O Integralismo Lusitano (1913-1933) e o Movimento Nacional Sindicalista (1932-1936) de Rolão Preto (1893-1977), bem como a Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado (1895-1975), situaram-se nos antípodas filosóficos, doutrinários e políticos do Fascismo.
Uma literatura capciosa, tributária do conservadorismo da partidocracia, tem no entanto procurado identificar ou emparelhar os integralismos lusófonos com o fascismo, escondendo, iludindo ou mesmo falsificando, os seus distintos ideários e universos filosóficos e doutrinários.
Em Portugal e no Brasil, é hoje espessa a teia de mentiras urdidas a respeito dos integralismos lusófonos. Este é um terreno em que não há apenas diferentes interpretações. Há quem omita o conteúdo de documentos e livros fundamentais, e há quem manipule as fontes primárias em defesa da tese que pretende defender. São abundantes as citações truncadas, mas há também mentiras e a publicação adulterada de fontes primárias. Aos jovens historiadores cumpre verificar sempre a autenticidade e integridade das citações recolhidas em fontes secundárias. É preciso mergulhar em profundidade, com os olhos bem abertos, nas correspondências originais, na diversa imprensa da época, nos livros publicados pelos principais intervenientes.
Na sequência da referida literatura capciosa, talvez em parte vítima dela, há quem considere que os integralismos teriam elementos fascizantes na sua génese e no seu desenvolvimento ou ainda que, no fascismo, a substância era o método, e vice-versa, apresentando-as como organizações de "tipo fascista". Na melhor das hipóteses, esses jogos de palavras revelam que se não tem a mais ténue noção do conceito de Estado totalitário definido por Mussolini.
Os métodos milicianos de propaganda e acção, não foram um exclusivo das organizações fascistas, tendo sido também usados por comunistas e mesmo por anarquistas, como os da Federação Anarquista Ibérica (FAI) espanhola. Em regra, aqueles métodos foram empregues por forças políticas que lutavam contra os governos conservadores das oligarquias partidárias, como foi o caso dos Integralismos lusófonos, mas foram-no também por forças políticas "centristas", como os republicanos alemães ou o Social Credit Party britânico.
Ao colocar ênfase nos métodos de propaganda e nas coreografias milicianas em voga nos anos 30, como se estas fossem definidoras ou exclusivas dos fascismos, ofuscam-se as doutrinas e propósitos anti oligárquicos e anti plutocráticos dos Integralismos lusófonos, bem como as reações que protagonizaram contra os Ditadores que, nas suas pátrias, exerceram o poder através de métodos repressivos semelhantes aos dos fascistas. Em regimes que se designavam por "Estado Novo", tanto o ditador português, Oliveira Salazar, como o ditador brasileiro, Getúlio Vargas, ordenaram a prisão e forçaram ao exílio os líderes antitotalitários dos respetivos países - Rolão Preto e Plínio Salgado.
Com a intenção de facilitar aos jovens estudiosos uma rigorosa identificação e demarcação dos ideários dos Integralismos lusófonos e do Fascismo, aqui se reproduz uma tradução (possível; com negritos acrescentados) de um texto de referência, escrito com a colaboração de Benito Mussolini, publicado em 1932 na Enciclopédia Italiana. Aí surgiu resumida a história do Fascismo até àquela data, bem como uma clara definição da sua doutrina totalitária, que importa reter para contrastar com a doutrina dos Integralismos lusófonos - descentralizadora, antitotalitária, personalista e comunitária.
Cumpre à juventude de Portugal e do Brasil, partindo das fontes primárias, voltar ao estudo dos integralismos lusófonos para dar a conhecer a verdadeira história dos seus conflitos políticos com os ditadores estadonovistas dos anos 30. Sem o estudo da natureza desses conflitos, não será possível compreender a História de Portugal e do Brasil no século XX.
[23 de Abril de 2024 - J.M.Q.]
Refs:
Uma literatura capciosa, tributária do conservadorismo da partidocracia, tem no entanto procurado identificar ou emparelhar os integralismos lusófonos com o fascismo, escondendo, iludindo ou mesmo falsificando, os seus distintos ideários e universos filosóficos e doutrinários.
Em Portugal e no Brasil, é hoje espessa a teia de mentiras urdidas a respeito dos integralismos lusófonos. Este é um terreno em que não há apenas diferentes interpretações. Há quem omita o conteúdo de documentos e livros fundamentais, e há quem manipule as fontes primárias em defesa da tese que pretende defender. São abundantes as citações truncadas, mas há também mentiras e a publicação adulterada de fontes primárias. Aos jovens historiadores cumpre verificar sempre a autenticidade e integridade das citações recolhidas em fontes secundárias. É preciso mergulhar em profundidade, com os olhos bem abertos, nas correspondências originais, na diversa imprensa da época, nos livros publicados pelos principais intervenientes.
Na sequência da referida literatura capciosa, talvez em parte vítima dela, há quem considere que os integralismos teriam elementos fascizantes na sua génese e no seu desenvolvimento ou ainda que, no fascismo, a substância era o método, e vice-versa, apresentando-as como organizações de "tipo fascista". Na melhor das hipóteses, esses jogos de palavras revelam que se não tem a mais ténue noção do conceito de Estado totalitário definido por Mussolini.
Os métodos milicianos de propaganda e acção, não foram um exclusivo das organizações fascistas, tendo sido também usados por comunistas e mesmo por anarquistas, como os da Federação Anarquista Ibérica (FAI) espanhola. Em regra, aqueles métodos foram empregues por forças políticas que lutavam contra os governos conservadores das oligarquias partidárias, como foi o caso dos Integralismos lusófonos, mas foram-no também por forças políticas "centristas", como os republicanos alemães ou o Social Credit Party britânico.
Ao colocar ênfase nos métodos de propaganda e nas coreografias milicianas em voga nos anos 30, como se estas fossem definidoras ou exclusivas dos fascismos, ofuscam-se as doutrinas e propósitos anti oligárquicos e anti plutocráticos dos Integralismos lusófonos, bem como as reações que protagonizaram contra os Ditadores que, nas suas pátrias, exerceram o poder através de métodos repressivos semelhantes aos dos fascistas. Em regimes que se designavam por "Estado Novo", tanto o ditador português, Oliveira Salazar, como o ditador brasileiro, Getúlio Vargas, ordenaram a prisão e forçaram ao exílio os líderes antitotalitários dos respetivos países - Rolão Preto e Plínio Salgado.
Com a intenção de facilitar aos jovens estudiosos uma rigorosa identificação e demarcação dos ideários dos Integralismos lusófonos e do Fascismo, aqui se reproduz uma tradução (possível; com negritos acrescentados) de um texto de referência, escrito com a colaboração de Benito Mussolini, publicado em 1932 na Enciclopédia Italiana. Aí surgiu resumida a história do Fascismo até àquela data, bem como uma clara definição da sua doutrina totalitária, que importa reter para contrastar com a doutrina dos Integralismos lusófonos - descentralizadora, antitotalitária, personalista e comunitária.
Cumpre à juventude de Portugal e do Brasil, partindo das fontes primárias, voltar ao estudo dos integralismos lusófonos para dar a conhecer a verdadeira história dos seus conflitos políticos com os ditadores estadonovistas dos anos 30. Sem o estudo da natureza desses conflitos, não será possível compreender a História de Portugal e do Brasil no século XX.
[23 de Abril de 2024 - J.M.Q.]
Refs:
- 1933 - Francisco Rolão Preto - Salazar e a sua época
- 1933-06-13 - Orgânica do Movimento Nacional-Sindicalista
- 1933 - Rolão Preto face ao Fascismo e ao Hitlerismo
- 1933 - Os Banquetes do Nacional-Sindicalismo em Lisboa e no Porto
- 1933-07-25 - Princípios do Nacional-Sindicalismo
- 1934-06-20 - Francisco Rolão Preto - Representação ao Presidente da República em Junho de 1934
- 1934-07-14 - Carta de Rolão Preto e Alberto Monsaraz
- 1934-07-29 - Salazar e a proibição do Nacional-Sindicalismo
- 1934-11 - O Nacional-Sindicalismo em período eleitoral desafia o Governo a fazer eleições livres
- 1934-12-24 - O Nacional-Sindicalismo após a Farsa Eleitoral
- 1935-03-03 - Palavras do Dr. Rolão Preto pronunciadas no banquete dos intelectuais nacionalistas
FASCISMO - Enciclopédia Italiana (1932), Benito Mussolini e Gioacchino Volpe (destaques, negritos acrescentados):
...para o fascista, tudo está no estado, e nada humano ou espiritual existe, muito menos tem valor, fora do estado. Nesse sentido, o fascismo é totalitário, e o estado fascista, síntese e unidade de todo valor, interpreta, desenvolve e fortalece toda a vida do povo.
Não há volta a dar. A doutrina fascista não elegeu seu profeta De Maistre. (...) Um partido que governa totalitariamente uma nação, é um facto novo na história. Não são possíveis referências e comparações. O fascismo dos escombros das doutrinas liberais, socialistas e democráticas, extrai aqueles elementos que ainda têm valor de vida.
A Pedra Angular da Doutrina fascista é a concepção do Estado, da sua essência, das suas tarefas, das suas finalidades. Para o fascismo, o Estado é um absoluto (...) Indivíduos e grupos são «pensáveis», pois estão no Estado.
Uma definição de Fascismo: "democracia organizada, centralizada e autoritária"..
- Benito Mussolini
Não há volta a dar. A doutrina fascista não elegeu seu profeta De Maistre. (...) Um partido que governa totalitariamente uma nação, é um facto novo na história. Não são possíveis referências e comparações. O fascismo dos escombros das doutrinas liberais, socialistas e democráticas, extrai aqueles elementos que ainda têm valor de vida.
A Pedra Angular da Doutrina fascista é a concepção do Estado, da sua essência, das suas tarefas, das suas finalidades. Para o fascismo, o Estado é um absoluto (...) Indivíduos e grupos são «pensáveis», pois estão no Estado.
Uma definição de Fascismo: "democracia organizada, centralizada e autoritária"..
- Benito Mussolini
FASCISMO
Enciclopédia Italiana (1932)
Arturo MARPICATI
Benito Mussolini. Gioacchino Volpe. Movimento político italiano criado por Benito Mussolini (v.).
Doutrina.
Ideias fundamentais. - Como qualquer sólida concepção política, o fascismo é prática e é pensamento, ação à qual uma doutrina é imanente e doutrina que, surgindo de um determinado sistema de forças históricas, permanece inserida e opera nela a partir de dentro. Tem, portanto, uma forma correlacionável às contingências de lugar e tempo, mas tem também um conteúdo ideal que a eleva a fórmula da verdade na história superior do pensamento. Não se age espiritualmente no mundo como uma vontade humana dominadora da vontade sem um conceito da realidade transeunte e particular sobre a qual devemos agir, e da realidade permanente e universal em que a primeira tem o seu ser e a sua vida. Para conhecer os homens é preciso conhecer o homem; e para conhecer o homem é preciso conhecer a realidade e as suas leis. Não há conceito de estado que não seja fundamentalmente um conceito de vida: filosofia ou intuição, sistema de ideias que se desdobra numa construção lógica ou se reúne numa visão ou fé, mas é sempre, pelo menos virtualmente, uma concepção orgânica do mundo.
Assim, o fascismo não seria entendido em muitas de suas atitudes práticas, como organização partidária, como sistema de educação, como disciplina, se não fosse visto à luz de sua maneira geral de conceber a vida. Modo espiritualista. O mundo para o fascismo não é este mundo material que aparece à superfície, no qual o homem é um indivíduo separado de todos os outros e por si só, e é governado por uma lei natural, que o arrasta instintivamente para viver uma vida de prazer egoísta e momentâneo. O homem do fascismo é um indivíduo que é nação e pátria, lei moral que reúne indivíduos e gerações numa tradição e numa missão, que suprime o instinto da vida fechada no curto círculo de prazer para estabelecer no dever uma vida superior livre de limites de tempo e espaço: uma vida em que o indivíduo, através da abnegação de si, do sacrifício de seus interesses particulares e da própria morte, realiza aquela existência toda espiritual em que é seu valor como homem.
Portanto, uma concepção espiritualista, também que surgiu da reação geral do século contra o fraco positivismo materialista do século XIX. Antipositivista, mas positiva: não cética, nem agnóstica, nem pessimista, nem passivamente otimista, como são geralmente as doutrinas (todas negativas) que colocam o centro da vida fora do homem, que com a sua livre vontade pode e deve criar o seu mundo. O fascismo quer o homem activo e empenhado na acção com todas as suas energias: quer o homem virilmente consciente das dificuldades que existem, e pronto para as enfrentar. Concebe a vida como uma luta, pensando que cabe ao homem conquistar o que é verdadeiramente digno dele, criando antes de mais nada em si mesmo o instrumento (físico, moral, intelectual) para a edificar. O que concebe para o indivíduo, concebe para a nação e para a humanidade. Daí o elevado valor da cultura em todas as suas formas (arte, religião, ciência), e a grande importância da educação. Daí também o valor essencial do trabalho, com o qual o homem vence a natureza e cria o mundo humano (económico, político, moral, intelectual).
Esta concepção positiva da vida é evidentemente uma concepção ética. E investe toda a realidade, bem como a actividade humana que a domina. Nenhuma ação subtraída ao julgamento moral; nada no mundo que possa ser despojado do valor que pertence a tudo para fins morais. A vida, portanto, como o fascista a concebe, é séria, austera, religiosa: toda pairada em um mundo sustentado pelas forças morais e responsáveis pelo espírito. O fascista despreza a vida «confortável».
O fascismo é uma concepção religiosa, na qual o homem é visto na sua relação imanente com uma lei superior, com uma Vontade objetiva que transcende o indivíduo particular e o eleva a um membro consciente de uma sociedade espiritual. Quem na política religiosa do regime fascista parou em considerações de mera oportunidade, não entende que o fascismo, além de ser um sistema de governo, é também, e antes de tudo, um sistema de pensamento.
O fascismo é uma concepção histórica, na qual o homem não é aquele que é, exceto em função do processo espiritual ao qual contribui, no grupo familiar e social, na nação e na história, em que todas as nações colaboram. Daí o grande valor da tradição nas memórias, na língua, nos costumes, nas normas da vida social. Fora da história, o homem não é nada. Portanto, o fascismo é contra todas as abstrações individualistas, de base materialista, do tipo século XVIII; e é contra todas as utopias e inovações jacobinas. Não acredita possível a «felicidade» na terra, como era desejado na literatura económica do século XVIII, e, portanto, rejeita todas as concepções teleológicas de que em algum momento da história haveria um arranjo definitivo da humanidade. Isso significaria sair da história e da vida que é um continuo fluir e tornar-se. O fascismo politicamente quer ser uma doutrina realista; praticamente, aspira a resolver apenas os problemas que historicamente se colocam por si mesmos e que por si mesmos encontram ou sugerem a sua própria solução. Para agir entre os homens, como na natureza, é preciso entrar no processo da realidade e tomar conta das forças atuantes.
Anti-individualista, a concepção fascista é para o estado; e é para o indivíduo na medida em que coincide com o estado, consciência e vontade universal do homem na sua existência histórica. É contra o liberalismo clássico, que surgiu da necessidade de reagir ao absolutismo e esgotou sua função histórica desde que o Estado se transformou na mesma consciência e vontade popular. O liberalismo negou o estado no interesse do indivíduo em particular; o fascismo reafirma o Estado como a verdadeira realidade do indivíduo. E se a liberdade deve ser o atributo do homem real, e não daquele fantoche abstrato que o liberalismo individualista pensava, o fascismo é pela liberdade. E pela liberdade que pode ser um assunto sério, a liberdade do Estado e do indivíduo no Estado. Já que para o fascista, tudo está no estado, e nada humano ou espiritual existe, muito menos tem valor, fora do estado. Nesse sentido, o fascismo é totalitário, e o estado fascista, síntese e unidade de todo valor, interpreta, desenvolve e fortalece toda a vida do povo.
Nem indivíduos fora do Estado, nem grupos (partidos políticos, associações, sindicatos, classes). Portanto, o fascismo é contra o socialismo que endurece o movimento histórico na luta de classes e ignora a unidade estatal que funde as classes numa única realidade económica e moral; e, da mesma forma, é contra o sindicalismo classista. Mas na órbita do estado ordenador, as reais necessidades que estão na origem do movimento socialista e do sindicalista, o fascismo as quer reconhecidas e as faz valer no sistema corporativo dos interesses conciliados na unidade do Estado.
Os indivíduos são classes de acordo com as categorias dos seus interesses; eles são sindicalizados de acordo com as diferentes atividades económicas co-interessadas, mas são antes de tudo e acima de tudo estado. Que não é um número, como a soma dos indivíduos que formam a maioria de um povo. E, portanto, o fascismo é contra a democracia que leva o povo ao maior número, baixando-o ao nível da maioria; mas é a forma mais franca de democracia se o povo é concebido, como deve ser, qualitativa e não quantitativamente, como a ideia mais poderosa porque mais moral, mais coerente, mais verdadeira, que no povo se implementa como consciência e vontade de poucos, ou melhor, de Um, cujo ideal tende a se realizar na consciência e vontade de todos. De todos aqueles que da natureza e da história, etnicamente, dão a razão de formar uma nação, iniciados na mesma linha de desenvolvimento e formação espiritual, como uma só consciência e uma só vontade. Não é uma raça, nem uma região geograficamente individualizada, mas uma linhagem perpetuando-se na história, uma multidão unificada por uma ideia, que é vontade de existência e de poder: consciência de si, personalidade.
Esta personalidade superior é uma nação enquanto é estado. Não é a nação que gera o estado, de acordo com o conceito naturalista que serviu de base aos publicistas dos estados-nação no século XIX. Pelo contrário, a nação é criada pelo Estado, que dá ao povo, consciente da sua unidade moral, uma vontade e, portanto, uma existência real. O direito de uma nação à independência deriva não de uma consciência literária e ideal do seu próprio ser, muito menos de uma situação de facto mais ou menos inconsciente e inerte, mas de uma consciência activa, de uma vontade política em vigor e disposta a demonstrar o seu direito: ou seja, de uma espécie de estado já em vigor. De facto, o Estado, como vontade ética universal, é o criador do direito.
A nação como estado é uma realidade ética que existe e vive à medida que se desenvolve. A sua prisão é a sua morte. Portanto, o estado não é apenas a autoridade que governa e dá forma de lei e valor de vida espiritual às vontades individuais, mas também é um poder que faz valer sua vontade para o exterior, fazendo com que ela seja reconhecida e respeitada, ou seja, demonstrando sua universalidade em todas as determinações necessárias de seu desenvolvimento. É, portanto, organização e expansão, pelo menos virtual. Assim, pode adaptar-se à natureza da vontade humana, que no seu desenvolvimento não conhece barreiras, e que se realiza experimentando a sua própria infinitude.
O estado fascista, a forma mais alta e poderosa de personalidade, é força, mas espiritual. Que resume todas as formas da vida moral e intelectual do homem. Não pode, portanto, limitar-se a simples funções de ordem e tutela, como o liberalismo queria. Não é um simples mecanismo que limite a esfera das supostas liberdades individuais. É a forma e norma interior, e a disciplina de toda a pessoa; penetra a vontade como a inteligência. Seu princípio, inspiração central da personalidade humana viva na comunidade civil, desce profundamente e se esconde no coração do homem de ação como do pensador, do artista e do cientista: alma da alma.
Em suma, o fascismo não é apenas um empregador e um fundador de instituições, mas um educador e promotor de vida espiritual. Ele quer refazer não as formas da vida humana, mas o conteúdo, o homem, o caráter, a fé. E para isso ele quer disciplina, e autoridade que desça para dentro dos espíritos, e que você domine sem dúvida. Sua insígnia, portanto, é o feixe litório, símbolo de unidade, força e justiça.
Doutrina política e social. - Quando, em Março de 1919, convoquei em Milão, das colunas do Popolo d'Italia, os sobreviventes intervencionistas, que me seguiram desde a constituição dos Fasci d'azione revoluzionaria - ocorrida em Janeiro de 1915 -, não havia nenhum plano doutrinário específico em meu espírito. De uma única doutrina tive experiência: a do socialismo de 1903-04 até ao Inverno de 1914: cerca de uma década. Experiência de gregário e de chefe, mas não experiência doutrinária. A minha doutrina, mesmo nessa altura, tinha sido a doutrina da acção. Uma doutrina inequívoca e universalmente aceite do socialismo não existia desde 1905, quando o movimento revisionista liderado por Bernstein começou na Alemanha e, por outro lado, contra si se formou um movimento revolucionário de esquerda no equilíbrio das tendências que, na Itália, nunca saiu do campo das palavras, enquanto no socialismo russo foi o prelúdio do bolchevismo. Reformismo, revolucionarismo, centrismo, desta terminologia até os sons estão extintos, enquanto no grande rio do fascismo você encontrará as linhas de água que partiram de Sorel, de Peguy, de Largardelle do Mouvement Socialiste e da coorte dos sindicalistas italianos que, entre 1904 e 1914, trouxeram uma nota de novidade ao ambiente socialista italiano - já desvirilizado e cloroformizado pela fornicação giolittiana - com a Pagine libere de Olivetti, La Lupa de Orano, o Divenire social de Enrico Leone.
Em 1919, terminada a guerra, o socialismo estava já morto como doutrina; existia apenas como rancor, tinha ainda uma única possibilidade, especialmente na Itália, de represália contra aqueles que queriam a guerra e que deveriam «espiá-la». O Il Popolo d'Italia tinha o subtítulo: «diário dos combatentes e produtores». A palavra «produtores» já era a expressão de um endereço mental. O fascismo não foi mantido à mercê de uma doutrina previamente elaborada, à mesa: nasceu de uma necessidade de ação e foi ação; não foi um partido, mas, nos dois primeiros anos, foi antipartido e movimento. O nome que dei à organização fixou os seus caracteres. No entanto, aqueles que relêm, nas folhas agora repugnadas da época, o relato da reunida constitutiva dos Fasci italiani di combattimento, não encontrarão uma doutrina, mas uma série de ideias, de antecipações, de insinuações, que, libertadas da inevitável ganga das contingências, deveriam então, após alguns anos, desenvolver-se numa série de posições doutrinárias, que faziam do fascismo uma doutrina política por direito próprio em confronto com todas as outras passadas e contemporâneas. "Se a burguesia, eu disse então, acredita que encontra pára-raios em nós, engana-se. Temos que ir ao encontro do trabalho ... Queremos acostumar as classes trabalhadoras à capacidade diretiva, também para convencê-las de que não é fácil impulsionar uma indústria ou um comércio ... Vamos lutar contra o retroguardismo técnico e espiritual ... Aberto à sucessão do regime, não devemos ser cobardes. Temos de correr; se o regime for ultrapassado, seremos nós que teremos de ocupar o seu lugar. O direito de sucessão vem até nós porque empurramos o país para a guerra e o levamos para a vitória! A atual representação política não pode ser suficiente para nós, queremos uma representação direta dos interesses individuais ... Poder-se-ia dizer contra este programa que se regressa às corporações. Não importa!... Portanto, gostaria que a assembleia aceitasse as reivindicações do sindicalismo nacional do ponto de vista econômico ... "
Não é estranho que desde o primeiro dia da Piazza San Sepulcro ressoe a palavra «corporação» que deveria, durante a Revolução, significar uma das criações legislativas e sociais subjacentes ao regime.
Os anos que antecederam a marcha sobre Roma foram anos durante os quais as necessidades de ação não toleraram investigações ou elaboração doutrinária completa. Lutava-se nas cidades e aldeias. Discutia-se, mas - o que é mais sagrado e importante - morreu-se. Sabia-se como morrer. A doutrina - bela e formada, com divisão de capítulos e parágrafos e contorno de elucubrações - poderia estar faltando; mas havia algo mais decisivo para substituí-la: a fé. No entanto, quem se lembra com base em livros, artigos, votos de congressos, discursos maiores e menores, quem sabe investigar e escolher, descobrirá que os fundamentos da doutrina foram jogados enquanto a batalha se enfurecia. É precisamente nesses anos que até o pensamento fascista se arma, refina, avança em direção à sua própria organização. Os problemas do indivíduo e do Estado; os problemas da autoridade e da liberdade; os problemas políticos e sociais e os mais especificamente nacionais; a luta contra as doutrinas liberais, democráticas, socialistas, maçónicas e populares foram conduzidas simultaneamente com os «envios punitivos». Mas como faltava o «sistema», os adversários de má fé ao fascismo negam qualquer capacidade de doutrina, enquanto a doutrina surgiu, mesmo que tumultuosamente, primeiro sob o aspecto de uma negação violenta e dogmática, como acontece com todas as ideias que se originam, depois sob o aspecto positivo de uma construção, que encontrou, posteriormente nos anos 1926, 27, 28, sua realização nas leis e institutos do regime.
O fascismo é hoje claramente identificado não só como um regime, mas como uma doutrina. Esta palavra deve ser interpretada no sentido de que hoje o fascismo, exercendo a sua crítica sobre si próprio e sobre os outros, tem o seu próprio ponto de vista inconfundível, de referência - e portanto de direcção - perante todos os problemas que angustiam, nas coisas ou nas inteligências, os povos do mundo.
Em primeiro lugar, o fascismo, no que diz respeito, em geral, ao futuro e ao desenvolvimento da humanidade, e além de qualquer consideração da política atual, não acredita na possibilidade ou utilidade da paz perpétua. Rejeita, portanto, o pacifismo que esconde uma renúncia à luta e uma covardia - diante do sacrifício. Só a guerra traz todas as energias humanas ao máximo de tensão e imprime um selo de nobreza aos povos que têm a virtude de enfrentá-la. Todas as outras provas são substitutos, que nunca colocam o homem diante de si mesmo, na alternativa da vida e da morte. Uma doutrina, portanto, que parte do postulado prejudicial da paz, é estranha ao fascismo; assim como alheia ao espírito do fascismo, mesmo que aceite pela utilidade que podem ter em determinadas situações políticas, são todas as construções internacionalistas e societárias, que, como mostra a história, podem ser dispersas ao vento quando elementos sentimentais, ideais e práticos movem o coração dos povos. Este espírito anti-pacifista, o fascismo também o transporta para a vida dos indivíduos. O orgulhoso lema do esquadrão «eu não me importo», escrito nas ataduras de uma ferida, é um ato de filosofia não apenas estóica, é o resumo de uma doutrina não apenas política: é a educação para o combate, a aceitação dos riscos que ela acarreta; é um novo estilo de vida italiano. Assim, o fascista aceita, ama a vida, ignora e considera vil o suicídio; compreende a vida como dever, elevação, conquista: a vida que deve ser alta e plena; vivida para si mesma, mas sobretudo para os outros, próximos e distantes, presentes e futuros.
A política «demográfica» do regime é consequência destas premissas. Na verdade, o fascista também ama o próximo, mas este «próximo» não é para ele um conceito vago e indescritível: o amor ao próximo não impede as severidades educacionais necessárias, e muito menos as diferenciações e distâncias. O fascismo rejeita os abraços universais e, embora viva na comunidade dos povos civilizados, olha-os vigilantes e desconfiado nos olhos, segue-os nos seus estados de espírito e na transformação dos seus interesses, não se deixa enganar por aparências mutáveis e falaciosas.
Tal concepção de vida leva o fascismo a ser a negação precisa daquela doutrina que constituiu a base do chamado socialismo científico ou marxiano: a doutrina do materialismo histórico, segundo a qual a história das civilizações humanas só se explicaria pela luta de interesses entre os diferentes grupos sociais e pela mudança dos meios e instrumentos de produção. Que os acontecimentos da economia - descobertas de matérias-primas, novos métodos de trabalho, invenções científicas - tenham sua importância, ninguém nega; mas que sejam suficientes para explicar a história humana excluindo todos os outros fatores é absurdo: o fascismo ainda e sempre acredita na santidade e no heroísmo, ou seja, em atos em que nenhum motivo económico - distante ou próximo - atua. Negado o materialismo histórico, pelo qual os homens não seriam mais do que extras da história, que aparecem e desaparecem na superfície das flutuações, enquanto no fundo se agitam e trabalham as verdadeiras forças diretivas, também é negada a luta de classes, imutável e irreparável, que desta concepção económica da história é a procriação natural, e acima de tudo é negado que a luta de classes seja o agente preponderante das transformações sociais. Quando o socialismo é atingido nestas duas pedras angulares da sua doutrina, só resta dele a aspiração sentimental - tão antiga como a humanidade - a uma convivência social na qual os sofrimentos e as dores das pessoas mais humildes são aliviados. Mas aqui o fascismo rejeita o conceito de «felicidade» económica, que se realizaria socialista e quase automaticamente em um determinado momento da evolução da economia, com a garantia de todo mundo o máximo de bem-estar. O fascismo nega o conceito materialista de «felicidade» como possível e o abandona aos economistas da primeira metade do século XVIII; ou seja, nega a equação bem-felicidade, que converteria os homens em animais de uma única coisa pensativa: a de serem pastoreados e engordados, reduzidos, portanto, à vida vegetativa pura e simples.
Depois do socialismo, o fascismo rompe todo o complexo das ideologias democráticas e as rejeita, tanto em suas premissas teóricas quanto em suas aplicações ou instrumentações práticas. O fascismo nega que o número, pelo simples fato de ser número, possa dirigir as sociedades humanas; nega que esse número possa governar através de uma consulta periódica; afirma a desigualdade irremediável e fecunda e benéfica dos homens que não podem ser nivelados através de um fato mecânico e extrínseco como é o sufrágio universal. Os regimes democráticos podem ser definidos como aqueles em que, de vez em quando, o povo é dado à ilusão de ser soberano, enquanto a verdadeira soberania real está em outras forças, às vezes irresponsáveis e secretas. A democracia é um regime sem reis, mas com muitos reis às vezes mais exclusivos, tirânicos e ruinosos do que um único rei que é tirano. Isso explica por que o fascismo, apesar de ter assumido uma atitude de tendência republicana antes de 1922 - por razões de contingência -, desistiu dela antes da marchar sobre Roma, convencido de que a questão das formas políticas de um estado não é, hoje, preeminente e que estudando na amostra das monarquias passadas e presentes, das repúblicas passadas e presentes, resulta que a monarquia e a república não devem ser julgadas sob a espécie da eternidade, mas representam formas nas quais se expressa a evolução política, a história, a tradição, a psicologia de um determinado país. Agora o fascismo supera a anti-tese monarquia-republica à qual o democratismo se dedicou, cobrando à primeira todas as insuficiências e defendendo a segunda como um regime de perfeição. Já foi visto que existem repúblicas intimamente reacionárias ou absolutas, e monarquias que acolhem as experiências políticas e sociais mais ousadas.
"A razão, a ciência - disse Renan que teve alguma iluminação pré-fascista, numa das suas Meditações filosóficas - são produtos da humanidade, mas querer a razão para o povo e através do povo é uma quimera. Não é necessário para a existência da razão que todo o mundo a conheça. Em qualquer caso, se tal iniciação fosse feita, não seria feita através da baixa democracia, o que parece levar à extinção de todas as culturas difíceis e de todas as disciplinas mais elevadas. O princípio de que a sociedade existe apenas para o bem-estar e a liberdade dos indivíduos que a compõem não parece estar de acordo com os planos da natureza, planos nos quais a única espécie é levada em consideração e o indivíduo parece ser sacrificado. É de se temer fortemente que a última palavra da democracia assim entendida (apresso-me a dizer que também pode ser entendida de outra forma) não seja um estado social no qual uma massa degenerada não teria outra preocupação senão desfrutar dos prazeres ignóbeis do homem vulgar.
Aqui termina Renan. O fascismo rejeita na democracia a mentira convencional absurda do igualitarismo político e o hábito da irresponsabilidade coletiva e o mito da felicidade e do progresso indefinido. Mas, se a democracia pode ser entendida de forma diferente, ou seja, se democracia significa não rejeitar o povo à margem do Estado, o fascismo poderia, por quem escreve, ser chamado de «democracia organizada, centralizada e autoritária».
Diante das doutrinas liberais, o fascismo está em atitude de oposição absoluta, e no campo da política e da economia. Não devemos exagerar - para fins simplesmente de polémica atual - a importância do liberalismo no século passado, e fazer do que foi uma das muitas doutrinas florescendo naquele século, uma religião da humanidade para todos os tempos presentes e futuros. O liberalismo só floresceu durante quinze anos. Nasceu em 1830 como uma reação à Santa Aliança que queria repelir a Europa no pre-'89 e teve seu ano de esplendor em 1848, quando Pio IX também era liberal. Logo depois, a decadência começou. Se 48 foi um ano de luz e poesia, 49 foi um ano de escuridão e tragédia. A república de Roma foi assassinada por outra república, a da França. No mesmo ano, Marx lançou o evangelho da religião do socialismo, com o famoso Manifesto dos Comunistas. Em 1851, Napoleão III fez seu golpe de estado iliberal e reinou sobre a França até 1870, quando foi derrubado por um movimento popular, mas após uma derrota militar entre as maiores que contam a história. O vitorioso é Bismarck, que nunca soube onde estava a religião da liberdade e que profetas servia. É sintomático que um povo de alta civilização, como o povo alemão, tenha ignorado na íntegra, durante todo o século XIX, a religião da liberdade. Não há mais do que um parêntesis. Representada pelo que foi chamado de «parlamento ridículo de Frankfurt», que durou uma temporada. A Alemanha alcançou sua unidade nacional fora do liberalismo, contra o liberalismo, doutrina que parece estranha à alma alemã, alma essencialmente monárquica, enquanto o liberalismo é a antecâmara histórica e lógica da anarquia. As etapas da unidade alemã são as três guerras de 64, 66, 70, lideradas por «liberais» como Moltke e Bismarck. Quanto à unidade italiana, o liberalismo teve uma parte absolutamente inferior à contribuição dada por Mazzini e Garibaldi, que não eram liberais. Sem a intervenção do antiliberal Napoleão, não teríamos tido a Lombardia, e sem a ajuda do iliberal Bismarck em Sadowa e Sedan, muito provavelmente não teríamos em 66, Veneza; e em 1870 não teríamos entrado em Roma. De 1870 a 1915, corre o período em que os próprios sacerdotes do novo credo acusam o crepúsculo de sua religião: uma brecha do decadente na literatura, do ativismo na prática. Ativismo: ou seja, nacionalismo, futurismo, fascismo. O século «liberal» depois de acumular uma infinidade de nó górdios , tenta desfazê-los com o massacre da Guerra Mundial. Nunca nenhuma religião impôs um sacrifício tão grande. Os deuses do liberalismo tinham sede de sangue? Agora o liberalismo está prestes a fechar as portas de seus templos desertos porque os povos sentem que seu agnosticismo na economia, sua indiferença na política e na moral levaria, como levou, à ruína segura dos Estados. Explica-se porque é que todas as experiências políticas do mundo contemporâneo são antiliberais e é supremamente ridículo querer classificá-las fora da história; como se a história fosse um campo de caça reservado ao liberalismo e seus professores, como se o liberalismo fosse a palavra definitiva e não mais superável da civilização.
As negações fascistas do socialismo, da democracia, do liberalismo, no entanto, não devem todavia fazer crer que o fascismo queira voltar ao mundo tal como era antes de 1789, que é referido como o ano de abertura do século demo-liberal. Não há volta a dar. A doutrina fascista não elegeu seu profeta De Maistre. O absoluto monárquico foi, assim como toda eclesia. Assim «eram» os privilégios feudais e a divisão em castas impenetráveis e não comunicáveis entre si. O conceito de autoridade fascista não tem nada a ver com o estado policial. Um partido que governa totalitariamente uma nação, é um facto novo na história. Não são possíveis referências e comparações. O fascismo dos escombros das doutrinas liberais, socialistas e democráticas, extrai aqueles elementos que ainda têm valor de vida. Ele mantém o que se poderia dizer os fatos adquiridos da história, rejeita todo o resto, ou seja, o conceito de uma boa doutrina para todos os tempos e para todos os povos. Assumindo que o século XIX foi o século do socialismo, do liberalismo, da democracia, não é certo que mesmo o século XX deve ser o século do socialismo, do liberalismo, da democracia. As doutrinas políticas passam, os povos permanecem. Pode pensar-se que este é o século da autoridade, um século de «direita», um século fascista; se o XIX foi o século do indivíduo (liberalismo significa individualismo), pode-se pensar que este é o século «coletivo» e, portanto, o século do Estado. Que uma nova doutrina possa utilizar os elementos ainda vitais de outras doutrinas é perfeitamente lógico. Nenhuma doutrina nasceu totalmente nova, brilhante, nunca vista. Nenhuma doutrina pode gabar-se de uma «originalidade» absoluta. Está ligado, mesmo que historicamente, às outras doutrinas que foram, às outras doutrinas que serão. Assim, o socialismo científico de Marx está ligado ao socialismo utópico dos Fourier, Owen, Saint-Simon; assim, o liberalismo do século XIX se liga a todo o movimento iluminista do século XVIII. Assim, as doutrinas democráticas estão ligadas à Enciclopédia. Toda doutrina tende a direcionar a atividade dos homens para um determinado objetivo; mas a atividade dos homens reage sobre a doutrina, a transforma, a adequa às novas necessidades ou a supera. A doutrina, portanto, deve ser em si mesma não um exercício de palavras, mas um ato de vida. Nisso as veias pragmáticas do fascismo, a sua vontade de poder, a sua vontade de ser, a sua posição perante o facto da «violência» e o seu valor.
A Pedra Angular da Doutrina fascista é a concepção do Estado, da sua essência, das suas tarefas, das suas finalidades. Para o fascismo, o Estado é um absoluto, perante o qual indivíduos e grupos são o seu esteio. Indivíduos e grupos são «pensáveis», pois estão no Estado. O estado liberal não dirige o jogo e o desenvolvimento material e espiritual das coletividades, mas apenas regista os resultados; o estado fascista tem sua própria consciência, sua própria vontade; por isso é chamado de estado «ético». Em 1929, na primeira assembleia quinquenal do regime, disse: "Para o fascismo, o Estado não é o vigia noturno que se preocupa apenas com a segurança pessoal dos cidadãos; também não é uma organização para fins puramente materiais, como garantir um certo bem-estar e uma relativa coexistência social pacífica, caso em que um conselho de administração seria suficiente para realizá-lo; também não é uma criação de política pura, sem aderências à realidade material e complexa da vida dos indivíduos e dos povos. O Estado tal como o fascismo o concebe e implementa é um facto espiritual e moral, uma vez que a organização política, jurídica e económica da nação é concreta e tal organização é, na sua origem e desenvolvimento, uma manifestação do espírito. O Estado é garante da segurança interna e externa, mas também é o guardião e transmissor do espírito do povo como foi elaborado ao longo dos séculos na língua, no costume, na fé. O Estado não é apenas presente, mas também passado e, acima de tudo, futuro. É o Estado que, transcendendo o curto limite das vidas individuais, representa a consciência imanente da nação. As formas em que os estados se expressam mudam, mas a necessidade permanece. É o Estado que educa os cidadãos para a virtude civil, os torna conscientes de sua missão, os insta à unidade; harmoniza os seus interesses na justiça; transmite as conquistas do pensamento nas ciências, nas artes, no direito, na solidariedade humana; leva os homens da vida elementar da tribo à mais alta expressão humana de poder que é o império; confia aos séculos os nomes daqueles que morreram por sua integridade ou para obedecer às suas leis; dá como exemplo e recomenda às gerações que virão os capitães que o aumentaram de território e os genî que o iluminaram de glória. Quando o sentido de Estado declina e as tendências dissociadoras e centrífugas de indivíduos ou grupos prevalecem, as sociedades nacionais voltam ao pôr-do-sol".
De 1929 até hoje, a evolução económica política universal ainda fortaleceu essas posições doutrinários. Quem está gigante é o Estado. Quem pode resolver as dramáticas contradições do capitalismo é o Estado. O que é chamado de crise não pode ser resolvido a não ser pelo Estado, dentro do Estado. Onde estão as sombras dos Jules Simon, que no alvorecer do liberalismo proclamaram que «o Estado deve trabalhar para se tornar inútil e preparar a sua demissão»? Dos MacCulloch, que na segunda metade do século passado afirmaram que o Estado deve abster-se de governar demasiado? E o que diria sobre as intervenções contínuas, solicitadas e inevitáveis do Estado nos acontecimentos económicos, o inglês Bentham, segundo o qual a indústria deveria ter pedido ao Estado apenas que fosse deixado em paz, ou o Humboldt alemão, segundo o qual o estado «ocioso» deveria ser considerado o melhor? É verdade que a segunda onda de economistas liberais foi menos extremista do que a primeira e o próprio Smith já abriu - embora cautelosamente - a porta para as intervenções do Estado na economia. Se quem diz liberalismo diz indivíduo, quem diz fascismo diz estado. Mas o estado fascista é único e é uma criação original. Não é reacionário, mas revolucionário, pois antecipa as soluções de certos problemas universais como colocados em outros lugares no campo político pelo fracionamento dos partidos, pelo poder superior do parlamentarismo, pela irresponsabilidade das assembleias, no campo económico pelas funções sindicais cada vez mais numerosas e poderosas tanto no setor operário quanto no industrial, por seus conflitos e seus entendimentos; no campo moral pela necessidade de ordem, disciplina, obediência ao que são os ditames morais da pátria. O fascismo quer um estado forte, orgânico e ao mesmo tempo apoiado numa grande base popular. O estado fascista também reivindicou o campo da economia e, através das instituições corporativas, sociais e educacionais que criou, o sentido do estado chega às ramificações extremas e no estado circulam, enquadradas nas respectivas organizações, todas as forças políticas, económicas e espirituais da nação. Um estado que repousa sobre milhões de indivíduos que o reconhecem, o servem, estão prontos para o servir, não é o estado tirânico do senhor medieval. Não tem nada em comum com os estados absolutos de antes ou depois de 89. O indivíduo no estado fascista não é anulado, mas sim multiplicado, assim como em um regimento um soldado não diminuiu, mas multiplicado pelo número de seus camaradas. O estado fascista organiza a nação, mas depois deixa aos indivíduos margens suficientes; limitou as liberdades desnecessárias ou prejudiciais e preservou as essenciais. Quem julga neste terreno não pode ser o indivíduo, mas apenas o Estado.
