitarismo divinizador do Estado".
A revista Política vai dedicar os seus últimos números a uma interrogação política fundamental: para onde caminhava a Ditadura Nacional - qual o regime político a instituir em Portugal?
"Em Portugal há actualmente duas fórmulas que jogam entre si a cartada decisiva. O Bom-Senso e a Vontade Heróica. Dentro da primeira arregimenta-se a cobardia cívica que leva aos bons empregos, à vida regalada, o não te rales que justifica todos os abandonos e dá razão a todas as traficâncias políticas, sociais e económicas... O Bom-Senso está gordo, veste bem, tem os seus capitais no Banco de Inglaterra, frequenta a loja maçónica do seu Bairro e vai ao Domingo à missa, solene, bem disposto e tranquilo. Detestou o 18 de Abril e o 28 de Maio porque detesta revoluções. Serve-lhe agora a Ditadura até que venha o Reviralho.
(...)
A Nação vive porém pela sua alma heroica e sagrada. Em todas as grandes crises da sua história permaneceu felizmente sobre a miséria de uns, a subserviência e a traição doutros, a vontade firme e inabalável daqueles que acima de sua comodidade, dos seus interesses, e das suas vaidades sabem colocar corajosamente o seu coração forte de portugueses.
Podemos crêr! a nação "pode crêr nos seus destinos sagrados. A vontade heróica dos portugueses vencerá mais uma vez."
(Rolão Preto, "Palavras Claras - Integralismo e Integralismos", Política, nº 20, 31 de Março de 1931)
Acreditar. Os integralistas eram portugueses que acreditavam, acreditavam sempre, na "alma heróica e sagrada" da Nação Portuguesa. Seria ainda possível restaurar Portugal.
Ao surgir a revista Política - Órgão da Junta Escolar de Lisboa do Integralismo Lusitano, em 15 de Abril de 1929, sob o título "A Maçonaria em Acção", escreviam os jovens integralistas:
"Lavra por esse país um notável recrudescimento da actividade Maçónica. Fieis aos nossos princípios e tendo a consciência do nosso dever, daqui a denunciamos claramente, chamando para tal a atenção de todos os bons portugueses. Os partidos, consubstanciadas na famigerada Liga de Paris, e a Maçonaria, sua progenitora e fiel aliada, mudaram de táctica.
Vendo a impossibilidade de derrubarem a Ditadura pelas armas (7 de Fevereiro e 19 de Junho), ou pela difamação (campanhas dos papelinhos clandestinos e de Bernardino Machado e António Sérgio nas imprensas argentina, francesa, suíça e alemã), ou ainda pelo recurso à intervenção estrangeira (ida às Legações e carta de António Sérgio ao Presidente do Conselho da Sociedade das Nações) tentarão agora vencê-la na sombra pela infiltração nas esferas oficiais."
Viera a Revolução Militar do "28 de Maio", o "14 de Junho" (o general Gomes da Costa apresenta um projecto constitucional prevendo a representação da República por delegação directa dos municípios), o "9 de Julho" (Gomes da Costa é preso e deportado para os Açores), o 7 de Fevereiro, o 19 de Junho, etc., culminando na eleição do general Óscar Carmona como presidente da República, em 25 de Março de 1928, para se dar início ao que se designou por Ditadura Nacional - antecâmara de um novo regime a instituir tendo por base a "legitimidade nacional" do presidente da República.
Nesse Abril de 1929, os jovens integralistas mostravam-se atentos ao "órgão profano da Maçonaria" - o Actualidades -, e não lhes tinha passado despercebida a "reviravolta de O Século", interrogando: "Mas a reviravolta de O Século? Como a explicarão o judeu Amzalak e muito em especial o Sr. Carlos de Oliveira?". Havia sinais de mudança, a que se juntava ainda o reacender da "questão clerical" com "uma veemência inusitada e um desprezo criminoso pelos verdadeiros e superiores interesses do país."
À Seara Nova não passou despercebida a nova revista dos "jovens integralistas de Lisboa". No seu número 159, de 2 de Maio, dedicam-lhes a sua primeira página, começando por reagir ao texto de Leão Ramos Ascensão acerca da "Traição de Gomes Freire", terminando por os interpelar a pretexto dos recentes "Acordos de Latrão" entre o Vaticano e a Itália de Mussolini.
Durante o ano de 1929, a denúncia da Maçonaria como anti-portuguesa e anti-católica esteve bem presente nas páginas da revista Política. Além do texto de Ramos Ascensão, Ruy d' Almargem publicou um extenso artigo intitulado "A Anti-Nação"(Política, números 2, 4, 6, 8, de 1929). O aniversário da encíclica HUMANUM GENUS não foi esquecido: "No passado dia 20 de Abril passou o 45º aniversário da publicação do "Humanum Genus", notabilíssima encíclica do saudoso e imortal pontífice Leão XIII, sobre a franco-maçonaria. Se todos os católico lhe tivessem seguido os luminosos ensinamentos, quantos males e provações se teriam evitado! Escrita para ontem e escrita para hoje, quanto mais o tempo sobre ela passa, mais se confirma e realça o fulgor das verdades que encerra."
Para os jovens integralistas da revista Política, os Acordos de Latrão representavam uma clara derrota da Maçonaria:
"Os engulhos que a solução da Questão Romana causou aos nossos livres-pensadeiros ainda persistem.
E compreende-se.
Com a queda do poder temporal dos Papas em 1870, a Maçonaria julgou ter aniquilado a Igreja para sempre. Cinquenta e nove anos depois, apesar do predomínio maçónico, das leis laicas, da perseguição à Igreja, o renascimento católico é visível, o prestigio internacional do Papado é maior do que nunca e a força espiritual por ele representada é reconhecida pela própria Itália.