O estado fascista não permanece indiferente ao fato religioso em geral e à religião positiva particular que é o catolicismo italiano. O Estado não tem teologia, mas tem moral. No Estado fascista, a religião é considerada uma das manifestações mais profundas do espírito; não é, portanto, apenas respeitada, mas defendida e protegida. O Estado fascista não cria seu próprio «Deus» como quis fazer em algum momento nos delírios extremos da Convenção, Robespierre; nem tenta em vão apagá-lo das almas como faz o bolchevismo; o fascismo respeita o Deus dos ascetas, dos santos, dos heróis e até mesmo o Deus como é visto e orado pelo coração ingénuo e primitivo do povo.
O Estado fascista é uma vontade de poder e império. A tradição romana é aqui uma ideia de força. Na doutrina do fascismo, o império não é apenas uma expressão territorial ou militar ou mercantil, mas espiritual ou moral. Pode-se pensar num império, ou seja, numa nação que directa ou indirectamente lidera outras nações, sem necessidade de conquistar um único quilómetro quadrado de território. Para o fascismo, a tendência para o império, ou seja, para a expansão das nações, é uma manifestação de vitalidade; seu oposto, ou o pé de casa, é um sinal de decadência: povos que surgem ou ressuscitam são imperialistas, povos que morrem são renúncias. O fascismo é a doutrina mais adequada para representar as tendências, os estados de espírito de um povo como o italiano que ressuscita após muitos séculos de abandono ou servidão estrangeira. Mas o império pede disciplina, coordenação de esforços, dever e sacrifício; isso explica muitos aspectos da ação prática do regime e o endereço de muitas forças do estado e a severidade necessária contra aqueles que gostariam de se opor a esse movimento espontâneo e fatal da Itália no século XX, e opor-se agitando as ideologias ultrapassadas do século XIX, repudiada onde quer que grandes experiências de transformações políticas e sociais tenham sido ousadas. Nunca, como neste momento, os povos tiveram sede de autoridade, de diretrizes, de ordem. Se cada século tem a sua própria doutrina, parece que a do século actual é o fascismo. Que é uma doutrina da vida, mostra o fato de ter despertado uma fé: que a fé conquistou as almas é demonstrado pelo fato de que o fascismo teve seus caídos e seus mártires.
O fascismo tem agora no mundo a universalidade de todas as doutrinas que, uma vez realizadas, representam um momento na história do espírito humano.
História.
O nome do fascismo (de um feixe, união de forças, mais ou menos homogéneas, mas fortemente unidas por laços ideais e disciplinares, tendo em vista a fins comuns a serem alcançados), leva-nos de volta, para não sair da fase histórica em que o fascismo realmente nasce, aos Fasci di azione revoluzionaria, que surgiram por Benito Mussolini em Janeiro de 1915, durante a luta pela intervenção da Itália na guerra, e composto por elementos de esquerda, socialistas revolucionários e sindicalistas, todos pequenos burgueses e trabalhadores ou ex-trabalhadores, em ruptura com os outros partidos. Esses fasci representaram o intervencionismo popular ou revolucionário, numericamente pequeno, mas moral e politicamente importante, porque quebrou a solidariedade neutralista do socialismo italiano; abriu uma brecha nas ideologias classistas e internacionalistas daquele partido e forneceu a inspiração para a formação de um socialismo nacional; enriqueceu o intervencionismo dos nacionalistas, liberais, republicanos, democratas com novos elementos e pensamentos e vozes, embora não muito diferentes, por enquanto, as motivações intervencionistas de Mussolini e dos fasci de um Bissolati ou dos radicais do Secolo, em suma, dos homens da democracia. Mas diferente, nesses, e especialmente em Mussolini, a alma: energia e paixão viva, intolerância perante as posições alcançadas, capacidade de se renovar e adaptar às circunstâncias em mudança.
Independentemente das palavras, o movimento intervencionista, especialmente em algumas de suas frações de esquerda, deve ser levado em consideração pela inteligência do fascismo que nasceu em 1919. Viu-se então o processo de corrosão dos antigos partidos quase concluído e o início das novas formações políticas, determinadas pelo novo fato que se chama guerra, grande demais para ser idealmente contido no quadro desses partidos. Viu-se, sob o impulso dos grupos intervencionistas, a nação a enfrentar-se directamente, fora e contra a representação legal, e dirigir-se directamente ao governo e ao rei, flanqueando o ministério Salandra que preparava a intervenção contra o Parlamento que se opôs, impor o regresso de Salandra ao governo após a sua renúncia. "Teria havido guerra mesmo sem o intervencionismo". Mas o intervencionismo, que foi, a certa altura, agitação violenta na rua, deu-lhe um carácter revolucionário que de outra forma não teria tido. E veio a guerra. Que, por sua vez, excitou paixões patrióticas; deu plena e sentida atualidade ao Risorgimento e aos seus homens mais representativos, em especialmente àqueles que mais visivelmente encarnavam o espírito voluntário e a iniciativa popular, Mazzini ou Garibaldi; aproximou e fundiu, na figura do lutador, elementos sociais que ainda estavam distantes e fechados uns aos outros; atraiu para o círculo ideal da nação classes e grupos sociais ainda desavisados ou relutantes; trouxe à tona, juntos, a força da massa e a força dos indivíduos individuais, bem como pequenas formações selecionadas, feitas de homens dispostos a tudo, despertando na nação o sentido do valor desta força de indivíduos e elites; empurrou para cima, na escala de valores militares, pessoas do povo e da pequena burguesia que então, relutante e incapaz de voltar às antigas fileiras, operará como um energicamente fermento revolucionário, na sociedade italiana ainda tão móvel. Adicione a isso, as mudanças de riqueza e a formação de novas camadas sociais um pouco acima do povo dos trabalhadores (trabalhadores especializados, artesãos que se tornaram pequenos industriais, meados que se tornaram agricultores ou locatários, etc.): então aspirantes a encontrar seu lugar adequado, mesmo na ordem política, e dispostos a seguir esta ou aquela bandeira, e talvez primeiro esta e depois aquela, que os guiasse e os levasse à vitória. Além disso, os limites de poderes conferidos ao Estado, também nas relações económicas da produção e dos scambî: o que, por um lado, encorajou o Partido Socialista Italiano, embora muito avesso à guerra e desdenhoso diante dessa espécie de socialismo de Estado, mas disposto a reconhecer nele uma contribuição eficaz para o verdadeiro socialismo; por outro, estimulou a variação reação do pós-guerra contra o estado monopolista, paternalista, burocrático e o esforço para uma nova e diferente construção do estado, baseada na descentralização e órgãos periféricos, enquadrados e contidos em um estado tão simples de estrutura quanto forte em energias morais. Ao mesmo tempo, a guerra foi um grande teste para a velha classe governamental, pouco alterada substancialmente nos sessenta anos de unidade. E do teste, esta classe saiu bastante desgastada e desacreditada, apesar da vitória final: tanto porque parecia que não tinha preparado militarmente, moralmente e, por último, diplomaticamente o país para o terrível cimento; quer porque parecia incapaz de adaptar o espírito, a mente, os sistemas de governo às necessidades da hora. Diante da massa de novos homens que a guerra havia mobilizado e corroborado e energicamente educado, aquela oligarquia de executivos, uma espécie de confiança para o exercício do poder, reservada aos vários e alternados grupos pessoais, adversos e mesmo solidários, que governavam a Itália há 50 anos, parecia cada vez mais escava e froca. Não menos desgastado e desacreditado o sistema parlamentar, em si mesmo, como funcionamento e rendimento. A Câmara se deu para legislar sobre as coisas da guerra, enquanto a maioria ou uma minoria forte era avessa ou mal disposta à guerra, deu ao governo mais impedimento do que ajuda, ao país mais assunto de escândalo do que conforto para resistir.
Assim chegou ao fim do grande cimento, que se viu vitoriosamente no Piave e no Grappa. Mas então começou outro drama que é um pouco o drama de todo o pós-guerra. Mas agora, drama proporcional a tanta guerra e, na Itália, maior do que nos outros países vencedores; quase igual ao dos países vencidos, pois também saímos da guerra com a psicologia de um povo vencido. As decepções amarguraram a alma da nação. O ressentimento desencadeou-se para com os aliados que tentaram reduzir a nada o nosso mérito e os nossos frutos da vitória. Os ídolos, ou seja, os princípios animadores da guerra, um pouco nossos, um pouco apressados pelos aliados, precipitaram-se em descrédito, deixando os espíritos vazios e desorientados. A frente única dos antigos intervencionistas foi fragmentada diante dos problemas da reconstrução interna e das relações com o exterior, e a colaboração, embora fria e condicionada, sofreu uma feroz polémica entre aqueles que estavam presos ao pacto de Londres e aqueles que queriam transigir e «renunciar»; entre aqueles que abandonaram a Dalmácia aos eslavos por ter Fiume, e aqueles que exigiam Dalmácia e Fiume e outros, incluídos ou não no Pacto de Londres, mas devido a nós por outros pelo grande esforço que fizemos no interesse geral da coalizão, muito maior do que aquele a que, em 1915, os acordos de Londres pareciam ser devidas. Explodiu muito aberto e violento, então, a preocupação dos ex-neutralistas do lado liberal ou conservador, parlamentares, jornalistas, homens de letras, que culparam os adversários dos sacrifícios desnecessários, espalharam ironia e sarcasmo sobre o entusiasmo, esperanças e ilusões dos intervencionistas, riram dos «dias brilhantes», como outros chamavam os de Maio de 1915, quando a minoria intervencionista, com ímpeto idealista, fez sua vontade de guerra sentir e pesar quase revolucionária. Com ainda maior folia, mesmo após essas divisões internas da burguesia, os socialistas levantaram a liderança, como acreditavam que chegou a hora de sua guerra, não mais na fronteira, mas no interior. Eles olharam para a Rússia como um mestre e líder; eles lançaram o martelo e a foice; eles deliberaram a uniformidade da atividade do partido com os princípios de Lenin e Trotsky; eles invocaram a «ditadura do proletariado», a única capaz de dar vitória ao socialismo. Eles acreditavam que o regime burguês estava agora em liquidação. Alguém, ou seja, as classes trabalhadoras, teve de recolher a sua herança. O momento, disseram eles, poderia não ter sido bom: o capitalismo ainda não tinha completado o seu ciclo; e então, a vida económica estava deprimida. Mas a guerra rapidamente arrastou o sistema capitalista para o colapso e os trabalhadores tiveram que assumir essa gestão por necessidade. O socialismo italiano teve uma fase de verdadeira embriaguez. Ele estava à espera do milagre, da solução totalitária e definitiva. As massas também estavam embriagadas. Cresceram as suas aspirações e expectativas: tanto das pessoas que tinham estado seguras nas oficinas, saturadas de propaganda anti-guerra e subversiva; como dos combatentes que regressavam cansados, inquietos, desiludidos com o velho, iludidos com o novo que parecia estar em preparação. Um pouco eles morderam os anzóis jogados nas águas turvas pelos políticos, especialmente pelos novos políticos, piores que os antigos; alguns políticos se tornaram intérpretes, ecoadores, fortalecedores dessas expectativas apocalípticas e, sob a aparência de preceder e liderar, seguiram e, em vez de apelar para os melhores sentimentos, lisonjeavam os piores instintos das massas. E assim não prevaleceram as frações mais temperadas do socialismo, mais dispostas e mais preparadas para uma possível colaboração, mas sim as frações extremistas. E mesmo os primeiros não reagiram muito aos segundos. Não correriam o risco de perder todo o contacto e crédito com as massas? E as massas, então, não se teriam voltado cada vez mais para o bolchevismo? Era o que os socialistas de direita costumavam dizer. E assim, goste-se ou não, eles também se coloriram um pouco daquela cor vermelha brilhante, que era a cor da atmosfera da época. Eles também fizeram o julgamento da guerra e dos que a quiseram. Chegou, proclamou na Câmara o deputado C. Treves, chegou a hora da expiação para a Itália intervencionista! E a sua voz tinha larga ressonância. Durante vários meses, boa parte da Itália, embora tenha saído vitoriosamente da guerra, virou as costas à guerra com despeito; perdeu a consciência do seu valor para a vida da nação e para a sorte do próprio proletariado; desistiu, na verdade rejeitou qualquer título de glória que pudesse vir da guerra e da vitória à comunidade e aos indivíduos.
Devemos ter em mente toda essa história italiana de 1914 a 1919, crise de velhos partidos, intervencionismo revolucionário, descrédito de classes e institutos, violenta polémica de socialistas que passaram para o intervencionismo contra o partido, sentimento mais profundo de problemas nacionais e sociais despertados pela guerra nos melhores combatentes, desilusão e exasperação nacionalista tanto contra os ex-aliados quanto contra o governo que administrou mal o património da vitória, ofensiva renovada e mais imatura dos socialistas contra a guerra, esperanças iludidas de uma revolução iminente e total do tipo russo; devemos ter em mente tudo isso e muito mais, para explicar o fascismo. Que começou a viver no sentimento e no pensamento do próprio criador dos «Fasci di azione rivoluzionaria», Benito Mussolini, um Romagnano ("Della Romagna", região centro norte da Itália) sangue quente e de vontade clarividente, ainda jovem mas rico em várias e dolorosas experiências, socialista e diretor do Avanti! até ao Outono de 14, mas individualista por temperamento, mais confiante na virtude das elites das massas, sedento de ação e revolução. O intervencionismo e o abandono do partido não tinha sido para ele passagem de um campo para o outro, mas um tédio de muita espera; indignação pelo espírito acomodativo e pela incapacidade revolucionária do velho socialismo, que caiu nas mãos de «políticos», de mentalidade burguesa e parlamentar; esperança de realizar de outras maneiras e por outras formas, ainda na órbita espiritual do socialismo, aquela revolução que os outros agora se mostraram relutantes e ineptas em fazer; pelo contrário, visão da guerra, daquela guerra, especialmente como de uma revolução em si, contra a burguesia parasitária, cética e neutralista, contra a monarquia considerada germanofila e triplicista, contra os impérios centrais que representavam a autocracia. É claro que a guerra também significava pátria, nação e valores nacionais, solidariedade de classes, etc. E Mussolini aceitou ainda mais esses valores, que aliás já havia começado a sentir e viver quando, em Trento, se viu lutando, junto com Cesare Battisti, as batalhas daquele socialismo de Trentino que também era, em um país ameaçado pelo germanismo, princípio da nacionalidade e afirmação italiana. Mas como o socialismo de Mussolini - que era especialmente uma posição de luta - se abriu para a aceitação plena dos valores nacionais, esses valores não colocaram muito na sombra esse socialismo: que, vigorosamente rejeitado como partido, rejeitado também como doutrina e como filosofia com fundo materialista, permaneceu como sentimento, permaneceu como simpatia pelo mundo do trabalho, como aspiração para libertar as massas do jugo do partido e da corrupção da política, a fim de promover sua auto-educação, torná-lo o arquiteto direto de sua fortuna, como aliás era na concepção dos sindicalistas.
Assim, aproximando a nação e o povo, Mussolini podia esperar da guerra tanto o triunfo da «liberdade e justiça» contra o imperialismo e as autocracias; tanto a libertação do proletariado italiano e sua plena entrada na história participando da história, ou seja, da guerra; quanto a elevação do povo italiano, sua maior interpenetração com o estado, seu reforço como nação e força internacional. Era quase a fusão ou fecundação mútua, sob a alta temperatura da guerra, de problemas e sentimentos e pensamentos até então na Itália quase distintos nos vários grupos políticos, vários inovadores, formados nas últimas décadas, socialistas, sindicalistas, nacionalistas, nacionais-liberais, etc. Nos quatro anos da guerra, Mussolini em seu jornal, o Popolo d'Italia, bateu e rebateu que a classe trabalhadora não podia ignorar a nação; que as condições do proletariado italiano eram diretamente dependente do crédito e da força do estado a que pertencia; que era necessário dar à guerra um conteúdo social, senti-la como um cenário e um começo para a solução de problemas sociais; que o trabalho deveria ter um papel muito grande na reconstrução política, económica e moral da nação. E nos dias do armistício, ele escreveu que era preciso ir ao encontro dos trabalhadores que voltavam das trincheiras, ajudá-los, manter a consciência viril de sua força e o orgulho da vitória despertada neles.
I. O «movimento» fascista. - E eis Mussolini depois da guerra, com seu intervencionismo ferozmente guardado no coração e defendido e mantido alto como uma bandeira, enquanto vacilava ou caía em outros; com sua aversão, exacerbada pela polémica e se tornando um pouco também uma questão pessoal, com os socialistas do partido; com aquele espírito de substancial democracia que a guerra travada e sofrida no meio da infantaria havia acentuado e que, libertado do envelope socialista, cada vez mais insinuava se concretizar em uma concepção sindicalista, como aliás em todos os ex-socialistas passados pelo intervencionismo. Intervencionismo e, agora, defesa da vitória e de todos os seus bens, de todas as suas possibilidades, nenhuma excluída; anti-socialismo e democracia baseados em sindicatos; aqui estão os pensamentos ou, melhor ainda, as paixões das quais Benito Mussolini começou; aqui estão não só os elementos constituintes de um programa político, mas também, e mais, os impulsos de ação, sentidas como um grande professor e guia, como um criador fecundo de realidades impensadas e impensáveis escondidas no futuro misterioso.
Alguns meses se passaram desde o armistício, e ele começou a reunir os intervencionistas de 1915. Um de seus artigos de 3 de Janeiro de 1919 tinha o título «Rumo ao constituinte do intervencionismo italiano»: como era a sua vez, e só a ele, traçar as linhas da nova ordem política e institucional italiana. No início de março, ele anunciou que pretendia fundar o «antipartido», ou seja, os fasci di combattimento, órgão de ação e agitação para toda a península, destinado a se virar tanto contra a resistência às mudanças da direita quanto contra as ambições destrutivas da esquerda leninista. O antipartidário será contra o partido socialista em primeiro lugar, mas também contra os outros partidos: e não só como conteúdo doutrinário específico, mas também como partidos, ou seja, conjunto de fórmulas, programas bem delineados, princípios ou dogmas. Ele viu na Itália uma grande vontade de renovação, em muitos homens e partidos, no partido «popular» recém-nascido, em grupos de liberais, nos combatentes que se apertavam em associações, etc. De todos os lados, ofensiva contra velhos e instituições antigas; de todos os lados, programas que, afinal, eram muito semelhantes. Mas o que identifica um partido, pensa e diz Mussolini, não é o programa: é o ponto de partida e de chegada, ou seja, o espírito animador. Agora, para ele, o ponto de partida é a intervenção. Este, o fato característico e distintivo, não só diante dos socialistas oficiais, mas também daqueles homens que, ou mal dispostos desde o início em relação à guerra ou depois se arrependeram de tê-la promovido, ou, em qualquer caso, pessimistas e céticos diante de seus resultados, agora querem se abster dela. Mantendo-se firme no terreno do intervencionismo, um fato dominante, ele reivindica a si mesmo e aos seus companheiros de luta o direito e o dever de defender a guerra e a vitória e de transformar a vida italiana atrás da escolta das idealidades que animaram o intervencionismo. Nenhum meio será excluído prejudicialmente, para atingir este objectivo, um e múltiplo: nem mesmo a revolução. Mas será revolução italiana, «i-ta-lia-na», não moscovita. Essa revolução, aliás, começou em 1914-15: e, continuou sob o nome de guerra até 1918, agora quer ser realizada. Um período que pode ser chamado de «política das massas» se abre na história. E não podemos atrapalhar as massas, só temos de dirigir o seu movimento, apontar-lhes certos caminhos. Em primeiro lugar, libertá-los do partido socialista, retirá-los do fascínio dos mitos bolcheviques, orientá-los para uma democracia económica (reivindicações da classe trabalhadora em matéria de trabalho, pensões, controle sobre as indústrias, também para lhes dar capacidades diretivas, para ajudá-las a expressar de si mesmos os núcleos inteligentes e volitivos que saberão garantir a grandeza do país, etc.) e uma democracia política (participação mais direta na vida pública, legislação e governo confiados às competências técnicas, o órgão estatal transformado com o estabelecimento de Conselhos técnicos nacionais eleitos por organizações profissionais e profissionais e associações de cultura, etc.). O atual regime italiano não está em crise? Todos constataram, durante a guerra, a insuficiência do povo que nos governa, a insuficiência do parlamento e do sistema do qual é expressão e fulcro. A sucessão aberta, não devemos nos deixar ultrapassar por ninguém, socialistas ou outros, mas conquistá-la, fazendo valer o nosso direito que é o direito daqueles que levaram o país à guerra, o levaram à vitória, o levarão a destinos mais elevados. Em suma, uma corrida com o partido socialista, para reunir uma sucessão: só que não do capitalismo e da burguesia, mas de certo regime político e de certas classes dominantes intimamente ligadas a esse regime; e não em vista do coletivismo e do internacional, mas da nação italiana social e politicamente renovada e internacionalmente credenciada.
Estes são os pensamentos e palavras de Mussolini, expressos ou insinuados em sua fervorosa atividade como jornalista e, às vezes, como palestrante, nos meses imediatamente após a guerra, quando começava a desorientação das ideias, a incerteza das almas, a vasta e ameaçadora inquietação do mundo operário, agora não mais retido pela disciplina de guerra. Mas deste mundo operário também veio alguma voz que poderia encorajar esses pensamentos e palavras. Como foi em Março de 1919, quando os trabalhadores de Dalmine, na região industrial de Bérgamo, em vez de abandonar as máquinas e as fábricas durante uma disputa com os proprietários, barraram as portas, abriram a bandeira tricolor, continuaram o trabalho por conta própria, votaram uma agenda que, apontando para o propósito de sua greve de trabalho «o interesse próprio e, mais ainda, o interesse da indústria italiana e o bem de todo o povo da Itália», parecia a Mussolini ter importância histórica e abriu um caminho novo e diferente daquele que costumava vencer o socialismo de greve, egoísta, classista, agora tomado no feitiço da Rússia Leninista. Mussolini foi a Dalmine, falou com os trabalhadores, elogiou-os que a classe não os fez esquecer a nação. Para a turma podiam fazer a greve antiquada, negativa e destruidora, para a nação faziam a criativa, o que não interrompe o ritmo da vida produtiva. Afinal, como poderiam negar a nação, eles que lutaram e sofreram por ela? Num tempo mais ou menos distante, eles teriam chegado a funções essenciais na sociedade moderna; agora, neste futuro, eles tinham aberto uma grande abertura. Para eles falava o trabalho, não o «dogma idiota»; «o trabalho que nas trincheiras consagrou o seu direito de não ser mais fadiga, desespero, porque deve tornar-se orgulho, criação, conquista de homens livres na pátria livre e grande dentro e fora das fronteiras».
Assim, o Popolo d'Italia de 3 de Março de 1919 indexou em Milão a cidade que havia sido o maior centro dinâmico da guerra, com seu intervencionismo de 1914-15, seus jornais amplamente difundidos, suas obras de assistência, suas indústrias de guerra, e agora era também o centro da propaganda revolucionária, a maior esperança da revolução esperada; em Milão reuniu colaboradores, correspondentes, leitores, amigos do jornal. «A partir desta reunião, nascerão os fasci di combattimento, cujo programa está contido na palavra». Algumas centenas de adesões vieram das províncias, mesmo das mais distantes, de cidades e pequenas aldeias, começando por Génova, que também teve um papel notável na luta pela intervenção; adesões de indivíduos e também de grupos, sobreviventes da guerra ou formados após a guerra pela propaganda e ordem interna ou por questões do Adriáticos. Aqui, associações locais de combate ou ousadas de guerra ou de vontade de guerra. Em outros, uma «Liga Anti-Alemã», um «Fascio de Ação Patriótica» ou «Defesa Nacional», uma «União Popular Antibolchevique», uma «Liga da Juventude Latina», um «Fascio Nova Itália» ou «Itália Redenta», um «Pro Fiume» ou «Pro Dalmácia», etc. etc. Em Mussolini e em seu jornal, quem via mais as reivindicações territoriais (Rio e Dalmácia) ameaçadas em Paris, quem a afirmação do direito dos combatentes de governar a Itália, quem as idealidades mazzinianas e talvez a república, quem a acomodação prática dos veteranos das trincheiras, quem a «liberdade e justiça» dos bons tempos de 1914-15, quem esperava novas batalhas. Mas, na diversidade, há um sentimento comum: a guerra a ser defendida e os valores ideais que a animaram, quase riqueza a ser guardada, para muitos a única riqueza. E a personalidade de Mussolini também começou a funcionar como concreto. Que não estava tanto nos seus pensamentos, mas na virtude de animador, na confiança que sabia inspirar, na certeza que dava aos incertos, aquela capacidade não só de querer tenazmente mas também de implementar esta vontade. O seu nome tinha vindo a todo o lado, durante a guerra. Muitos inimigos, mas também muitas pessoas que lhe deram crédito. Ele é o fundador do Popolo d'Italia, lutador e ferido, grande flagelador de socialistas, bom semeador de coragem nos momentos negros da guerra, sempre o primeiro a pedir atos de energia ao governo, disciplina aos italianos. E já na época do reverso de outubro de 1917, atribuído pela maioria às deficiências do gabinete Boselli, havia, entre soldados e civis, aqueles que, embora sem sequer conceber ainda Benito Mussolini no governo, pensaram e disseram que «um Mussolini» poderia ter posto muitas coisas no lugar. E agora, de várias maneiras, permitiram com Mussolini muitos daqueles que deram à guerra não apenas seu esforço material, mas um pouco de alma e, portanto, deveriam ser considerados voluntários de várias maneiras.
O fascio de Milão foi estabelecido em 23 de Março, em uma reunião com a presença de cem adeptos de toda a Itália, outros fasci rapidamente se seguiram: Génova, Turim, Verona, Bérgamo, Treviso, Pavia, Cremona, Nápoles, Brescia, Trieste, que foi a primeira cidade redentora a ter um pacote, para lutar contra um inimigo que era, ali, um e duplo: comunismo e eslavo associados. Enunciações detalhadas de programas, listas de reformas, não há nenhuma. Mussolini, como todos aqueles que se voltam mais para o sentimento do que para o pensamento, e com esse meio querem solicitar a ação esclarecedora de pensamentos, manteve-se bastante vago. Aceitaremos e promoveremos, disse ele, tudo o que beneficie a nação, rejeitaremos o resto. Nenhum preconceito, monárquico ou republicano, católico ou anti-católico, socialista ou anti-socialista. Estamos dispostos, disse ele, a aceitar também o socialismo, se ele se mostrar responsivo ao interesse da nação. O fascismo deixa de ser fascismo assim que se escolhe um preconceito. Não temos nem sequer queremos estatutos ou regulamentos: apenas um cartão pessoal e pronto. Entramos em contacto com outros grupos constituídos e com homens ligados a esses grupos: mas não estipulações, não entendimentos formais e protocolados. O essencial é saber que essas forças podem ser usadas para um propósito comum. Em suma, um «movimento», não um «partido». "Movimento saudável italiano; revolucionário porque antidogmático; fortemente inovador porque antipreconceioso. Movimento de realidade e verdade que adere à vida". Juventude, ímpeto, fé. O fascismo proclama-se pragmático. Não se propõe fins remotos, mas a organização temporária de todos aqueles que aceitam determinadas soluções de dados para os problemas actuais. Por enquanto, ele se contenta em colocar de volta em movimento as forças revolucionárias da intervenção, «manter os italianos de todas as religiões e classes produtoras unidas com uma forma de antipartido ou superpartido, para empurrá-los para as novas e inescapáveis batalhas que devem ser travadas, complementando e valorizando a grande guerra revolucionária». Consciente talvez da dificuldade de desviar uma corrente de homens de uma estrada muito traçada, como experimentou em 1914-15, quando quis levar os socialistas italianos à intervenção apesar da velha doutrina e pregação, Mussolini agora não quer impedir a si mesmo e aos seus nenhum caminho, quer ser livre e articulado, pretende manter o direito e a possibilidade de dirigir e retificar a rota dia a dia, adaptar todos os dias as ideias de detalhe e ações às necessidades do momento, tendo em vista os fins que por enquanto se apresentam talvez, mesmo aos seus olhos, velados na distância nebulosa, mas cujo momento negativo é claro. Há, no seu programa, um grande anseio por liberdade: liberdade para produtores do peso do estado paternalista e intervencionista, do qual se tinha experiência na guerra; liberdade das massas operárias de qualquer influência desviante de partidos políticos; liberdade de qualquer ditadura, «de tiara ou cetro, de sabre ou capital, de cartão ou mitos». Em suma, despojar as forças vivas de um povo de todos os envelopes e deixá-los operar com a máxima espontaneidade, para a solução dos problemas que a realidade coloca todos os dias. Também parece que o fascismo é concebido como um pequeno mas poderoso fermento que deve penetrar e operar na massa e exortá-la, animá-la, dar-lhe autoconsciência. «O fascismo permanecerá sempre um movimento de minorias» (Popolo d'Italia, 2 de Julho). É uma minoria essencialmente cidadã. «Não pode espalhar-se para fora das cidades». Parece que o fascismo nascente, que conhece bem as massas trabalhadoras urbanas e também faz alguns apelos amigáveis à Confederação Geral do Trabalho, com alguma esperança de conseguir se separar do partido socialista e fê-lo para si, ignora o campo. E você pode entender. Mussolini também vem daquele socialismo que, se tivesse aproveitado o bracelete rural, vivendo perto da terra mas não com a terra e da terra, se viu impotente diante de pequenos proprietários, meados, participantes de vários tipos, ou seja, do verdadeiro povo dos campos, dos verdadeiros camponeses. O fascismo, então, como intervencionismo, também era citadino. «Valores da guerra» são, pelo menos por enquanto, não os valores dos camponeses que a guerra suportou e lutou, na grande maioria, apenas com disciplina resignada, mas os valores da burguesia média e pequena da cidade.
A partir de Março [1919], podemos testemunhar o desenvolvimento da ação fascista, cada vez mais identificada em meio à ação de outros grupos afins. Ocorre em duas direções principais. Em primeiro lugar, resistência e contra-ofensiva à agitação dos trabalhadores promovida pelos socialistas e, portanto, com fins de subversão política, com espírito de aversão irredutível ao que - homens ou coisas - lembram a guerra. «Socialista», antítese absoluta de «intervencionista». Em meados de Abril, colisão sangrenta, no centro de Milão. Por um lado, mão-de-obra de fascistas, de oficiais recentemente desmobilizados, de oficiais-estudantes, ou seja, autorizados a frequentar os cursos universitários (e quase todos eram da Universidade Politécnica); por outro, uma grande multidão de grevistas. Estes se desviaram; eles deram o assalto ao Avanço!, penetraram-no à força, devastaram-no. «Primeiro episódio da Guerra Civil», disse Mussolini. Os fascistas não organizaram esta pequena batalha, mas assumiram a responsabilidade. O povo da Itália era guarnecido por trabalhadores e soldados, adeptos ou simpatizantes. As relações e laços entre o fascio e os outros grupos políticos, patrióticos e sindicais que o flanqueavam foram acentuados. Ficou claro que as forças de rua, sobre as quais os socialistas se apoiavam, não contrapunham votos platónicos, agendas, propaganda oratória ou mesmo apenas polícia e soldados, mas outras forças capazes de descer às ruas também, lideradas por homens que também tinham o hábito e o cheiro da praça. Também estava claro a nova alma da guerra, a guerra travada com plena adesão espiritual, criou uma nova alma em toda a juventude.
E depois, outra atividade: participar, juntamente com as várias associações irredentistas, com os ousados da guerra, com os voluntários, etc., nas agitações por Rijeka e pela Dalmácia, disputadas com a Itália pelos aliados que agora eram os mestres no mare nostrum, com uma ajuda aberta às aspirações eslavas. Em Maio, D'Annunzio apareceu na cena, com seu discurso do Capitólio para a multidão reunida na praça e seu grito Memento audere semper: quase a nova palavra de ordem dos italianos. E seguiu-se, em Setembro, a empresa de Fiume (v.), preparada por um grupo de oficiais dos granadeiros que em D'Annunzio procuraram e encontraram seu chefe, depois tiveram que deixar a cidade após incidentes sangrentos ocorridos entre soldados coloniais franceses e cidadãos de Fiume e ao veredicto de uma comissão de investigação inter-aliada. A empresa teve caráter de protesto tanto contra os aliados quanto contra o governo italiano, um defensor muito brando dos direitos da nação em fóruns inter-aliados. E isso significava que a marcha até as fronteiras da Itália, presa após Vittorio Veneto, foi retomada: foi retomada por iniciativa dos próprios combatentes. Às unidades de tropas regulares que entraram em Rijeka com D'Annunzio, outras foram acrescentadas: unidades de entrada. E navios e soldados marítimos, ao lado de soldados de infantaria e artilheiros. Em suma, um princípio de dissolução das forças armadas do Estado! Depois, a multidão de voluntários que veio de todas as partes da Itália, quase todos jovens e muito jovens, ex-lutadores e filhos de sua mãe, em cujo peito fermentavam memórias garibaldinas, amor de aventura e risco. Fiume o morte! Pareceu então que o centro da agitação irredentista pelas terras do Adriáticos se mudou para a cidade muito conturbada de Carnaro. Na verdade, a Itália da guerra era representada por Rijeka e por aqueles que defendia a sua fortuna italiana. Foi proclamado que as milícias Dannunzianas eram «o exército vitorioso», Fiume, a «verdadeira Itália», o governo de Rijeka «o verdadeiro governo da Itália», oposto ao que em Roma usurpava esse nome, ao governo de Nitti, agora objeto de alvos orgulhosos, especialmente depois que na Câmara havia deplorado o gesto de D'Annunzio e seus seguidores, como inspirado pelo desejo insalubre de novas guerras, e havia oposto aos voluntários de trabalhadores e camponeses de Fiumani, quase solicitando sua colaboração contra os outros. Também foi dito: «o gesto realizado em Rijeka deve terminar em Roma». Iniciativa, portanto, não fascista e não mussoliniana, esta de Fiume. Mas ela se maturou e revelou na mesma atmosfera de paixão política, de patriotismo exasperado, de reivindicação da guerra, de continuação da vitória. Os fasci, então, mantiveram-se em estreita ligação com os legionários; Mussolini com D'Annunzio. O Povo da Itália abriu uma assinatura nacional para Fiume, promoveu o concurso de voluntários, era quase o órgão do movimento de Fumano na península. Por um ano, que foi o ano, por assim dizer, da minoria fascista, o fascismo alimentou o dannunzianismo, o dannunzianismo o fascismo. E Mussolini teve que se sentir confirmado na persuasão de que as forças vivas de hoje e de amanhã eram aquelas que idealmente se conectavam à guerra; teve que enriquecer sua experiência com a capacidade de minorias ousadas de criar novas situações; teve que fazer alguma base no fascínio de D'Annunzio. Já nessa altura foram elaborados planos para «marchar sobre Roma». Mussolini pensou nisso, D'Annunzio pensou nisso. Não havia, lá, dez e mais mil voluntários, dispostos a tudo? Não havia armas em quantidade? Claro, então o pensamento de que Roma deveria e poderia se arrancar, mesmo com um ato de força, dos homens do antigo regime que governavam a Itália de lá, pavor do bolchevismo interno e da plutocracia internacional.
Entretanto, os fasci estavam a crescer em número. Foi determinado e especificado, também tendo em vista as eleições não distantes, o seu programa de realizações imediatas e mesmo não imediatas. E um programa foi lançado em 28 de Agosto pelo Comité Central dos Fasci, residente em Milão. Havia, na ordem institucional, social, militar, financeira, o sufrágio universal por escrutínio da lista regional, com representação proporcional, com voto e elegibilidade também de mulheres; redução do limite de idade para eleitores e eleitos; abolição do Senado; assembleia constituinte que determinasse a ordem a ser dada ao Estado; Conselhos técnicos do trabalho, da indústria, dos transportes, das comunicações etc., eleitos pelas comunidades profissionais e dos ofícios, com poderes legislativos e com o direito de eleger comissões extraordinárias com poderes de ministros, legislação trabalhista, oito horas, salário mínimo, participação dos representantes dos trabalhadores na gestão das indústrias ou serviços públicos, possível concessão da gestão industrial ou serviços públicos a organizações proletárias que fossem dignas; milícia nacional com paradas curtas e tarefas apenas defensivas; nacionalização de fábricas de armas, uma política externa que valorizasse a nação italiana no mundo em competições pacíficas; forte imposto extraordinário sobre o capital que tivesse a forma de verdadeira expropriação parcial de todas as riquezas; apreensão dos bens das congregações religiosas e abolição das cantinas episcopaiss, revisão de todos os contratos de fornecimentos de guerra e apreensão de 85% dos lucros relacionados.
Este programa foi discutido em Florença, no dia 9 de Outubro, quando o primeiro congresso fascista se reuniu lá, em meio à curiosidade bastante maliciosa dos florentinos mordazes e um tanto céticos. Ali também se falou de reforma imediata da burocracia, segundo o princípio da descentralização e da responsabilidade direta dos empregados; de reforma escolar, para fazer da escola um instrumento firme de consciência nacional e «um ginásio de força, ousadia, heroísmo individual»; de política externa, que deveria ter se desdobrado dinamicamente contra os imperialismos estrangeiros, contra a hegemonia das potências plutocráticas. Tais reformas, acrescentou, são uma base indispensável para qualquer outra reforma subsequente, para qualquer solução de problemas particulares, como o da terra, a exploração mineira e hidráulica, a marinha mercante, etc. Houve também - e foi F. T. Marinetti, representante e chefe do futurismo, desde o início aderindo aos fasci - houve também aqueles que propuseram a expulsão do papa de Roma, ou seja, o «desvaziamento da Itália». Em suma, um programa de radicalismo extremo, com muitas dicas socialistas, anticlerical, etc. Mussolini também mencionou o problema da monarquia, para constatar, apenas constatar, que nos dois últimos meses de Setembro e Outubro, mantendo no governo um demagogo e negador da vitória como Nitti, havia, com o fato, uma propaganda republicana que não havia sido realizada antes com 50 anos de polémica jornalística e livreira: que não era já abraçar o preconceito republicano, mas sim revelar de forma inequívoca as inclinações do jovem fascismo. Nem essas inclinações poderiam surpreender ninguém, apenas que ele se lembrava de onde vieram os primeiros fundadores e inspiradores do fascismo.
Como se pode ver, os fasci agora colocam os olhos em todas as atividades nacionais e tentam esclarecer: «Nós, fascistas, onde podemos, temos que nos afirmar; devemos sair do indistinto que nos rodeia». Foi o que disseram em Florença. Parece evidente que a luta contra o bolchevismo e a própria reivindicação da vitória podem ter instado este movimento fascista; mas que ele começa a mostrar em si mesmo, fora dos motivos contingentes e ocasionais, certa razão de ser: de onde sua duração e crescimento, mesmo quando esses motivos desaparecem. No entanto, um programa como o de Florença não era tal que, na altura, reunisse muitas adesões. Bastante oposição e ironia: para além da guerra explicavel dos socialistas, feita de profunda aversão e medo. Em Mussolini, eles viram um refúgio e um rival perigoso, capaz de combatê-los com suas próprias armas. E sabe-se que Lenine repreendeu os seus companheiros italianos em 1920 por terem deixado escapar um homem como Mussolini. Assim, nas eleições políticas de Novembro de 1919, que acabaram com a Câmara eleita em 1913 e renovaram profundamente a representação nacional, os fascistas milaneses, com Mussolini à frente, tiveram que se contentar com alguns milhares de votos: que, no entanto, não assustaram o chefe, na verdade, não lhe tiraram a confiança da vingança, quase a certeza, filha de um pouco do orgulho, um pouco da visão quase profética de amanhã. As eleições, por outro lado, foram um triunfo para o jovem Partido Popular, que viu uma centena dos seus saírem vitoriosos do ato. Ele reuniu um pouco o legado do velho socialismo cristão: só que, logo, mostrou que era, em termos de espírito e métodos, mais socialismo do que cristianismo. Os socialistas triunfaram ainda mais. 156 foram para a Câmara, e com grande folia, com maior confiança no amanhã inescapável, com muita vontade, também, de esmagar o pequeno mas irritante inimigo que se tinha colocado nos calcanhares do Partido Socialista.
O Partido Popular imediatamente se mostrou disposto e ansioso, mesmo impaciente, para chegar ao poder: e logo teve seus representantes no governo. Ao contrário do partido socialista, no qual as tendências politicamente extremistas e intransigentes continuaram a prevalecer. Pelo contrário, quanto mais a agitação económica deu resultados magros ou negativos, mais eles se concentravam em objetivos políticos e visavam objetivos de reviravolta total, a exemplo da Rússia. Foi esse, em Itália, o momento do socialismo: 1919 e parte de 1920. Deu inspiração, nome, favor ou mesmo apenas o pretexto e ocasião a tudo o que foi feito e tentado contra a ordem política e económica existente: greves industriais, greves agrícolas, greves de serviços públicos, greves gerais. Ele tentou colocar as mãos nas ferramentas de produção, instalar-se em todas as alavancas de comando. Em Setembro de 1920, após uma longa disputa entre trabalhadores e industriais, houve a ocupação das fábricas: quase um mês de má governança das fábricas, não sem episódios de violência selvagem; um mês de desperdício ou roubo de materiais, de pânico no mundo dos negócios e fuga de capitais, de desorientação no pessoal técnico que estava disposto, sim, a se considerar, também, «trabalho», mas recuou diante da mentalidade grosseira e igualitária das massas. Manifestações extremistas não diferentes no campo. Invasões de terras, especialmente no Sul, onde, no entanto, esse desejo era antigo como a reivindicação de direitos próprios, usurpados por outros, mas não prescritos. E foram invasões tumultuadas, de pessoas sem capital e sem experiência técnica e talvez sem nenhum costume de vida campestre, porque muitos vieram de lojas e ofícios e foram estimulados pela miragem da terra. Mesmo no norte, invasões de fazendas e «conselhos de fazendas», liderados e inspirados pelos populares, mas também vistos com um olho feliz pelos socialistas, que viram naquelas multidões camponesas, despertadas pelos populares, igualmente matéria para o socialismo. As ligas dos camponeses, muito inquietas, multiplicaram-se mesmo naquelas regiões, como a Toscana, que até então tinham sido alardeadas como um éden social.
O extremo ocorreu na região baixa de Ferrara e Bolonha, que eram áreas de recuperação e construção, ou seja, de trabalhadores que tinham um vínculo muito baixo ou mesmo nulo com a terra, sendo não produtores, mas construtores de terra. E aqui, a vida tornou-se impossível para as classes proprietárias, cercadas, insidiadas, ameaçadas nas pessoas, no gado, nas colheitas. Mesmo aquela pequena burguesia que nos últimos anos estava se formando ou crescendo, composta por meados e proprietários e pequenos proprietários de agricultores, teve que, querendo ou não, entrar nas ligas, submeter-se à sua disciplina de nivelamento, aceitar o monopólio da mão-de-obra exercida por meio dos escritórios de emprego, todos em suas mãos. Como resistir a recompensas, violência pessoal, boicote, algo semelhante ao antigo interdictio aquae et ignis ou à excomunhão medieval? A luta política não tinha mais nada a ver com legal. A organização operária do campo, garantindo o monopólio da mão-de-obra, visava tomar posse da produção, da terra e das máquinas, empurrando para o comunismo agrário. Não só, então, a crescente usurpação dos poderes públicos pelos organismos sindicais, mas a tendência de transferir formalmente os poderes das administrações públicas para as organizações económicas: enfim, um estado em formação, dentro e contra o estado que parecia ausente ou mal presente. Houve então um assalto sistemático aos municípios e províncias: e milhares desses, dezenas destes caíram nas mãos dos socialistas que de lá quase pretendiam abolir o Estado e a monarquia e suas leis e símbolos. Ou seja, levaram ao extremo aquelas tendências autonomistas que então eram, mesmo com fins diferentes, de todos os partidos, mais ou menos: mas para os socialistas se resolveram em táticas envolventes para assumir essas posições periféricas, para cercar, bater, conquistar o estado burguês. E isso não foi feito mistério durante as eleições municipais: na administração dos municípios ter como objetivo a dissolução da burguesia, como poder de classe; preocupar-se apenas com o interesse do proletariado; não levar em conta os limites colocados pelas leis burguesas à atividade dos municípios. Municípios e províncias nas mãos dos socialistas significavam naturalmente um ponto de apoio corajoso para todas as organizações subversivas. Queria dizer a administração das Obras Piedosas destinadas a fins políticos. Queriam dizer tributação de classe. E depois, burocracia pletorica nas prefeituras, nas Obras Piedosas, nas cooperativas dos socialistas; financiamento ruinoso de empresas económicas; muitas vezes, finanças alegres.
O governo enfrentou mal esta ofensiva socialista. Muitas vezes, diria, ele não a enfrentou de todo, nas coisas grandes e mesmo nas pequenas, mas deixou-a avançar. Um pouco, poderia ter sido propositado. Nitti, que foi chefe de governo de meados de 1919 a meados de 1920, viu a Itália de amanhã nas mãos de socialistas e populares, grandes partidos de massa. Giolitti, que tomou o lugar de Nitti até o início de 1921, ainda era aquele que vinte anos antes tinha conseguido, com seu «método», feito de liberdade e «deixar ir», de atrair ou corrupção dos partidos, tirar as arestas e pontas da agitação dos trabalhadores. Mas foi também, e não menos, verdadeira impotência. O Parlamento, um grande obstáculo à ação do governo. Crises e lutas contínuas. Os grupos parlamentares, inquietos e gananciosos. O partido popular, ambicioso para ser o árbitro da situação. Don Sturzo, seu chefe, intrusivo e exigente, a ponto de tornar a vida difícil até mesmo para homens de experiência e astúcia consumada como Giolitti, e induzi-lo, em última análise, a renunciar. A brisa revolucionária também investiu os empregados e perturbou os serviços públicos, especialmente as ferrovias. Não foi apenas a greve: embora frequente, implementada ou ameaçada; mas todo o serviço, subordinado à arbitrariedade diária dos ferroviários. Claro, desorganização total da empresa; roubo ferroviário na agenda; danos ao Tesouro a dez milhões todos os meses. Então aconteceu que, mais de uma vez, Nitti ou os prefeitos, àqueles que vieram pedir desesperadamente ajuda das províncias, responderam: nada a fazer! Era como o abandono de abas de território diante de uma invasão inimiga. Aconteceu que Giolitti ajudou quase passivamente a agitação que precedeu a ocupação das fábricas e depois a própria ocupação. Só quando as coisas aconteceram, foi feito para que os trabalhadores se retirassem, sob a promessa de controlo sobre as empresas. Nem tudo era condenável, em essência, esta política que procurava desarmar o socialismo revolucionário, atendendo às necessidades e aspirações das massas trabalhadoras. Mas também tomou o aspecto de liquidação de falência. Assim, as reivindicações dos agitadores foram encorajadas, deu-se a impressão de que o Estado desmobilou tudo e não era mais capaz de proteger os bens e as liberdades dos cidadãos. Também porque o que acontecia nas relações com os partidos subversivos, acontecia nas relações com os novos subditos de nacionalidade alemã ou eslava, aos quais se dava motivos para acreditar que a nova fronteira da Itália era provisória. E o que acontecia no interior era refletido no que acontecia na política externa. Nitti era muito fraco com os ex-aliados, todos tomados pelo medo de que a Itália, lutando com os países que fornecem alimentos e matérias-primas, pudesse morrer de fome. Tittoni, seu ministro das Relações Exteriores, quase desistiu de Rodes, reclinando-se diante dos gregos. Giolitti abandonou no verão de 20 não só a Albânia, onde biliões se mantiveram, mas também Vlore, onde se propôs a ficar: e isso, sob a pressão dos bandos rebeldes e, pior ainda, após o pequeno motim dos bersaglieri de Ancona, destinados a embarcar para a Albânia, não sem conivência com o subversivismo Borghese, ao qual foram então devidos dias de violência sangrenta naquela cidade, nas Marcas, na Romagna. Nunca antes o crédito italiano no exterior foi tão baixo; e, pouco depois da invasão das fábricas, o medo ou a esperança de que a Itália pudesse entrar em colapso a qualquer momento se espalhou!
Contra esta condição de coisas, muitas vozes surgiram. Também a voz dos fascistas e Mussolini, da tribuna diária do Popolo d'Italia. Mas era, esta, uma voz bastante própria. Defesa do bom direito da Itália, resistência aos aliados, pé firme no Brenner; mas não chore, com os nacionalistas, por cada rocha perdida no Adriático; não se acoste de acomodações e transações para Rijeka. «Nós somos expansionistas, não imperialistas». Interesse constante, então, e atenção agradável ao movimento sindical. Também não é grande escândalo a ocupação das fábricas, na qual Mussolini vê um pouco a sua revolução, o desenrolar do que começou em 1914-15. O controle chegou a entrar no programa dos fasci. Na vitória dos trabalhadores, de fato, ele vê o fim de uma relação jurídica secular, o fim do contraste entre capital e trabalho e a aproximação desses dois fatores de produção necessários. Giolitti não deve ser repreendido, para ele, exceto porque pouco ou nada fez para evitar a invasão, para evitar a degeneração política, socialista e bolchevique daquele movimento sindical. Era para mostrar o poder, não a impotência do Estado. Pode ser, acrescentou ele, que esta abdicação se repita. E então «convidamos os cidadãos, e particularmente os fascistas, a se prepararem por todos os meios para pavimentar os planos bolcheviques do partido socialista». Em suma, nenhuma trégua com o partido, mas mãos abertas às organizações operárias. E quanto ao governo, aut aut: ou ele se oporá à ação daquele partido ou os cidadãos e fascistas substituirão o governo.
Entre precisamente o que, por agora, estava a acontecer há algum tempo. Em Puglia, Toscana, Basso Po, noutros locais, reacções individuais e colectivas. Núcleos de cidadãos e fascistas entraram em ação. No Outono de 1920, já o fascio de Ferrara, o centro de uma área fortemente dominada pelo partido socialista, começou a ir para o campo ao redor. Invasões rápidas, como em território inimigo, para proteger trabalhadores livres ou proprietários ameaçados; expedições punitivas ou de retaliação, por ofensas ou violência cometidas; golpes de mão para tirar uma bandeira vermelha muito ostensiva; patrulhas noturnas na cidade; tentativas de criar fasci nas aldeias. Armados, enquadrados, comandados por ex-oficialis, gagliardetti na cabeça e hinos de guerra e novos cânticos, eles estão presentes em todos os lugares para reviver a resistência de seus amigos e conter a fanfarra dos adversários. Em Novembro e Dezembro, eventos decisivos ocorreram em Bolonha e Ferrara. Em Bolonha, o assassinato, em pleno conselho municipal, do advogado Giulio Giordani, lutador e mutilado, agora conselheiro da minoria liberal e fascista, provocou um movimento de indignação irresistível na cidadania. Bolonha era a cidade mais vermelha da Itália, quase a capital do bolchevismo italiano, do novo estado em formação. E esse feixe tinha vivido, até então, uma vida miserável, com algumas centenas de jovens ou um pouco mais: uma scapigliatura romântica! Mas agora, em poucas semanas, ele teve mil e realizou a primeira grande ação de força: o assalto, a tomada, o incêndio da Câmara do Trabalho, sob a liderança de Leandro Arpinati, um jovem que veio do povo. Em Ferrara, em 20 de dezembro, uma coluna de fascistas é alvo de pessoas armadas, à espreita na loggetta do castelo de Este, e semeia a praça com mortos. E também aqui, enérgica insurreição da cidadania, rápido desenvolvimento do feixe, ação mais intensa no campo. Começou uma martelada sistemática de todas as organizações vermelhas, políticas ou económicas, ligas, câmaras de trabalho, cooperativas, etc., todas ligadas a correntes. Os primeiros fasci no campo, intimamente ligados ao da cidade. Algumas ligas começaram a arborizar o tricolor. Alguns outros, abandonados pelos líderes e desfeitos, foram reconstituídos em novas bases. Assim, houve também os primeiros sindicatos aderentes aos sindicatos, com elementos já, de boa ou má vontade, que entraram nas ligas vermelhas. «A antiga sede abriu as portas para a pátria», diz uma epígrafe propositadamente sobre a casa que abrigou o primeiro destes sindicatos de nova cor. Havia um «material homem» muito solto e móvel na região. Não é difícil para os socialistas, no passado, organizá-lo. Mas não é muito difícil agora, dada a primeira colisão e o feitiço quebrado, desorganizá-lo e reorganizá-lo ainda sob outra bandeira. Também não foi apenas uma questão de violência fascista, que certamente não faltava, embora mais franca e franca e aberta do que a outra, como de guerra real. Mas também uma grande esperança surgiu: a terra para os camponeses. Que já era uma esperança dos combatentes, durante a guerra. E depois, fatores morais de vários tipos, emoções e sugestões diferentes: não se exclui o fascínio pessoal de algum líder, com boas qualidades de líder, agora capaz de dar certa unidade a essa amálgama de pessoas que, tomadas entre duas partes, expostas a duas chamadas opostas, eram incertas e desorientadas. Por exemplo Italo Balbo, então com pouco mais de vinte e poucos anos, já voluntário de guerra e alpino, mazziniano e fascista, também um novo homem. Na breve história do fascismo, que vai desde março de Milão de 1919 a outubro italiano de 1922, este momento, que podemos chamar de Romagna e emiliano, com Ferrara e Bolonha protagonistas, é de grande importância. Não só o fascismo ganhou uma vasta plaga, muito central; mas há o início de uma organização militar de sindicatos; o início de uma organização sindical aderente aos sindicatos; o início de um fascismo rural, também de camponeses e trabalhadores. O movimento fascista que, ao longo de 1919 e grande parte dos anos 20, não tinha feito grandes progressos e pouco tinha saído dos grandes centros urbanos, onde depois encontrou massas de trabalhadores firmes nos seus velhos quadros e pouco abertas aos seus apelos, começou a encontrar no campo uma saída, um bom campo de acção e experiência, um sólido ponto de apoio, a perspectiva de possibilidades que talvez os iniciadores não pensassem. E alimentou-se, esse movimento, tanto dos inimigos do socialismo, vários inimigos, como de pessoas que até então tinham acreditado no socialismo, mas agora começaram a acreditar nos outros.
De Ferrarese e Bolognese, foi facilitada a penetração do fascismo na Toscana, que era fortemente agitada e, no início de 1921, foi palco de episódios selvagens de violência subversiva: como foi a destruição de uma dúzia de marinheiros e carabinieri em serviço de ordem pública, em Empoli. E alimentou-o para o espírito de reacção. O fascismo apareceu em regiões que até então estavam fechadas para ele: Lomellina, terra de camponeses, dominada pelos populares; Lunigiana, terra de pedreiros grosseiros de mármore, que costumavam dar muitos adeptos à anarquia. Fortaleceu-se no Piemonte, na Apúlia, em Abruzzo, onde muitas secções da Associação de Combatentes criaram os feixes na sua sede. Nas regiões redimidas, foi bem plantado em Trento, Trieste, Zadar e Rijeka. Em Trieste, de fato, com Francesco Giunta, secretário político daquele pacote, houve, desde o verão de 20, formações de esquadrões de «Volontarî per la defense cittadina», que haviam feito sua prova no assalto e incêndio do Balcan, centro de atividade comunista e croata; e então, um Escritório Italiano do Trabalho, que foi uma primeira tentativa de organização sindical nacional. Agora, de Trento, o fascismo se alargou pelo Tirol do Sul; e, em Fevereiro de 21, surgiu um fascio em Bolzano. Também aqui se tratava de substituir a ação falhada do Estado, na defesa dos interesses italianos, ameaçados por uma retomada do germanismo. Em poucos meses, surgiram centenas de fasci, além daqueles que começaram a surgir entre as colónias italianas no exterior. E de tudo, gradualmente, a sua organização militar rudimentar. Cada fascio, tinha uma ou mais equipas de combate. Os seus lemas e gritos de guerra se espalham e depois tornam-se um só com o fascismo. O uso da camisa preta, um elemento essencial do uniforme fascista, se espalha. Significa, o negro, que ele luta pela vida e pela morte? Mas também era preto o laço esvoaçante e o fez dos ousados de guerra e das tropas de assalto e dos legionários Dannunzianos. Que, agora, expulsos de Rijeka após a ocupação das tropas italianas, vêm se dispersando pela Itália, um pouco se afastando do fascismo, quase acusados de traição à causa de Rio, um pouco se misturando com os fascistas e também carregando seus próprios trajes e seus lemas, cores, ritos, quase como uma sociedade guerreira. Ousadia, ímpeto, não se fuja da zombaria dos adversários, enfrente a morte com indiferença, aqui estão os personagens desta milícia. Não me importo (ou seja, não me importo em morrer) é o lema vulgarmente mas efetivamente expressivo de tal estado de espírito. Grande, sobre os jovens, o fascínio daquelas rápidas ações de guerra, daquelas canções, daquela folia, daquele sacrifício sangrento e feliz enfrentado, daquele recolhimento religioso no momento do apelo aos caídos. Não é necessário perguntar, sempre, os últimos propósitos de tudo isto. Foi, não pouco, a aventura em si mesma, a acção pela acção, especialmente nos mais jovens que, criados no rugido distante da guerra, são levados a concebê-la e a desejá-la como um belo jogo; e, não tendo podido fazê-la no seu tempo, tentam fazê-la agora, como e onde podem. Há no fascismo, especialmente nas origens, algo que transcende a política e seus problemas e é, sem dúvida, juventude, juventude italiana, juventude do pós-guerra, juventude transbordante, quase rejuvenescimento da nação. A revolução fascista é, na metade, sua obra. Também se forma o mito da juventude, diante do qual o homem de 40 anos quase tem que ser perdoado por existir.
É, tudo isso, «burguês», «classe burguesa», «interesses burgueses»? Os interesses burgueses também estão inegavelmente em jogo. Inegavelmente, no centro dessa reação está a burguesia, que, deprimida e discorda logo após a guerra, agora está recuperando a alma e um certo sentimento de unidade. E Enrico Corradini, fundador e chefe do nacionalismo italiano, pôde alegrar-se, naqueles meses, com o promissor despertar da burguesia na Itália, classe aberta, mutável, sempre capaz de rejuvenescer e enriquecer, classe dominante por direito e dever. Na verdade, ele viu, neste despertar, o melhor fruto da guerra. Mas tenha em mente que era burguesia agrária, em vez de burguesia das indústrias e negócios (esta última, contrastando com o socialismo nas relações internas e de classe, mas bastante de acordo na orientação internacionalista ou supernacional). Era, mais do que uma classe média, uma classe média e pequena: que simpatizava muito com as ideias do nacionalismo e trouxe um pouco de suas inclinações nacionalistas para o fascismo, atraindo o sarcasmo em mãos cheias de liberais e pró-socialistas como A. Tilgher e L. Salvatorelli, que viram o parasitismo social e o patriotismo retórico representados nessas classes. Era uma burguesia em que as classes de cultura entraram em grande parte, que não tinham riquezas a defender. Por fim, era uma burguesia que passou pela guerra, solvente eficaz do egoísmo de classe; e, como agora se lançava para a batalha e entrava no fascismo, era representada especialmente por ex-combatentes e jovens, mais dispostos a se aquecer por uma ideia e perseguir fantasmas de grandeza, do que a operar em vista de certos interesses econômicos. Mussolini poderia dizer com toda a sua causa, em setembro de 21, diante dos caixões dos caídos de Modena: para esses jovens, a Itália que eles invocaram não era a burguesia ou o proletariado, a propriedade privada ou coletiva. Mas é uma história, um orgulho, uma paixão, uma grandeza, uma esperança. Portanto, a burguesia sim, mas principalmente como uma soma de valores espirituais, aceitáveis e aceites mesmo por não burgueses. E em 1921, cada vez mais numeroso entra no fascismo ou começa a se mover em sua órbita ou tende, através dos novos sindicatos, a gravitar para ele o pequeno povo, que naturalmente traz para lá sua mentalidade, suas aspirações, suas necessidades, seus problemas, tudo o que muitos dele já haviam trazido ao socialismo e o socialismo também havia promovido, dentro dos limites permitidos por suas ideologias grosseiras, sua materialidade, sua concepção classista apertada. Esta ampla entrada do povo no fascismo é um pouco de contrapeso à não menos ampla entrada da burguesia. O fascismo começa conscientemente a aparecer como uma grande revolução popular, na verdade a primeira revolução do povo italiano, após o esforço das minorias burguesas que fizeram o Risorgimento. Após a guerra, que havia aproximado poderosamente as classes, etc., o fascismo, que entre burgueses e proletários conta, igualmente, amigos e inimigos e cria novos agrupamentos fora das classes, em outras bases. Diferentes problemas somam-se, tendo em vista uma síntese ultrapassada. Poucos dias depois, Mussolini pode reivindicar, diante do socialismo, a tarefa do capitalismo, que não é apenas uma máquina de exploração, mas também uma hierarquia, uma elaboração, seleção, coordenação de valores; ele pode proclamar que o mundo não vai para o comunismo, mas para o anticomunismo, ou seja, para «crescentes diferenciações de valores e plenitudes de liberdade e vida» (O «Pus» no congresso, no Popolo d'Italia, 14 de janeiro de 1921); e pode ao mesmo tempo, prediar que, com o triunfo do fascismo, a única revolução possível na Itália, a agrária, será realizada: a terra para quem as trabalha, nas diferentes maneiras desejadas de vários ambientes.
Não é de admirar, portanto, que, no início de 1921, o Partido Socialista e todo o movimento que se enfurecia sobre ele já parecessem em declínio de forças. Segundo as estatísticas, uma coisa imponente: 156 deputados, 2500 municípios, 36 conselhos provinciais, 1.800.000 votos obtidos nestes jogos eleitorais, 3000 secções do partido, 250.000 inscritos, 3 milhões de trabalhadores organizados. Mas a alma desvanecia-se. Demasiados materiais de má qualidade e resíduos que o socialismo tinha transportado consigo, dando-lhes nada mais do que um rótulo. Tinha alimentado demasiadas esperanças, que também se revelaram ilusões. Sobre instintos demasiado baixos, sobre demasiadas negações, especialmente sobre a negação da guerra, ele tinha construído ou acreditava que poderia construir. Psicologia medíocre, pensar que um povo pode por muito tempo negar os esforços feitos, sejam eles quais forem; o sofrimento sofrido, seja qual for a causa pela qual sofreu; em suma, negar a si mesmo! O sintoma desta crise é a facilidade com que aquele edifício, aqui e ali, se desfaz e cai; os executivos derrapam e grandes multidões se dispersam com o impacto das equipes fascistas. O próprio partido está profundamente ingido de tendências. E no congresso de Livorno, a ala esquerda, os comunistas, se separam e fazem parte por si. O socialismo e o comunismo falharam, comenta Mussolini.
Estamos em Março de 1921. O segundo aniversário da fundação dos fasci é o segundo aniversário. E Mussolini pode proclamar, sem dúvida, que o fascismo, «grande mobilização de forças morais e materiais», se propõe a «governar a nação», para lhe dar grandeza e prosperidade. O nosso programa, acrescenta ele, não se distancia muito do dos socialistas, em termos de organização técnica, administrativa, política. Mas agitamos valores morais e tradicionais. Dentro de alguns meses, toda a Itália será nossa. Seremos um só, fascismo e Itália. É o momento em que muitos jornais fascistas surgem em quase todas as regiões. Aparece em Milão a revista Hierarchia, com um título significativo: director, Mussolini. O Povo da Itália abre-se a uma série de discussões, que representam a contribuição dos intelectuais do fascismo para a clarificação dos problemas colocados por ele ou impostos por seu próprio crescimento. Também é discutido em conferências regionais, como as de Livorno e Bolonha: «Fascismo e Estado», «Fascismo e Política Externa». Política externa e economia nacional, vistas em seus nexos. Revisão dos tratados, libertação gradual das nações plutocráticas, desenvolvimento das forças produtivas internas, não havendo autonomia de política externa enquanto houver vassalagem para com quem dá trigo, ferro, carvão. Valorização das colónias; expansão pacífica no Mediterrâneo e além; renovação da representação diplomática com jovens preparados em escolas especiais. E o pré-anúncio do que o fascismo fará no governo. É então: Conselhos de representações directas das interessadas e competências, reconhecimento jurídico dos sindicatos e determinação da responsabilidade sindical. A Bolonha acrescenta-se: tornar os sindicatos participantes do poder legislativo nos problemas trabalhistas, para que as massas adiram ao Estado-nação; dar aos sindicatos uma moralidade, uma educação, uma consciência. Assim, uma agenda de Dino Grandi, um dos líderes do fascismo bolonhês, persuadido de que o problema sindical era essencialmente um problema de educação de massas.
Assim, chegamos às eleições políticas de Maio [de 1921], para as quais os fascistas se prepararam arduamente, aceitando a ideia de bloqueios nacionais, desde que os vários partidos aceitassem o espírito do movimento fascista. Ou seja, o fascismo, como a ostentação de ter quebrado a onda bolchevique, também reivindicou a si mesmo o direito de imprimir sua marca nas eleições e no bloco. Assim, mais do que uma associação de iguais, houve um agrupamento de forças em torno do fascismo, com um programa que era o do fascismo, embora com alguma atenuação: como onde o controle sindical sobre as indústrias é rejeitado, desde que seja entendido como uma arma para exasperar os conflitos sociais. A batalha eleitoral é muito agitada. Muitas casas das pessoas devastadas. À violência antifascista, o Comité Central dos Fasci opõe a ordem de «represálias imediatas e inexoráveis», mesmo depois de Mussolini ter manifestado seu desejo de uma trégua de armas em Março. E agora ele tinha a sensação de que os fascistas estavam ultrapassando a linha. Realmente, nas províncias, um pouco a juventude do esquadrão estava espiritualmente toda voltada para a luta, um pouco a pressão dos elementos sociais interessados em bater para sempre não só o partido socialista, mas a própria organização econômica que lhe pertencia. É claro que o fosso entre fascistas e socialistas e a própria Confederação do Trabalho foi ainda mais aprofundada. Mas Mussolini não se confundia muito com os aliados e, após a batalha, se manteve em restabelecer certas distâncias. Assim, dando conta ao Giornale d'Italia da deliberação, tomada pelos recém-eleitos, de não intervir na sessão real, acrescentou que o fascismo não só não tinha preconceitos monárquicos, como era «tendencialmente republicano». Era mais do que uma rejeição de qualquer preconceito: e houve um grande tumulto entre os aliados do bloco. Mesmo entre os fascistas, não faltaram dissensões. Muitos viram um programa de estreita coordenação das forças nacionais, como era o fascista, resultar mais na monarquia do que na república. Outros eram frios com a monarquia, mas como ela não tinha lutado o suficiente contra a degeneração parlamentar do governo, as usurpações parlamentares dos direitos da Coroa. Em suma, eles queriam uma monarquia mais monárquica, um rei mais rei. Mussolini respondeu e polemizou. Aos camaradas do bloco, ele disse que não deveria prestar-lhes contas; se alguma coisa, ele deveria devolver ao fascismo o bloqueio, ou seja, a burguesia infectada que também deveria ser tratada com ferro e petróleo, como os círculos socialistas. E aos camaradas do fascismo ele repetiu: «O futuro é incerto e o absoluto não existe» (em Popolo d'Italia, 24 e 26 de maio). Os fascistas abstiveram-se da sessão real.
Assim começou a fase parlamentar do fascismo. Desde então, teve outra tribuna mais alta para falar: Roma. E pode-se considerar a vitória eleitoral como um primeiro passo visível do que depois, mesmo materialmente, se tornará a «marcha sobre Roma». Os fascistas sentaram-se na extrema direita, onde ninguém se atrevia sentar-se nos dias do triunfante bolchevismo: e Mussolini fez um discurso que ele chamou de «reacionário, porque antiparlamentar, antidemocrático, anti-socialista». Mas nós, acrescentou, não incendiamos igrejas, nem lutamos contra a religião, nem pedimos o divórcio. Vemos no catolicismo a tradição de Roma; na autoridade sentada no Vaticano, a única ideia universal que está no mundo. Se o Vaticano desistir de Roma, nós lhe daremos os meios para suas igrejas e sua atividade beneficente. Vemos nas fortunas do catolicismo as fortunas de Roma. Palavras, estas, em que se encontra pela primeira vez aquela exaltação fascista da Roma antiga e dos valores espirituais por ela representados, que então se torna um dos motivos centrais do fascismo e que marca seu total distanciamento do fascismo dos iniciadores, quase suspenso entre o céu e a terra e sem terreno histórico sob seus pés. Mas também há uma homenagem ao catolicismo: ou seja, um passo não para o partido popular, mas para os católicos italianos ou para a Itália católica. Nem poderia falar de outra forma aqueles que pretendiam «governar a nação» e governá-la na sua plenitude, na totalidade orgânica dos seus problemas. Da mesma forma, Mussolini repetiu sua oposição à «ditadura do proletariado», à socialização, ao internacionalismo, ou seja, ao Partido Comunista; mas não, afinal, aos socialistas de outra tendência e menos ainda à Confederação do Trabalho, ou seja, à massa organizada de trabalhadores.
Persuadido, então, que se devia dar disciplina, unidade, ordem, espírito verdadeiramente nacional ao movimento fascista, lutando nele um certo espírito particularista dos núcleos locais, certo amor da violência pela violência, uma certa tendência dos conservadores e agrários de ver o fascismo como seu partido e explorá-lo para fins de classe; induziu-se a iniciar negociações para uma pacificação. Por vários tempos ele virou esse pensamento, advertiu os fascistas para que eles têm um senso de limite em suas represálias ou represálias, deixou claro que não pretendia liderar um movimento indisciplinado e caótico. Agora, a pacificação foi invocada por vários lados: vozes de combatentes, de mães e viúvas dos caídos, de mutilados de guerra; manifestações significativas, em comunções romanas e napolitanas; pequenas pacificações locais aqui e ali. O próprio D'Annunzio pediu. E Mussolini iniciou as negociações em meados de junho, quase entre potências beligerantes. Eles foram frágeis, entre altos e baixos, boas e más esperanças, confiança e ceticismo. O chefe de governo, I. Bonomi, ele funcionou como árbitro. E não foi um espetáculo edificante ver exercer a tarefa de compositor amigável da guerra civil o que deveria ter sido, por direito e dever, o enérgico moderador e infrenador. Muitos fascistas recalcitraram. O próprio Conselho Nacional Fascista, onde se sentavam representantes das várias regiões, considerou o acordo não oportuno e apenas considerou necessário distinguir as organizações econômicas dos trabalhadores dos partidos subversivos e convidou os fasces a acordos locais com os trabalhadores. Apareceu então, durante as negociações, os «arrdos do povo» uma espécie de organização militar em oposição às esquadrões fascistas, que pareciam contradizer com fatos as boas disposições verbais dos socialistas. A tragédia de Sarzana, 21 de Julho, onde a força pública disparou sobre uma coluna fascista que marchava sobre a cidade para obter a libertação de camaradas presos e a dispersou com muito sangue, encorajando então a caça ao fascista pelos camponeses hostis e ousadas do povo ", e assassinatos e crueldades muito cruéis contra eles; esta tragédia, dando aos socialistas a impressão de que eles tinham o novo governo de Bonomi, que chegou ao poder em 5 de julho, atrasou mais do que acelerou o acordo.
Que finalmente veio, entre os representantes dos partidos, ou seja, os dois grupos parlamentares, o Partido Socialista, a Confederação do Trabalho, a Direção do Partido Fascista e o Conselho Nacional dos Fasci: cessação da violência, respeito pelos distintivos e insígnias, respeito pelas organizações econômicas, o partido socialista nada estranho aos ousados do povo, etc. Os comunistas não queriam aderir. E até os fascistas, aqui e ali, protestaram, rejeitaram a paz: como a maioria dos de Romagna, Emilia, Veneto, Toscana. Advers, Balbo e Grandi. Momento bastante grave para o fascismo. Quase princípio do cisma. Mas Mussolini reivindicou a si próprio a iniciativa e a responsabilidade pelo acto cometido. O fascismo, seu filho, também deveria tê-lo aceitado: pelo menos aqueles que amavam não a facção, mas a nação. Afinal, acrescentou, o tratado foi uma vitória: o partido socialista, que até ontem parecia o árbitro da situação, teve que chegar a um acordo com o fascismo, aceitar condições, assumir compromissos, negar os ousados do povo, isolar os comunistas. Era tempo de seguir os caminhos das competições civis. Se o fascismo não o tivesse seguido, ele não teria seguido o fascismo, aquele fascismo que parecia querer ser servo dos vários círculos provinciais. Mas ele era a nação, não a torre do sino. Fundador do movimento, tinha o direito de ignorar os mil elementos locais e ver o panorama político e moral, de olhar de cima, não de Bolonha ou Veneza ou Florença. Ele queria desprovincializar a Itália e projetá-la como uma entidade nacional, como um bloco fundido além dos mares. Ele, portanto, demitiu-se da Comissão Executiva de Fascis. Ele admitiu seu sentimento de revolta, diante de certos excessos dos fascistas. Ele não queria ser um general, com soldados que não obedeceram. Os jornais falaram da «crise do fascismo». Mas a renúncia de Mussolini não foi aceita. A atmosfera vai correr bem. A crise foi superada: também porque a nova violência dos comunistas, sem que se pudesse contar com uma proteção efetiva da ordem por parte do governo, preocupado em ser neutro, em colocar fascistas e comunistas no mesmo plano, também justificaram aos olhos de Mussolini a não observância do pacto de pacificação e a denuncie do próprio pacto, em setembro, pelos faixes tos da Toscana, umbro-sabini e venezianos.
De «movimento» para partido.
- No entanto, esta batalha interna, na qual Mussolini se viu exposto à onda das correntes extremistas do fascismo, apressou um evento que já se via no horizonte: a transformação do «movimento» em partido. O fascismo era agora um grande organismo. Ele já tinha seu próprio governo e hierarquia. Perto de si, sindicatos e cooperativas. Era necessária tanto uma diferenciação programática e tática mais precisa, ou seja, também uma maior determinação de fins e meios; quanto uma maior disciplina, um comando mais firme, mais unidade, um freio mais eficaz às tendências personalistas e particularísticas. Assim, uma comissão ad hoc, reunida em Milão em setembro, decidiu propor essa mudança no próximo congresso em Roma. Foi outra pequena crise. Muitas vozes dissidentes, muitos sotaques nostálgicos, como se a juventude fosse embora, e o tão fascinante e singular que constituiu o fascismo. Sim, política e questões sociais, tudo bem: mas um partido não teria sufocado a paixão, a poesia do movimento? O próprio Mussolini deve ter mais razão do que o seu sentimento. Ele teve que vencer as tentações de seu espírito individualista, que olhava com certo desdém para as grandes massas. Mas, como ele mesmo disse, havia dois Mussolinis: um que não ama as massas e simpatiza com o indivíduo; o outro que sente a necessidade de disciplina e, como a exerce sobre si mesmo, assim a quer nos outros. Ele também disse que era necessário passar para a fase de responsabilidade coletiva; e estabelecer melhor a ação, determinar melhor os planos, para o dia em que, tendo cumpridas as tarefas negativas de luta contra o dissolveramento interno, a reconstrução deveria ser realizada.
O congresso de Roma reuniu-se em 7 de Novembro de 1921. E viu-se uma massa imponente de representações. Os 22 pacotes e 17.000 inscritos no congresso de Florença de 1919 são agora 2200 e 310.000. Toda a Itália estava lá, mais ou menos de acordo com as várias regiões. Ainda é escasso fascismo da Umbria para baixo e para as ilhas. Mas o que em 1919 era um fenómeno milanês, com poucos ramos, é agora um facto italiano e nacional. Atmosfera de paixão ardente naquele congresso romano. Havia, durante quatro ou cinco meses, uma palavra que perturbava os espíritos, colocava à frente os homens mais representativos do fascismo, e quase cidades e cidades, regiões e regiões: o tratado de paz. Havia relações entre fascistas e legionários fiumani, entre fascismo e dannuncianismo, um pouco entre Mussolini e D'Annunzio que de longe vigiava seus jovens companheiros. Nem todo o fiumanismo confundiu suas águas com o fascismo. Parte dele havia se tornado um bandido de um verbo de Carnaro, quase oposto ao verbo fascista. Também nacionalistas e fascistas, não em perfeita harmonia: certo orgulho e ar de superioridade nos primeiros, como de precursores e homens de pensamento; certa impaciência nos segundos, pelo menos em parte deles, desta espécie de minoria espiritual, embora inegável certa infiltração desse pensamento entre os fascistas, também por intermédio dos nacionalistas que entraram no fascismo. Ou seja, o problema das relações entre fascistas e nacionalistas era também um problema interno do fascismo, que tinha uma ala mais nacionalista e filialmente ligada ao partido nacionalista, uma ala mais... fascista, ou seja, mais nova, mais auto-feita e ambiciosa de fazer por si só, mais revolucionária, ainda mais «tendências republicana». Finalmente, havia a questão da mudança para o partido. Em suma, veias internas. Mas funcionou como concreto, entre todos os fascistas, o esforço de conquistar uma personalidade diante dos outros partidos; o sentido como isolamento. Por ser contrário ao fascismo era o governo; os aliados da luta eleitoral de ontem eram traiçoeiros; desconfiados ou indiferentes de uma parte não pequena da opinião pública, especialmente a burguesia da oficina, os «homens de ordem», os tradicionalistas, os sedentários, enfim, o grande ventre da Itália. E tudo isto ajudou a ultrapassar as questões ardentes. Em vez de uma nova discussão sobre o pacto de paz, que alguns queriam contratar outros para evitar, um abraço entre Mussolini e Grandi: «Nada pode dividir o fascismo», disse este último, «que é um bloco de fé e vontade». A proposta de Balbo para cumprimentar D'Annunzio foi aceita por unanimidade e pareceu e foi uma ponte lançada não só entre o fascismo e o fiumanismo, mas também entre fascistas e fascistas, que não estão totalmente de acordo. Também para os nacionalistas, o congresso teve uma saudação, em nome das lutas travadas em conjunto. Rejeitada a concepção dos nacionalistas de um fascismo sua filha, foi aceito ver nos dois movimentos um certo paralelismo de desenvolvimento, diversidade e afinidade juntos: igualmente contrário à sociedade individualista e internacionalista; mas um mais reflexão e escola, o outro mais paixão e ímpeto e capacidade de realização (Grandi, in Popolo d'Italia, 2 de Fevereiro de 1922). Importante esse esclarecimento de posições, que também era aproximação, para fins da questão da monarquia ou república. E é claro, os nacionalistas trouxeram para o fascismo este fermento monárquico que lhe faltava ou era fraco. Basta pensar na presença, nos feixes, de Cesare De Vecchi, todo o velho Piemonte, toda a monarquia, tudo «Rei e Pátria».
Mussolini, no seu discurso, tocou nestas várias teclas, mais do que as outras sensíveis. Ele falou quase como um nacionalista, quando disse que a Itália, após sua constituição, teve, de verdadeiros políticos, apenas ou alguém da Direita e depois Francesco Crispi, que «projectou a Itália no Mediterrâneo com alma e pensamento imperialista». Grande aviso dele! Pois os «pomos que, sem vontade, se trancam em casa são os que se dirigem à morte». Mas ele mostrou que queria dar mais conteúdo e fôlego democrático ao estado dos nacionalistas, quase divindade suspensa nos céus do absoluto, quando disse que os fascistas queriam identificar o estado e a nação; e que as massas ele queria não adorá-las, não as lisonjeá-las, açoitá-las à necessidade, mas, em todos os sentidos, inseri-las na nação, contendo os egoísmos burgueses não menos do que os proletários. E quanto às instituições, repetiu a «tendêncialidade republicana»; mas que, com isso, ele só queria deixar uma brecha aberta no futuro, para o caso de essas instituições «não serem capazes de defender os interesses, especialmente os ideais, do povo italiano», e já não solicitar uma revolução republicana, que, mesmo que tivesse sucesso no início, teria sido posteriormente subfixada. Em suma, apenas vigilância e controlo. Mussolini falou como um liberal, um genuíno liberal, quando afirmou que, em questões econômicas, era anti-socialista, e que a economia nacional não deveria ser confiada a entidades coletivas e à burocracia, e que ele faria ferrovias e telefones aos particulares e que vagavava o estado ético, com funções materiais mínimas, mas com uma função moral muito alta. Ele teve palavras de reconhecimento pela obra de D'Annunzio, mas excluiu que o fascismo pudesse encontrar suas tábuas nos estatutos de Carnaro: ele apenas admitiu que estes eram animados por um espírito que os fascistas poderiam absorver e fazer com eles. Teria ajudado o fascismo a não se tornar um movimento demasiado político e demasiado social. Quanto ao catolicismo, se houvesse quem quisesse tirar a lei das garantias do caminho, ou seja, lutar com o Papado, lembrava-se da ajuda que o catolicismo poderia dar para fins de expansão nacional. Ele finalmente aprovou a transformação em um partido. Tinha de «despersonalizar-se». Na nova organização, ele queria desaparecer. «Vocês devem, ó fascistas, curar o meu mal e caminhar para vós». Comprar é preciso um sentido de responsabilidade colectiva, apenas um meio de enfrentar e ganhar grandes batalhas!