Era de mais! Por isso se amesquinha o acordo de Latrão que nos dois aspectos de tratado internacional e de concordata representa para a Igreja um grande triunfo, sem que a Itália de Mussolini possa considerar-se derrotada.
A restauração do Estado Pontifício, numa área pequena ou grande, pois o que mais interessa é o aspecto jurídico da questão, que a Lei das Garantias tinha postergado, era a reivindicação permanente dos Pontifíces Romanos. Alcançou-se essa reivindicação. O Papa, na cidade do Vaticano, é soberano, possuindo todos os elementos da soberania: poder organizado, território e população.
Há, finalmente, a Concordata que concede à Igreja direitos de que ela não goza em qualquer outro país.
Mas Mussolini, que não é católico e sacrifica ainda ao espírito cesarista romano, falou e, apesar da sua inteligência usou duma linguagem bastante desagradável para os católicos, embora reconhecendo o enorme valor social do Cristianismo. O preconceito estatista levado ao exagero não lhe permite vêr sempre as coisas com clareza.
Reconhecendo, porém, que se tinha excedido, Mussolini, num novo discurso, rectificou algumas afirmações do primeiro discurso.
(...)
... os factos ineludíveis são estes: está constituído o Estado do Vaticano, cuja área pouco importa para quem, com a soberania territorial, apenas quer ter assegurada a independência espiritual; com a Concordata, apesar do agnosticismo de Mussolini, a religião católica foi reconhecida como religião oficial do reino de Itália, o casamento católico dispensa o casamento civil, a instrução religiosa volta às escolas, e a acção católica é rodeada de todas as facilidades.
Estes é que são os factos.
E há mais ainda: o velho Estado democrático e maçónico cai em ruínas e Cristo reina de novo nas almas. Isto na pátria de Cavour e Garibaldi!
Onde o espírito maçónico não reina, com as suas intrigas e discórdias, facilmente e com lealdade se resolvem os problemas." (Política, nº 4, p. 17)
Nos números seguintes da revista, José Pequito Rebelo, sob o título "Fascismo e Catolicismo" (Política, nº 5 e nº 6, Julho e Agosto de 1929), dá um panorama das suas aspirações usando invariavelmente o pretérito nos tempos verbais, adivinhando-se o subjuntivo na terminante questão: "Como respondeu o discurso de Mussolini, discurso interpretativo da Conciliação, em que se marcam as directivas da política religiosa do fascismo, a estas generosas aspirações de um nacionalismo que creio poder qualificar de nacionalismo cristão?"
O integralista Pequito Rebelo mostrou-se ainda esperançoso, mas não ingénuo face aos ziguezagues de Mussolini ou às ironias dos Seareiros. Em 1931, os factos vieram responder às interrogações e dúvidas de 1929. Perante a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o Papa Pio XI, através da encíclica Non abbiamo bisogno (Nós Não Precisamos, 29 de Junho de 1931) condenou o Fascismo.
A condenação do Fascismo pelos integralistas, em especial a de Francisco Rolão Preto, foi tão explicita quanto a do Papa - o Papa referira-se à "estatolatria pagã" do fascismo; Rolão Preto referiu-se ao "totalitarismo divinizador do Estado".
A revista Política vai dedicar os seus últimos números a uma interrogação política fundamental: para onde caminhava a Ditadura Nacional - qual o regime político a instituir em Portugal?
"Em Portugal há actualmente duas fórmulas que jogam entre si a cartada decisiva. O Bom-Senso e a Vontade Heróica. Dentro da primeira arregimenta-se a cobardia cívica que leva aos bons empregos, à vida regalada, o não te rales que justifica todos os abandonos e dá razão a todas as traficâncias políticas, sociais e económicas... O Bom-Senso está gordo, veste bem, tem os seus capitais no Banco de Inglaterra, frequenta a loja maçónica do seu Bairro e vai ao Domingo à missa, solene, bem disposto e tranquilo. Detestou o 18 de Abril e o 28 de Maio porque detesta revoluções. Serve-lhe agora a Ditadura até que venha o Reviralho.
(...)
A Nação vive porém pela sua alma heroica e sagrada. Em todas as grandes crises da sua história permaneceu felizmente sobre a miséria de uns, a subserviência e a traição doutros, a vontade firme e inabalável daqueles que acima de sua comodidade, dos seus interesses, e das suas vaidades sabem colocar corajosamente o seu coração forte de portugueses.
Podemos crêr! a nação "pode crêr nos seus destinos sagrados. A vontade heróica dos portugueses vencerá mais uma vez."
(Rolão Preto, "Palavras Claras - Integralismo e Integralismos", Política, nº 20, 31 de Março de 1931)
Acreditar. Os integralistas eram portugueses que acreditavam, acreditavam sempre, na "alma heróica e sagrada" da Nação Portuguesa. Seria ainda possível restaurar Portugal.
Seara Nova
- 1923-1940 - O Integralismo Lusitano incomodou Aquilino Ribeiro
- 1923-12 - António Sérgio: "integralistas e seareiros são anti-conservadores"
- 1923 - António Sardinha, Almas Republicanas
- 1923 - As 400.000 Libras Esterlinas
- 1929 - Ruy d' Almargem - NON PREVALEBUNT... O Acordo de Latrão e o Imperialismo fascista
- 2015 - José Manuel Quintas - 1923: "Homens Livres - Livres da Finança & dos Partidos"