Nos dias do congresso, grande nervosismo em Roma e agitação grave. Houve, especialmente nos bairros populares, choques e sangue: depois disso, uma greve ultrante que, se proclamou, só cessaria quando os fascistas saíssem de Roma. Entre os fascistas, vários daqueles que queriam fazer o grande cartão. A cidade estava cheia de camisas pretas. Todos os dias eles se reuniram das províncias vizinhas. Finalmente, nada menos que 30.000 e, entre eles, vinte medalhas de ouro. E também o batalhão Sempre promi dos nacionalistas, formação armada, semelhante às equipas dos feixes. Mas Mussolini continha o seu, freou seu desejo de expedições punitivas, também deu um pouco de razão aos cidadãos se não quisesse muita bravata nas ruas da cidade, repetiu que aprovava a violência consciente, inteligente, cavalheiresca, estritamente necessária para rejeitar a violência dos outros, mas não o banditismo. Alguém disse que o tempo não estava maduro: mais um ano. O sentido do tempo foi revelado neste homem, cada vez mais: o que significava a capacidade de dominar com os olhos não um pequeno sector, mas todo o campo de batalha.
Então o congresso terminou. Mas não se passaram muitos dias e o Comitê Central de Fascis deliberaram, em 15 de novembro, a denúncia do tratado de pacificação, que o congresso se limitou a não discutir. E Mussolini, como havia assumido, diante dos fascistas, a responsabilidade pela conclusão; assumiu agora, diante dos italianos, a responsabilidade pela denúncia. Útil e necessário para fechar esse pacto, disse ele; útil e necessário, agora, quebrá-lo. Serviu para conter as expedições punitivas e mostrar a nossa vontade de paz. A partir de agora, teria sido feita a maior disciplina, tornada possível pela constituição partidária.
II. O Partido Fascista.
- Grande importância tem, na história do fascismo, este ano de 1921: «ano fascista por excelência», no qual em toda a Itália esta palavra recolocou, toda a vida italiana sentiu este movimento e o fascismo pesou sobre todas as atitudes, intenções, discussões do governo e dos partidos.
1921 é o ano em que o fascismo, dos estreitos ambientes urbanos do norte e centro da Itália, invade as províncias e o campo, e se satura de forças burguesas e proletárias. É o ano em que surge a organização militar e sindical, ao lado da política: sindicatos, esquadrões, sindicatos. E os sindicatos e sindicatos são federados em bases provinciais, após os primeiros agrupamentos regionais, que não fizeram um bom teste. Importante, deste ponto de vista, é a Conferência Provincial dos Sindicatos Econômicos da Província, realizada em Ferrara em Junho e presidida por Edmondo Rossoni, antigo organizador socialista ou sindicalista, agora convertido à solidariedade de Mazzini, a quem os fascistas se referiam muito, especialmente nesta região. É o ano em que o fascismo vai ao parlamento e Roma está a aceno para se tornar, em vez de Milão, o centro ideal e o centro de ação prática do fascismo. É o ano da tentativa de pacificação com os socialistas, que poderia, se tivesse conseguido, ter impresso uma orientação totalmente diferente no movimento fascista, levar o socialismo a colaborar com o fascismo, afastando os elementos conservadores. É também o ano da crise interna, do perigo de desdobramento do fascismo, em consequência do crescimento demasiado rápido, da heterogeneidade dos elementos, da variedade de ideias directivas, do espírito de batalha sobrecarrecante, da falta de coordenação entre o movimento político, a organização militar e o novo sindicalismo «autônomo» ou «económico» ou «nacional». É o ano em que o fascismo faz contato ideal com a monarquia e o papado e passa para um reconhecimento crescente da função nacional que um e outro exerciam ou poderiam exercer. É o ano do congresso de Roma, que não foi escolhido por acaso: Roma era a porta de entrada para o Sul. Roma era Roma. Cada vez mais esta palavra soa, aos ouvidos dos fascistas, como autoridade, universalidade, disciplina, império. E o congresso de novembro também discutiu a mudança para trazer a liderança do partido para Roma, como mais tarde fez. Ele estabeleceu que 21 de Abril, aniversário da fundação de Roma, seria a festa do fascismo. E pouco depois, esse dia também se tornou o Dia do Trabalho. É o ano da transformação em partido: o que significava mais unidade e disciplina e segurança do que não ser atraído localmente para a órbita de interesses estranhos e perdidos; significava despersonalização do fascismo, responsabilidade coletiva. Mussolini ficou um pouco fora da briga diária, acima dos perigosos balanços da opinião pública fascista. E isso não o diminuiu, mas o elevou; na verdade, ele promoveu sua tarefa de inspirador e líder. O partido deu ao fascismo uma individualidade que não tinha: marcou melhor a sua linha divisória do nacionalismo, do liberalismo, do socialismo, do qual se tinha alimentado em grande parte. «O espectáculo de um fascismo liberal, nacionalista, democrático e talvez popular vai ter o seu fim», disse Mussolini. "O fascismo representará na história da política italiana uma síntese entre as teses indestrutíveis da economia liberal e as novas forças do mundo operário. Esta síntese pode iniciar a Itália com a sua sorte". (Mussolini, Punti fermi, Popolo d'Italia, 4 de Novembro de 1921). Cada vez mais o fascismo se aclarou como um movimento de democracia autoritária e nacional; cada vez mais mostrou que se concentrava em outros e mais altos objetivos que não fossem a vitória sobre o bolchevismo. Sempre pronto para lutar contra a violência, o partido fascista escreveu Mussolini em 16 de novembro; mas agora «iniciará o trabalho preparatório, verdadeiramente político, que deve capacitá-lo a suportar, em parte ou no todo, o governo da nação». A formação, não tão distante, de um «estado fascista» (O Partido Fascista, Popolo d'Italia, 16 de Novembro de 1921). Poucas semanas após o congresso de Roma, o Povo da Itália publicou o programa do partido (27 de dezembro de 1921), tanto mais necessário quanto mais o fascismo hipotecava o governo da nação, como se reafirmava nas primeiras linhas do próprio programa: «O fascismo aspira à honra suprema do governo da nação». Tratava-se não só de iluminar a opinião pública, mas também de dar desconfiança aos partidos concorrentes: ou seja, aos socialistas. Pois, com a prevalência do socialismo de direita, após a secessão comunista; com o governo, primeiro, de Giolitti que finalmente parecia muito apalpar com o grupo parlamentar socialista e, depois, com o governo do socialista independente Bonomi, começou-se em 21 a vislumbrar a possibilidade de um bloqueio antifascista, de uma união entre socialistas e grupos de governo, de uma ascensão dos socialistas, como já dos populares, e junto com eles, ao governo.
No outono de 1921, um dos problemas mais discutidos foi o da colaboração socialista no poder: que, é claro, para aqueles que a defendiam, que não eram tanto os socialistas, nem mesmo os de direita, mas os democratas e liberais pró-socialistas, como M. Ruini e M. Missiroli diretor do século, deveria ser realmente colaboração, com armas e bagagem, não dedicação. Impedir este bloqueio e ascensão é uma das tarefas do fascismo e do grupo parlamentar fascista.
O partido e o estatuto também se uniram a um fortalecimento das formações, direi assim, marginais e uma ligação mais orgânica com os fasces: ou seja, das equipas e dos sindicatos. As equipas disciplinaram-se. E em 22 de novembro de 1921, após acordos entre Italo Balbo e o gen fascista Gandolfo em Oneglia, foi criado um Comando Geral para a constituição, organização e direção das equipes. E houve uma verdadeira organização militar, suficientemente homogênea mas não uniforme, para não destruir o que surgiu com pegadas locais características. Os fascistas foram divididos, romanamente, em Principi e Triarî: e os Principi eram uma autêntica milícia cívica, que se reunia em caso de violência oposta ou calamidade pública. Ele tinha um uniforme e fazia um juramento. Era para educar em si o hábito da disciplina individual e coletiva, desenvolver nos jovens as qualidades morais e físicas necessárias para criar a nação armada, despertar na península o espírito de ordem e o interesse pela vida moral e política da nação. A menor unidade era a equipe; mais equipes, uma centúria; mais centúrias, uma coorte; mais coortes, uma legião, comandada por um cônsul. Tudo isso, subordinado aos órgãos políticos do partido, embora uma unidade inseparável do partido. Porque todo fascista é um soldado e todo fascismo é uma milícia. Em meados de dezembro, em resposta a rumores de uma próxima ofensiva governamental contra equipes armadas, de todas as cores, foi declaro que o fascismo estava pronto para defender por todos os meios seu direito de existência, propaganda e organização e que seções e equipes do partido formavam uma só. Para dissolver as equipes, era necessário proibir e dissolver o partido nacional fascista. A festa reagiria! Em 24 de dezembro, a circulação de Bonomi aos prefeitos, para o desarmamento dos cidadãos; proibição de qualquer corpo armado, qualquer que seja o objetivo que se proponha, ofensivo ou defensivo, qualquer que seja a bandeira que seguissem ou nome que levassem, «esquadrões de ação», «guardas vermelhas», «outro do povo», «cavalaria das equipes», «cavaleiros da morte», etc. Mas o efeito desta circular foi mínimo. No entanto, também não houve retorno de guerrilha, retomada de expedições punitivas, assalto sistemático a organizações econômicas. Na Câmara, a 1 de Dezembro, Mussolini disse: «os mortos pesam». E pediu a todos, ao governo, às classes dominantes, ao povo italiano, que sua atenção se voltasse para além das fronteiras, onde as idéias de solidariedade econômica europeia, condição de salvação para este continente, já farol de civilização, fizeram algum progresso, e a Alemanha e a Rússia se aproximaram, e a revisão da carta da Europa amadureceu. Pois, ou novos tratados ou guerra! E no dia da revisão, a Itália teve que se apresentar unida, para provar que havia superado as cavernas do pós-guerra e estava prestes a iniciar um novo e mais brilhante período da história. Sua tarefa como nação proletária era limitar o egoísmo histórico dos povos que chegaram e dar um pouco de folga àqueles que tinham vontade e capacidade de chegar (Popolo d'Italia, 1 de janeiro de '22).
E quanto aos sindicatos, há uma rápida orientação política. Já existe, em '21, um grupo de ferroviários fascistas. São eles que, durante a greve antifascista em Roma, se oferecem para trabalhar e levar os fascistas de volta às suas sedes. Atenção especial é dada a esta categoria de trabalhadores. Em novembro, a Direção e o Comitê Central convidam os fascistas a se dedicarem com lena à organização de sindicatos e cooperativas, «especialmente trabalhadores de comunicação». (Lembre-se que os ferroviários bolchevizantes tinham sido, em 19-'20, uma das maiores pragas da Itália, a causa da fraqueza, ou melhor, impotência do Estado!). E em dezembro, o Conselho Nacional, em cima de uma agenda de Balbo, estabelece o princípio da organização puramente fascista dos serviços públicos ferroviários e pós-elégrafos. Finalmente, em fevereiro de 22, o Comitê Central da Associação de Ferroviários Fascistas declara que deseja, «sem falsas profissões de apoliticidade», seguir o programa do partido fascista, do qual a Associação é parte integrante. Assim como os outros sindicatos. Em 24 de janeiro de 22, em uma reunião deologne de delegados de organizações econômicas que surgiram por iniciativa fascista, para formar um único órgão nacional, foi decidido, após discursos de Grandi e Rossoni, que os sindicatos criados pelos sindicatos não eram apolíticos, mas fascistas.
Este assunto sindical também não era um assunto totalmente pacífico entre os fascistas. Havia os entusiastas dessa corrida de trabalhadores para o fascismo e dessa organização sindical fascista. No sindicalismo, eles viram um elemento essencial do novo estado que vagava. Ou apontaram na conciliação do princípio nacional e do princípio sindical a força da nossa era; e no fascismo, capaz de tal conciliação, a alma da nova democracia nacional italiana. Mas outros olharam não sem preocupação para as massas operárias que mudaram para o fascismo e, em vez disso, consideraram sua organização no fascismo como uma necessidade. Eles disseram: há centenas de milhares de trabalhadores do braço e do espírito. Podemos negligenciá-los? Considerá-los tão vil? Deixá-los explorados por demagogos? E o fascismo, à medida que as organizações vermelhas entram em colapso, encontra-se com este grande peso nos seus braços. Podemos rejeitar os trabalhadores? Claro que não! Eles não poderiam procurá-los, mas não podem ser rejeitados. Por que eles vêm até nós, não sabemos. Mas é uma investigação inútil. Claro, eles vêm. E tivemos que fazer, temos que fazer sindicalismo. - Frases como essas se repetem sob a caneta do próprio Mussolini (no povo da Itália, 30 de maio de 22, por ocasião da primeira confra de corporações sindicais; 20 de setembro de 22, no discurso de Udine), talvez refletindo o medo íntimo de que tanta massa humana e tão vasta organização sobrecarregue o movimento e o partido fascista, anulasse as virtudes criativas e a força de impulso das elites, sufocasse a vitalidade íntima do indivíduo. Todas as preferências de Mussolini foram para um sindicalismo seletivo. O seu pensamento estava sempre fixado sobre as minorias que fazem a história. A massa, disse ele, é a criação da democracia e do socialismo! Em qualquer caso, que esta organização tivesse de ser dada à mão, já ninguém duvidava: organização de todos os trabalhadores, braço e mente, que era o carácter distintivo do sindicalismo fascista. Mas muitos duvidaram que deveriam ser organizadas sob a bandeira de um partido político, mesmo o partido fascista. E alguém estava a insinuar uma festa de trabalho. Sempre operava a tradição do velho sindicalismo revolucionário que queria os sindicatos livres de partidos, mesmo livres da política, ou seja, de ideologias externas, e capazes de proceder de acordo com as suas próprias directivas, respondendo às necessidades intrínsecas do trabalho.
Ganhou a tese da política, da política fascista, é claro. Como conceber um sindicalismo sem alma, sem uma ideia que o eleve e o salve da fragmentidade, do egoísmo de categorias e de profissão? Impossível organizar massas apenas sindicalmente. Ou socialistas ou fascistas! E assim os sindicatos eram fascistas. E apoiaram-se nestes pilares: o trabalho é o título soberano que legitima a plena cidadania do homem na sociedade; os trabalhadores são aqueles que dedicam a sua actividade à criação e aperfeiçoamento dos bens naturais e espirituais do homem, e os sindicatos devem acolhê-los todos; a nação está acima dos indivíduos, das classes e categorias; a organização deve tender a desenvolver o sentido da pátria e da sociedade nacional sobre a classe, a desenvolver a produção, a valorizar e desenvolver na comunidade, em vez de deprimir as capacidades e forças dos indivíduos. Também foram fundadas as corporações nacionais (a do trabalho industrial, do trabalho agrícola, do comércio, das classes médias e intelectuais, dos marítimos), compostas daqueles sindicatos cujos objetivos se informavam dos objetivos do partido fascista; a federação italiana de corporações foi fundada. E corporações e federações também eram fascistas. Na primeira quinzena de Fevereiro de 1922, houve uma conferência em Roma, entre a Direção do partido e o Comité Central Provisório das Corporações Trabalhistas, para determinar suas relações. Em Abril de 1922, nasceu Il Lavoro d'Italia, órgão semanal da confederação, dirigido por Rossoni: que, no Apelo aos trabalhadores italianos da 1ª edição, escreveu: «O sindicalismo nacional recomeça a reorganização dos italianos de todas as profissões e de uma só fé em um grandioso quadro de educação política, capacidade produtiva, consciência e disciplina nacional». E Mussolini saudou o novo jornal de Milão: «Ao lado do povo da Itália, o Trabalho da Itália, fundido, contra todos os parasitismos da política e da economia». Uma vez realizado o seu trabalho de demolição, continuou ele, «o fascismo deve, por um lado, constituir a consciência nacional vigilante da nossa política externa, por outro, dirigir-se às massas dos trabalhadores do braço e do pensamento para elevar as suas condições e vinculá-las cada vez mais intimamente à vida e à história da nação». É claro que as discussões não terminaram. O chão estava semeado de obstáculos. Resolvido o problema da política fascista, havia outros: que liberdade o partido deixará para as organizações fascistas, ou seja, o elemento político para o elemento sindical? Pois era necessário um mínimo de autonomia. E então: que liberdade, também, para os sindicatos de outra cor? Haverá uma multiplicidade de sindicatos? Haverá um monopólio tricolor ou fascista, depois de ter sido combatido, em nome da liberdade de trabalho, o monopólio vermelho ou socialista. E várias foram as respostas a estas perguntas. Sim, respondeu Corgini, de Bolonha: haverá liberdade e multiplicidade. Não, outros: não pode haver! E Mussolini: o monopólio «será o último resultado de um processo de solidariedade» (Popolo d'Italia, 26 de agosto de 1922). Este do sindicalismo fascista pode-se dizer que é o problema dominante, no fascismo de 1922. E muitos estavam à espera do fascismo neste mesmo teste. Os adversários esperavam, estavam persuadidos, que aqui cairia.
Além da organização sindical, as cooperativas foram esperadas para atrair para a órbita do fascismo aquelas já fundadas e controladas pelos socialistas e fundar novas. E no verão de 22 já se podia ver o desenvolvimento promissor do Sindicato Italiano de Cooperativas. Trabalhou para criar as vanguardas juvenis fascistas, para jovens de dez a quinze anos. Foram formados os grupos Balilla, agregados à vanguarda e sob o controle dos feixes. Muitas vezes se repetia pelos fascistas que o programa não importava tanto quanto os homens; que era necessário preparar a classe dominante de amanhã, capaz de trazer não tanto novas ideias quanto um novo espírito, o espírito alacre, inescrupuloso, combativo, realizador do fascismo. É por isso que, precisamente, agora se deu início a uma vasta obra de educação da adolescência e infância: matéria virgem, não marcada por velhas ideologias. Era também um meio de penetrar na família. Para este fim, os Grupos de Mulheres, fundados para coordenar a propaganda, a caridade e a assistência, sob o controle dos grupos, foram ainda mais voltados para este fim. Não política, mas escolas, clubes, conferências, esportes, especialmente voltados para mulheres trabalhadoras, para criar um ambiente favorável ao fascismo no mundo dos trabalhadores.
Em 1922, o Partido Fascista é a maior força organizada do país. Os adversários continuaram a dizer, mesmo agora, que o programa fascista, tão indeterminado, não era um programa. Os raciocínios sutis e hábeis construtores de padrões ideológicos, confundindo filosofia e vida, esquecendo que sentimentos e paixões também são ou podem ser pensamentos em formação e que, pelo menos, têm capacidade de criar os fatos, nos quais é sempre algum pensamento, continuaram a considerar o fascismo como «estranho à cultura política» e, portanto, condenaram. No entanto, o partido fascista cresce; e o fascismo cresce, que não se esgota em tudo no partido. Mais unidade e disciplina. Mais, na massa dos gregários, aquele estado de confiança, aquela certeza de si mesmo e do próprio trabalho que é quase fé. O fascismo agora acredita que não tem apenas «fins» a alcançar, mas uma «missão» a cumprir. Esta palavra reaparece, depois do Risorgimento e Gioberti e Mazzini, não sem influência direta também daqueles homens que, nos anos da guerra e do pós-guerra, reviveram uma espécie de nova juventude. O fascismo começa a ter os seus mitos. Já é um título de glória ter pertencido à esquecida esporá que seio dos fundadores, ao primitivo feixe de Milão, que Mussolini muitas vezes dá como exemplo de disciplina quadrada, de equilíbrio perfeito. Março de 1919 já está rodeado como um halo brilhante. Esse ano quase não significa o início de uma nova era na história italiana? «Diciannovismo», sinônimo de entusiasmo e fé. Que curto espaço de tempo, mas quanto eu ando! E quantos companheiros caídos, na batalha de cada dia! Já havia uma tradição, fundada, cimentada pelos mortos: quase todos jovens e muito jovens, muitas vezes adolescentes, que entraram na vida com o fascismo, pertencentes a todas as classes sociais. Alguns, homens verdadeiramente representativos daquela geração, quase homens «exemplares»: intervencionistas aos dezessete ou dezoito anos, voluntários de guerra, combatentes, legionários de Fiume, fascistas ..., que caíram então sob os golpes de um desertor ou comunista. Que foi o destino tocado, em janeiro de 22, para Federico Florio, de Prato, animador e líder do fascismo de Prato.
Ele então se elevou cada vez mais acima da massa dos gregarî, à medida que esta unidade cresce, esta disciplina, este espírito de dedicação, um líder, o líder: Mussolini. Que não tem uma posição hierárquica especial no partido. E, no entanto, ele é, agora, o «Duce». Ele não só fundou os feixes: mas durante três anos participou do dia-a-dia no trabalho do seu crescimento; incitou e refreou; trabalhou para educar e refinar, juntos, a si próprio e aos outros. Ele se colocou cada vez mais acima do contingente, o particular e apaixonado acima do individual, e agora personifica o movimento, que ele mesmo despertou em seus elementos essenciais. É mérito dele mais do que qualquer outro se o fascismo, embora se definisse e se diferenciasse, também se dilatasse espiritualmente, ecoava mais e, gradualmente, o melhor das vozes italianas, se tornasse cada vez mais o «interesse geral», se identificava cada vez melhor com a Itália. Ninguém como ele, atento a evitar desvios e derrapagens; a resistir às correntes demasiado direitas ou demasiado sinistras; àqueles fascistas mais «agrarî» do que «rurales», que fazem, no meio das organizações económicas socialistas, uma obra de pura demolição, sob o pretexto do socialismo, e àqueles que insinuam, aqui e ali, a bater os próprios caminhos dos comunistas e bolcheviques, na cabeça de trabalhadores e camponeses que passaram para o fascismo. Seu martelamento jornalístico diário. E em ocasiões maiores, a sua presença viva, a sua palavra viva, embora nele crescesse um certo desdém por falar demasiado. Mas sua fala era como um trabalho, tão profundamente que ele tinha um impacto na alma dos ouvintes, tanto ele sabia colocá-los naquele estado de emoção que está próximo da ação, quase sinônimo de ação. Ele tinha repudiado a eloquência «verbosa prolissa inconclusiva» dos democratas, e fez dela uma «exuosamente fascista, ou seja, esquelética áspera, franca e dura». Nunca se encolhe em demasiados detalhes, não se perdeu nas notícias diárias, mas despertou visões, marcou caminhos, apontou destinos. Ele escreveu ou falou, manteve os seus pais sempre à espera, sempre voltados não para as coisas feitas mas para as coisas a fazer: em suma, próteses para a frente. Ele estava a educar uma psicologia como soldados, que sabem que a hora da batalha pode ser daqui a dez anos e pode ser daqui a dez dias: por isso, esteja sempre pronto! E toda a sua linguagem era de soldado ou de general. O fascismo é uma milícia. Problemas, inimigos a enfrentar e erradicar. O povo italiano, um exército marchando em batalhões apertados. Comando, quadros, gregar, recrutas, disciplina, cartão igual a placa de identificação, não disputar mas acreditar, lutar, obedecer. Difundiu à sua volta uma certa impaciência, quase decepção, para homens demasiado sábios ou «demasiado inteligentes», para os «inteltectelletuais», muitas vezes, na sua presunção e supervalorização da sua cultura ou ciência, sofísticos e estéreis, «capazes de dividir um fio de cabelo em quatro», mas, inversamente, incapazes de imprimir algum impulso às coisas. Aceitou a definição de A. Tilgher que «o fascismo é o ativismo absoluto transplantado para o terreno da política». E se, acrescentou, o relativismo é o fim do cientificamente; se o relativismo reconhece à vida e à ação uma supremacia absoluta sobre a inteligência, o movimento fascista, com a sua relutência em dar um disfarce definitivo programático aos seus complexos e poderosos estados de espírito, com o seu proceder por intuições fragmentárias, é, pode-se dizer, «superrelativismo». E se o relativismo se liga a Nietzsche e seu «Willen zur Macht», o fascismo é a mais formidável criação de uma «vontade de poder», individual e nacional (Relativismo e Fascismo, em Povo da Itália, 2 de Novembro de 1921). É fácil essa atitude degenerar, nos seguidores, em desprezo pela cultura. E não faltaram manifestações de ironia grosseira e sarcasmo e desprezo pela cultura e pelos homens que a representavam: daí a frieza e hostilidade ao fascismo, amplamente difundidas entre os intelectuais. Mas essa ironia e desprezo, se refletia um pouco as condições intelectuais de uma geração que havia feito quatro anos de guerra ou cumprido distraidamente seus estudos ou esperado, simplesmente, para equilibrar as mãos em vez de folhear livros; era também manifestação de necessidades não satisfeitas, como sempre nos tempos em que os homens começam a fazer coisas novas ou a sentir a vida de uma nova forma e não encontram nas idéias atuais, na escola, nos «professores», a realização necessária e a ajuda para entender, orientar e operar. Foi, em suma, aspiração ou início de uma renovação cultural. E o fascismo agora tem seu próprio ideal de cultura, de uma «cultura fascista», uma cultura viva, móvel, capaz de penetrar e animar e unificar tudo, não um setor próprio da vida, mas apenas uma coisa com a vida. Tem a ambição de uma «cultura fascista» tem o ideal de uma «arte fascista», de um «estilo», de um «modo de vida» fascista.
Pode-se reconhecer que na segunda metade de 1921, e, mais, em 1922, as condições gerais do país, certas condições, insinuavam uma melhoria. Alguns indícios reconfortantes de vida económica. Retomada do trabalho. Agora em declínio a paixão pela Rússia e seu bolchevismo, graças também aos socialistas que foram lá para constatar de visu o estado do país. E D'Annunzio, desde sua aposentadoria de Gardone, poderia proclamar que a Rússia havia, com auto-sacrifício, libertado o mundo de uma ilusão infantil e de um mito estéril; ele havia demonstrado, com uma experiência terrível, que um governo que saiu de uma ditadura de classe é impotente para criar condições de vida suportáveis. Todos os italianos vieram, pouco a pouco, reconciliar-se com a guerra, ou seja, consigo próprios. Ele se limpou, à distância, dos resíduos lamacentos; as dores e sofrimentos que havia imposto não eram mais insultos e algemas que os italianos lançavam na cara de outros italianos. O ministro Bonomi pôde, assim, realizar, no final de 21, a transferência do Milite Ignoto para o Altare della patria: e foi, de uma extremidade à outra da península, uma profunda emoção, na qual a grande maioria dos italianos recuperou sua fraternidade. O fascismo reivindicou, em grande parte, o mérito desta mudança. E era uma reivindicação justa, embora houvesse, na própria mudança, algo que transcendesse o fascismo e qualquer força ou corrente particular de ideias e se voltasse para louvar a nação, sua profunda sanidade, sua vitalidade inexa. O exército se recuperou após o reverso de outubro de 1917, principalmente devido a causas militares, mas também agravado por um princípio de desvio moral; o povo tudo se recupera, agora, após o derrapagem de 1919-20, expulsa o mau humor, os vírus da grande fadiga dos quatro anos de guerra, superior às suas forças.
Isto, portanto, pode e deve ser reconhecido. Como dizer que as tarefas contingentes ou mesmo negativas do fascismo, ou seja, reivindicar a intervenção, exaltar a vitória, frear o bolchevismo desenfreado, diminuíram de importância. Mas no fascismo, desde o primeiro dia, havia, implicitamente, outra coisa também. Eles se expressaram nele e se tornaram ação e realização, sentimentos e pensamentos que tinham sido de nacionalistas, de grupos liberais, de sindicalistas. Os três anos de luta, se serviram para erradicar inimigos, também fortaleceram o fascismo como coisa em si, elevaram-no como pensamento político, colocaram diante de seus olhos um horizonte mais amplo, propósitos mais distantes. Prova disso é o crescimento de feixes também no exterior, alguns em 1921, outros durante 1922, em Alexandria no Egipto, Cairo, Reims, Rodes, Lugano, Paris, Esmirna, Nova Iorque, Trípoli, etc., onde o objectivo não poderia ser, claro, enfrentar o bolchevismo. Portanto, enquanto muitos, mesmo simpatizantes, esperavam que o fascismo começasse a desmobilizar e desarmar e refazer a entrega da Itália aos homens e partidos que costumavam reiniciar o governo, o fascismo, por outro lado, mobilizou cada vez mais. O maior alvo, agora, torna-se o governo, podemos dizer o regime parlamentar, que, com Bonomi e, caído Bonomi em fevereiro de 1922, ainda mais com Facta, atingiu o máximo de desordem e impotência. Parlamento sempre à espera de uma crise, dividido como estava em grupos organizados e oficialmente reconhecidos e que lutam entre si pela prevalência, não dispostos a ver no governo a não ser o seu gerente de negócios. Governo também constituído com base na representação proporcional dos grupos parlamentares e, portanto, internamente discordante, acostumado a viver dia a dia e a se considerar expoente momentâneo de situações momentâneas. Tudo isso se deveu à reforma que colocou a representação da nação em bases proporcionais7 Assim, muitos disseram, tirando outros motivos de deseto para Nitti, autor da reforma da lei eleitoral, em 1919. Mas remontamos ainda mais acima, na busca das causas: egoísmo dos partidos, que no parlamento e no governo sentiam e operavam não como tudo ou momento do todo, mas como parte; prevalência absoluta tomada pelo poder legislativo, especialmente pela Câmara Baixa, sobre o poder executivo; ex-autorização da Coroa, reduzida a uma tarefa quase passiva na formação dos ministérios. Daí o desejo generalizado de que o rei fizesse um ato mais enérgico de presença. Daí, a invocação também de uma ditadura militar. O próprio Mussolini invocou-a um dia no Parlamento, acrescentando que era uma carta arriscada, para ser utilizada apenas em casos extremos, porque, após o corte, ou há cura ou há caos. Mas o grito de Baixo Parlamento! Viva a ditadura! foi um grito que começou a ressoar com frequência, nas manifestações de fascistas e mesmo não-fascistas, sob as prefeituras e comandos do corpo de exército. Assim como em Bolonha e Florença. E Mussolini, comentando esse grito, acrescentou: "A melhor parte da nação não vai para a esquerda, mas para a direita, para a ordem, as hierarquias, a disciplina. Há três anos, ele pede um governo e não o tem. O governo não está lá. A crise actual mostra a incapacidade da Câmara de dar um governo à nação. Pode ser que o grito de Bolonha se torne, amanhã, o formidável coro de toda a nação" (Popolo d'Italia, 12 de fevereiro de 1922).
Daí, no fascismo, cada vez mais oportunidades, talvez procuradas, e desejo de substituir o governo, como se fosse o governo, especialmente onde mais graves poderiam ser as consequências de uma ação governamental muito fraca: como poderia ser nas novas províncias fronteiriças, onde agora parecia necessário cruzar o caminho para as crescentes ambições autonomisticamente, ou melhor, encurtar as antigas autonomias e unificar legislativamente as províncias com a Itália. No início de 22 anos, o feixe de Trieste enfrentou definitivamente o problema. Houve, naquela cidade, uma reunião de deputados fascistas e personalidades do partido, Giovanni Giuriati, ex-presidente de Trento e Trieste, Michele Bianchi, Alberto de ' Stefani. Essas autonomias, disse este último, já foram usadas para salvar o país da germanização; mas agora servem apenas para impedir a fusão total com a Itália, o resgate do elemento italiano. Mesmo em Zadar, o fascismo lutou contra os velhos núcleos locais, animados pelo espírito paroquial, ontem hostis à Áustria, hoje desconfiados da Itália. Em Fiume, então, no início de março, houve uma verdadeira ação begisca de fascistas de Fiumani e Trieste liderados por Giunta, contra Zanella, que ali representou, igualmente, as tendências autonomistas após a partida de D'Annunzio. O partido também não tinha falta de perscamadores impacientes dos maiores e mais revolucionários golpes. Mas a maioria sempre pensou que o fascismo deveria, antes de mais nada, integrar-se plenamente na vida nacional e ser a sua força de impulso. Uma ação violenta para tomar conta do Estado, disse o próprio Mussolini, poderia, agora, ser fatal (3 de abril, no Conselho Nacional do partido). E uma agenda Balbo, Forni e outros, de 3 de abril, compromete os fascistas a centralizar suas atividades partidárias no parlamento e nos fóruns administrativos, até saturar gradualmente toda a nação. Em suma, um método bastante evolutivo. O que, no entanto, não deveria excluir a preparação mesmo para eventos rapidamente finais.
Houve, durante a primavera, uma série de grandes comunhões fascistas. Em 26 de março, em Milão, para o terceiro aniversário dos fasces: trabalhadores, trabalhadores do campo, burgueses pequenos. «Sem peixes-cabar!» ; «movimento cheio de impulsos idealistas», disse Mussolini ao Povo da Itália. No dia 21 de abril, primeira celebração fascista do Natal em Roma e do Dia do Trabalho, substituindo o Primeiro de Maio, com comições, procissões, etc. Um artigo da Hierarquia destacou a função de Roma na história da nação italiana. E Mussolini, do seu jornal: "Em Roma, vemos a preparação do futuro. Roma é o nosso mito. Sonhamos com uma Itália romana, sábia e forte, disciplinada e imperial. Muito do espírito imortal de Roma ressuscita no fascismo: romano é o littorio, romano a nossa organização de combate, romano nosso orgulho e coragem. Os romanos foram formidáveis ... Com tais pensamentos, os fascistas lembram-se do primeiro sulco traçado no Palatino para construir a cidade quadrada". Em meados de maio, 50.000 trabalhadores fascistas dos sindicatos, afluindo de todas as estradas, a pé, de bicicleta, em caminhões, dentro de barcos fluviais, capas e cobertores de ombro, militarmente, se concentram em Ferrara. Italo Balbo é o seu cabeça. É uma grande «greve fascista». Procuram trabalho e não subsidiam; querem a execução imediata de obras já deliberadas, protestam contra a lentidão do governo, afirmam que «quem fez a guerra tem direito à vida». No dia 24 de maio, aniversário da entrada na guerra, baleados pelas ruas de Roma contra a procissão que trouxe para sua cidade o corpo de Enrico Toti, o herói popular, o alvo mutilado de uma perna, que havia feito guerra em um batalhão de ciclistas e, baleado até a morte, lançou seu cabide contra o inimigo. Mortos e feridos. E Mussolini, sobre o Povo: "Fistas de toda a Itália, considerem-se mobilizados a partir de agora, material e moralmente. Se for necessário, disparará com a rapidez do relâmpago, concentrando-se nos lugares que lhe serão indicados. E diante do teu ímpeto, tudo vai cair". E poucos depois, após atos de sangue contra fascistas, em Bolonha e na província, e sob suspeita de um provável plano do governo para espionar a organização política e sindical fascista, de acordo com outros partidos, todos os poderes e deveres dos diretors dos sindicatos da província passam para os comitês de ação; os sindicatos de Bolonha são mobilizados; Michele Bianchi, secretário do partido, transfere sua sede para Bolonha. As equipas de Ferrara, Modena, Veneza, concentram-se nesta última cidade. São 10.000 homens: bivagos sob as arcadas, rondas nocturnas, despertadores, ranço, em suma, disciplina militar. Uma verdadeira ocupação da cidade! Você quer a cabeça do prefeito Mori. E quando eles conseguem que os serviços policiais passem para o comandante do Corpo de Exército, General Sani, as equipes partem. Nesta ocasião, houve a medida da força da nova organização político-militar, pronta, disciplinada e manobrável. Os jornais não fascistas também o constataram. Eles o assumiram no exterior, onde uma certa atenção começou a se voltar, feita de curiosidade e interesse real, para este fascismo italiano que não se esgotava apenas em questões internas, mas também tinha linhas claras de um programa de política externa, mais benevolente para os antigos inimigos do que para os antigos aliados. E depois, reunida em Florença, também a 28 de Maio, dos feixes toscanos, de Grosseto a Carrara, de Arezzo a Livorno: muitos milhares de homens. Junte-se a Pádua, Legnano, Sestri Ponente. Primeira reunia nacional de corporações sindicais, passando das organizações vermelhas às fascistas, ao grito de Viva a Itália, Viva o fascismo. Por esta altura, a corrida com os socialistas, para lhes arrancar as massas, está vencida quase em toda a linha, especialmente no campo. Naqueles dias, Mussolini destacou este grande fato da «ruralização» do fascismo no Vale do Pó. "O patriotismo, acrescentou ele, já não é, agora, um sentimento monopolizado (ou explorado) pelas cidades, mas também se torna patrimônio do campo. O tricolor, ignorado pela frente, agora acena nas aldeias mais escuras". É um grande mérito do fascismo ter conseguido inserir vastas massas de elementos rurais no corpo vivo da nossa história (Gerarquia, 20 de Maio de '22). E Rossoni, no dia da reunida: a partir de hoje, o trabalho italiano entra na história da nação. Só agora, há um sindicalismo nacional, porque até agora as classes trabalhadoras tinham sido habituadas pelos socialistas a pedir apenas benefícios materiais. «Mas agora, do povo, especialmente do povo do campo, nascerão as novas afirmações da nação italiana».
Diante desse espetáculo de massas que eram quase exércitos, mobilizadas e desmobilizadas com um aceno de aceno, que, embora pareçam flanquear o estado, na realidade operam como uma força fora do estado, muitas pessoas, na Itália e fora, se perguntavam, maravilhadas ou inquietas: mas o fascismo quer restaurar ou subverter a ordem e o estado? Pode, ao mesmo tempo, restaurar e subverter? E Mussolini: existe uma antítese absoluta, agora, entre o estado atual, o estado «liberal», que presume estar acima da mistura de partidos e classes e coloca forças nacionais e estatais e forças antinacionais e antiestatais em pé de igualdade; e o estado como o fascismo o entende e quer. Este contraste deve cessar: ou seja, que o fascismo encarne o Estado. Como isso vai acontecer? Talvez legalmente. Talvez: ou seja, existem duas formas ou soluções. E entre os fascistas havia uma corrente que pensava numa ascensão legal, numa penetração gradual em todas as regiões, em todos os municípios, especialmente nos maiores, numa maioria esmagadora no país, numa reforma da lei eleitoral, numa nova eleição, numa prevalência na Câmara, e, portanto, no governo; e numa corrente extralegal, insurrecional, militar. O dilema também foi colocado na Câmara: legalidade ou ilegalidade? Mussolini parece ser para o primeiro: ou, pelo menos, queria vencer o primeiro também. Ele não poderia deixar de imaginar as dificuldades de um ato insurrecional: talvez até mesmo uma possível e indesejável prevalência do elemento ou atividade militar, sobre a atividade política. No entanto, Mussolini não era um homem a ser excluído do segundo chifre do dilema. Facilmente o imaginamos em seu íntimo fascinado pela visão de um exército em marcha, de uma vitória alcançada por assalto não por acordo e transação inevitável. Era então a sua ideia muito enraizada de não prejudicar nenhuma solução; de manter todos os caminhos abertos. Também porque a legalidade e a ilegalidade não eram tão claramente distintas e distinguíveis que uma excluísse absolutamente a outra. Claro, em julho, há uma série de «batalhas de purga local», como Mussolini as chama: ou seja, defenestração, mesmo que na forma de renúncia, de prefeitos e conselhos municipais socialistas. A meio do mês, o fascismo impõe-se em Rimini: e Rimini, juntamente com Bolonha, parece as brânquias de uma pinça para apertar toda a Romagna. De Rimini, então, acesso às Marcas, onde até então eram apenas algumas vanguardas fascistas. Vitória igual em Andria, no centro da Apúlia. E depois, em Cremona, campo de batalha de Roberto Farinacci; em Novara, em Viterbo.
Parece que neste momento queremos, do campo oposto, correr para o abrigo, para evitar que a brecha se alargue. Na última década de julho, a greve ferroviária começa em Novara, onde a Câmara do Trabalho foi invadida, e se estende às regiões vizinhas. Os comunistas, que faziam o jornal Torino Order New, inspiram e encorajam. Há uma ameaça fascista de ocupar Milão com 30.000 homens, se a greve não cessar em 21 de julho: e em 21 de julho, se for a ameaça fascista, se a greve não for totalmente bem sucedida, a greve termina. Alguns dias depois, uma tentativa de resgate socialista em Ravenna, com uma batalha entre trabalhadores das ligas vermelhas e trabalhadores que passaram para os sindicatos fascistas. Mas há, imediatamente, a ocupação de Ravenna por fascistas que vieram dos países ao redor, especialmente de Ferrara, com Balbo: «a tomada de Ravenna», como foi dito. Uma nova e maior greve é proclamada em 31 de julho, durante uma crise do gabinete Facta. No dia anterior, Filippo Turati, líder do socialismo de direita, havia sido recebido pelo rei e consultado sobre a crise ministerial. Foi a primeira vez que um socialista ainda ligado ao partido e com forte solidariedade no Parlamento e na Confederação do Trabalho, subiu ao Quirinale. E uma possível colaboração apareceu à vista: aquela colaboração que várias frações da democracia desejavam todos os dias desde 1919. Mas não os fascistas. Mussolini poderia pensar e considerar que não era impossível, mais cedo ou mais tarde, uma grande coalizão dos três partidos de massas, das três grandes forças que então dividiam a Itália, socialismo, popular, fascismo: coalizão, é claro, na qual o fascismo não poderia deixar de entrar como primus inter pares. Ela tinha dito isso à Câmara um ano antes; ele agora o repete em cima de seu jornal (30 de julho de 1922). Mas ele nunca testemunharia passivamente, especialmente em 1922, uma ascensão dos socialistas ao governo, onde já eram aqueles populares que cada dia mais se declaravam avessos ao fascismo: ou seja, não toleraria uma coalizão governo-socialista-popular, que poderia ser interpretada não como um ato de paz, mas de guerra, guerra contra o fascismo e, portanto, guerra civil no país. Significa que a greve geral agora recuou todas as possibilidades de colaboração com o governo, qualquer que tenha sido a atitude do partido e da Confederação perante a própria greve, um acto revolucionário inspirado pelos elementos revolucionários. Há, mesmo agora, uma intimação pública e um ultimato fascista aos grevistas e ao governo: em 48 horas, ou a greve terminará ou substituiremos as autoridades públicas para que isso cesse. E após 48 horas, a greve continua, as equipes fascistas ocupam as estações, guardam as linhas ferroviárias, conduzem e escoltam os trens, protegem os ferroviários não em greve. E em poucos dias, a greve é cortada. Ao mesmo tempo, em 3 de agosto, as equipes fascistas expulsam os socialistas do município de Milão; eles atacam e destroem, pagando tributo de sangue, o Avanti!. O tricolor reaparece no Palazzo Marino e da varanda fala com o povo D'Annunzio, que voltou a Milão pela primeira vez após a noite de Ronchi. Se havia sombras entre Mussolini e d'Annunzio, agora elas desaparecem. Depois, batalha em Savona, batalha em Parma, batalha em Livorno, liderada por uma medalha de ouro, o comandante Costanzo Ciano. O município também está ocupado em Livorno; e naquele momento, quase para consagrar a vitória, vinte mil cidadãos se ajoelham em recolhimento religioso, no pensamento dos caídos. Em 5 de agosto, também em Gênova, o Comitê de Ação decidiu ocupar o porto, reduto dos socialistas e suas cooperativas que monopolizavam o trabalho. E a palavra de ordem é: liberdade do porto, rescisão de qualquer contrato entre o Consórcio portuário e as cooperativas socialistas, reconhecimento da pluralidade de cooperativas para cada ramo do trabalho. Aqui também, vitória. O palácio de San Giorgio, o glorioso palácio da antiga república, coração de Gênova marítima, agora sede do presidente do Consórcio, está ocupado. O jornal socialista está devastado.
Fatos altamente significativos e cheios de consequências, tudo isso. Viu-se o que alguns milhares de homens determinados a lutar poderiam lutar, animados por uma ideia clara e uma forte paixão em meio ao aplauso ou consentimento da grande maioria dos cidadãos. Viu-se como a pregação socialista, se não tinha educado nos proletários o sentido da ordem nacional, nem sequer tinha sido capaz de educar o sentimento e a capacidade revolucionária. O sarcasmo de Mussolini, que repreendeu os socialistas por não quererem ou não terem sido capazes de fazer nem a colaboração nem a revolução. E daí? Naqueles dias, o fascismo teve quase a consagração definitiva. E chamou muitas outras pessoas que estavam à espera. Longas listas de novos fasces, novos sindicatos, novos juniores de vanguarda, novas equipas. E o colapso dos sindicatos e municípios vermelhos, como se de um terramoto; ocupação de Câmaras do Trabalho, conquista de cooperativas, como em Verona e Veneza. De modo algum esvagante o partido socialista, outros elementos operários, e desta vez os trabalhadores das cidades, estão a orientar-se para o fascismo. Ainda mais burguesia média e pequena, que eram classes ainda desorganizadas. Entre eles, os vários planos de colaboração socialista no poder foram muito seguidos. Mas agora, o socialismo não mostrou que estava sempre fora do quadro dos valores nacionais? E não teria, depois das provas de desordem, desorganização, demagogia financeira que tinha dado no governo dos municípios, não teria dado provas iguais no governo do Estado?
Em suma, novo proselitismo e novos proselitismos a favor do fascismo, tanto da burguesia como do povo. E deu alguma preocupação aos fascistas, esse povo demais; alguma esperança aos adversários, como poderia acontecer ao fascismo o que aconteceu, em 1919-20, com o socialismo, adoeceu de polisarcia e expirou de forças. Mas não, respondeu Mussolini. Ao contrário dos socialistas, não vendemos fumo. Falamos da Itália e do seu futuro. Não desistimos de algumas afirmações de caráter imperialista. Demasiados acólitos podem prejudicar um partido de disputa, não um partido feito de soldados como nós. A nossa disciplina política é também disciplina militar. Os nossos jovens recrutas pedem para lutar, não para discutir. Também nunca prometemos muita felicidade aos sindicatos. Defenderemos as conquistas dos trabalhadores; mas também imporemos sacrifícios, se necessário (La Fiumana, em Popolo d'Italia, 26 de agosto). E vice-versa, um golpe muito grave, quase mortal, para o socialismo, como número e como crédito. Já ferido pelo fracasso das tentativas de estabelecer uma nova ordem pela vã espera do messias, pela pouca energia mostrada aos comunistas, agora está novamente ferido pelo fracasso da greve geral, pela mesma contradição de invocar a legalidade, apelar à força do Estado contra a violência fascista e, ao mesmo tempo, recorrer, por conta própria, a outra e mais ampla violência. Os socialistas reconheceram a derrota por si mesmos; consequência daquela greve com a qual, inversamente, esperavam que o fascismo falhasse. A greve de Agosto, disseram eles, foi «a nossa Caporetto». Foi a última carta, jogámo-la, perdemos. Eles tiraram Milão e Gênova de nós, nossos pilares que pareciam imbatíveis. Os dois maiores jornais nos incendiaram, o Avanti! em Milão e Il Lavoro em Génova. Onde quer que tenha chegado, a rajada fascista varreu-nos. As várias soluções que tentamos para o problema de nossa existência foram todas tardias; a solução colaboracionista, que deveria ser tentada após as eleições de maio de 1921, foi tardia; a revolucionária da greve geral de protesto, tentada quando muitos de nossos fortes já haviam caído ... A culpa é das dissensões internas do método e dos desvios da rota original. Devemos voltar às origens, à carta constitucional do socialismo italiano de 1891 ... (La Giustizia, de Reggio Emilia, 22 de agosto de 1922).
É provável que a vitória de Agosto tenha endossado no partido fascista não as correntes legalistas e gradualistas, mas as revolucionárias. No mínimo, empurrou para acelerar os tempos. Os problemas enfrentados pelo fascismo são cada vez mais urgentes, à medida que o próprio cresce: problemas que agora assolavam toda a nação. E então, nunca antes vimos o governo legal ficar mais passivo e, diante dele, acampar com maior eficiência e função de um governo de fato. Pareceu cada vez mais urgente pensar no Sul, sempre bastante desconfiado e tardio diante do que veio do Norte. Ele tinha resistido, a meio do século. XIX, para o mazzinianismo. Ele reagiu de várias maneiras ao piemontesismo que foi, para ele, a primeira forma que assumiu a unidade. Tinha sido, em 1919-20, motivo de preocupação para os socialistas, como poderia o Sul ser a Vendeia da Itália. E agora isso preocupava os fascistas. Havia, no Sul, um movimento fascista discreto na Puglia, com o deputado Caradonna. Ele estava na Campânia e em Nápoles, com o capitão Padovani. Algo mais em Abruzzo, com Giacomo Acerbo, que teve grande parte na orientação dos combatentes de Abruzzo em direção ao fascismo e depois no tratado de pacificação do verão de 1921. Mas em outro lugar, pouco ou nada. Por outro lado, sem o Mezzogiorno, como conquistar e manter Roma? Como evitar, no mínimo, o perigo de divisões e ferimentos na unidade? E Mussolini, em 11 de agosto, anunciou para 24 de outubro uma concentração de camisas pretas em Nápoles, como um ato de presença e como um começo para uma penetração mais rápida. O fascismo, acrescentou, fará da questão do Sul a maior questão nacional. As energias políticas e econômicas capazes de lhe dar uma nova vida irão despertar naquele país. O Sul vai curar o Sul: mas o Estado vai supor-lhe no esforço. No Sul, o fascismo vê uma grande reserva demográfica, ou seja, de trabalhadores e soldados; um grande sentimento unitário; uma grande capacidade de resistência à lue subversiva. Em Nápoles, ele também especificará a posição do fascismo em relação à monarquia ...
Já existe e uma palavra gira no ar: «marcha sobre Roma». À pessoa que o questiona, Mussolini responde que esta marcha já está em curso, no sentido elevado e histórico da palavra. O processo pelo qual o fascismo encarna o estado está em curso. Está em curso a formação de uma nova classe política, a quem será confiada a tarefa de governar a nação: «governar»; já que o de Facta é um ministério, não um governo. A marcha de 100 ou 300 mil camisas pretas, militarmente enquadradas, de que alguém fala, para as três direções do Adriático, Tirreno, vale tiberino, é possível, mas não estritamente necessário, não inevitável ... Em suma, o dilema está sempre vivo. E Michele Bianchi, secretário do partido, repete-o novamente, explicitamente, no dia 13 de agosto, diante de uma reunião milanesa do Comitê Central do Partido, feita por representantes das regiões. Estamos agora na fase de reconstrução, disse ele. Uma grande massa de trabalhadores, que veio até nós, espera de nós. Agora, aut aut: ou nos tornaremos a força vital do estado ou substituiremos por ele. Ou teremos em breve eleições políticas e representação proporcional ao nosso valor político no país; ou, se não, teremos novas ações fascistas. A decisão terá de amadurecer num curto espaço de tempo. Desejamos que as classes dirigentes italianas pretendam ... - Para qualquer sucesso, Balbo, chefe das equipes, pede que um órgão técnico e estratégico seja fordo na liderança do partido, para dar uma diretiva unificada a todo o quadro militar fascista e torná-lo cada vez mais eficiente. No fascismo, Balbo está à esquerda. Ele é sempre a partir de um fascismo mobilizado, sem restrições de qualquer tipo. O tratado de pacificação o encontra contrário; a transformação em partido é contrária.
Em 20 de setembro, os feixes da Veneza Giulia se reuniu em Udine, e grande discurso de Mussolini. Foi o aniversário da brecha da Porta Pia. E Mussolini elevou o pensamento a Roma, a cidade do espírito, a Roma que já era um destino alto e um grande símbolo para Mazzini e Garibaldi, a Roma que terá uma função essencial na nova vida da nação, que se tornará «o coração pulsante da soada Itália imperial». Só que Roma deve merecê-la; merecê-la com disciplina dentro e no exterior, com uma política que não é mais do que renúncia e covardia, «custe o que custar». De Roma, o fascismo transformará o regime. Em que sentido? Um mês antes da conunção de Nápoles, Mussolini acredita que deve antecipar as declarações anunciadas sobre a monarquia. «Acho que podemos renovar o regime deixando a monarquia». Há outros alvos para mirar! E então, grande parte da Itália não nos seguiria. Teríamos separatismo regional. «Temos de ter a coragem de sermos monárquicos». A monarquia é a continuidade. Grande tarefa, a sua! Por outro lado, a revolução fascista não quer colocar tudo em jogo, não quer dar ao povo a impressão de que tudo está desmoronando. Teríamos ondas de pânico! Basta demolir a superestrutura socialista democrática. O Estado italiano, agora, não tem consistência moral, está sempre à mercê do mais forte, enfrenta os problemas cada um por si só e apenas como problemas políticos. Ele não tem a consciência íntima do seu dever, de uma missão. Então, ele constrói sem cimento. E sobrecarga de actividade: é preciso aliviar isto. Achas que isso o encolhe? Além disso, permanece sempre, e cada vez mais, o grande domínio do espírito ...
O discurso de Udine teve uma grande ressonância: nas regiões redentoras próximas e no distante Sul, a quem se destinava mais especialmente. Seguiram-se algumas semanas de comícios e ações de força; em Vicenza, em Novara, em Alexandria, em Cremona. Aqui Mussolini, a 24 de Setembro, disse: "O Piave não é um fim, mas um princípio. É daí que os nossos gagliardetti começam, daí começa a marcha que só em Roma terminará. Nenhum obstáculo o pode deter". No dia 29 de Setembro, reunião em Roma, na sede da Federação das Cooperativas, dos membros da liderança do partido. Há Mussolini, Bianchi, Balbo, Ciano, Terruzzi, De Vecchi, Dudan, Bastianini, outros: e a marcha sobre Roma, a verdadeira marcha, parece decidida. Teria evitado choques com o exército, respeitado a monarquia, tomado o governo nas mãos, tirando-o dos membros do Parlamento. Há aqui e ali dissensões internas nos feixes. E os líderes admoestam: não devemos perturbar a marcha do fascismo, que deve estar em apenas uma rua, a de Roma! Entre setembro e outubro, eventos importantes se amadurecem no Tirol do Sul. Já no dia 1 de setembro, havia um memorial do secretário do partido, Bianchi, ao chefe de governo, com o convite para encurtar a autonomia, estender as leis e poderes do estado ao Tirol do Sul, fazer desaparecer muitos sinais do regime passado. Em seguida, as negociações foram feitas com as autoridades municipais locais e algo que os fascistas conseguiram: como em Merano, a exibição da bandeira italiana em feriados e o uso das duas línguas como línguas oficiais. Pois, três anos após a chegada dos italianos a essas terras, três anos após a vitória e o colapso do Império Austro-húngaro, ainda se estava neste ponto. Mas em vão as negociações com Bolzano, onde os meninos italianos estavam sem escola, a polícia da cidade também cumpria funções políticas, o prefeito Perathoner era o mestre absoluto da cidade. Os colloquî com os deputados alemães da região também estão em vão. As autoridades italianas continuaram a fazer ass das coisas. E então, mesmo aqui, os fascistas se ateiam. Em setembro, Francesco Giunta, que já havia liderado ações de força em Trieste e Rijeka, teve autorização de Mussolini para intervir: se necessário, mesmo com meios extremos. E na noite entre Setembro e Outubro, aqui estão equipas de Vicenza, Mântua, Trento, Cremona, Brescia, lideradas por A. De' Stefani, Francesco Giunta, Roberto Farinacci, Italo Bresciani, Achille Starace, C. Buttafuochi; concentrar-se rapidamente, invadir Bolzano, ocupar após uma rápida colisão com a tropa o prédio da escola Imperatriz Isabel e nomeá-lo para a rainha Helena, ocupar a prefeitura e arborizar o tricolor e colocar a imagem do rei, ocupar o prédio da administração provincial de Trento, sede do comissário Credaro, e fazer perguntas perentórias ao governo: abolição do comissário e demissão do comissário, aplicação das leis italianas às terras redimidas, criação de uma província única Trento-Bolzano. A luta não era tanto contra os alemães, com quem ninguém queria fazer uma política de violência. Ninguém desconsiderou a presença de 200.000 alemães lá. Mas foi contra o governo italiano que permitiu que aqueles 200.000 alemães, uma minoria muito pequena em uma nação etnicamente homogênea como poucas outras na Europa, ignorassem a Itália e tratassem os italianos como estrangeiros.
No país, fora do fascismo e também do antifascismo, satisfação, desconforto, desorientação, um pouco de tudo, por estes acontecimentos. «Finalmente, temos um governo!». Ou: "Mas quantos governos temos? Dois governos são demais!” E eles queriam dizer tanto que os fascistas deveriam se apressar para se tornar o governo, quanto que o governo não deveria mais demorar a voltar, ele, governo. No entanto, tire, remova a duplicidade em breve. Para os fascistas, é claro, o problema já estava bem resolvido. E não havia mistério do caminho que seria feito. Em um discurso à equipe de ação Antonio Sciesadi Milano, em 4 de outubro, Mussolini disse palavras não obscuras, «dada a espera que mantém as almas de todos os italianos suspensas, no presságio de algum evento que terá que vir». Ele também se re lembrou do assalto ao Avanti!, em agosto, através da barragem de balas e redes. Aqui, acrescenta, a verdadeira violência do fascismo milanês. «Não a pequena violência individual, esporádica, muitas vezes inútil, mas a grande a bela a violência inexorável das horas decisivas». Foi, mais uma vez, desviar a atenção dos fascistas de demasiadas acções de detalhe, para que se concentrassem naquela «horas decisivas». E naqueles mesmos dias, sabe-se que Mussolini compilou a proclamação a ser lançada, como foi lançada mais tarde, aos italianos. Mas Mussolini, dissemos, era o homem de todas as portas abertas. Se não quisermos acreditar que, mesmo convencido da impossibilidade de chegar a uma conclusão satisfatória, aquela que todos os fascistas esperavam agora, pelos caminhos da legalidade perfeita, Mussolini considerou, no entanto, apropriado sempre sugerir uma possível solução legalitária, a fim de poder justificar plenamente, mesmo com a grande maioria dos incertos, os processos violentos que então foram adotados. Ele disse novamente, na frente dos jovens da Sciesa: «É cada vez mais urgente dar um governo à Itália». E não há dúvida, depois dos acontecimentos de Bolzano e San Terenzio (uma pequena cidade perto de La Spezia, chocada algumas semanas antes pela explosão de um depósito de balas e rapidamente resgatou de times fascistas, lideradas por Renato Ricci, perfeitamente equipados também para o que é necessário), quem pode e deve dar. O governo deve convocar a Câmara no início de novembro, ter uma nova lei eleitoral votada, proceder imediatamente às eleições. Uma crise Facta não é suficiente. Com este parlamento, trinta crises só podem nos dar trinta Facta. Se o governo não concordar em seguir este caminho, nós venceremos o outro. Agora, jogamos cartas viradas para cima, mesmo que os outros não nos contenam muito: porque a política parlamentar seciou os espíritos. Mas das trincheiras, ele veio a uma Itália cheia de impulsos e vida. - E, como um homem que agora se sente perto de agarrar o leme, ele insinuou com um grande gesto do braço o curso que ele seguiria: faremos uma política de severidade e reação. Porque também somos reacionados. Reagimos à tendência democrática, em que tudo deve ser cinzento, medíocre, nivelador, tudo é feito para tornar a autoridade do Estado fugaz e efícepria, desde o rei demasiado democrático até ao último empregado. A democracia tirou o estilo do povo italiano, ou seja, uma linha de conduta, a cor, a força, o pitoresco, o inesperado, o místico, tudo o que importa na alma das multidãos. Nós relatamos tudo isso. Tocamos todas as cordas, violência e religião, arte e política; somos políticos e guerreiros ...
Um homem que falava assim, ofuscando uma revolução profunda em todo o modo de vida nacional, diante de jovens à espera de grandes coisas, certamente não poderia dar muita importância às negociações que naqueles dias corriam com o chefe do governo italiano. E também, essas negociações foram a serem aloadas: qualquer que fosse o objetivo que realmente se propuseram, por parte dos fascistas. Eles começaram depois dos acontecimentos de Bolzano, ou seja, depois que a paralisia do governo que agora poderia ser considerada paralisia do estado italiano e, inversamente, a eficiência do novo governo e quase um estado quase fascista se revelou aos cegos. E eles progrediram com dificuldades. Roma, a Roma oficial foi também agora, como durante a guerra, a última a ver e compreender a realidade italiana. Ali se infiltrava da península uma realidade fictícia; ali se vivia uma vida fictícia, todos os hábitos e pensamentos tradicionais. O parlamento, as escaramuças dos partidos, a história das crises, tinham uma parte absolutamente desproporcional à sua real importância, à substância nacional que nelas se continha ou refletia. O inverno, agora, colocou o problema no terreno da segurança pública e da legalidade. Ele não admitiu que poderia entrar no mérito das várias concepções políticas que estavam em luta, que poderia sair de sua neutralidade diante delas. Os fascistas exigiam uma ampla participação no governo; exigiam os ministérios mais importantes, como o dos Negócios Estrangeiros, da Guerra, da Marinha, das Obras Públicas; mais, o comissariado da Aviação. O governo ofereceu cargos de subsecretário; concordou em nomear ministros sem carteira. Também por esta atitude do governo, não admira que o partido tenha seguido de forma feroz montada a sua máquina de guerra. Em 18 de outubro, em uma reunião no feixe milanês, na qual intervieram, com Mussolini e Bianchi, De Vecchi, Balbo e Gen. De Bono, comandantes das equipes, e os generais Fara e Ceccherini, chegou à nomeação de um quadrumvirato que deveria assumir plenos poderes no início da ação revolucionária. E foram Bianchi, Balbo, De Vecchi, De Bono. Mussolini mencionou uma data: 21 de outubro. É provável que tenha tendido mais a antecipar do que a atrasar. Houve alguma hesitação de alguns dos intervenidos, como a organização militar fascista ainda não estava em plena eficiência; como o Sul ainda não deu garantias suficientes, pelo menos de neutralidade benevolente. E assim foi decidido implementar primeiro a grande reunião anunciada em Nápoles, em 24 de outubro. Mas Balbo, De Bono e De Vecchi foram encarregados de estabelecer o plano de mobilização, estabelecendo os locais da reunir as várias colunas que deveriam se mover sobre Roma.
Nessas condições, a reunião napolitana do dia 24 foi feita, depois que já no dia anterior, em Nápoles, Bianchi e os três comandantes das equipes haviam feito os últimos acordos, dado os últimos arranjos e fixado com precisão a data da marcha sobre Roma. «Estamos no ponto em que a flecha começa no arco ou a corda excessivamente tensa do arco se quebra», disse Mussolini, em seu discurso no teatro San Carlo. Ela queria dizer que o momento da decisão tinha chegado. Qual, a decisão tomada, ele não disse. Mas ele atacou, por um lado, o ministério Facta com seu mal-entendido, seu espírito grettamente legalitário, suas ofertas ridículas; por outro, o fascismo, que não podia «ir ao governo pela porta dos fundos», pois «queria colocar no estado liberal toda a força das novas gerações que saíram da guerra e da vitória». A monarquia, acrescentou ele, não está de todo em jogo. E aqui Mussolini, diante dos representantes de uma região que, se tinha tradições políticas, tinha tradições monárquicas, ainda deu um passo em direção à monarquia. Sobre ela, disse ele, a unidade se apoia: e nenhum interesse pode o fascismo em demoli-la. Da mesma forma que a monarquia não pode ter interesse em se opor ao fascismo. Em 48, ele se opôs ao Estatuto? Ele se opôs à guerra em 1915? Ele então fez um ono para Nápoles e seu povo. Para aqueles que objetavam que aquela vasta região não tinha sofrido com o bolchevismo e, portanto, não precisava de fascismo, responderam: mas há tantas outras tristezas a serem sanadas e problemas a serem enfrentados! É preciso desinfetar os ambientes locais; coordenar as forças; fazer de Nápoles, junto com Palermo e Bari, uma das forças de impulso do Sul em direção aos três mares e aos três continentes que cercam a península ....
Houve então um grande desfile diante de Mussolini. Reunidos fora da cidade, após três horas de marcha, 40.000 esquadrões, 20.000 trabalhadores sindicais, equipes a cavalo da Campânia e Puglia, equipes de ciclistas, medalhas de ouro se reuniram na Piazza di San Ferdinando, no coração de Nápoles. À frente, as legiões das terras redimidas. Entre os eva, surgiram aqueles em Rijeka e Dalmácia, cujo pensamento, cuja paixão não foi pouco, a partir de 1919, o fascismo foi alimentado. O grito também retrou em Roma, em Roma! E Mussolini o recolheu, na breve alocução que fez na Piazza San Ferdinando: a demonstração é um fim em si mesma e não pode transformar-se em batalha; «mas digo-vos com toda a solenidade que o momento impõe, que ou nos darão o governo ou o tomaremos, caindo sobre Roma». Agora são dias e talvez horas. E exortou a recuperar rapidamente seus assentos, tendo em vista a ação «que deve ser simultânea e que em todas as partes da Itália terá que tomar a miserável classe política dominante pela garganta». Os dois dias que se seguiram foram dedicados ao trabalho do Conselho Nacional de Fascis. Também esteve presente a Direção do partido, também o Comitê Central, também a Inspecção Geral das Equipes, também as secretarias provinciais, também os representantes da Confederação das Cooperativas: ou seja, todas as hierarquias políticas, militares e sindicais do fascismo. Todos os problemas urgentes foram falados: partido, sindicalismo, grupos de competência, eleições, política externa, escola. Mas a impaciência venceu toda a gente. O próprio secretário Bianchi, no seu breve relatório, disse que «os acontecimentos tinham ultrapassado muitos itens da agenda». Hesitamos até há alguns dias; «mas agora sentimos que toda a agitação deixou o campo para uma vontade teimosa precisa que vai querer e terá que ser vitoriosa». Ele sintetou a situação da seguinte forma: "as Câmaras já não representam o país. Qualquer ministério que saísse dele exerceria ilegítimamente o poder. A nossa tarefa é devolver a legalidade aos institutos representativos em Itália". Ou seja, restabelecer a plena conformidade entre a Itália legal e a Itália de facto, ignorando a Câmara. Não de outra forma em Maio de 1915, quando o intervencionismo pediu ao rei, directamente, um ministério que quisesse a guerra, onde a Câmara não a queria. Uma concepção não diferente preside aos dias de Maio e à marcha sobre Roma. E como, na reunião de Nápoles, oradores e oradores foram longos, Michele Bianchi saiu na frase, que permaneceu histórica: «Mas fascistas, chove em Nápoles, o que vocês estão fazendo?».
Seguiu-se, em 26 de outubro, a ordem secreta de mobilização imediata em toda a Itália, pelos príncipes e triarî. E rapidamente, todo o plano preparado entrou em execução, depois da meia-noite entre os dias 26 e 27. Os poderes políticos militares e administrativos foram assumidos por um quadrumvirato secreto de ação, com mandato ditatorial. Foi lançada uma proclama, elaborada por Mussolini, assinada pelos próprios Quadrumviri. O quarto aniversário do dia em que o exército nacional desencadeou a ofensiva vitoriosa no Piave. «Hoje, o exército das Camisas Negras reafirma a Vitória mutilada e, apontando desesperadamente para Roma, leva-a de volta à glória do Capitólio». A proclamação advertiu que o exército deveria permanecer alheio à luta; os agentes da força pública também foram estranhos. A luta foi travada «contra uma classe política de imbelli e idiotas que há quatro anos não soube dar um governo à nação». Nada tinha a temer da burguesia produtora: «o fascismo quer impor uma única disciplina à nação e ajudar todas as forças que aumentem a sua expansão económica e bem-estar». Nada a temer as pessoas do trabalho, que teriam assegurado a protecção dos interesses justos. «Chamamos Deus Supremo e o espírito dos nossos mortos a testemunhas que um único impulso nos impulsiona, uma só vontade nos acolhe, uma única paixão inflama-nos: contribuir para a salvação e grandeza da Pátria».
Enquanto isso, nas grandes cidades, os diretores se constituíram em comitês de ação e assumiram a direção do movimento. Foram ocupados, quase por tudo, escritórios públicos, municípios, correios, telégrafos, delegacias, prefeituras. As armas foram invadidas, onde foi possível, com golpes de mão repentinos e rápidos. As coisas necessárias foram requisitadas. Não faltaram golpes com soldados e agentes. Em Casal Monferrato, em Cremona, na Bolonha, noutros locais, correu muito sangue. Mas, em geral, ou as unidades da força pública se colocaram na impossibilidade de agir, jogando com ousadia e astúcia, operando de surpresa; ou obteve-se sua momentânea aquiescência, uma atitude de expectativa, que logo, diante do fato consumado, ao curso favorável das coisas em Roma e em toda a Itália, tornou-se aceitação e solidariedade. Os soldados cumpriram o seu dever, permaneceram no seu lugar, enfrentaram-se como puderam ao choque dos fascistas que era mais um choque em massa do que uma arma. Porque, de facto, havia, a princípio, poucas armas. Mas não foi um dever fácil. Diante de ordens perentor de repressão até o fim, a maioria teria obedecido, talvez depois virado as armas contra si mesmo, como em várias ocasiões havia sido dito por oficiais, durante 1922. Especialmente entre os subordinados, havia amplas simpatias pelo fascismo; que, por sua vez, embora falasse muito de uma nação armada, dava todos os dias atestados de sua simpatia ao exército, como uma coisa com a Itália e o fascismo. Mas estas ordens perentorî raramente estiveram lá. O sentido da tragédia atormentava os espíritos. O que estava a acontecer naqueles dias, naquelas horas, então, apresentava-se a todos com um certo carácter de fatalidade e também de legalidade substancial. Não havia uma facção lá, nem rebeldes armados, nem subvertidos, nem antimilitaristas acostumados a desvendar o exército, mas a nação, a flor da nação, aqueles em que a tradição da guerra era melhor personificada: onde o governo era moralmente isolado e só por uma ficção legal se podia admitir que representava a Itália. Como lutar contra massas de jovens que avançavam, muitas vezes indesededos ou mal armados, elogiando, muito sinceramente, a Itália, o exército, o rei? Eles eram ex-lutados, os oficiais que comandavam as equipes; quase todos carregavam sinais de bravura e ferimentos. Vários declararam que nunca disparariam contra os camaradas em cinza-verde e receberiam suas descargas no peito, de acordo com o cuidado, se os outros tivessem ordens de atirar. E, claro, os outros não puxaram. Excluindo absolutamente que se possa falar de deserção do exército, resta apenas a sua rápida adaptação à nova situação moral do país, que se tornou imediatamente após a situação jurídica.
Com camisas pretas, os triarî permaneceram para guardar as cidades; os príncipes fluíram para Roma. Os locais de reunificação eram pequenos locais a trinta ou quarenta quilômetros da capital, Santa Marinella e Monterotondo para aqueles que vieram do norte e centro da Itália, com o Marquês Perrone, os generais Fara e Ceccherini, o tenente medalhista de ouro Igliori; Tivoli, para os de Abruzzo, com Giuseppe Bottai, Giacomo Acerbo, o cônsul Giannantoni. Uma reserva foi formada em Foligno, sob o gen. Zamboni. Poucos, as equipes do Sul: porque quase todas tinham como principal tarefa vigiar as províncias e impedir o deslocamento de tropas para a capital.
A sede do comando geral era Perugia que, na noite de 28, chegou às mãos dos fascistas, depois que o prefeito, para evitar derramamento de sangue, se rendeu. Havia, para dirigir este trabalho de concentração e ligação, alguns homens do ofício, ou seja, generais e oficiais superiores que saíram do serviço ativo após a guerra: alguns já chefes de legionários, em Rijeka. E procedeu, se não perfeitamente, não muito mal. Em Roma, entretanto, reuniu-se, na noite do dia 26, o Conselho de Ministros e os titulares tinham colocado as suas carteiras à disposição do presidente, deixando-o livre para julgar a conveniência de formar outro gabinete: ou seja, não parece que tivessem a sensação precisa de se deparar com uma crise de novo tipo. Eles estavam, de fato, mal informados do que estava se preparando no campo fascista. Melhor informado o rei que, ausente, se apressou a retornar à capital na noite do dia 27, aclamado na estação por fascistas e nacionalistas, e aceitou a renúncia do gabinete Facta. Que permaneceu em seu lugar para a manutenção da ordem pública e imediatamente mencionou medidas repressivas severas, especialmente solicitadas por alguns ministros: prisão de quadrumviros e chefes provinciais, defesa armada da capital nas portas e nas pontes, estado de cerco em todas as províncias, a partir do dia 28. Na verdade, ele publica esta decisão do estado de cerco, com a certeza de que o rei assinaria o decreto. Mas o rei recusou a assinatura e, ao meio-dio do dia 28, a Agência Stefani teve que anunciar que a proclamação do estado de cerco não havia mais corrido. Foram horas de profunda emoção, de espera ansiosa. Luigi Federzoni, dos nacionalistas romanos, deputado Dino Grandi de Bolonha, Costanzo Ciano, Cesare De Vecchi, outros, manobraram entre o governo e o tribunal, o tribunal e Mussolini, Mussolini e o governo. Assim que se soube, para Roma, da rejeição do rei, foi um grande elogiar. Equipes fascistas e nacionalistas começaram a circular livremente. Por fim, uma tentativa fracassada de ministério Salandra-Mussolini, pela recusa deste último, o próprio Mussolini foi encarregado, em 29 de Outubro, de formar o ministério. E Mussolini, que se apressou a Roma, apresentou-se ao rei, rapidamente constituiu o ministério que contou, entre os primeiros, o general Armando Diaz, duque da Vitória, e o almirante Paolo Thaon di Revel, duque del Mare, chefes de estado-maior do exército e da marinha na última e vitoriosa fase da guerra. Nesse ínterim, a marcha das colunas sobre Roma havia começado, dos locais de encontro: algumas, por sua própria iniciativa, por impaciência e impaciência de comandantes e gregarî, fora de qualquer ordem superior. Marcha pouco sangrenta: algumas emboscadas de comunistas ou ousadas do povo, baleadas das janelas e telhados contra a coluna que vinha de Abruzzo, através do popular bairro de San Lorenzo em Roma, etc. Assim, o drama, em vez de se tornar uma tragédia, teve um final feliz. Em 31 de outubro, ordem de desmobilização. Mas antes, as cem mil e mais camisas pretas, amontoadas em Villa Borghese, foram revistas por Mussolini, foram enquadradas em direção ao Altare della Patria onde prestaram homenagem ao Soldado Desconhecido, desfilaram sob o Quirinale e cumprimentaram o rei, que, flanqueado por Armando Diaz e Thaon di Revel, assistiu por cinco horas à passagem desta grande onda de juventude. Canções, inns, poderosos alalà, galhardetes e bandeiras ao vento, alguma camisa vermelha garibaldina extinta misturada com as camisas pretas dos fascistas, entusiasmo perturbador. E imediatamente a seguir, partindo de Roma e voltando para os escritórios.
III. Fascismo no governo.
- Embora tenha subido ao governo com um ato revolucionário, Mussolini não fez um ministério todo e apenas de fascistas. Veio do liberalismo, embora de um «novo liberalismo», Giovanni Gentile, ministro da Educação; do nacionalismo, Luigi Federzoni, a quem foram confiadas as Colónias; dos radicais, Colonna di Cesarò que teve os Correios e os telégrafos; de outros setores ou partidos, incluindo o popular, outros ministros ou subsecretários. Os socialistas da Confederação do Trabalho também quase entraram. Só que estes homens não estavam lá representando um partido. E o ministério não era um ministério de coligação, embora o próprio Mussolini o chamasse assim. Era um ministério fascista, feito de fascistas e não-fascistas chamados a colaborar. Poderíamos também dizer que o novo ministério foi, sem dúvida, Mussolini, de modo que ele era proeminente entre os outros. Mesmo antes de uma lei dar uma posição muito proeminente ao chefe do governo, Mussolini foi imediatamente muito mais do que um primus inter pares. Basta repensar, afinal, sua poderosa personalidade e sua condição de fundador e animador de um partido como o fascista que queria se identificar com a Itália, prosseguia de acordo com uma lei hierárquica rigorosa e sob o comando intransponível de seu líder, ele era partido e milícia juntos. Entre um partido assim feito e o governo, agora, não há apenas uma união pessoal, representada por um líder comum, mas uma união quase constitucional. Não é uma nova coincidência que um partido, que chegou ao poder, continue a viver e exercer a sua acção de controlo e impulso; e que o chefe do partido e o chefe do governo sejam uma só pessoa. Caso novo é antes esta ligação quase constitucional entre partido e governo. O órgão de ligação é uma nova instituição, o Grande Conselho fascista, presidido por Mussolini e formado pelos ministros fascistas (dois ou três, desde o início; então, todos), alguns subsecretários dos dicastérios mais estritamente políticos, dos quadrumviri, do secretário-geral das corporações, do secretário dos fas no exterior, do diretório do partido, dos chefes da milícia: enfim, o alto comando ou o estado-maior do partido.
Grande inovação, portanto, no governo. Já está claro que isso, como não emana da Câmara mas do rei de um lado, do partido para o outro, não pretende depender da Câmara, vincular sua existência a um voto da Câmara, ser expoente de situações momentâneas da Câmara. Em suma, fim, pelo menos de facto, do estado democrático-liberal. E no entanto, não, mesmo na ordem institucional, aquela subversão que está ligada ao conceito comum de revolução. E houve aqueles que, fascistas ou antifascistas, culparam ou irritaram Mussolini, porque ele prendeu a revolução nos seus primeiros passos. É que a «revolução» de Mussolini não foi subversão, não foi a Rússia. Ele, embora já tivesse acreditado nesta revolução, já não acreditava. Ele se colocou em um terreno histórico, ou seja, havia marcado limites para si mesmo: especialmente desde que aceitou a monarquia. Ele pretendia inovar profundamente, mas não desistir de usar elementos antigos e, também, vivos, vitais e utilizáveis. E também porque queria inovar, queria avançar passo a passo, da base ao topo, pedra sobre pedra; criar, onde não havia, as condições para uma boa construção. E depois, havia uma tarefa imediata e urgente, capaz de absorver a força de trabalho de cada governo mais oporáceo; uma tarefa para a qual era possível e útil contribuir com habilidades técnicas e boa vontade também de outros partidos simpatizantes: uma vez que era, de fato, mais uma tarefa técnica do que partidária. Tratava-se de tirar o Estado e o país das setas em que se tinha encalhado, das correntes desordenadas que tiravam todas as direções do seu movimento: em suma, colocar tanto as alavancas de pressão como os freios de volta em plena eficiência. Os sintomas de melhoria, dissemos, não faltaram, na Itália de 1921-22, em comparação com o que tinha sido a Itália de 1919-20. Mas teve de acelerar. Deveu-se à vis medicatrix naturae acrescentar vontade, consciência, ambição a grandes destinos. E aqui se manifestaram as extraordinárias habilidades de chefe e realizador de Mussolini. Saltou para o comando dos assuntos públicos, ele imediatamente mostrou que estava lá como seu lugar natural. Ele não tinha prática de governo e administração; não tinha experiência com dispositivos burocráticos. Ainda era certamente fresco o simplismo ideológico (necessário viatico de qualquer revolucionário) e certamente quase espanto diante da complexidade da vida econômica e social moderna, que se revelou a ele de repente. Mas em troca, um assimilador e improvisador muito brilhante: italiano perfeito também neste, bem como no calor, na paixão, no equilíbrio mental, no tipo físico. Ele tinha, instintivamente, um sentido de direcção. Onde faltava conhecimento e experiência, o flash da inteligência, a intuição muito fina, como um grande clínico ou um grande historiador, pode até como um poeta. E um homem tão feito começou a operar e a dirigir numa altura em que passava sobre a Itália um grande sopro de optimismo, confiança e boa vontade. Mesmo os antifascistas calaram ou não contrariaram muito: você quer que eles temiam pior, mesmo para suas pessoas físicas; você quer que eles prefiram tudo à desordem anterior, ao dualismo entre governo de fato e governo de direito, enfim, à desintegração do tecido nacional. Houve, especialmente nos jovens, uma febre de dedicação, disciplina, obediência, respeito pela lei que era bastante nova na Itália, um país de indulgência tradicional e até simpatia por cada gesto rebelde.
Nesta atmosfera que aquecia um pouco as almas da grande maioria dos italianos, era possível restaurar a ordem suficiente e reduzir muito a guerrilha diária. As greves pararam repetidamente, quase por doença, no proletariado industrial, no campo, nos serviços públicos, nas escolas. A massa de funcionários, embora fria, não deu mais o espetáculo indecente que os anos antes tinham dado. O Partido Socialista perdeu quase toda a capacidade de iniciativa. As oposições municipais e provinciais quase desapareceram, pois em poucos meses as administrações locais se tornaram fascistas ou tiveram commissarî reais ou prefeiturais, e a Federação de Municípios apolítica, a Federação de Municípios Socialistas mais do que política, ficou com a Federação fascista de Entidades Autárquicas. O dualismo entre fascistas e nacionalistas, que não impediu certa colaboração, mas também não impediu a dissidî e os choques, especialmente no Sul, foi retirado pela fusão dos dois partidos, em março de 23. Eram, como aspirações fundamentais, algo semelhante; mas eram, também, dois comandos, duas hierarquias, duas roupas mentais. Tendências para o dogmatismo de um lado, inescrupulosura do outro; problemas essencialmente e, por vezes, um pouco abstractamente políticos, por um lado, problemas político-sociais do outro. E depois, camisa azul e camisa preta que não é indiferente, aos olhos dos homens e dos jovens, para quem até os símbolos são substância, por vezes a única substância. Nacionalistas e fascistas poderiam, portanto, fundir-se, não coexistir. E fundiram-se. Os adversários, que já haviam batizado o fascismo, não sem uma pitada de ironia e sarcasmo, «nacional-fascismo», agora cada vez mais diziam que o nacionalismo, um partido pequeno-burguês, alheio às grandes forças do capitalismo e do proletariado, vivendo quase parasitáriamente à margem do processo produtivo, voltado para uma concepção paternalista do Estado, havia engolido o fascismo. E a sua aversão ao fascismo cresceu em vez de diminuir. Na verdade, nessas afirmações, havia apenas isso: que o fascismo se tinha cada vez mais, a partir de março de 1919, saturado de conteúdo e revestido de formas nacionais ou nacionalistas, também pela ação de homens que vieram a ele do nacionalismo, bem como por um processo evolutivo espontâneo, realizado durante a longa luta contra o socialismo e o internacionalismo. Nada mais do que isso. Na verdade, logo se manifestou no fascismo uma certa tendência para ir além de certas aguças do nacionalismo, de se apresentar como uma reforma ou revolução de valor universal.
Dentro do fascismo, as equipes armadas foram dissolvidas e a Milícia Voluntária de Segurança Nacional foi formada, uma organização autônoma firme, ou seja, subtraída de qualquer oscilação do partido, flor, aristocracia, alma guerreira do fascismo", guarnição armada do novo regime, defesa dos «desenvolvimentos inevitáveis e inexoráveis da Revolução de Outubro». A própria milícia, treinada militarmente, para poder devolver oficiais e soldados ao exército em plena eficiência, quando a necessidade de defesa externa o exigisse, foi encarregada da educação preliminar dos jovens, constituiu seções ferroviárias, portuárias, pós-legrafias e florestais, teve a vigilância de áreas fronteiriças, forneceu departamentos para as guarnições e a guerra das colônias. As ambições das regras provinciais do fascismo (o ras!), uma certa tentação de exagerar por parte dos zelantíssimos, se não sempre muito sinceros (com a consequência de se afastar em vez de ganhar simpatia), uma certa vontade de opressão aos poderes do Estado por parte dos impacientes de marchar novamente ou dos intolerantes de freios e limites foram então. Chamando frequentemente o Grande Conselho à liderança do partido, para que procedesse de forma rápida e inexorável em qualquer caso de indisciplina. Intervenções de Mussolini, para manter alta a liberdade e o prestígio dos prefeitos, como únicos representantes do governo e únicos responsáveis perante o governo; para conter os secretários provinciais dentro de suas funções específicas como animadores e disciplinadores do partido; para admoestir que as duas hierarquias, do partido e do estado, eram distintas e inconfessíveis. Também começou a expulsão do partido fascista de elementos heterogêneos que poderiam ser e foram a causa de confusão ideológica e de zania: como os maçons. Já em 22, eles haviam movido os primeiros peões contra a Maçonaria e os fascistas Alberto De ' Stefani e Giovanni Giuriati, que vieram do liberalismo. Só que Mussolini, embora muito overso, como socialista, à maçonaria, tinha contido essas impaciências fascistas: ainda não chegou a hora de colocar essa outra panela no fogo ...! Mas agora, no Grande Conselho de 15 de fevereiro de 23, aut a1′t: ou ser fascista ou ser maçom; ou daqui ou ali, «pois não há para os fascistas que uma única disciplina, a disciplina do fascismo; que uma única hierarquia, a hierarquia do fascismo; que uma única obediência, obediência absoluta, devota e cotidiana ao chefe e aos líderes do fascismo».
Em seu primeiro discurso na Câmara, Mussolini disse: Eles nos pediram programas... Mas não são os programas que faltam em Itália, bem como os homens e a vontade de aplicar os programas. "Todos os problemas da vida italiana, todos, digo eu, foram resolvidos no papel, mas faltou a vontade de traduzi-los em fatos. O governo representa, hoje, esta vontade firme e decisiva". Muito bem, no que diz respeito ao passado. Mas é isso mesmo, o advento, agora, desta vontade. Rapidamente se viram os sinais em todos os serviços do estado: o principal das comunicações, onde o machado do reformador - primeiro o deputado Torre, depois o comandante Ciano - e o renovado senso de disciplina fizeram milagres, para tirar a pletora de funcionários, destruir o vergonhoso flagelo dos roubos ferroviários, renovar o material, aumentar as unidades, diminuir os gastos operacionais enquanto o tráfego aumentava, levar o orçamento do déficit para o excedente. O orçamento do estado também foi colocado de volta. Em 1921-22, a diferença entre receitas e despesas tinha ultrapassado os 15 mil milhões. Agora, o ministro De' Stefani, operando com uma mentalidade econômica liberal, mas enérgica, conseguiu em três ou quatro anos ver o empate, que imediatamente se transformou em excedente. O contribuinte italiano quase se inutou sob os novos pesos; mas resistiu e pagou, apoiado pela simplificação do sistema tributário que se tornou, em última análise, uma verdadeira selva selvagem e, não menos, pela nova alma do cidadão-contribuiente. No campo escolar, Giovanni Gentile, manuseando com firme propósito e ideias claras um assunto que se tornou desgastado devido a muita mudança e discussão e planejamento, levou a cabo uma ampla reforma, que exigiu aos professores uma revisão dos métodos e um refresco da cultura, forçou os jovens a uma participação mais viva e pessoal no trabalho escolar, incentivou e tornou possíveis com o exame estadual muitas iniciativas privadas e locais em termos de escolas secundárias e instituições universitárias.
As linhas foram traçadas e a implementação de uma política econômica e de produção foi iniciado para sanar o crescente desequilíbrio entre os mais de 40 milhões de habitantes e os recursos de um território muito estreito e com vastas áreas montanhosas, montanhosas, pantanosas, ou seja, nada ou pouco produtivas: portanto, recuperação, reflorestamento, bacias montanhosas para irrigação e forças hidrelétricas, cadeiras ambulantes de agricultura, primeiras tentativas de educação técnica aos camponeses, favor do capital investido em empresas produtivas, incentivo assíduo à cultura de cereais, impulso à exploração do subsolo, construção naval e indústria naval, exportações, etc. E o que foi feito no território nacional, foi feito nas colônias, especialmente na Tripolitânia e na zomalia, onde as terras foram lavradas e semeadas, poços foram escavados, a água canalizada, a arboricultura foi estendida, os métodos indígenas de cultivo foram melhorados, começou a construir ou organizar portos e aterros, etc., ao mesmo tempo em que se procedia à reconquista político-militar das colônias, à sua pacificação, à sua expansão, com a compra do Além da Giuba. A este respeito, os nomes de Luigi Federzoni, Ministro das Colónias, do Conde G. Volpi di Misurata, governador da Tripolitânia, de Luigi di Savoia duque degli Abruzzi, chefe da sociedade agrícola italo-somala, feito marinheiro agricultor e colonizador.
A política colonial era, em parte, política externa. E a política externa foi o primeiro campo de ação de Mussolini, chefe de governo e ministro das Relações Exteriores, aquele em que ele se esforçou com mais paixão e empenho. A própria ordem interna, tão rapidamente restaurada, não era um fim em si mesma, mas a meio de uma política estrangeira. «Ele não pode fazer política externa com um país em desordem», disse Sonnino, em 24 de novembro de '22. E em sua ação prática, ele quase se reconectava com Sonnino, aos elementos vitais de sua política, que eram o sentido e o orgulho da dignidade nacional, a avaliação prejudicial dos interesses da nação, o respeito pelos tratados. Respeito pelos tratados: Mussolini declarou-o desde os primeiros dias na Câmara, para tranquilizar quantos, na Europa, esperavam quem sabe que cabeçalhos do fascismo que chegou ao poder. Mas os tratados, acrescentou ele, não são eternos e imutáveis; eles podem ser, se difíceis de executar, reexaminados e revisados. A paz ainda não foi bem alcançada; o equilíbrio europeu, mais do que nunca desfeito após a guerra: estes são os fins que Mussolini tinha diante dos seus olhos. E, depois dele, Grandi que tomou o seu lugar no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Portanto, a Itália combinou imediatamente, pela boca de Mussolini, a questão das dívidas e reparações; fez, primeiro na Europa, uma política de aproximação à Rússia e quebrou o isolamento em que se encontrava; primeiro, reconheceu o valor da nova Turquia; primeiro, tentou restabelecer relações normais com os estados e povos vencidos do centro da Europa e proporcionar à Áustria, com seu próprio sacrifício, possibilidades de vida. Nenhum país fez, depois de 1922, tantos tratados de comércio, arbitragem, amizade como a Itália, com estados europeus e não europeus. Mas ela era muito vigilante em todos os lugares onde seus interesses eram para serem protegidos. E voltou a ser um fator político importante na Europa do Danúbio e nos Bálcãs, especialmente na Albânia, de onde os italianos haviam sido mal expulsos; tornou estável sua permanência no Dodecaneso; fez valer seu direito de ter voz nas coisas de Tânger; ele vigiou com muito cuidado o destino dos 100.000 e mais italianos da Tunísia e em geral toda a sua emigração; ampliou, rejuvenesce, melhorou os quadros da representação diplomática e consular; colocou as forças terrestres e marítimas em máxima eficiência, mas respondendo aos fins pacíficos que se propôs, além de suas possibilidades financeiras, e sempre se declarando disposto a levar essas forças ao limite mais baixo a que os outros estados da Europa estavam dispostos a levá-las. Assim, a Itália, que não contava mais nada internacionalmente de 1919 a '22, voltou a contar. A Itália, que se acostumou e agora quase se resignou a se aproximar dos outros e esperar da mesquinha benevolência dos outros a acomodação de suas coisas, teve uma política independente, com seus próprios fins, diretrizes próprias e métodos próprios, fatos de franqueza, firmeza, medida.
Os frutos deste trabalho já eram visíveis nos primeiros dois ou três anos do novo governo. E foi a implementação de propósitos repetidamente manifestados e afirmados pelo fascismo de 1919 a 1922. E talvez nunca, na história dos governos e partidos italianos após 1861, tenha sido visto uma maior correspondência entre intenções e realizações, entre promessas e factos. A diferença em relação aos anos anteriores era essencialmente de quantidade. Mas também de qualidade. O trabalho realizado revelou, pressupôs, não só da forma como foi realizado (exercício de plenos poderes por parte do governo, onipresença efetiva de Mussolini), mas também em si mesmo, uma alma, uma orientação mental, um sentido da vida nacional e da vida em geral que são novidades na história moderna da Itália e que, manifestados com o fascismo, amadurecidos através do profundo trabalho e das experiências vividas em meio dos quais e dos quais nasceu o fascismo, podemos, sem mais, chamar fascistas, mais ou menos intrinsecamente fascistas. Novo, e respondendo a uma concepção mais orgânica e unificada da nação e do Estado, é o esforço de simplificar, coordenar, unificar os vários ramos da administração pública habituais quase ignorando-se uns aos outros (fusão de ministérios; maiores contatos administrativos e técnicos entre Guerra, Marinha, Aviação; divisão de trabalho e entendimento entre exército e milícia, etc.). Novo o alto lugar de volta, entre as atividades da nação, à política externa, como uma atividade estatal por excelência, uma verdadeira medida do que a nação é como autoconsciência e coordenação de forças. Nova vontade de orientar pensamentos, capitais, homens, iniciativas para as colônias; direcionar toda a nação, seguindo o Estado, para a política colonial, criar uma «consciência colonial» trabalhadora (discurso de Mussolini, propaganda jornalística, revistas coloniais, estabelecimento do «dia colonial», viagens coletivas de agricultores e comerciantes, etc.). Nova a estreita interdependência claramente vista e implementada entre a política interna e a política externa e a plena consciência dos fins sociais, nacionais e internacionais de uma política de produção, visando alcançar um maior equilíbrio entre interesses e as classes rurais e interesses e as classes industriais e cidadãos, maior nivelamento e, portanto, a conexão entre o Norte e o Sul, maior independência também política face ao exterior. Nova a atitude em relação à religião e à Igreja, que começou a se concretizar na reforma gentia (o crucifixo relatado nas escolas e o ensino do catecismo dado às crianças). então desemboca na Conciliação e que tem significado e objetivos religiosos, morais, civis, políticos, com alguma coloração ou veia giobertiana. Novo, na reforma escolar, aquele objetivo propositalmente para a educação da vontade e do caráter, aquele reagir contra os padrões. mental e o conhecimento feito, aquele quebrar as partições escolares e tradicionais do conhecimento, aquele aproximar e fertilização mútua da vida e da cultura, que proporcionou à reforma Gentil a definição mussoliniana de reforma fascista por excelência, ou seja, toda aderindo a um movimento que não queria ser uma ideologia, um simtema fechado, um programa preparado para guiar a ação, mas ser uma ação, um pensamento que operando se esclarece para si mesmo, uma criação perene. Nova solicitude aos italianos dispersos pelo mundo, a ajuda moral e material dada a eles para resistir à política de desnacionalização dos outros, o esforço de manter seus laços com a pátria, de dar ou manter neles a consciência de uma unidade perfeita, mesmo na dispersão. Nova política de aumento demográfico, em um país já muito povoado como a Itália: considerado, esse aumento, como um índice e manifestação de saúde moral e vitalidade da linhagem, como um instrumento de força nacional. E, em relação a isso, todas as providências para a saúde física do povo e especialmente para a infância, como as colônias marinhas e montanhosas, que logo assumiram um enorme desenvolvimento, a Obra Nacional de Maternidade e Infância, etc. Novo o impulso com que o governo fascista rapidamente se orientou para a educação física da juventude, considerada como educação moral, o favor de todos os tipos de esportes, individuais ou coletivos, mesmo em meio às massas populares, o estabelecimento de campos de jogos em cada país, a unidade espiritual e organizacional impressa em todas as forças e iniciativas esportivas do país. Uma nova e certa instituição entre recreativa, instrutiva e esportiva, que começou a surgir em 1923, ou seja, o pós-trabalho sindical, voltado especialmente para os trabalhadores, mas também para a classe de funcionários e, em geral, para as classes médicas, com o propósito de usar as horas de liberdade e feriados: portanto, bibliotecas, salas de leitura, playgrounds, viagens de educação, cursos profissionais, teatro, etc.\
Entretanto, novas e maiores e mais significativas inovações amadureceram. O fascismo tinha colocado outras raízes no país. O Sul e as ilhas, relutantes desde o início, abriram-se a ele: um pouco de cor fascista, mal manchada com o velho e morto mau costume político, um sentimento um pouco verdadeiro e uma aspiração de uma vida política mais elevada e saudável. Os outros partidos, ou desaparecidos ou em grande decadência, incertos, discordantes, bizantinos, como o partido liberal recém-nascido e logo começou a morrer: mesmo com muito esforço, neste momento, para reviver o liberalismo como doutrina, opondo-o ao fascismo, e para destacar as figuras históricas em que parecia que melhor se tinha encarnado, como Cavour, em oposição a Mussolini. A Confederação Geral do Trabalho, o maior órgão sindical italiano, foi destruída. Os centros de resistência regionais e um pouco regionalistas, como os partidos de ação da Sardenha, Molisana, Lucano, permeados por tendências demo-liberais e, um pouco, maçônicas, já se foram. O grupo das medalhas de ouro, as associações de ex-combatentes, mutilados e inválidos de guerra, ousados de guerra, voluntários de guerra, legionários fiumanos se aproximaram do fascismo. A organização dos jovens e meninos de ambos os sexos está bem iniciada, sob as bandeiras do fascismo: Avanguardisti e Balilla, Giovani italiane e Piccole italiane: Os grupos universitários fascistas foram constituídos. Os feixes no estrangeiro progrediram em número, disciplina e consciência, capazes de dar uma consistência, uma alma, uma força de impulso às massas inconsistentes de italianos, especialmente dos grandes centros de imigração. Finalmente, o afluxo também da classe trabalhadora da cidade aumentou, os sindicatos de profissionais aderentes ao fascismo se multiplicaram, o movimento cooperativo fascista cresceu.
Muitos rótulos simples, como já no socialismo dos anos atrás, em todo este fascismo, muito rapidamente aumentado também pelas ruínas de outros partidos, de oportunistas, de pessoas que achavam difícil viver tranquilamente contra e, muitas vezes, mesmo fora do fascismo. E houve uma crise de superabundância: ou seja, muitas pessoas em que falar e ouvir, falar e operar não responderam; muitos hierarcas improvisados que eram, como incapazes de obedecer bem, assim também de comandar bem; muita abundância de aproveitadores. E então, rivalidades não edificantes e competições de primazia entre os maiores, especialmente nas províncias; dualismo persistente, entre as várias hierarquias; impressão generalizada de que o princípio da autoridade foi descaldo, mesmo pregado, com tantas pessoas se arrogarem. Mesmo agora a violência esporádica, muito menos tolerável agora, já que agora os inimigos estavam quase no chão e o governo forte não era mais um pensamento positivo e a própria violência era exercida de formas menos mortais, mas mais lesivas à dignidade dos outros. As eleições políticas da primavera de 1924 viram como uma retomada dessa violência, contra socialistas e populares e adversários de todas as cores, dando-lhes motivos para afirmar que os resultados das próprias eleições, ou seja, a grande vitória fascista, são fictícios e ilegítimos. Houve, portanto, em 1924, uma onda de mal-estar e descontentamento: dentro do próprio fascismo e, mais, nas áreas contípelas e na grande massa do povo que estava fora de qualquer partido. Em maior medida, houve uma retomada da coragem e da atividade dos opositores, que tinham seus principais órgãos no Corriere della Sera de Milão e na Imprensa de Torino. Eles apontaram suas armas para toda a obra e, agora, para todo aquele complexo de idéias e concepções que, implícitas na própria obra ou explícitas, começaram a formar a bagagem doutrinária, ainda que móvel e flutuante, do fascismo. E invocaram o regresso à «normalidade», que para eles era tanto o fim de toda a violência como o fim daquela forma de governar que o fascismo tinha estabelecido. Em suma, pediram a plena reintegração do regime parlamentar, no qual viam a tradição do Risorgimento, a forma moderna de vida política, o vínculo que apertava a Itália com a grande família dos povos civilizados. Assim, pelo menos, liberais e socialistas, que também se tornaram, a partir da guerra, muito ternos do regime parlamentar. Não menor, embora motivada de forma diferente, foi a oposição dos comunistas. Mas, em suma, era como dizer ao fascismo: negar o seu trabalho de cinco anos, cancelar-se a si próprio...
Pior em maio e junho, quando a nova Câmara foi aberta. Sentados muito agitados. Batalhas verbais e confrontos pessoais, entre a minoria muito agressiva e a maioria. Precisamente naqueles dias de paixões excitadas, aconteceu que um dos oponentes mais ferozes e amargos, o deputado socialista Giacomo Matteotti, foi morto misteriosamente nas proximidades de Roma. Eles foram acusados do crime - e a acusação foi bem fundamentada - homens do fascismo. Mas também se quis acusar todo o fascismo, do chefe ao último gregário. E todo o fascismo foi acusado, desaludido, difamado. O crime de Matteotti foi explorado até o osso, dentro e no exterior, para tirar todo o crédito e força do fascismo. Enquanto isso, cem deputados de várias oposição desertaram, em protesto, ao prédio do Parlamento, na esperança de invalidar a legalidade e, assim, impedir o funcionamento da Câmara. E estes posaram como uma representação real e legítima da nação: Aventino, oposto a Montecitorio. Inegável o grande transtorno que atingiu todo o país, durante e após esses fatos: «A flutuação moral profunda na massa do povo italiano», reconheceu então o próprio Mussolini. Mesmo entre fascistas e simpatizantes, incerteza, perplexidade, exames de consciência; aqui e ali, um princípio de derrapagem, quase por pânico. Mesmo certos comandos elevados se perderam um pouco, sentindo-se isolados. A pessoa do chefe é sempre alta, embora entre os aventinianos se proclamasse que queria arrastá-lo perante o Supremo Tribunal de Justiça: mas não mais, o partido. E houve como um desejo confuso de que Mussolini abandonasse a não boa companhia e permanecesse sozinho, ele e o povo italiano, aos olhos dos quais Mussolini estava se configurando como o senhor alto e justo do bom tempo antigo. Claro, houve prisão no desenvolvimento numérico e moral do fascismo; não há mais multidões às suas portas e às portas dos ministérios. Aqueles que mantiveram contatos prudenciais com os dois campos ou esperaram para serem realmente convencidos da maturidade do fascismo ou se aproximaram dele de má vontade, imediatamente viraram as costas. Assim, muitos universitários e intelectuais, uma parte não pequena da burocracia, especialmente dos ministérios, muita maçonaria. Houve também prisão em certas atividades do governo fascista. A política externa foi afetada ...
Assim passou todo o dia 1924, mesmo com sintomas de recuperação a aparecerem. Os mesmos excessos da campanha difamatória, que traíam os fins partidários e fativos muito óbvios e, na fúria de atacar, atingiu, juntos, o fascismo e a Itália, agora não são mais facilmente separáveis. Também se tornou evidente, juntamente com a intemperança decomposta, também a vaidade e a esterilidade daquela coalizão adversária, muito heterogênea, unida apenas por coeficientes negativos, não mais flanqueada e apoiada por verdadeiras forças organizadas. O que poderia ter dado à Itália se tivesse conseguido derrubar o fascismo? Um novo e pior caos ... Até que, em 3 de janeiro de 1925, um discurso de Mussolini à Câmara mostrou como ele retomou totalmente o leme do barco e estava pronto para entrar em uma batalha decisiva. Os incertos foram então reenerados, os iludidos foram libertados, o fascismo provincial que sugou que queria tomar a mão no centro, ou seja, recomeçar a guerrilha. O fascismo saiu da tempestade um pouco afinado, mas mais homogêneo e revigorado de vontade e propósito. A linha divisória entre fascismo e não-fismo que, após a conquista do poder, se tornou novamente incerta, foi novamente marcada. O ministério era todo e apenas de fascistas. Os liberais ou se tornaram fascistas ou desapareceram da circulação visível, como os socialistas e os populares. Muitos adversários irredutíveis fugiram para o exterior ou foram forçados a fugir: e nem tudo foi uma vantagem, para o fascismo e seu crédito internacional. O fascismo teve um forte impulso para curar suas próprias causas de fraqueza, para cultivar ainda mais as grandes massas, o anônimo «país», especialmente o Sul, para o qual o esforço das obras públicas se concentrou então. Os intelectuais do fascismo apertaram as fileiras, realizaram uma conve em Bolonha, escreveram e divulgaram um manifesto, obra de Giovanni Gentile. E porque foi oposto a ele outro manifesto, dos intelectuais antifascistas, elaborado por Benedetto Croce, e. com o manifesto, foi feita toda uma campanha de imprensa, destinada a desacreditar quantas pessoas de cultura haviam aderido ao fascismo e a deduzir quase uma antítese entre fascismo e cultura, se não mesmo entre inteligência e fascismo; assim, na direção do partido surgiu a ideia e o propósito de um Instituto fascista de cultura, que foi efetivamente fundado e teve uma inauguração solene no Capitólio em 19 de dezembro de 1925, na presença do chefe de governo e com um discurso de Giovanni Gentile, presidente. Em suma, quase dois exércitos, liderados por dois filósofos, Giovanni Gentile e Benedetto Croce, antes associados a uma benéfica obra de renovação filosófica que também deu algum elemento vital ao fascismo nascente. Este instituto propôs, como mais tarde tentou fazer, reunir todos os italianos de maior autoridade no campo do conhecimento, aderindo ao fascismo; tirá-los de suas especulações muitas vezes abstratas ou, pelo menos, em curiosos problemas práticos; virar suas energias intelectuais para iluminar e formar a consciência da nova Itália. Não se tratava apenas de contrapor intelectuais fascistas e antifascistas, mas também de operar no âmbito do fascismo, esclarecer ideias, promover a fecunda colaboração de homens de pensamento e ação, levar os fascistas de volta a uma apreciação exata da cultura, impedir que o culto legítimo da ação, o desejo de realizar", a própria supervalorização do sentimento, da paixão, da intuição, do irracional, se resolvessem em uma abertura de crédito à ignorância.
Em suma, o fascismo, um pouco porque tinha desempenhado as tarefas mais urgentes e técnicas, ou seja, a reorganização dos serviços públicos, das finanças, da escola, etc.; um pouco porque era agora o mestre do campo e já não tinha, ao seu lado, elementos afins com os quais colaborar e, consequentemente, transições; um pouco porque sentiu a necessidade de justificar ainda mais o seu poder de governo absoluto; o fascismo entrou numa nova fase de actividade, mais propriamente e inerentemente original e fascista. Era hora de elevar as superestruturas do edifício, fixar nas leis o fato existente, dar estabilidade e legalidade constitucional à nova ordem, despersonalizá-la, ou seja, retirá-la da história dos indivíduos, passar do governo forte para o estado forte, pelo menos porque a força pode ser dada pelas leis. Algo semelhante ao que tinha sido a transformação do movimento fascista em partido. Em vez do estado liberal, fragmentado, desvinculado, individualista e ao mesmo tempo classista, sem suas próprias diretrizes, quase indiferente à qualidade das forças sociais em jogo, em suma, «agnóstico», para usar a palavra de rito, como a experiência italiana dos últimos trinta ou quarenta anos mostrou; o estado nacional, mais coerente em seus vários órgãos, mais fortemente hierárquico e mais dominado de cima; mais consciente de si mesmo e provido de diretrizes autónomas apontadas pela tradição histórica ou pela consciência de amanhã, vivo nas elites e apenas nelas; mais vigilante sobre as coisas do mundo e melhor armado para a luta externa; mais rápido na resolução e operar; cuidado para cuidar dos chamados problemas sociais, para atender às necessidades regionais ou locais, mas como problemas e necessidades da nação; peço não só para recomendar a colaboração das classes, mas para criar a consciência da unidade das forças nacionais e estabelecer os órgãos para os quais e onde essa colaboração é possível, essa unidade se realiza.
Já em 1923, o Grande Conselho tinha tratado uma reforma da constituição. Mas então, mais trabalho era urgente. Agora, no verão de 24, enquanto a polêmica suscitada pelo crime Matteotti fervia, uma Comissão de quinze, nomeada por Mussolini, e depois dezoito, nomeada pelo rei, ambas presididas pelo senador Gentile, examinaram alguns problemas particulares: o das associações secretas, o sistema a ser dado aos sindicatos no campo do direito público, as formas como as forças produtivas do país poderiam encontrar representação direta no órgão constitucional do estado. E as duas comissões discutiram, fizeram relatórios e propostas. Mas o partido, por meio do Grande Conselho, e depois o governo e o parlamento, embora usando o trabalho das comissões, prosseguiram com muita independência de seus resultados. Assim, entre 1925 e 1926, houve uma série de leis «fascistas», ou melhor, «fascistas», destinadas a elevar a posição do chefe do governo, fortalecer o executivo, dar maiores poderes e prestígio aos representantes periféricos do próprio governo. A lei de 24 de dezembro definiu, dando selo legal à prática constitucional dos últimos três anos, a figura do primeiro-ministro, como primeiro-ministro, tendo entre os ministros a autoridade de verdadeiro chefe, capaz de dar ao gabinete maior unidade na sua composição e ação e de representar esta unidade perante o rei e o parlamento. Um pouco era novidade, um pouco aquele «retorno ao estatuto», que há muito tempo os homens da Direita tinham desejado, ou seja, o regresso a um governo não parlamentar mas constitucional, responsável perante o rei, não perante o parlamento.
Outra lei, pouco posterior, regulando a matéria dos decretos-lei, também regulou a faculdade normal e própria do governo, em virtude de uma delegação de poderes dada pelo parlamento, de promulgar normas legais de natureza regulatória para a execução das leis, para a organização e funcionamento da administração estatal, para o uso das faculdades que pertencem ao poder executivo. Mais uma vez, eram coisas novas e também uma simples reivindicação de atributos que o parlamento tinha arrancado do governo nos últimos anos. Também foi abordada a reforma dos códigos, agora envelhecidos e já não respondendo às condições reais da lei, com tantas leis que os tinham alterado. E o governo ou estabeleceu comissões de estudo ou foi autorizado pelo parlamento a trazer inovações (no Código Civil) e a promulgar novos códigos (comércio, marinha mercante, processo civil, direito e processo penal). Assim, como foi feito mais tarde, poderia harmonizar o direito privado e o direito público, trazer também a isso, mesmo nas outras matérias de direito público ainda não tocadas, aquela maior subordinação dos interesses privados aos da comunidade.
Na periferia, uma lei Federzoni, que se tornou ministro do Interior, procedendo de acordo com as diretrizes do Grande Conselho e de Mussolini, que as manifestou em enérgicas referências à disciplina dos gregarî, aumentou as atribuições dos prefeitos, tornando-os os transmissores e intérpretes supremos das diretrizes gerais do governo para todos os serviços devidos ao estado e às autoridades locais da província, os altos coordenadores dos vários serviços provinciais. "Deve ser claro a todos que a autoridade não pode ser conduzida em mezzadria... A autoridade é uma e unitária. Se não for esse o caso, recai em plena desorganização do Estado ..., ou seja, negamos um dos maiores motivos de triunfo da ação fascista, que luta precisamente para dar consistência, autoridade, prestígio, força ao estado, para se tornar um e intangível como o estado fascista é e deve ser. O partido e as suas hierarquias não são, por revolução completa, que um instrumento consciente e um da vontade do Estado, tanto no centro como na periferia". Assim, uma circular Mussolini para os prefeitos.
Também nos municípios, outra lei Federzoni substituiu o atual sistema de eletividade e colegialidade dos administradores, um magistrado único de nomeação régia, o podestà quinquenal e confirmável. A disposição, limitada primeiro aos pequenos municípios, em grande parte desacordados e pobres em homens capazes, foi então estendida a todos os municípios, como já havia sido feito para Roma, onde não mais um prefeito e conselheiros eleitos, mas um governador e conselheiros de nomeação real administravam a questão pública. A intenção do legislador não era tanto mortificar, mas sim capacitar ao máximo esses órgãos periféricos, chamando-os para novas funções e estimulando suas iniciativas. Mas também se queria que ele vigiasse o estado de cima. Em suma, o temperamento de liberdade-autoridade, centralismo-autonomia, como encontramos em cada ato e instituto do governo fascista.
E ainda lê na imprensa periódica, para limitar a sua liberdade que realmente se transformou em uma licença escandalosa; sobre os fulos, dos quais foi tirada a cidadania, os cheques, os títulos e, em certos casos, também os bens, apreendidos ou confiscados; sobre a pena de morte, que foi restaurada para os culpados de ataques à vida dos soberanos, do príncipe herdeiro e do chefe do governo, bem como por crime de insurreição armada, de excitação da guerra civil, etc., todos sujeitos ao julgamento de um Tribunal especial que segue o código penal militar e pronuncia sem recurso; finalmente, sobre as sociedades secretas. As sociedades secretas, também conhecidas como Maçonaria, foram proibidas e todas as associações foram submetidas ao controle do Estado. O estatuto Albertino contemplava apenas o direito de reunião; agora, o direito de associação também é regulado. Assim houve a dispersão, se não apenas a morte, da seita, antigo voto de frações liberais, de frações socialistas, de nacionalistas, bem como de católicos, em nome ou religião, ou da luta de classes aberta, ou da moralidade política e disciplina nas hierarquias civis e militares, ou da soberania do Estado e da independência plena diante de todas as atividades e instituições cosmopolitas. O fascismo resumiu em si quase todos esses motivos de aversão e entende-se que atingiu sem consideração, mesmo correndo o risco de dissídio e guerras internas surdas dentro do mesmo partido. Não faltaram, naquela época, nem mesmo invasões tumultuadas de lojas maçónicas, destruição de móveis e símbolos, arrastados ludicamente pelas ruas. A lei afetou especialmente a burocracia, muito enredada na rede maçónica. E diante dele, o governo também se armou com uma lei especial que o autorizava a dispensar do serviço todos os funcionários civis e militares do estado que, por manifestações realizadas no escritório ou fora dele, não dessem garantia total do fiel cumprimento de seu dever e se colocassem em condição de incompatibilidade com as diretivas políticas do governo. A lei teve pouca aplicação prática. Mas permaneceu como um aviso. Isso significava que não era mais lícito para os funcionários fazerem greve, seguir ou liderar partidos subversivos, organizar, às custas do Estado, a rebelião contra o Estado, como havia ocorrido em grande parte nos últimos anos, especialmente entre funcionários ferroviários e ferroviários.
Finalmente, houve a arranjo legal da vasta matéria sindical e corporativa e a inserção dos sindicatos no Estado, com uma função constitucional: em suma: quase a solda de duas entidades até então distintas. E foi a obra mais original e, podemos dizer, mais revolucionária da revolução fascista. Partimos do conceito de que a nação italiana é uma unidade moral política económica que se realiza no estado; que os cidadãos são necessariamente solidários na nação; que o trabalho não é um direito, mas um dever e como tal é protegido pelo Estado; que a produção nacional é unitária e seus objetivos, ou seja, o desenvolvimento do poder nacional, e os produtores são colaboradores e solidários; que as questões de trabalho e as relações entre os vários fatores de produção não são uma coisa privada, como coisas totalmente privadas da empresa e a propriedade da terra; que a organização sindical, fruto da vida econômica e social moderna e necessária correção do isolamento em que a Revolução Francesa colocou o indivíduo, não deve ser abandonada a si mesma, para que o Estado ignore os sindicatos e os sindicatos do Estado, com o perigo de que eles o destroem; que as forças produtivas nacionais, organizadas nos sindicatos, se não quiserem que, operando fora do Estado, sejam contra o Estado, devem estar dentro do Estado, parte viva do Estado, pondo fim a um dualismo ruinoso, que por outro lado não encontra resposta na realidade econômica nacional, toda conectada e interdependente por dentro, toda investida fora da colisão do economias nacionais concorrentes e obrigadas a opor-se a uma frente única para resistir e viver; que consequentemente os sindicatos devem ser reconhecidos pelo Estado, fornecidos com personalidade e responsabilidade jurídica, investidos de funções públicas no campo do trabalho, admitidos nos grandes corpos consultivos e deliberativos do Estado, até constituir a base da própria representação política nacional. Indivíduo e estado, até agora desarticulados ou não bem e organicamente conjuntos, devem ser melhor ligados e quase interpenetrados um no outro, através do sindicato e dos órgãos sindicais, órgãos de direito público, operando no âmbito e sob o controle do Estado, mas providos pelo Estado de certos poderes e capazes de contribuir para a vida do Estado, de moldar a estrutura do Estado.
Essas ideias, que logo após 1922 começaram a ter um princípio de implementação no sindicalismo fascista, encontram a primeira determinação jurídica solene na Lei de 3 de abril de 1926 para a Disciplina Jurídica das Relações Coletivas de Trabalho, com a qual foi dado reconhecimento legal aos sindicatos de comércio (distintos em sindicatos de empregadores, prestadores de obras, profissionais) e suas federações e confederações, com direito de representação obrigatória de todos os membros da categoria relevante, membros ou não; os sindicatos reconhecidos foram conferidos a faculdade de celebrar acordos coletivos, expressão da igualdade jurídica dos empregadores e prestadores de trabalho e da subordinação de todos os produtores aos interesses da produção; o Judiciário do Trabalho foi estabelecido para julgar o cumprimento ou não dos pactos coletivos e também, possivelmente, para estabelecer novas regras; era proibido o aperto e a greve, ou seja, a autodefesa das classes. Excluídos, desta disciplina de pactos coletivos, os funcionários públicos e os funcionários dos grandes serviços estatais (ferrovias, correios, etc.) que ou não podem se sindicalizar (magistrados, oficiais, professores) ou podem apenas constituir associações reconhecidas mas sem personalidade jurídica e que, em qualquer forma, se encontram perante o Estado não em condições de igualdade para poderem negociar, mas de subordinação. Portanto, organização integral das várias forças de trabalho. E no entanto, não é uma organização forçada e única para as várias categorias: ou seja, não sindicatos impostos, não monopólio da vida associativa. Rejeitando qualquer concepção materialista e mecânica ou quantitativa e permanecendo fiel a certos precedentes dos homens que são seu centro vivo, o fascismo confia no máximo, se não exclusivamente, no voluntarismo e nas minorias. Todos são livres para se reunirem nas associações ou sindicatos que quiserem, para fins permitidos por lei. Mas o Estado pretende reconhecer e só reconhecerá os sindicatos que respondam a determinadas condições morais (atividades também voltadas para fins de educação, educação, etc.), jurídicas (que reúnam pelo menos 10% dos trabalhadores ou empregadores da categoria relevante), políticas (aceitação dos princípios do Estado-nação): reconhecimento que é uma garantia para o Estado, um benefício para o sindicato. Aos sindicatos reconhecidos, e apenas a eles, confia-se a representação sindical exclusiva das várias categorias de trabalhadores e empregadores, matriculados e não matriculados: daí a possibilidade e o direito, nos próprios sindicatos, de celebrar acordos coletivos.
A lei de 3 de abril de 26 acaba de ser feita quando apareceu, com a colaboração também pessoal de Mussolini, bem como de Giuseppe Bottai, jovem e alacre subsecretário, então ministro das Corporações, a Carta do Trabalho (v.) que, discutida e aprovada no Grande Conselho, foi publicada em 21 de abril de 1927, aniversário do Natal de Roma e do Dia do Trabalho. Enunciou os princípios éticos que se baseavam na concepção sindical e estatal do fascismo; estabeleceu as atribuições e a natureza das novas entidades e órgãos destinados a regular o trabalho e os interesses profissionais; afirmou a organização sindical livre, ao mesmo tempo que reespercedia direitos e deveres especiais aos sindicatos reconhecidos; falou do controle coletivo e das garantias do trabalho; proclamou que o salário deveria corresponder às necessidades normais de vida do trabalhador, às possibilidades de produção e ao rendimento do trabalho. Depois, colocação de mão-de-obra, previdência, assistência, educação, educação dos trabalhadores. Em suma, um conjunto de postulados e princípios e normas diretivas que deveriam inspirar todas as atividades produtivas da nação, em si mesmas e nas relações com o Estado: com, no centro, a ideia fundamental da plena subordinação do direito e interesse individual aos nacionais, da igualdade de classes, do caráter econômico. Queria-se, entre outras coisas, fazer do trabalho uma função e finalidade ética do sistema nacional, atribuir ao trabalhador uma tarefa mais elevada e a consciência dela, tirá-lo da miséria do trabalho feito apenas para o salário, dar à sua vida um conteúdo mais elevado. A Carta deduz um pouco suas declarações, cerca de trinta, de leis fascistas pré-existentes; mas um pouco foi além e forneceu inspiração e matéria para uma atividade legislativa adicional, para a qual o governo estava autorizado a emitir normas com valor legal. E realmente, com base na Carta, que não era uma lei e, no entanto, foi publicada no Diário Oficial, foram criadas as Corporações, órgãos quase estatais de ligação nacional, cada uma das quais, presidida por um representante do Estado, reunia as associações e federações das três categorias de produtores - empregadores, técnicos e funcionários, trabalhadores - com o objetivo de conciliar disputas entre as entidades colegiadas, promulgar regras gerais obrigatórias sobre as condições de trabalho, regular o estágio, estabelecer escritórios de emprego, coordenar iniciativas úteis para o aumento da produção, etc.: tarefa, esta última, que não se voltava mais para a distribuição, mas para criação de riqueza, a ser promovida não pela socialização mas por uma melhor coordenação das actividades individuais. E foi criado, juntamente com as corporações, o Conselho Nacional de Corporações, primeiro simples órgão consultivo do Ministério das Corporações, recentemente criado; depois, com a lei de 20 de março de 1930, órgão constitucional do Estado, presidido pelo Chefe de Governo e composto por representantes das corporações e membros de direito, com funções consultivas e regulatórias em conjunto. O conteúdo da Carta do Trabalho encontrou então forma de se traduzir em outras disposições legais, reapareceu nos acordos coletivos, cada vez mais numerosos, em resoluções e sentenças do Judiciário do Trabalho, inspiradas na equidade.
Uma concepção da empresa económica como uma coisa que já não é exclusiva do empresário foi o seu caminho nestas leis ou quase leis, implícitas ou explícitas. Empresário e trabalhador foram considerados como colaboradores. O direito de propriedade foi respeitada: mas o conceito de direito tendia a substituir o de função, portanto controlado pelas associações, no interesse comum e sob a direção do Estado. A iniciativa privada, na qual se via o instrumento mais eficaz do interesse nacional, foi muito apreciada e encorajada: mas a iniciativa privada no campo económico, tendia-se a marcar uma directiva em conformidade com esse interesse nacional. Sindicatos e corporações tinham resultado de vida associativa livre. Mas eles foram contratados pelo Estado quase à dignidade de seus órgãos delegados, para funções que não eram mais consideradas um mero direito privado. E o Estado reservava para si, além do direito de reconhecer ou não os sindicatos; além do direito de julgar, com o Judiciário do Trabalho, as disputas entre empregadores e credores, inspirando-se na equidade, tendo em vista um interesse superior; também o direito de aprovar os estatutos, dar o lugar aos dirigentes designados pelo sindicato, nomear os presidentes dos órgãos corporativos, rever e aprovar os orçamentos, etc. Assim, a vida sindical italiana foi colocada em uma estrada muito diferente da antiga, não apenas do socialismo, mas também do sindicalismo revolucionário; em uma rua que já estava um pouco na mente de algum nacionalista-sindicalista, como Enrico Corradini, e de algum democrata cristão; em uma rua que lembra o que o povo das cidades medievais venceu. E o pensamento do fascismo, nos últimos tempos, muitas vezes voltou àquela vida corporativa dos anos 200 e 300, quando a atividade econômico-social e a atividade política do cidadão-produtor se baseava nas Artes, na pertença às Artes; e as Artes eram um meio de defesa e conciliação dos interesses da categoria, órgão de controle da produção, através da participação na vida pública. Na Idade Média, de fato, aconteceu que o estado acabou se resolvendo no regime corporativo, ou seja, esse regime anulou o estado, e as corporações, primeiro instrumento de ação social e política para o município, depois órgãos dominantes, finalmente se tornaram coalizões de interesses de categoria contra o interesse geral, até que o senhor as trouxe de volta à primeira função. Alguém também viu um perigo não diferente no sindicato e na corporação fascista: o perigo é que o Estado seja dominado pelo corporativismo, negue os valores que o fascismo proclamou (pátria, religião, propriedade privada, iniciativa individual não substituída mas apenas complementada pela do Estado, etc.), desperde o sentido dos altos fins morais e políticos que o fascismo lhe atribui, tome diretrizes diferentes das do fascismo, opere de acordo com um espírito não fascista. Isso especialmente depois que, reformando em 1927 a lei eleitoral e a representação política, a Câmara repetiu sua origem e autoridade não mais pelo órgão eleitoral, indiferenciado, mas pelas organizações sindicais. A reforma foi uma consequência necessária do desaparecimento dos partidos, exceto um, o fascista, e da formação dos grandes órgãos corporativos.
Foi respondido que estes receios eram infundados. O novo estado em construção terá sido corporativo; ou seja, fundado, no centro e na periferia, na representação fornecida pelas corporações, ou seja, pelos cidadãos organizados como produtores e coletados territorialmente nos comitês eleitorais; mas também e acima de tudo será um estado fascista. O próprio Mussolini disse que o estado fascista era corporativo apenas porque era fascista. Com isso, quis deixar claro que, no novo estado, o momento político deve se sobrepor ao momento económico; que o sistema corporativo é uma coordenação mais estreita das forças nacionais, é um meio de maior produção e maior concórdia interna e maior poder, e serve para colocar o estado em condições de explorar seus fins com mais certeza. Em suma, o fascismo não se esgota no corporativismo e o estado fascista tem sido corporativo, mais alguma outra coisa expressa na palavra «fascismo». A lei do Grande Conselho, no final de 1927, também afirma isso implicitamente. Esta lei foi, por um lado, uma complementação da lei do primeiro-ministro, que subtraía o chefe de governo dos desejos da Câmara, mas dizia a quem era o direito de designar o novo chefe de governo, em caso de retirada ou morte do anterior. E agora foi estabelecido que este era um dos direitos e deveres do Grande Conselho, que foi substituído, assim, pela Câmara. Mas o outro direito e dever era selecionar os candidatos propostos pelos sindicatos, para formar a lista a ser apresentada aos eleitores. Como dizer que os futuros legisladores, emanando das corporações, primeiro tiveram que passar pelo filtro de um corpo político e fascista, o Grande Conselho. Mas é preciso reconhecer que aqui nos movemos em um terreno ainda muito incerto. Inacabada é a obra, procedente quase experimentalmente, sob o Ministério das Corporações. As ideias não são muito claras, apesar disso, talvez devido à muita discussão. Não concorda, não é unânime todo o fascismo em considerar o problema corporativo, em ver as relações entre corporativismo e fascismo, em traçar as linhas deste estado de base corporativa. Duas correntes principais são claramente visíveis: uma representada pelos homens que vêm do antigo sindicalismo revolucionário ou talvez que, prosseguindo com a linha da lógica, desembocam num corporativismo integral em que tudo se resolve; a outra, pelos homens que querem permanecer fiéis ao espírito do fascismo original, espírito essencialmente político, como Mussolini, ou que vieram ao fascismo do nacionalismo com o seu sentimento e a sua doutrina do Estado intactos, como Alfredo Rocco, ministro da Justiça, jurista e legislador do fascismo, engenhosidade muito aguçada, mesmo que inclinada a esse otimismo jurídico que leva a supervalorizar a função e o valor das leis.
Se quisermos agora resumir esta década de acontecimentos italianos com uma síntese muito rápida, descobrimos que, de 1919 até hoje, houve na Itália, um pouco coevi, um pouco consecutivos, dois esforços revolucionários: um, do velho socialismo; o outro daquele movimento que se chamou fascismo. Afinidade e contrastes, entre socialismo e fascismo. E poderia ter sido, em certos momentos, até mesmo uma colaboração e fusão. Ambos queriam recolher o legado do antigo regime e das antigas classes dominantes. Ambos eram movimentos de massas ou alavancavam as massas. Ambos derivaram força de impulso especialmente de classes novas ou em formação que queriam ascender. E depois, antidemocracia, antiliberalismo, etc., em ambos. Mas também contrastes profundos. Um se moveu de uma oposição total e irredutível a esse complexo de fatos, pensamentos e sentimentos que se chamavam «guerra», a guerra italiana de 1915-18, especialmente por ser intencional e travada com espírito voluntário; e tirou vigor - vigor efémero - da massa turva de ressentimentos e ressentimentos e baixa paixão de vingança que a guerra deixou para trás. Ele se abstraiu daqueles valores patrióticos e morais, daquelas tradições que presidiram no século XIX à formação política da Itália e que formaram, agora mais do que nunca, o verdadeiro fundo, talvez pouco visível naquele momento de revoltas cegas, da vida italiana. Ele prosseguiu com pouca ou nenhuma correspondência entre sua doutrina, socialista ou comunista, e a própria realidade social italiana, menos do que qualquer outra preparada ou disposta a socializar; com pouca ou nenhuma correspondência entre seu internacionalismo e o espírito que então presidia às relações internacionais, o espírito de opressão que animava os governos dos países aliados à Itália, a atitude dos próprios proletários estrangeiros, surdos a qualquer sentimento de solidariedade. Ele tinha um programa revolucionário, mas era pobre em homens de verdadeiro temperamento revolucionário e ousadia revolucionária; pobre, nas mesmas massas que o socialismo havia educado e agora encabeçava, naquele espírito de sacrifício que só se forma com uma educação idealista e com objetivos que transcendem os interesses imediatos. O outro, por outro lado, moveu-se da aceitação da guerra, e, especialmente, da exaltação dessa guerra, e alimentou-se daquelas energias morais, daquele sentido de disciplina, daquela capacidade de iniciativa, daquela coragem e espírito de luta que a guerra tinha educado na juventude italiana, na burguesia italiana. Logo aceitou ou aceitou os valores tradicionais da nação italiana, ou seja, se alimenta de substância italiana: condição necessária para poder tomar conta dela, para poder ter a colaboração ou mesmo apenas a neutralidade benevolente das melhores forças do país. Aderiu de forma mais realista à sociedade italiana que era, por três quartos, uma sociedade agrícola e camponesa, individualista e não socializadora. Tinha verdadeiramente um espírito revolucionário e homens e gregários dispostos a tudo, animados por paixões profundas, certezas ideais, mitos fascinantes. Assim caiu o socialismo e falhou a sua tentativa de revolução, vencida pelas suas próprias falhas morais, pela heterogeneidade dos elementos constituintes e pela indeterminação dos fins, pela indisciplina, pela impossibilidade de cumprir as promessas feitas e de dar mais do que tinha dado, pelo desaparecimento das ilusões e incações, pela reconciliação do próprio proletário-combatente com o seu passado de guerra e por se tornar um título de glória; mas também ferido pelos golpes do fascismo, expressão de forças morais mais elevadas, mais nacionais, mais históricas. E o fascismo, que cresceu em número e força, tornou-se quase o movimento da juventude italiana e com toda a auréola da juventude, feito de uma milícia disciplinada e armada, trata de si uma grande burguesia média e pequena e muito proletariado, especialmente agrícola, que já seguia o socialismo, acreditada como educador e iniciador de massas na vida nacional e no sentido do estado; aproximou-se idealmente da tradição de Roma, do catolicismo, do papado, da monarquia; prevaleceu acima de qualquer outro partido político também pelo seu equipamento que o habilitava a operar em todos os campos, e com todas as armas, parlamento e praça, jornal e equipes; grande parte da sociedade italiana reunida em torno de si e a ajudou a retomar aquela força vital que não havia sido capaz de retomar em torno do estado, quase ausente e sobreposto pela crise de desconfiança geral e pela força dos partidos; substituiu o governo em certas tarefas essenciais; finalmente, teve investidura do governo legal. E lá em cima, primeiro esperou para normalizar a vida italiana - ordem pública, serviços estatais, finanças, etc. - pedindo ou aceitando a colaboração também de outros homens de outra cor; então, permanecendo apenas o mestre do campo, quase se tornando a Itália, ele inovou institutos e leis fundamentais com o objetivo de fazer do Estado o centro de toda atividade nacional («tudo no estado, nada fora ou contra o Estado»), ordenou os cidadãos-produtores nas organizações sindicais e quase fez deles quase seus órgãos, e elevou nesta base o edifício da representação política, assim soldando institucionalmente nação e estado. Tudo isso Mussolini chamou à Câmara, em Março de 27, para criar o estado unitário italiano. E certamente queria referir-se a ter o fascismo a participar na grande massa dos italianos o sentido da nação e do estado-nação, investido de funções públicas em todas as forças organizadas do país, chamado verdadeiramente o povo para participar da atividade estatal.
Enquanto isso, trabalhamos com bom trabalho para criar uma agricultura mais intensa e, especialmente, uma cultura de cereais mais lucrativa (a «batalha do trigo»), para conquistar ou reconquistar, ou seja, para restaurar o cultivo popular, de acordo com um conceito orgânico (a «a recuperação integral»), as muitas terras malárias não cultivadas despovoadas que cercaram a península há séculos como uma coroa de espinhos, na Sardenha, na Sicília, na Calábria, na Apúlia, na Campânia, no Lácio, na Maremma, no Baixo Pó, no Tirol do Sul: para o qual Mussolini encontrou coadjutor válidos em Giacomo Acerbo, ministro da Agricultura, e em Arrigo Serpieri, subsecretário de recuperação. Grandes extensões de terra compraram e recuperaram, entre outros, a Obra Nacional dos Combatentes, realizando gradualmente o que tinha sido uma das grandes esperanças dos próprios combatentes durante a guerra: a posse da terra. Tudo isso fazia parte daquela ruralização da Itália que era uma tendência viva e programa do fascismo, tendo em vista fins vários e complexos: maior independência para o pão de cada dia e maior liberdade política nas relações com o exterior; impulso para a solução da chamada «questão do sul»; maior equilíbrio entre classes e interesses urbanos e rurais, industriais e agrícolas; reação ao urbanismo, luta contra a incipiente denatalidade, cuidado da saúde física e moral da linhagem, representada pela família camponesa, firme sobre sua terra. Recordamos a «democracia rural» que êraveu diante dos olhos de Mussolini já em 1921. A que a democracia rural se acoporou o artesanato, ao qual, entretanto, se dirigiam os cuidados do governo fascista, para lhe devolver força, crédito, habilidade técnica, possibilidade de viver e restaurar suas antigas fortunas. O artesanato também significava integração e correcção da grande indústria, do ponto de vista social e moral.
A infância e a juventude foram intensamente cultivadas, dentro e fora das fronteiras, com as muitas instituições destinadas a proteger a sua saúde física, a desenvolver o seu espírito de iniciativa, a educar o seu hábito de disciplina, o sentido de solidariedade social, o amor pela pátria. Recordamos especialmente a Ópera Nacional Balilla, de grandes proporções, e a Fundação Nacional «Figli del Littorio» para crianças e jovens italianos que residem no estrangeiro. Renato Ricci, organizador da Opera Balilla, e Piero Parini, superintendente dos fasces no exterior e das escolas italianas no exterior, mereceram elogios neste trabalho. Por conta deles, não tiveram um pequeno impulso as colônias marinhas e montanhosas, os acampamentos de verão, os cruzeiros navais, também destinados a dar aos jovens um sentido mais amplo do mundo, especialmente o mediterrâneo, tão cheio e vivo de memórias e tradições romanas e italianas. Mesmo o esporte de todos os tipos, individual e coletivo, foi incentivado por todos os meios e se espalhou por toda parte, incluindo as regiões e ambientes que até então o haviam ignorado e quase parecia ser sua negação (sul da Itália, campo). O espírito e os hábitos desportivos também penetraram nos quartéis e orientaram de forma nova a educação militar: tendendo-se a fazer de cada soldado um «ouro», a educar em todos os departamentos e em todas as unidades aquelas habilidades que, durante a guerra, eram privilégio de formações especiais de assalto. Não é de admirar, com tais inclinações espirituais, que muitas simpatias do governo fascista se voltassem para a aviação, como se ele fosse tipicamente encarnado aquele espírito dinâmico que era o espírito do fascismo. Após a guerra, a aviação italiana tinha caído no chão. Mussolini levantou-a, deu-lhe asas. Criou o Ministério da Aeronáutica, primeiro o manteve; depois colocou lá Italo Balbo, alpino e esquadrão, que agora quase se improvisou como aviador, e rapidamente ascendeu a um alto escalão na hierarquia militar, organizou e liderou cruzeiros aeronáuticos no Mediterrâneo Ocidental, no Mar Negro, no Atlântico, das costas da África às costas do Brasil. Homem entre os mais representativos desta fase da vida italiana, como renovação e rejuvenescimento da classe dominante, como fervor de ação, espírito confiante e otimista diante dos problemas, capacidade de realização.
Tenha isto em mente, para entender como agora questões de idade foram desvendadas. E entre eles, a das relações entre o Estado italiano e a Santa Sé. Os tempos, claro, tinham amadurecer lentamente. O antigo e vazio anticlericalismo desapareceu ou foi muito atenuado. Negado qualquer crédito a um certo cientificismo presunçoso. Os espíritos, com e após a guerra, fizeram-se mais dispostos ao fato religioso em geral, ao catolicismo e ao papado em espécie, considerados em seu valor histórico e nacional, em seu significado intrínseco. A Maçonaria foi suprimida por lei em 1925 e a seita se espalhou. Entrou no fascismo, com a absorção do partido nacionalista, algo da antiga concepção giobertiana em torno do papado e do catolicismo. Mas Mussolini acelerou esse amadurecimento dos tempos, ele é um homem novo, não sobrecarregado por muitos juízos e preconceitos tradicionais; não assustado com a grande quantidade de certos problemas que, semelhantes às avalanches, parecia, com a virada dos tempos, crescer, enrolando-se em si mesmos: digamos, não sobrecarregado, não com medo de muita história. Assim, em 11 de fevereiro de 1929, chegou-se ao Tratado de Latrão: pacto duplo, como conciliação, dissolução da questão romana de um lado, e Concordado do outro; pacto um, como conciliação e acordado, praticamente se condicionaram. Com o Tratado de Latrão, o governo fascista fez um esforço considerável para trazer uma maior soma de valores religiosos à vida civil da nação, para curar o que restava do velho desassemelhamento totalmente italiano entre o cidadão e o crente, para tirar uma causa não desprezível de inferioridade internacional da Itália. Um pensamento político, claro, presidiu a este pacto, por parte do governo italiano: mas não maquiavélico vulgar. É que, além daquela nova atitude espiritual acima, os novos italianos não deram mais grande importância a certos «princípios» que tinham sido quase a vida das duas ou três gerações anteriores. Eles não viram nenhuma ofensa à consciência civil e à honra nacional, em pequenas transações territoriais (o Estado do Vaticano). A nação, agora, já não estava quase sozinha no território. Viveu, essencialmente, nos espíritos. E a Itália sentiu-se suficientemente firme e grande para fazer na sua capital, o chefe do cristianismo, um lugar maior do que não lhe tinha feito depois dos anos 70. A nação estava agora a fazer um enérgico acto de presença em Roma. Deixou-lhe cada vez mais marcas de si mesmo, uma marca de si mesma cada vez mais visível. A Roma de 1928 já não era a Roma de 1870. Grandes tratamentos foram dirigidos a Roma, depois de 1922. Novos palácios para ministérios; acomodações rodoviárias; livres das crostas pitorescas mas suja, ou seja, dos sinais de uma miséria secular, muitos monumentos antigos nobres, o Capitólio, o teatro de Marcelo, os mercados de Trajano, etc. Como todos os grandes italianos do Risorgimento, Mussolini tem um alto sentimento de Roma, uma alta ambição para Roma. Um dos sinais mais óbvios da pequena alma que os novos italianos repreenderam os italianos que governaram a Itália após 1870 -, exceto Crispi -, foi o abandono em que deixaram Roma, a indiferença diante de Roma e as desfigurações e devastações que haviam sido cometidas lá.
Tão rápido crescimento e afirmação do fascismo e sua identificação com a nação; tanta riqueza e variedade de obras em todo o vasto campo da vida nacional, tanta solução rápida de problemas antigos seria inexplicável, se o fascismo fosse concebido como uma força violentamente imposta do exterior ao povo italiano. Em vez disso, devemos admitir uma profunda correspondência entre o movimento fascista e a nação; na verdade, conceber o fascismo como uma forma de se renovar a nação italiana, estimulada por minorias enérgicas, expressas de seus próprios seio e com uma imediatismo e resposta muito maior do que poderia haver entre a minoria que fez o Risorgimento e a grande massa do povo italiano que, mais ou menos inconsciente, se seguiu. Nesta diferença, o grande progresso da Itália nos 60 anos de unidade é significado.
Desta história de pouco mais de uma década do fascismo, uma parte considerável é agora susceptível de julgamento suficientemente seguro. Trata-se de frutos já amadurecidos; de obras de valor absoluto; de pensamentos já incorporados à nação. Para outra parte - obras e pensamentos - o julgamento ainda é prematuro. Ainda estamos na fase de construção e experimental. Por exemplo, que consistência terá o edifício elevado com base nos sindicatos de comércio? Será que dará, verdadeiramente, a solidariedade entre as classes, a colaboração entre capital e o trabalho, a coordenação entre os vários factores de produção no interesse supremo da nação, sem que a máquina corporativa se sobrecarregue demasiado e se resolva num regime de protecção burocrática, sem que a sua energia se esgote no esforço para funcionar e na manutenção dos seus numerosos quadros? Dará às massas operárias a sensação de que são verdadeiramente parte viva da empresa económica nacional e a cada produtor de cumprir uma função pública, quase uma tarefa que lhe é confiada pela nação? Seria duvidoso se essas esperanças repousassem apenas sobre um corpo de leis, sobre a mera criação de órgãos de ligação. Mas é preciso reconhecer que esse senso de unidade nacional e comunhão de interesses cresceu muito, que é um pré-requisito e uma condição para que esses órgãos funcionem, para que essas leis não sejam pedaços de papel confiados à força coativa do estado. E que nada é negligenciado para criar, com palavras e ações, com ensino doutrinário e propaganda mesquinha, aquela «consciência corporativa» que faz de uma concepção ou doutrina uma forma normal de sentir e viver. O fascismo, ou seja, agora a Itália, sente-se fortemente empenhado neste trabalho. Com sucesso ou não, medirá a si mesmo, sua capacidade de realmente dizer uma palavra nova no mundo, melhor do que o Ocidente (americanismo) ou o Oriente (o bolchevismo), melhor do que a França de Maggis ou Kadmi-Cohen, melhor do que o germanismo, renascido nas visões e profecias de escritores alemães como Spengler ou Korherr; para apontar o caminho para a solução do problema da autoridade e liberdade, do estado e dos sindicatos em suas mútuas relações; em suma, para iniciar quase uma nova civilização, ainda que em bases antigas, catolicismo e romanidade. Não falta, no fascismo, ambição e, agora podemos dizer, persuasão de que podemos ter sucesso em tudo isso. Uma persuasão que não é, talvez, apenas uma presunção juvenil. No novo conceito do italiano, próprio do fascismo, existe, esboçado, um novo conceito do homem, que acompanha cada renovação da civilização: cultura aderente às obras e quase se resolvendo toda nelas; educação igual à educação; ciência que não é fragmentária e abstrata saber, mas esforço consciente para esclarecer tudo na vida e para a vida; espírito dinâmico e realizador; mens sana in corpore sano; pensamento e ação, concebida não como materialidade, mas como produto de uma soma de energias morais e intelectuais; ao filósofo solitário, fechado ao sentido da vida, oposto ao transvoador dos oceanos ou ao jovem atleta tenso cada dia no esforço para superar o teste do dia seguinte; sentimento religioso que vive como espírito de sacrifício, como disciplina, como aceitação de leis e necessidades e deveres que nos transcendem; não o liberalismo e o individualismo e o cosmopolitismo do século. XIX, mas a sociedade nacional, a pátria fortemente sentida e estabelecida e não vive apenas nas memórias sagradas, todo o pensamento interessa atividades coordenadas e subordinadas ao bem daquelas entidades superiores. Diante do século. XIX, diante do próprio Risorgimento italiano, o fascismo colocou-se, por vezes, na posição de crítico, pelo menos de superior. Por isso, na polémica por volta de 1924-1925, foi possível, como liberais e democratas, condenar e, como fascistas, exaltar o fascismo como «anti-risorgimento», embora nele existam muitos motivos para o Risorgimento, como o culto de alguns de seus homens (Gioberti, Mazzini, Mameli, Garibaldi, alguém da mesma direita histórica); a paixão nacional e a subordinação da liberdade à independência à unidade à grandeza; a convicção de retomar, após um parêntese de cansaço e quase dobramento da Itália sobre si mesma, o trabalho iniciado pelo Risorgimento; o esforço para criar aquela coincidência entre interesses privados e públicos, entre indivíduo e estado, para criar essa unidade de vida que se perdeu; o pensamento ou mito animador de uma nova civilização a ser representada, de uma missão a ser realizada no mundo; o esforço de ter sua própria filosofia, arte, cultura, de ser você mesmo, depois de muito estar sob influências estranhas.
Que, afinal, esta aspiração e quase persuasão, na Itália fascista, não é mera presunção é mostrada pela atitude da Europa e do mundo civilizado: atenção crescente, interesse crescente pelas coisas italianas nos últimos dez anos. Há agora na Europa e fora dela, toda uma biblioteca sobre o fascismo, seus assuntos, sua doutrina, seu corporativismo, seus homens representativos. Existe, em Genebra, um Centre International d'études sur le fascisme, com um arquivo bibliográfico muito rico e uma revista. E não se trata de mera curiosidade, dos aspectos pitorescos que estão no fascismo; ou de interesse abstrato por algo novo e importante, sim, mas que, afinal, pouco é sobre os outros. Talvez não haja concepção política ou partido ou mesmo país, que não se tenha sentido um pouco parte e não tenha dito: de re mea agitur. Eles reagiram e reagem de forma hostil liberal, socialismo, comunismo, grupos e partidos parlamentares. A maçonaria internacional desencadeou campanhas de imprensa, ajudou os furussos do fascismo, talvez não tenha sido estranha a certas ofensivas financeiras. O societísmo de Genebra e todos os interesses concretos que pertencem a Genebra viram o fascismo como um inimigo ou adversário. Em suma, a Europa oficial, as forças e agrupamentos ainda dominantes hoje na Europa armaram contra o fascismo: o fascismo que é «militarismo», «reação», «escravidão operária», «ditadura». Cegueira absoluta pelo que pode ser ideal ético ou cultural do fascismo; pelo conteúdo social de sua doutrina e ação; pelo caráter meramente contingente e instrumental dessa «ditadura». Daí, no fascismo, pelo menos em certas de suas correntes, a acentuação da oposição à Europa, a esta Europa adversa em que ainda se vê a Europa do século XIX; sua atitude como «Anti-Europa», em vista de uma nova Europa, um pouco marcada pelo fascismo. Em suma, luta: que, claro, não facilitou a vida da Itália fascista; mas, também, ajudou a temperá-la, a fortalecer sua solidariedade interna, a manter as forças de autocontrole, enfim, a promovê-la.
Por outro lado, também os elogios, mesmo de altos e não amigáveis fóruns jornalísticos, dos benefícios trazidos pelo fascismo à Itália: a ordem restaurada; as finanças aparadas; a segurança dada à vida econômica; o impulso à agricultura, aos serviços públicos, à marinha mercante, etc., a solução definitiva da questão romana, devido ao sentido político de Mussolini e à orientação espiritual e religiosa do fascismo; renovação cultural, etc. E então, diante de certos medos ou impacientes, espera-se que o fascismo desmoronasse como um castelo de cartas, constatações frequentes de que o fascismo é agora muito sólido na Itália; que não é um fenômeno transitório, nem planta sem raízes, ou seja, sem amassados históricos, sem ligações com a Itália pré-fascista. Nem tudo se limitou a estes elogios e descobertas. Aqui e ali, verdadeiros e próprios pró-fascismo apareceram; programas de partidos e grupos, que lembram o fascismo; certas formações políticas ou politico-militares que levam o nome de fascismo. Assim em países pequenos ou não grandes como a Roménia, Lituânia, Bélgica; assim também na França, na Alemanha, na Espanha, na própria Inglaterra. É difícil dizer o quanto tudo isso é espontâneo e denota apenas uma orientação comum dos espíritos para soluções comuns de problemas comuns, e o quanto é uma derivação do fascismo italiano, mais ou menos admitido pelos outros, dado o caráter nacionalista desses movimentos semelhantes e a tendência, em quem os representa, de considerar todo pensamento e doutrina como seu. Mas também há derivação, mais superficial do que em profundidade, mais na forma do que na substância. Quase todos esses fascismos estrangeiros, ou como são chamados de outra forma, são meros nacionalismo conservador, são anti-revolução. Neles há muito mais o elemento negativo do programa fascista, ou seja, o que prevaleceu em 1919, do que o elemento positivo. É claro que queremos combater o parlamentarismo, a democracia, o liberalismo e sua degeneração, etc.; mas não o que queremos reconstruir sobre suas ruínas. Também lhe falta o pathos do fascismo italiano e a sua rica cor, que não é facilmente separável do conteúdo: falta o que é reflexo da personalidade singular de Mussolini, uma chama acesa pela sua natureza ardente; ou produto franco do povo italiano, do próprio povo que deu, no século XIX, o garibalnismo. Deste ponto de vista, o fascismo não é realmente, de acordo com uma frase repetida várias vezes, «bem de exportação», como reconhecem quantos, italianos ou estrangeiros, vêem nele estes sinais intrínsecos da Itália. Mesmo com essas limitações e restrições, deve-se afirmar uma certa capacidade de proselitismo do movimento fascista italiano, fora da Itália; uma ampla aceitação individual de sua doutrina e das soluções que deu e dá aos problemas do Estado e das massas; uma referência frequente a ela e a sua referência como exemplo e desejável de uma fortuna europeia e universal. Isso especialmente nos países que mais sofreram com a guerra e que mais se arrastam com as dolorosas consequências, na ordem moral, social e política: vejam no fascismo a força reconstrutora do edifício interno desequilibrado; vejam nele o elemento dinâmico, capaz de arrancar a Europa contemporânea de seu endurecimento atual e, portanto, de chamar a si todos os povos que se encontram nas mesmas edições da Itália, os «povos sem espaço», e de criar uma espécie de fascista internacional. Assim, mais do que um, na Alemanha. E eles se perguntam se o fascismo está disposto a se apresentar como europeu e universal. Muito menos, claro, em países como França e Inglaterra, mais firmes em suas bases, mais orgulhosos de suas doutrinas tradicionais e institutos tradicionais, que foram, por um ou mais séculos, expressão e, juntos, fonte de sua grandeza e crédito internacional. E, no entanto, não há afirmações marcadas em França como esta: que se, no século XIX, esse país era o laboratório político da Europa, agora este laboratório é antes a Itália. A revolução estava em todo o lado, nos últimos tempos; mas ela realmente encarnou no Tibre e a partir daí atua no mundo.
Realizações do fascismo.
A revisão das obras realizadas durante uma década pelo fascismo, em todos os campos da vida nacional, a um ritmo acelerado e constante, não é uma coisa curta. Essas obras revelam, especialmente se levarmos em conta as dificuldades dos tempos, o poderoso esforço do fascismo, e dão a medida do salto em frente feito pela nação italiana.
O centro propulsor, o exército mobilizado do fascismo, o Partido - ao qual sabiamente, após seu triunfo decisivo, as inscrições foram limitadas e em certos períodos fechadas, deixando-o sobretudo enriquecido e gradualmente renovado pela entrada dos jovens - tinha em 7 de dezembro de 1931-X, 825.754 tesserados para os Fasci masculinos, 121.087 para os Fasci femininos, 30.986 para os jovens fascistas, 723.225 inscritos nos jovens Fasci di combate, 55.303 inscritos nos grupos universitários fascistas.
Um exército mobilizado, no entanto, muito grande, quando se pensa também nas associações dependentes do partido: o do emprego público, que na mesma data contava com 180.877 membros, o dos ferroviários com 120.453 membros, o dos posteslegrafos com 65.115 membros, o dos funcionários das empresas do estado com 73.190 membros e, finalmente, a Associação fascista da escola que acolhe na seção do ensino fundamental 86.129 professores, na seção do ensino médio 14.246 professores, nas seções professores universitários e assistentes universitários, respectivamente, 1925 e 1567 professores, e na dos bibliotecários 1512 matriculados. Estas grandes associações, às quais a adesão é livre e voluntária, recolhem mais de 95% dos empregados do Estado. Eles, excluindo todos os caráteres classistas e sindicais, constituem tramas valiosas para que o pensamento, a fé e a disciplina do partido se atraçam nas diferentes camadas da equipe nacional, ao mesmo tempo em que dão uma contribuição eficaz de experiência e fervor para a administração do estado.
Juntamente com o partido, a Milícia Voluntária de Segurança Nacional (v.) representa a aristocracia guerreira da revolução. É um corpo de 374.144 tropas e 25.313 oficiais (assim em 31 de dezembro de 1931-X); dos quais apenas 1336 oficiais e 4914 tropas em serviço permanente efetivo, enquanto o restante não presta serviço permanente, mas está sempre pronto para correr para todas aquelas obras de socorro e assistência, e conjunto de defesa, que foi voluntariamente votado. A Milícia Universitária, composta exclusivamente por estudantes universitários, criada para enquadrar mais facilmente uma massa que precisa de treinamento especial e instruções especiais, para que possam se tirar mais facilmente dela aqueles que serão chamados a dirigir a vida política e militar da nação, inclui 16.875 soldados de tropas e 517 oficiais; o número de alunos oficiais de complemento do exército, que a milícia universitária instrui, ascende a 2529. Com a aplicação da lei sobre a obrigatoriedade da educação pré-militar, educação que a milícia realiza no sentido totalitário, o número de cursos e sub-cursos subiu para 5730, o de oficiais e sub-oficiais instrutores para 18.135, enquanto o dos alunos ascende a 1.048.762 homens. Não menos importantes são as especializações, através das quais os serviços mais vitais do país são militarizados e garantidos: a Milícia Ferroviária com 1258 oficiais e 18.699 camisas pretas, das quais 4821 em serviço ativo; a Milícia Florestal com 351 oficiais e 3378 camisas pretas; a Milícia portuária com 43 oficiais e 756 camisas pretas; a Milícia Rodoviária com 31 oficiais e 381 camisas pretas; os Departamentos pós-leográficos com 90 oficiais e 581 camisas pretas. 2 Legiões líbias permanentes servem nas colônias, cuja força é de 67 oficiais e 1951 homens de tropas. Tais dados datam de 31 de dezembro de 1931-X.
O fascismo dirigiu-se imediatamente à juventude, tanto pelo seu carácter energético e valorizador da juventude, como pela sua natureza revolucionária. O Estado fascista considera, de fato, a missão educacional como fundamental entre suas funções, e assumiu seu desempenho com um ardor e uma organicidade de ação até então desconhecida, mesmo nos países que recorrem aos maiores cuidados à educação juvenil. À juventude confia a tarefa de perpetuar a fé e continuar o trabalho fascista. A ação educacional do Estado vai desde a ampla e consumada previdência para a proteção da maternidade e da infância, até a renovação de todos os órgãos escolares e é integrada com o estabelecimento de novos órgãos para a formação física, cultural e moral do futuro cidadão.
Através da Obra Nacional de Maternidade e Infância, o Fascismo enfrentou vigorosamente um dos mais graves problemas sociais do mundo contemporâneo, criando ambulações obstétricas e pediátricas e cadeiras ambulantes de puericultura (v. maternidade e infância).
O trabalho educacional propriamente dito começa nos jardins de infância que, após a lei fascista de 1923 (ver jardim de infância; IV, p. 943 seq.) tiveram um desenvolvimento considerável e sofreram uma profunda renovação em virtude dos métodos de ensino nacionais fervorosamente promovidos. Mais tarde, os jardins de infância (escolas) aumentaram em 2500, de modo que em 1930 eram 9546. As casas das crianças de Montessorian subiram de cerca de 150 para mais de 400, as creches de Agazian de algumas dez para mais de 2200. O aumento do subsídio estatal, agora de quase 5 milhões por ano, contribuiu eficazmente para este progresso, ou seja, quase quadruplicou numa década.
O problema da construção escolar foi totalmente abordado. De 1878 a 1922, ou seja, em 44 anos, a administração escolar italiana concedeu 394 milhões de liras aos municípios para a construção de escolas primárias. Em apenas uma década, o governo fascista atribuiu 346 milhões para esse fim, aos quais devem ser adicionadas algumas centenas de milhões gastos pelas grandes cidades que construíram, com meios próprios, edifícios escolares.
Um aumento ainda maior foi o custo de equipar os institutos superiores e as universidades (v.) com locais adequados e material científico correspondente. Entre as dotações do Estado e as hipotecas, mais de 400 milhões foram para esse fim, após o advento do governo fascista. Destes: 60 milhões foram gastos em Turim; mais de 30 milhões para cada uma das universidades de Bolonha, Génova e Pisa.
As obras de previdência para os professores também não foram negligenciadas: o Instituto de Socorro «Giuseppe Kirner» para professores medî aumentou e consolidou consideravelmente seus rendimentos, ampliando a esfera de ação e desembolsando, em 1931, mais de 700 mil liras. O Instituto Nacional de Assistência ao Mestrado «Rosa Maltoni Mussolini», no mesmo 1931, gastou 300 mil liras em bolsas de estudo para órfãos e filhos de professores do ensino fundamental, mais de meio milhão em colônias marinhas e montanhosas e em lares de idosos para professores, e destinou mais de 200.000 liras para fins de segurança social.
Mas mais do que na melhoria, mesmo importante, das condições externas e materiais, o trabalho educacional do fascismo deve ser procurado na renovação íntima e orgânica realizada pela reforma Gentile de 1923 (r. decr. 23 de junho de 1924: n. 1054) que se baseia na mais sólida tradição humanística italiana, e juntos obtém alimento do que foi pensado e experimentado durante o século passado. A transformação do Ministério da Educação em Ministério da Educação Nacional sela e simboliza o espírito fascista da reforma escolar.
No campo da educação popular, basta mencionar a escola rural, que aumentou nos últimos anos em milhares de turmas, e as escolas noturnas para adultos, às quais se deve em grande parte o rápido desaparecimento progressivo do analfabetismo, em muitas regiões completamente erradicado. Dados recentes sobre matrimônios permitem detectar que ele diminuiu de 16% em 1922 para 10% em 1930.
Com a reforma de junho de 1924, toda a escola secundária também foi reordenada; tipos antigos de institutos foram renovados e novos foram criados, melhor respondendo às várias necessidades da nação; o exame estadual foi introduzido; e os programas de exames foram inteiramente sobre novas bases e com critérios destinados a garantir a seriedade humanística, científica e pedagógica do ensino médio. Disposições legislativas subsequentes também reorganizaram as escolas técnicas e profissionais em várias esferas. A reforma mais importante neste campo é constituída pelo r. decr. 7 de janeiro de 1n29, que reorganizou as escolas de início profissional, destinadas precisamente a preparar vastas massas do povo para as diferentes profissões. Os Licei-ginnasî em 1926-27 eram 177; em 1931, incluindo os ginnasî isolados, 285; nas mesmas datas, os institutos técnicos foram aumentados de 112 para 121; os institutos de mestrado de 87 para 100. Em 1931, também 204 institutos médicos agrários, comerciais, industriais, náuticos e artísticos, recentemente reformados, e 547 escolas secundárias de início profissional. Para o ensino superior, será suficiente mencionar a criação de novas universidades em Bari e Milão, a universidade comercial de Trieste, a faculdade de ciências políticas em várias universidades, a faculdade jurídica de Florença; a reorganização do RR. Institutos superiores de magistério de Roma e Florença, e a instituição do de Messina. O Istituto superiore di magistero foi reordenado, a Irmã Orsola Benincasa de Nápoles foi reordenado, e o Istituto superiore di magistero del Piemonte foi fundado em Torino, e o que foi o nome de Maria Imaculada em Milão.
Mas o trabalho educacional do regime, assim como nas escolas, é vigoroso e orgânico por meio de um complexo de institutos paraescolares criados ou renovados por ele. Alguns números também servirão aqui como documentação.
O máximo desses institutos é a ópera Nacional Balilla, concebida pelo Duce e formada em 1o de janeiro de 1926, para criar as novas gerações de crianças e jovens por meio de uma disciplina rígida e, no entanto, alegre nos exercícios ginásticos e nas normas gerais de uma vida nacional bem ordenada (v.Balilla: ópera Nacional Balilla).
As colônias marinhas, montanhosas e helioprapópicas acolheram apenas 100.000 alunos em 1923. Depois de serem disciplinadas pela Opera Nazionale Balilla e pelos Fasci femminili, aumentaram tanto em número e população que puderam abrigar mais de 225.000 crianças de ambos os sexos em 1931. Destes jovens, quase 11.000 vieram das colónias italianas existentes no estrangeiro, e tinham sido enviados para Itália pelos fascistas italianos no estrangeiro (ver colónias de Verão).
Os patrocínios escolares vieram em auxílio de cerca de 250.000 alunos pobres em 1925. Depois que a Ópera Nacional Balilla assumiu a administração dessas instituições, o número de alunos beneficiários subiu, em 1930, para 600.000 e, em 1931, para 1.200.000, ou seja, pouco menos de um terço de toda a população escolar.
A educação física, no passado quase desconhecida em pequenos lugares, estava em todos os lugares, graças ao O. N. B. a quem é confiado, desenvolvimento verdadeiramente surpreendente. Os ensaios ginnico-sportivos, até há alguns anos atrás, limitados a alguns dos maiores municípios, foram realizados, em 1931, em mais de 4000 localidades com a participação de 1.125.000 jovens de ambos os sexos, um número que, em comparação com o ano anterior, marca um aumento de quase 600.000. O cuidado voltado para a educação física também é demonstrado pelo estabelecimento da Academia fascista de educação física e juvenil, e dos cursos nacionais e provinciais para professores e diretores didáticos, que em 1931 participaram em número mais de 7000. Nas competições ginónicas e desportivas, organizadas pela Ópera Nacional Balilla durante o ano de 1931, 240.000 jovens se alternaram, enquanto mais de 100.000 participaram em excursões e viagens.
A organização da juventude implementada pelo O. N. B. através das formações dos Balilla, dos Avanguardistas, dos Pequenos e Jovens Italianos, constitui sem dúvida a ação educacional mais ampla e orgânica tentada até agora neste campo. O O. N. B., que acolhe jovens de 8 a 14 anos (Balilla e Piccole Italiane), e de 14 a 18 (Avanguardisti e Giovani italianos), elevou o número de seus membros de 1.240.000 em 1928 para mais de 2.500.000 em 1931. Nas casas dos Balilla, que já existem em todos os municípios, a juventude fascista encontra pequenas bibliotecas, vários cursos profissionais de desenho, agricultura, puericultura, ambulatori médicos, salas de diversões, ginásios. Os grandiosos parques de campismo anuais Dux, que têm lugar em Roma desde 1929, mostram a eficiência da educação física e desportiva transmitida à juventude desde o O. N. B. Cerca de 50.000 jovens participaram do acampamento de 1931. Os cruzeiros navais levam os mais merecedores vanguardistas a visitar terras e aldeias onde ainda são pegadas e memórias da civilização romana. O seguro providenciado dos organizados contra os acidentes beneficiou, nos últimos três anos, mais de 26.000 entre Balilla e Avanguardistas, num montante total de cerca de 3.200.000 liras. Com este imponente complexo de instituições, o O. N. B. prepara a juventude italiana em corpo e espírito para as tarefas do futuro.
A grande originalidade do fascismo no campo social, que constitui a zona das suas afirmações mais decisivas e totalitárias, reside (ver acima) em ter entendido o problema do trabalho e da produção como um problema nacional; de modo que as duas questões máximas da vida contemporânea - a social e a do desenvolvimento da sociedade nacional - são, na concepção mussoliniana, cada instrumento para a solução da outra. Assim, ultrapassada a luta de classes, a antítese entre capital e trabalho, entendida pelas duas forças como momentos concretos e determinantes da vida estatal, o fascismo eleva-se à concepção do estado corporativo, tradução nas instituições do Estado ético. Esta organização de capital e trabalho, dirigida pelo Estado (Ministério das Corporações), está centralizada em seis Confederações Nacionais de Empregadores e em seis Confederações Nacionais de Trabalhadores correspondentes; na Confederação Nacional dos Sindicatos Profissionais e Artistas Fascistas e na Federação Autônoma de Comunidades Artesãs da Itália, incluída, no entanto, legalmente na Confederação da Indústria (ver corporação).
As forças desses poderosos organismos em 31 de dezembro de 1931 eram as seguintes:
A atividade dessas confederações para a resolução nacional do problema social pode ser representada, considerando os acordos coletivos de trabalho que foram acordados desde a entrada em vigor da lei, em 31 de dezembro de 1931: os contratos nacionais foram arquivados em número de 400 e publicados em número de 247; os contratos provinciais, por outro lado, celebrados até 31 de dezembro de 1931 foram 8727, os publicados 3975. Para ter uma ideia suficientemente precisa do estado corporativo, aqui é necessário mencionar o Conselho Nacional das Corporações, um órgão fundamental criado pelo fascismo para implementar o sistema de economia corporativa. Foi reformado pela lei de 30 de março de 1930, é investido com o poder de disciplinar os interesses não só das categorias profissionais, mas também dos vários ramos da produção. É presidido e regulado pelo Chefe de Governo; e seus membros são escolhidos, por critério representativo, de todas as categorias profissionais: é um órgão técnico que funciona, a pedido do próprio Chefe de Governo, com caráter predominantemente consultivo. Entre os órgãos do Estado, no campo econômico e social, pode ser comparado, dentro de certos limites, ao que o Conselho de Estado está no campo administrativo e o Grande Conselho no campo constitucional. O Duce disse incisivamente que «o Conselho Naziondle das Corporações é, na ecomimia italiana, o que o Estado-Maior é nos exércitos: o cérebro pensante que prepara e coordena».
Inclui sete seções em relação às treze confederações: seção de profissões livres e artes; seção de indústria; seção de agricultura; seção de comércio; seção de transporte terrestre; seção de transporte marítimo e aéreo; seção de bancos. Mas na composição da assembleia também é dada ampla representação ao elemento político (representantes do partido); ao elemento administrativo, aos especialistas e às principais entidades do país.
Dentro do Conselho é também criado um Comité Corporativo Central, que tem a tarefa de coordenar a actividade do Conselho e de substituir, no intervalo das suas reuniões, a Assembleia Geral. E isto para assegurar a eficiência contínua do próprio Conselho.
A direção do trabalho e da produção é refletida pela assistência em todas as formas: econômica, sanitária, moral dos trabalhadores, com um complexo de leis para as quais a Itália está na liderança da legislação social do trabalho. Em 31 de dezembro de 1930, havia 1443 fundos sindicais de mutualidade e previdência com 915.568 inscritos. Ainda em 1930, o Seguro de Invalidez e Velhice liquidava pensões no valor total de L. 35.572.000; o seguro de maternidade concedeu 44.030 subsistências no valor de L. 4.753.000; o seguro obrigatório de tuberculose pagou no total 6.322.762 dias de assistência por uma soma de L. 94.814.838. Particularmente notável a este respeito, é também o trabalho da Cruz Vermelha Italiana (v.), que, de 22 a 31, transformou e melhorou completamente suas instituições de assistência. O seguro-desemprego, também obrigatório, levantou entre quotas e contribuições L. 178.147.000 e concedeu subsídios para L. 101.874.000.
Mas o trabalho do fascismo contra o desemprego, que ultrapassou o número de 700.000 desempregados em setembro de 1931, consiste sobretudo em fornecer trabalho por meio de) uma grande quantidade de obras públicas para a construção de estradas, pontes, edifícios e para a recuperação integral por ele empreendido. Falaremos sobre isso mais tarde. Agora vale a pena mencionar aqui o brilhante trabalho de educação e assistência aos trabalhadores, promovido pelo fascismo com a criação da Ópera Nacional Pós-Trabalho (v.). O número de instituições dependentes, que em 1926 eram apenas 1064, subiu em 1930 para 14.427. Nas mesmas datas, o número de eventos esportivos de 1563 subiu para 78.993; os de natureza de caminhada de 975 para 36.483; os de caráter artístico de 1660 a 276.477; os de caráter variado, cultura popular e educação profissional, de 1249 para 79.774; os eventos de obras de assistência de 890 subiram para 53.390. O número total de manifestações realizadas passou de 6337 em 1926 para 525.117 em 1930.
A Opera Nazionale Dopolavoro nos leva a falar sobre outras das principais instituições e atividades, despertadas pelo fascismo para a educação física e espiritual de toda a nação; e antes de tudo será bom lembrar aquelas atividades mais pronunciadas esportivas, em que o fascismo acendeu um fervor nunca pelo que era conhecido anteriormente. Campos esportivos e vários clubes para todos os tipos de esportes foram criados em quase todos os municípios, e nas grandes cidades surgiram estádios para competições coletivas, equipados para que possam apoiar a comparação com os mais celebrados do mundo: basta lembrar o Littoriale de Bolonha e o Foro Mussolini em Roma, que está prestes a ser concluído. A disciplina de todos os eventos é presidida pelo Comitê Olímpico Nacional Iialiano (C. O. N. I.). O C. O. N. I. prepara os desportistas italianos para as Olimpíadas Internacionais; e é por isso que também preside ao trabalho de todas as federações esportivas nacionais. Sabe-se que o restabelecimento dos jogos olímpicos nas bases e nas condições de acordo com as necessidades e o progresso da vida moderna, foi concebido pelo Barão De Coubertin, presidente da União Francesa de Esportes Atléticos, em 1892, e foi aprovado em um congresso internacional realizado na Sorbonne em 1894. Em 1896, as primeiras Olimpíadas foram realizadas em Atenas e, desde então, foram realizadas regularmente, a cada quatro anos, nas principais cidades do mundo. Mais tarde, um comitê foi criado na Itália, que assumiu o nome de Comitê Olímpico Nacional. Os primeiros sucessos e a disseminação do esporte fortaleceram gradualmente as possibilidades econômicas do comitê, até que o fascismo se reordenou. Para o seu financiamento, foi estabelecido um imposto de 2% sobre espectáculos desportivos. Em 1926, Augusto Turati chamou o C. O. N. I. para fazer parte das organizações do partido e promulgou o novo estatuto pelo qual os presidentes das federações são nomeados pelo Chefe do Govemo.
Agora o C. O. N. I. tem um financiamento anual de cerca de 1.500.000 liras. Em 1931, faziam parte do C. O. N. I. 24 federações desportivas, com um número de 8061 sociedades e 800.000 sócios. As corridas foram em número de cerca de 30.000 e as vitórias internacionais cerca de 500. Os campos desportivos de C. O. N. I. são mais de 2500.
Outra instituição que ganhou grande desenvolvimento e importância com o fascismo é a Liga Naval, um órgão de propaganda e educação marítima, que reúne mais de 80.000 membros.
Manifesta a sua actividade com conferências e cinema, viagens, exposições de arte e técnica marítima. De 1925 a 1931 promoveu e organizou 20 cruzeiros. Também publica uma revista e várias obras sobre temas marítimos.
O Regime deu um grande impulso à preparação militar propriamente dita. Se o exército e a marinha estavam em estado de abandono no final de 1922, a força aérea já nem sequer existia. Todos os problemas de ordem militar tinham sido desperdo. Basta dizer que enquanto 509 milhões de ouro foram gastos com o exército em 1913-14, apenas 445 foram gastos em 1921-22; e a força equilibrada, de 275.000 homens em 1913, caiu em 1922 para apenas 175.000.
O fascismo ressuscitou moralmente e consolidou materialmente o exército e a marinha; a aeronáutica foi reconstruída de forma saudável.
Em 1931, o orçamento da Guerra, embora administrado com uma economia rigorosa, ultrapassa os 2900 milhões, dos quais cerca de 500 para a arma dos carabinieri. Com reformas subsequentes, a duração da parada foi fixada em um ano e meio, mas a obrigação de serviço militar foi estendida até o 56o ano. As escolas foram reorganizadas para oficiais efetivos e complementares; a estes últimos foram dedicados cuidados especiais para não dispersar suas preciosas energias. O material foi parcialmente renovado ou aperfeiçoado, os suprimentos foram concluídos; e outras obras importantes neste campo estão em execução. Uma vez estabelecido o tipo ternário como base para as grandes unidades, a sua sede territorial foi devidamente alterada.
A função da Milícia voluntária é harmoniosamente enxerta na organização do exército, confiando-a a ela uma série de atribuições valiosas. Com o pré-militar, bem como com as organizações juvenis do fascismo, foi conseguido fornecer ao exército recrutas moral e fisicamente preparados, homogêneos, de fácil e pronta educação, com certo desempenho.
Para a marinha, respeitando também os pactos internacionais, o programa de construção foi contido dentro dos limites do estritamente necessário, cuidando essencialmente da qualidade. O orçamento da marinha chega a 1300 milhões. As unidades italianas, com a mesma tonelagem em todas as categorias, são as mais rápidas do mundo e as tripulações mantidas em alto nível de treinamento.
O orçamento da Força Aérea, que era de apenas 100 milhões antes do advento do fascismo, foi aumentado gradualmente para cerca de 750; um valor estritamente necessário para manter a arma em eficiência decente diante de outras nações mais ricas. Mussolini encontrou a aeronáutica italiana sem aparelhos, quase sem pilotos, e sem mais uma verdadeira escola nacional. Hoje, a Itália possui cerca de 1450 aparelhos em linha, entre aviões e hidroaviões; tem uma série de pilotos que desfrutam, para as empresas de renome mundial, de uma organização em terra admirável que está sendo continuamente aperfeiçoada; novos recrutas abundam e a excelente escola de Caserta os tempera para os riscos futuros.
Apesar da crise e do programa claramente pacífico da política italiana, a organização das forças armadas adquiriu, portanto, nos últimos anos uma solidez e amplitude invejáveis. A criação do Alto Comando, com um Chefe de S. M. General e três Chefes de S. M. para suas respectivas armas, a criação do Comitê Supremo de Defesa e as medidas tomadas para a mobilização civil constituem tantos passos decisivos em direção ao objetivo que Mussolini indicou à nação no campo da preparação para as armas. Mas, além da preparação militar e do esporte - pretendido e praticado, é bom repeti-lo, além de um meio muito eficaz para a melhoria da raça, também como um instrumento daquela educação viril e guerreira a que o fascismo visa - a cultura não foi negligenciada, desde suas manifestações mais humildes até as mais altas; e, de fato, o governo fascista dedicou meios verdadeiramente imponentes em relação às mesmas possibilidades do país. Já dissemos sobre o que se refere à escola e à cultura popular. Com a criação da Real Academia da Itália, que ocorreu para «promover e coordenar o movimento intelectual italiano no campo das ciências, letras, artes, preservar seu caráter nacional puro, de acordo com o gênio e a tradição da linhagem, favorecer sua expansão e influência além das fronteiras do estado», o fascismo abordou plenamente o problema da alta cultura. A Reale Accademia d'Italia é atualmente presidida pelo grande cientista Guglielmo Marconi, e é composta por sessenta membros, entre os homens mais ilustres dos diferentes campos da arte e da ciência, distribuídos em quatro classes: ciências morais e históricas, ciências físicas matemáticas e naturais, letras, artes. A Academia paga anualmente a soma de um milhão, oferecido pelo Estado sobre os rendimentos dos pequenos direitos de autor, para préms ou para subsídios a pessoas e entidades dignas da cultura; também concede, todos os anos, quatro prémî de L. 50.000 cada (Premî Mussolini), estabelecidos pelo Corriere della Sera, em favor dos autores das principais obras de arte, literatura e ciências, que apareceram na década anterior à atribuição. Outros fundos (257.000 liras no ano académico 1930-31) dedicados a publicações próprias ou de outras pessoas; promove a exploração de bibliotecas e arquivos italianos e estrangeiros, concede bolsas de estudo e aperfeiçoamento. A Academia administra, além de fundações menores, aquela criada com capital de 10 milhões pela Sociedade Italiana de Eletricidade Edison e em homenagem a Alessandro Volta, cuja renda anual (quase meio milhão de liras) é cerca de metade dedicada a conferências anuais internacionais que a Academia promove para discutir e aprofundar os problemas mais vitais da ciência moderna.
Outra instituição importante é o Conselho Nacional de Pesquisa que, sob a presidência de Guglielmo Marconi e sob a dependência direta do Chefe de Governo, tem a tarefa de coordenar e disciplinar as pesquisas científicas, intimamente ligadas ao progresso técnico e econômico do país. O Conselho de Pesquisa já abordou os problemas dos combustíveis, fertilizantes, alimentação, luta contra o tifo; já providenciou a publicação regular da bibliografia científica italiana; organizou o centro nacional de notícias técnicas, uma valiosa fonte de informação para os estudiosos.
Os cientistas italianos também são reunidos na Sociedade Italiana para o Progresso das Ciências, dividida em diferentes classes de acordo com as várias disciplinas, que em seus congressos anuais atesta o progresso contínuo e maravilhoso dos estudos científicos na Itália.
Um instituto cultural e ao mesmo tempo requintadamente político é o Instituto Nacional de Cultura fascista, concebido e desejado pelo Duce, que o inaugurou solenemente no Capitólio em 1925. O Instituto Nacional de Cultura Fascista tem a tarefa de animar a cultura italiana com uma fé fascista fervorosa. Ele, que desde a sua origem é presidido pelo sen. Giovanni Gentile, em 1931 tinha 88 institutos nas províncias, 76 em centros menores, 400 em empresas e instituições culturais aderentes, mais de 100.000 sócios. O instituto dirige quatro coleções: uma Biblioteca de cultura política; uma coleção de clássicos do pensamento político; uma coleção de estudos jurídicos; uma série de cadernos em torno dos tópicos mais vivos e de importância mais atual. Também promove publicações de considerável interesse político, subsidia institutos, organiza cursos de palestras e conferências em todos os lugares, cuida da difusão da arte e cultura italianas no exterior.
Outras entidades, cuja actividade neste campo é digna de particular menção pelos resultados benéficos resultantes, criados ou renovados pelo fascismo, são: a Comissão Italiana do Comité Internacional de Cooperação Intelectual, o Instituto Nacional de Cinema L. U. C. E., o Instituto Internacional de Cinematografia Educacional, o Touring Club italiano, a Sociedade Geográfica Italiana, etc. O Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado, o Instituto Internacional de Cinematografia Educacional e a Comissão Italiana do Comitê Internacional de Cooperação Intelectual são exemplos evidentes de como a Itália apoia e corrobora a cultura em suas relações internacionais.
Faz parte do campo das atividades intelectuais e da renovação moral suscitada pelo fascismo, a nova estrutura jurídica assumida pela vida italiana, que levou à transformação do Estado.
No processo desta transformação, dois períodos devem ser distinguidos, ligados a uma data histórica. No primeiro período houve a reforma escolar, as reformas financeiras para a recuperação do orçamento e a reforma da ordem hierárquica da burocracia, que levou de volta à ordem e disciplina aos cargos públicos. Na administração da justiça, deve-se mencionar a revisão dos distritos judiciais e a unificação dos Tribunais de Cassação. Era impossível neste período pensar em uma ampla reforma legislativa, pois era necessário primeiro implementar uma profunda transformação do espírito público, condição primordial para tornar eficaz a renovação da legislação.
O memorando proferido pelo Duce à Câmara em 3 de janeiro de 1925, com o qual o fascismo assumiu por si só a responsabilidade por todo o poder, abre o segundo período da revolução. Foi então criado um estado de autoridade verdadeiramente soberano, que dominasse todas as forças existentes no país e que estivesse ao mesmo tempo em contato com as massas para guiar seus sentimentos, cuidar de seus interesses. A rifoma constitucional começa com a lei de 24 de dezembro de 1925, n. 2263, sobre as atribuições e prerrogativas do Chefe de Governo; continua com a lei de 31 de janeiro de 1926, n. 100, sobre a faculdade do poder executivo de promulgar normas legais, e posteriormente com a lei de 3 de abril de 1926, n. 563, sobre a disciplina jurídica das relações coletivas de trabalho, complementada por um documento, que não é propriamente legislativo, mas que tem um valor político muito alto, ou seja, a Carta do Trabalho (v.) de 21 de abril de 1927, e termina com a lei de 2 de setembro de 1928, n. 1993, sobre representação política, e com a lei de 9 de dezembro de 1928, n. 2693, sobre o ordenamento do Grande Conselho. O Grande Conselho (v.), que foi uma das mais altas instituições que saíram da revolução de 1922, em efeito da lei 9 de dezembro de 1928, n. 2693, tornou-se um dos órgãos fundamentais do Estado, na verdade é o órgão supremo, a quem é confiada a tarefa de regular todas as atividades do regime. Marca a última etapa do processo, e complementa a lei sobre o Grande Conselho, a outra de 14 de dezembro de 1929 sobre o Partido Nacional Fascista, pelo qual seu estatuto é aprovado por decreto real, o secretário e os membros do Diretório Nacional são nomeados por decreto real por proposta do Chefe de Governo. O secretário faz parte dos mais-ministros da nação, e participa das sessões do Conselho de Ministros.
Outro fato de grande importância política e legislativa são as Convenções Lateranens de 11 de fevereiro de 1929, com as quais, ao resolver a questão romana, foram criadas novas bases para as relações entre Estado e Igreja, com a consequente reforma geral da antiga legislação eclesiástica.
Transformado o estado, a vida nacional renovada, a legislação geral está agora a ser reformada. Os novos códigos não só representam um progresso técnico face aos antigos, como também têm uma importância política decisiva, uma vez que oferecem um complexo de leis que aderem ao novo ordenamento político e social.
Tudo isso sempre aconteceu em harmonia com o trabalho de recuperação e melhoria econômica da nação.
As realizações financeiras do fascismo na primeira fase de sua atividade governamental são resumidos nos seguintes pontos: reequilíbrio do orçamento desequilibrado pela guerra: em 30 de junho de 1925 havia 417 milhões de excedentes: de 30 de setembro de 1923 a 30 de junho de 1925, diminuição de 5 bilhões da dívida pública e sua melhoria qualitativa; diminuição das despesas públicas do estado, que atingiram seu mínimo (18 bilhões e 775 milhões) no ano de 1925-26; transformação do sistema tributário para preencher as lacunas que deixaram os tributos extraordinários de guerra; abolição dos impostos sobre os patrimônios extraordinários de guerra; abolição dos impostos sobre os patrimônios hereditários; revertendo as posições especulativas descendente para cima da moeda (decretos da Bolsa de Valores de fevereiro de 1925); política de independência do capital estrangeiro, anunciada com a fórmula «a Itália fará por si mesma», que permitiu à Itália, durante a crise atual, sua estabilidade monetária; unificação dos controles de financiamento e quadros da burocracia; arranjo das dívidas interaliadas; cumprimento dos compromissos assumidos pelo Estado em relação aos feridos e danificados de guerra.
Em 1926 começou a chamada batalha da lira, conduzida pelo Duce com uma técnica brilhante e vitoriosamente concluída em dois tempos; a saber: a reavaliação da lira em um primeiro período, e em um segundo período sua estabilização de fato e estabilização de direito assim que se vê que uma nova reavaliação acabaria prejudicando as próprias bases da estabilidade monetária e as mesmas categorias que se queriam beneficiar. Assim, em 21 de dezembro de 1927, a reabilitação monetária foi alcançada.
A paridade de ouro foi fixada em razão de um peso de ouro de gr. 7,919 por cada 100 liras italianas.
A estabilização constituiu a defesa decisiva e definitiva das classes produtoras e poupadoras de todas as tentativas que outras categorias de fundo especulativo tinham feito, aproveitando sobretudo a instabilidade monetária para descarregar a maior parte possível do custo da guerra e da crise pós-guerra sobre outras.
A terceira vez está ocorrendo em um período difícil para todas as nações, por meio da crise econômica que atingiu o mundo inteiro. No entanto, a Itália mantém firmes as posições duramente conquistadas, dadas as excelentes condições políticas.
A simplicidade e clareza mais cristalinas foram introduzidas em todas as contas do Estado, com a reforma da conta do Tesouro. O crédito interno foi usado com grande sucesso para reembolsar os títulos do Tesouro de nove anos vencidos, limitando a assunção da dívida a apenas 5 bilhões. Em abril de 1930, as barreiras alfandegárias internas foram abolidas e procedeu à reorganização geral das finanças locais, realizada com vantagem da agricultura.
E é hora de falar sobre as obras públicas, que constituem o sinal mais tangível do imenso trabalho realizado pelo fascismo. Basta pensar que enquanto em 1913-14 o estado gastou 236 milhões em obras públicas (cerca de 857 milhões atualmente), em 1929-30 o governo fascista gastou 1850 e em 1930-31 1688 milhões. Isto sem ter em conta todas as obras mais propriamente agrícolas, incluindo a recuperação integral.
A recuperação integral estabelecida pela lei de 24 de dezembro de 1928, chamada Lei Mussolini, que prevê o financiamento da obra, soma em si todas as medidas para a recuperação radicalmente concebida; uma vez que proporciona com continuidade estável os meios necessários para a grandiosa construção e transformação fundiária do país. Esta lei conclui uma orientação legislativa amadurecida ao longo de uma longa série de anos, transformando-se num conceito organicamente unitário, o que anteriormente era uma visão unilateral do problema da remediação (ver remediação, VII, p. 418 seq.).
As obras de reflorestamento e arranjo de bacias montanhosas realizadas pelo Estado, por meio da Milícia Florestal Nacional, em um perímetro de 401 hectares em 1928, 433 hectares em 1929, 592 em 1930, custaram um total de L. 15.412.510 em 1928, 16.141.331 em 1929, 17.921.388 em 1930. As áreas reflorestadas em 1928 foram de 4587, em 1929 de 4872, em 1930 de 4454 hectares. Para a melhoria das pastagens montanhosas em 1930, foram aprovados 206 projectos para uma despesa de 13.319.601.
No que diz respeito à agricultura, não podemos esquecer a batalha do trigo que trouxe a produção de trigo de q. 49.273.000 ou seja, 10,4 por hectare em 1909-14, e de q. 45.611.000 no período de três anos 1915-18 (9,9 por hectare), e de q. 45.286.000 em 1919-22 (9,9 por hectare), a 57.682.000 quintais em 1923-25, antes da batalha do trigo (12,3 por hectare) e a q. 61.841.000 (12,6 por hectare), no período de 1926-31 da batalha do trigo. Os fertilizantes utilizados para a agricultura em 1930 somam 13.472.224 quintais de fosfato, 3. 184.300 de azotatos, 458.496 potássidas- pode-se dizer que a agricultura italiana é renovada a partir das raízes. A introdução de máquinas agrícolas é contínua e sempre crescente. Em 1922 foram introduzidas por 44.519.000 liras, em 1930 por 76.620.000 liras.
Falando sobre as obras públicas propriamente ditas, lembraremos que em 1931, em média, 16.538 trabalhadores foram empregados diariamente para as obras rodoviárias executadas pelo Ministério das Obras Públicas e 42.308 para as realizadas pela Empresa Autônoma Estadual da Estrada, criada pelo fascismo para o cuidado especial com a viabilidade. Além disso, em 1931, em média 24.401 trabalhadores foram empregados diariamente para obras hidráulicas, 33.886 para obras de recuperação, 7706 para obras marítimas, 24.711 para outras obras. O número total destes (estradas, caminhos-de-ferro, construção, etc.) foi em 1931 de 2040, no montante de 2.061.247.000 liras. No final de Setembro de 1931, 24.558 obras no valor de 3.687.889.000 liras estavam em curso.
Esta política de obras públicas enfrenta, como já foi dito, de forma vigorosa as necessidades das classes trabalhadoras, vencendo a crise do desemprego, e fortalece o equipamento econômico e civil da Itália, transformando sua produção de forma orgânica e admirável. A administração das Obras Públicas sozinha em 9 anos de gestão de 22 de Outubro de 1922 a 28 de Outubro de 1931 assumiu compromissos de 23.188.900.000. A Empresa Autônoma Estadual de Estradas desde sua fundação até 28 de outubro de I931 assumiu compromissos para L. 2.996.330.591. O Ministério da Agricultura de 7 de outubro de 1929, ou seja, desde o estabelecimento da subsecretaria especial de Recuperação Integral, até 28 de outubro de 1931, assumiu compromissos até o ano fiscal 1935-36, totalizando L. 2.686.700.000. No total, ao longo dos 9 anos do regime fascista, foram assumidos compromissos para obras públicas sob gestão direta ou em concessão, no imponente montante de 28.871.930.591 liras. Os pagamentos efectuados pelo Ministério das Obras Públicas e pela Empresa Autónoma Estatal da Estrada - para os da recuperação integral carecem da repartição correspondente - distribuídos pelas três grandes zonas territoriais do reino, dão os seguintes números: norte da Itália 4.446.000.000 liras; Itália central 3.149.000.000 liras; sul da Itália e insular 7.285.000.000 liras. O que significa que 50% dos gastos com obras públicas vão para beneficiar as regiões do Sul e as ilhas, que os governos liberais e democráticos tinham esquecidos e escravizados à pequena política parlamentar. Assim surgiu uma imensa quantidade de obras; grandes aquedutos, novas estradas, novas ferrovias, novas linhas de navegação e aéreas. De 1920 a 1930, foram construídos 1842 km. de ferrovias e bondes; e em 31 de dezembro de 1931 a Itália podia contar com 22.123 km. dessas estradas. As estradas provinciais e nacionais também aumentaram e melhoraram consideravelmente; pense no grande número de rodovias e estradas pavimentadas que o fascismo soube criar. Em 31 de junho de 1931, havia 20.692 km. de estradas estaduais. A Empresa Autônoma Estadual de Estradas, de 1o de julho de 1928 a 30 de junho de 1931, executou 5621 km. de estradas tratadas em superfície, com 33.266.000 metros quadrados. de trabalho, e tinha outros 1613 km. em andamento na mesma data., com 9.918.000 metros quadrados. de trabalho. Ele também executou 484 km. de estradas com pavimento semipermanente, com 3.388.000 metros quadrados. de trabalho, e começou outros 112 km., com 815.000 metros quadrados. de trabalho.
Em 31 de dezembro de 1931, havia 924 linhas de automóveis fixas por 28.087 km. e outras 2064 linhas com 40.883 km. de rota foram provisoriamente autorizadas. Além disso, na mesma data, havia 280 linhas de automóveis de grande turismo por km. 29.555 e 170 linhas de automóveis sazonais por km. 2006.
A aviação civil em 1931 operou 28 linhas, além da rede aérea na Albânia, com 18.723 km. de rota, 9750 viagens, 4.398.871 km. voados, 27.970 horas de voo, 33.650 viajantes, 71.107 kg. de correio, 446.878 kg. de bagagem e 153.284 kg. de carga.
Também para a navegação marítima e a marinha mercante, o trabalho do fascismo foi enorme. A Itália em 1914 tinha 4773 veleiros para uma tonelagem total de 349.000 toneladas. de tonelagem líquida e 949 navios a vapor para uma tonelagem total de 993.000 toneladas. de tonelagem líquida, um número muito inadequado para a necessidade; de modo que 48% das mercadorias embarcadas e desembarcadas na Itália eram transportadas por vapores estrangeiros. Esse número foi muito expirado durante a guerra. Com o início do fascismo, a marinha mercante começou gradualmente a reflorescer também melhorando a qualidade dos navios predominantemente a vapor, de modo que em 31 de dezembro de 1931 em 4005 navios, com uma tonelagem total de 2.164.014 toneladas líquidas, havia vaporizadores e lacans de 1443. Em 1931, 129 navios foram inslarados com um total de 167.211 toneladas brutas. O aumento do potencial da frota diminuiu, em comparação com o anteguerra, a participação da marinha estrangeira, que desceu para 20% em 1931.
Assim, o fascismo renovou o aspecto da Itália, o ritmo do seu trabalho e o seu poder. A renovação interior corresponde a uma nova face da pátria. Todas as cidades italianas grandes e pequenas, máximas Roma que há séculos não viam tanto fervor humanístico no campo da arqueologia, mudaram sua aparência: novos bairros, novas ruas, edifícios públicos verdadeiramente dignos, foram construídos, juntamente com habitações mais de forma adequada às necessidades da vida moderna. Pense que em Roma é construída uma média de 30.000 quartos por ano. A esta febre da modernidade e do trabalho é refletida o culto dos monumentos antigos, ao lado do fascismo, pela grande massa de escavações arqueológicas que promoveu, desenterra e renova em toda a Itália e no mundo os sinais de sua gloriosa civilização, que nas instituições e no trabalho cotidiano chama admiravelmente à vida fundindo o antigo e o novo. A Itália fascista coletou e recolhe no Alto Egito e na Transjordânia, nas ilhas de Creta e Lemno, nas costas da Albânia e da Anatólia, e especialmente na Tripolitânia (Leptis Magna, Sabratha) e na Cirenaica, um material muito vasto que um comitê central de missões e estudos arqueológicos no exterior estuda e coordena. Escavações metódicas foram realizadas em todas as partes da península, de Ostia a Trieste, pelos navios romanos de Nemi aos hipogeus etruscos de Veio, de Pompéia a Agrigento, de Paestum a Cuma. Memoráveis ao longo do tempo as gigantescas escavações de Herculano, desejadas pelo Duce às custas do Estado.
As novas obras públicas se adaptam a esses empreendimentos de ressurreição histórica, política e religiosa, de modo que a cidade se afirma ano a ano na história com o novo título e nome de Roma Mussoliniana.
V. tavv. CXXXVII-CXLVI.
Bibl.: C. Bracale e C. Urbano, Guia bibliogr. de cultura fascista, Roma 1925; G. Santangelo e C. Bracale, Guia bibliogr. del fascismo, Roma 1928; também são úteis: Guia de catálogo para a escolha da cultura fascista, Roma 1929; [E. Damiani], Obras sobre o fascismo possuídas pela biblioteca da Câmara dos Deputados, Roma 1930; R. Moscovo, Bibliografia do Fascismo, Milão 1930. Está impresso o I vol. de uma Bibliografia Geral do Fascismo, I: Obras Estrangeiras, Roma 1932; o II e o III vol. serão dedicados respectivamente às obras italianas e ao despojamento dos artigos mais importantes de revistas e jornais italianos e estrangeiros.
Discursos de B. Mussolini: são publicados pela casa ed. Alpes, Milão 1923-1931 e incluem os seguintes vols.: Discursos da Revolução (1920); Discursos da mesa do deputado (1921-22); A nova política da Itália (1922-24), editado por A. Giannini, voll. 3; Discursos de 1925...1930, voll. 5; Os acordes de Latrão. Discursos ao Parlamento, 2ª ed., Roma 1929. Entre as biografias de B. Mussolini (v.) lembramos apenas: M. Sarfatti, Dux, Milão 1926, e reimpressões subsequentes.
História, doutrina, política fascista: Programa e estatuto do P. N. F., Milão 1921; E. Rossoni, As ideias da reconstrução. Discursos sobre o sindicalismo fascista, Florença 1923; Os grandes discursos eleitorais de 1924, Milão 1924; A. Salandra, Liberalismo e Fascismo, Milão 1924; F. Coppola, A Revolução Fascista e a Política Mundial, Roma 1924; Atos do V Congresso Nacional. Roma 21-22 de junho de 1925, Roma 1925; R. Farinacci, Um período de ouro do P. N. F., Foligno 1926; As origens e o desenvolvimento do fascismo: da intervenção à marcha sobre Roma, editado pelo P. N. F., Roma 1928; O Grande Conselho nos primeiros cinco anos da era fascista, editado pelo P. N. F., Roma 1927; A. Turati, O Partido e os Seus Deveres, Roma 1928; G. A. Chiurco, História da Revolução Fascista, Florença 1928, voll. 5; G. Pinheiros e F. Bresadola, História do fascismo, Roma 1928; A civilização fascista, com introdução. de B. Mussolini, editado por G. L. Pomba, Torino 1928 (complexo de 35 estudos dos vários aspectos e atividades do fascismo, com um ensaio de bibliogr. fascista editado por L. Màdaro); O livro da Itália; no dez anos da vitória, Milão 1929 (complexo de 28 estudos); Mussolini e seu fascismo, editado por C. S. Gutkind, com introd. de B. Mussolini, ed. alemão, Heidelberg 1928; ed. it., Florença 1927. Vários estudos: Obras e leis do regime fascista, Roma 1927; Mussolini e o fascismo, Roma 1929 (complexo de 30 estudos); doutrina e política fascista, Veneza 1930 (escritos varî).
Escritos e documentos sobre a actividade governamental e legislativa: G. Gentile, Il Fascismo al governo della scuola, Palermo 1924; L. Gangemi, A política econômica e financeira do governo fascista no período dos plenos poderes, Bolonha 1924; Disciplina jurídica das relações coletivas do trabalho, Milão 1926 (coleta de disposições legislativas); A. Rocco, A Transformação do Estado. Do Estado Liberal ao Estado Fascista, Roma 1927; La carte del lavoro, editado por G. Bottai, Roma 1927; C. Costamagna, Direito Corporativo Italiano, Turim 1927; L. Paleari, La magistratura del lavoro, Milão 1927; A. Serpieri, A política agrária na Itália e as recentes medidas legislativas, Piacenza 1925; V. Vernè, A milícia voluntária para a segurança nacional, Roma 1925; C. Saltelli, Poder Executivo e Normas Jurídicas, Roma 1926; I. Balbo, A política aeronáutica da Itália fascista, Roma 1927; G. Volpi di Misurata, Finanza fascista, Roma 1928; N. Ursos, Fascismo e Legislação Fascista, Milão 1928; Legislação Fascista 1922-28, Roma 1929, com apêndice; A. Melchiori, Milícia fascista, Roma 1929; A. Lo Monaco-Aprile, A política de bem-estar da Itália fascista, Roma 1931.
Estudos e vários aspectos do fascismo: A. Mussolini, Controvérsias e Programas, editado por V. Piccoli, Milão 1926; id., Comentários sobre a ação, editado pelo mesmo, Milão 1929; M. Brancos, os discursos. Os escritos, com pref. de B. Mussolini, Roma 1931; F. Carli, A burguesia entre duas revoluções, Bolonha 1922; A. Lanzillo, As Revoluções do Pós-Guerra, Cidade do Castelo 1922; B. Giuliano, A experiência política da Itália, Florença 1924; C. Pellizzi, Problemas e realidades do fascismo, Florença 1924; M. Rocca, Ideias sobre o fascismo, Florença 1924; General Filareti (C: Alemagna), In marge al fascismo, Milão 1925; S. Panunzio, O Estado Fascista, Bolonha 1925; M. Missiroli, Fascismo e a crise italiana, Bolonha 1921; A Zerboglio e D. Grandi, Fascismo, Bolonha 1922; R. Mondolfo, Para a compreensão histórica do fascismo, Bolonha 1922; D. Grandi, As origens e a missão do fascismo, Bolonha 1922; G. Di Giacomo, sindicalismo nacional. A Organização dos Trabalhadores Int intelectuais, Roma 1922; S. Panunzio, Estado e sindicatos, Milão 1923; R. Forte e G. Ghedini, O advento do fascismo. Crônicas de Ferrara, Ferrara 1923; A. Rocco, A Doutrina Política do Fascismo, Roma 1925; R. Cantalupo, A classe executiva, Milão 1925; G. Gentile, O que é fascismo, Florença 1926; G. de Montemayor, O Estado Fascista, Roma 1928; F. Hércules, Do nacionalismo ao fascismo, Roma 1928; G. Peixe, A Marcha dos Rurais. História da organização sindical fascista dos agricultores, Roma 1929; G. Gentile, Origens e Doutrina do Fascismo, Roma 1929; A. Volpicelli, A Educação Política da Itália e o Fascismo, Palermo 1929; G. Volpe, O desenvolvimento histórico do fascismo, Palermo 1928; id., Guerra, pós-guerra, fascismo, Veneza 1928; G. E. Curatulo, De Cavour a Mussolini, Milão 1929; G. Pighetti, Problemas da reconstrução fascista, 2ª ed., Livorno 1931; U. Spirito, La critique dell'econ. liberale, Milão 1930; id., Os fundamentos da econ. corporativa, Roma 1932.
Para relações com D'Annunzio e a empresa Fiume: G. D'Annunzio, A Regência Italiana de Carnaro. Desenho de uma nova ordem do estado livre de Rijeka, Rije 1920; M. M. Martini, A Paixão de Fiume. Diários, crônicas, documentos, Milão 1919; G. Berri, La gesta di Fiume, Florença 1920; A. Marpicati, Riume, Florença 1931.
Para a oposição liberal e social-liberal ou «popular» mais ou menos absoluta ao fascismo: G. Bergamo, D. Di Falco, G. Zibordi, Fascismo visto por republicanos e socialistas, Bolonha 1922; L. Salvatorelli, Nazionalfascismo, Torino 1923; M. Vinciguerra, Fascismo visto por um solitário, Torino 1923; L. Sturzo, Reforma estatal e endereços políticos, Florença 1923; id., Popularismo e fascismo, Torino 1924; id., Pensamento antifascista, Torino 1925; P. Gobetti, Do bolchevismo ao fascismo, Torino 1923; G. Amendola, Uma Batalha Liberal, Turim 1924; I. Bonomi, Dez anos de política italiana, Milão 1923; id., Do socialismo ao fascismo, Roma 1924; A. Labriola, As duas políticas. Fascismo e Reformismo, Nápoles 1924; E. Ciccotti, Fascismo e suas fases, Milão 1925; M. Ruini, Democracia e União Nacional, Milão 1925.
Jornais: Il Popolo d'Italia, Milão 1914 seq., e depois todos os jornais semelhantes, quase filhos do primeiro, fundados gradualmente em cada região ou província ou cidade, órgãos do partido ou federações fascistas, alguém de importância mais do que local, como L'Assalto (Bolonha 1920 seq.), Il Corriere Padano (Ferrara 1925 segg.), La Vedetta d'Italia (Riume 1919 segg.) e outros. O jornal do movimento sindical é Il Lavoro d'Italia, depois Il Lavoro fascista (Roma 1922 seq.).
V. também: Os pacotes italianos no exterior pela Secretaria-Geral, a partir de maio de 1924; desde 1925 leva o nome: O legionário.
Revistas principais: Hierarquia, Milão 1919 eq. ; Crítica fascista, Roma 1923 seq. ; Educação fascista, publicada pelo Instituto fascista de cultura, Roma 1923 segg. ; Bibliografia fascista, Roma 1926 segg. ;Maternidade e infância, Roma 1926 segg. ; Direito do Trabalho, Roma 1927 seq. ; Arquivo de estudos corporativos, Roma 1930 segg. ; Novos estudos de direito, economia e política, Roma 1927 segg. ; Antieuropa, Roma 1929 segg.
Principais obras estrangeiras:
J. Alazard, Comunisme et fascisme, Paris 1922;
F. de Homem-Christo, Mussolini bâtisseur d'avenir, Paris 1923;
F. Cambo, Autour du fascisme italien, Parigi 1925, trad. it. por C. Giardini, Milão 1925;
V. J. Bordeux, Benito Mussolini. O Homem, Londres 1927;
E. Beckerath, Wesen und Werden des fascibistischen Staates, Berlim 1927;
H. Schneider, Making the Fascist State, Oxford 1928;
J. Strachey Barnes, Os Aspectos Universais do Fascismo, Londres 1928;
E. W. Eschmann, Der faschistische Staat in Italien, Breslau 1930;
Internationaler Faschismus, coleção de ensaios editado por C. Landauer e H. Honegger, Karlsruhe 1928;
A. Staliysky, Die Grundlagen der faschistischen Staatslehre, Monaco 1930;
G. Melhis, Die Idee Mussolinis, Leipzig 1928;
D. Liulinov, Itália na Mussolini, Sofia 1929;
W. Heinrich, Die Staats-und Wirtschaftsverfassung des Faschismus, Berlim 1929;
G. Eberlein, Der Weg zum Kapitol. Der Faschismus als Bewegung, Berlino 1929;
H. Heller, Europa und der Faschismus, 2ª ed., Berlim e Leipzig 1931;
W. Andreae, Staatssozialismus und Ständestaat (sobre as suas mais recentes implementações em Itália e na Rússia), Jena 1931.
Fonte:
https://www.treccani.it/enciclopedia/fascismo_%28Enciclopedia-Italiana%29/
(11 de Dezembro de 2023)
The Doctrine of Fascism by Benito Mussolini (full audiobook in English)